segunda-feira, 29 de julho de 2013

Gengibre



        O uso de plantas medicinais é uma prática de quase todas as culturas, e no Brasil não é diferente, principalmente pela flora ser vasta e generosa, contribuindo muito para a terapêutica.

O gengibre é o tubérculo de uma planta chamada Zingiber officinale, originária do sul da Ásia, porém atualmente espalhada pelo mundo. Fica difícil dizer se a sua difusão global, ao longo dos séculos, deve-se às suas propriedades medicinais ou à sua participação em inúmeros alimentos. Na culinária oriental, europeia e americana, o gengibre entra na confecção de mo­lhos para carnes, peixes, doces, bebidas alcoólicas. Na Índia, ele é amplamente utili­zado na culinária; na Jamaica é feita cerveja de gengibre; no Brasil temos o tradicional quentão das festas juninas e inúmeras outras participações em pratos regionais.

     Na área de saúde, o gengibre predomina no receituário po­pular como bom para a digestão, gripes e resfriados na forma de infusão para ingestão ou gargarejo. Na indicação médica for­mal, ele praticamente inexiste.

      Fitoquimicamente, o gengibre apresenta de 1-3% de óleo essencial (sesquiterpenos), 2,5-5% de princípios picantes (gingerol e shogaol). Ele tem sido usado para tratar várias condições clínicas, incluindo aquelas que afetam o trato digestório, tais como dispepsia (dificuldade de digestão), flatulência, náuseas e dor abdominal. É utilizado na medicina oriental tradicional contra sintomas como inflamação, doenças reumáticas, e desconfortos gastrointestinais.

        A ciência ocidental confirmou muitas das indicações tradicionais do gengibre e constatou que ele possui atividades antieméticas, antiinflamatórias e espasmolíticas; estimula a secreção gástrica e a salivação; estimula a circulação periférica e aumenta a motilidade gástrica. Os mecanismos de ação do gengibre para as náuseas não são plenamente compreendidos, mas podem resultar da capacidade do gengibre de evitar arritmias gástricas por meio da inibição da produção das prostaglandinas, embora não haja inibição da função das prostaglandinas.

       No Brasil, os produtos disponíveis no mercado são: amido do gengibre, balas e cristais de gengibre e bebida alcoólica com gengibre, além do gengibre em pó.

    O gengibre tem sido incluído no “Geralmente Reconhecido como Seguro” (GRAS), documento da FDA (Food and Drug Administration). É caracterizado por este órgão como aditivo alimentar, mas atualmente é estudado como um tratamento para náuseas e vômitos. Efeitos adversos após a ingestão de gengibre não são conhecidos. Em alguns estudos foram descritos leves efeitos gastrointestinais, como azia, diarréia e irritação na boca. Devido à possibilidade de aumentar o risco de fibrinólise (processo de destruição de um coágulo de fibrina, que é um produto da coagulação do sangue), recomenda-se cautela em pacientes que tomam altas doses de anticoagulantes como a varfarina.

       Os gingeróis, principalmente o 6-gingerol são identificados como os maiores constituintes dos rizomas de gengibre fresco e têm sido atribuídos a eles vários efeitos farmacológicos: analgésico, antipirético, atividade anti-hepatotóxica, antinauseante e antiinflamatória. Ele também inibe a promoção de tumor mediada, indução da ornitina e TNF-α na pele de ratos. Além disso, inibe fator de crescimento epidérmico (EGF) induzido por transformações neoplásicas em células epidérmicas de rato JB6. Assim ele é considerado um potencial quimipreventivo e anti-tumoral. É conhecido por inibir o Fator Nuclear Kappa-Beta (NF-κβ) e a Proteína ativada-1 (AP-1, fator que regula a expressão de vários genes que estão envolvidos na diferenciação e proliferação celular na tumorigênese) processo de ativação, 6-gingerol e pode causar uma supressão significativa da proliferação celular e sensibiliza as células para apoptose (morte celular programada).

