O
uso de plantas medicinais é uma prática de quase todas as culturas, e no Brasil
não é diferente, principalmente pela flora ser vasta e generosa, contribuindo
muito para a terapêutica.
O gengibre é o tubérculo de uma
planta chamada Zingiber officinale,
originária do sul da Ásia, porém atualmente espalhada pelo mundo. Fica difícil dizer se a sua difusão global, ao longo dos
séculos, deve-se às suas propriedades medicinais ou à sua participação em
inúmeros alimentos. Na culinária oriental, europeia e americana, o gengibre
entra na confecção de molhos para carnes, peixes, doces, bebidas alcoólicas. Na
Índia, ele é amplamente utilizado na culinária; na Jamaica é feita cerveja de
gengibre; no Brasil temos o tradicional quentão das festas juninas e inúmeras
outras participações em pratos regionais.
Na área de saúde, o gengibre predomina no receituário popular como bom para a digestão, gripes e resfriados na forma de infusão para ingestão ou gargarejo. Na indicação médica formal, ele praticamente inexiste.
Fitoquimicamente, o gengibre apresenta
de 1-3% de óleo essencial (sesquiterpenos), 2,5-5% de princípios picantes
(gingerol e shogaol). Ele tem sido usado para tratar várias condições clínicas,
incluindo aquelas que afetam o trato digestório, tais como dispepsia
(dificuldade de digestão), flatulência, náuseas e dor abdominal. É utilizado na
medicina oriental tradicional contra sintomas como inflamação, doenças
reumáticas, e desconfortos gastrointestinais.
A ciência ocidental confirmou muitas
das indicações tradicionais do gengibre e constatou que ele possui atividades
antieméticas, antiinflamatórias e espasmolíticas; estimula a secreção gástrica
e a salivação; estimula a circulação periférica e aumenta a motilidade
gástrica. Os mecanismos de ação do gengibre para as náuseas não são plenamente
compreendidos, mas podem resultar da capacidade do gengibre de evitar arritmias
gástricas por meio da inibição da produção das prostaglandinas, embora não haja
inibição da função das prostaglandinas.
No Brasil, os produtos disponíveis
no mercado são: amido do gengibre, balas e cristais de gengibre e bebida
alcoólica com gengibre, além do gengibre em pó.
O gengibre tem sido incluído no
“Geralmente Reconhecido como Seguro” (GRAS), documento da FDA (Food and Drug
Administration). É caracterizado por este órgão como aditivo alimentar, mas
atualmente é estudado como um tratamento para náuseas e vômitos. Efeitos
adversos após a ingestão de gengibre não são conhecidos. Em alguns estudos
foram descritos leves efeitos gastrointestinais, como azia, diarréia e
irritação na boca. Devido à possibilidade de aumentar o risco de fibrinólise
(processo de destruição de um coágulo de fibrina, que é um produto da
coagulação do sangue), recomenda-se cautela em pacientes que tomam altas doses
de anticoagulantes como a varfarina.
Os gingeróis, principalmente o
6-gingerol são identificados como os maiores constituintes dos rizomas de
gengibre fresco e têm sido atribuídos a eles vários efeitos farmacológicos:
analgésico, antipirético, atividade anti-hepatotóxica, antinauseante e
antiinflamatória. Ele também inibe a promoção de tumor mediada, indução da
ornitina e TNF-α na pele de ratos. Além disso, inibe fator de crescimento
epidérmico (EGF) induzido por transformações neoplásicas em células epidérmicas
de rato JB6. Assim ele é considerado um potencial quimipreventivo e
anti-tumoral. É conhecido por inibir o Fator Nuclear Kappa-Beta (NF-κβ) e a
Proteína ativada-1 (AP-1, fator que regula a expressão de vários genes que estão
envolvidos na diferenciação e proliferação celular na tumorigênese) processo de
ativação, 6-gingerol e pode causar uma supressão significativa da proliferação
celular e sensibiliza as células para apoptose (morte celular programada).
Os estudos apontam que o gengibre é
capaz de auxiliar o tratamento de pacientes oncológicos tratados com
quimioterapia por meio da redução dos sintomas de náuseas e vômitos, dentre
outros efeitos benéficos, constituindo uma promissora terapia adjuvante do
câncer. Entretanto, mais estudos são necessários para que se possa identificar
a dose exata de gengibre que deve ser ofertada aos pacientes oncológicos para o
controle de cada um desses sintomas.
Basicamente os gingeróis e shogaóis
são os responsáveis pela maior parte das atividades terapêuticas do gengibre. O
shogaol, que é um produto da quebra de gingerol produzido durante a secagem, é
duas vezes mais pungente que o gingerol. Investigando os efeitos dos
componentes oleorresinosos do gengibre, alguns autores compararam a atividade
dos gingeróis e shogaóis na inibição da enzima ciclooxigenase do tipo 2. Tal
enzima é um produto da ativação do ácido araquidônico e é conhecida como a
ciclooxigenase induzível no processo inflamatório. Tanto os gingeróis como os
shogaóis foram capazes de inibir a ciclooxigenase -2 em modelos experimentais in vitro.
A sua ação antiinflamatória e
cicatrizante, e o seu uso sobre a mucosa oral, encontram-se pouco esclarecidos
na literatura científica. O processo inflamatório é mediado por uma série de
mediadores que promovem e facilitam a transmissão dolorosa, hiperalgesia (sensibilidade exagerada à dor) e as
alterações clássicas periféricas como dor, calor, rubor, aumento da
permeabilidade vascular, atração de células fagocitárias, neutrófilos,
linfócitos e polimorfonucleares. O suco fresco de gengibre foi descrito como
alívio efetivo contra dor, bolhas e inflamação provocada por queimaduras. Um
estudo realizado verificou a capacidade antiinflamatória do extrato dos rizomas
do gengibre sobre o edema de pele de ratos e observou que o composto
oleorresinoso, quando aplicado topicamente, provocava uma diminuição do edema,
porém resultados similares não foram encontrados quando o gengibre foi
utilizado na sua forma de extrato aquoso, muito provavelmente em função de que
os compostos oleorresinosos detenham as suas propriedades terapêuticas
antiinflamatórias.
Além de todas as propriedades
apresentadas pelo gengibre, a sua atividade antimicrobiana está sendo bastante
estudada. Pesquisas mostram que óleos e extratos de Zingiber officinale apresentam ação inibitória em bactérias gram
positivas e gram negativas, porém ainda há poucos estudos que relacionam o
gengibre aos microorganismos prevalentes na cavidade bucal, visto que esta
apresenta uma flora bastante variada e que pode desencadear inúmeras
patogenias.
Os extratos de gengibre também já
foram destacados na redução de peso. Em algumas pesquisas esses extratos podem
auxiliar na redução de níveis elevados de lipídios e de glicose em obesidade
relacionado com a resistência à insulina, pois estes inibem enzimas que limitam
o metabolismo do LDL (colesterol ruim). Vale ressaltar que o gengibre pode ser
utilizado de diversas formas e em variadas receitas. Em geral, não apresenta
uma quantidade de consumo ideal, mas cuidado, alguns estudos demonstram que o
excesso do consumo desse condimento para mulheres grávidas pode ter efeito
abortivo.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
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de Estudo em Alimentos Funcionais. Disponível em: www.alimentofuncional.webnode.com
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