     Os estudos apontam que o gengibre é capaz de auxiliar o tratamento de pacientes oncológicos tratados com quimioterapia por meio da redução dos sintomas de náuseas e vômitos, dentre outros efeitos benéficos, constituindo uma promissora terapia adjuvante do câncer. Entretanto, mais estudos são necessários para que se possa identificar a dose exata de gengibre que deve ser ofertada aos pacientes oncológicos para o controle de cada um desses sintomas.

     Basicamente os gingeróis e shogaóis são os responsáveis pela maior parte das atividades terapêuticas do gengibre. O shogaol, que é um produto da quebra de gingerol produzido durante a secagem, é duas vezes mais pungente que o gingerol. Investigando os efeitos dos componentes oleorresinosos do gengibre, alguns autores compararam a atividade dos gingeróis e shogaóis na inibição da enzima ciclooxigenase do tipo 2. Tal enzima é um produto da ativação do ácido araquidônico e é conhecida como a ciclooxigenase induzível no processo inflamatório. Tanto os gingeróis como os shogaóis foram capazes de inibir a ciclooxigenase -2 em modelos experimentais in vitro.

       A sua ação antiinflamatória e cicatrizante, e o seu uso sobre a mucosa oral, encontram-se pouco esclarecidos na literatura científica. O processo inflamatório é mediado por uma série de mediadores que promovem e facilitam a transmissão dolorosa, hiperalgesia (sensibilidade exagerada à dor) e as alterações clássicas periféricas como dor, calor, rubor, aumento da permeabilidade vascular, atração de células fagocitárias, neutrófilos, linfócitos e polimorfonucleares. O suco fresco de gengibre foi descrito como alívio efetivo contra dor, bolhas e inflamação provocada por queimaduras. Um estudo realizado verificou a capacidade antiinflamatória do extrato dos rizomas do gengibre sobre o edema de pele de ratos e observou que o composto oleorresinoso, quando aplicado topicamente, provocava uma diminuição do edema, porém resultados similares não foram encontrados quando o gengibre foi utilizado na sua forma de extrato aquoso, muito provavelmente em função de que os compostos oleorresinosos detenham as suas propriedades terapêuticas antiinflamatórias.

    Além de todas as propriedades apresentadas pelo gengibre, a sua atividade antimicrobiana está sendo bastante estudada. Pesquisas mostram que óleos e extratos de Zingiber officinale apresentam ação inibitória em bactérias gram positivas e gram negativas, porém ainda há poucos estudos que relacionam o gengibre aos microorganismos prevalentes na cavidade bucal, visto que esta apresenta uma flora bastante variada e que pode desencadear inúmeras patogenias.


         Os extratos de gengibre também já foram destacados na redução de peso. Em algumas pesquisas esses extratos podem auxiliar na redução de níveis elevados de lipídios e de glicose em obesidade relacionado com a resistência à insulina, pois estes inibem enzimas que limitam o metabolismo do LDL (colesterol ruim). Vale ressaltar que o gengibre pode ser utilizado de diversas formas e em variadas receitas. Em geral, não apresenta uma quantidade de consumo ideal, mas cuidado, alguns estudos demonstram que o excesso do consumo desse condimento para mulheres grávidas pode ter efeito abortivo.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.


Referências Bibliográficas:

Aranha, JB. Gengibre e seus benefícios. Grupo de Estudo em Alimentos Funcionais. Disponível em: www.alimentofuncional.webnode.com Acessado em: 04/07/2013.

Barreto, AMC; Toscano, BAF; Fontes, RC. Efeitos do gengibre (Zingiber officinale) em pacientes oncológicos tratados com quimioterapia. Com Ciências Saúde 2011, v.22, n.3: p.257-270.

Goyal, RK; Kadnur, SV. Beneficial effects of Zingiber officinale on goldthioglucose induced obesity. Fitoterapia 2006, v.77: p. 160-163.

Grégio, AMT; Fortes, ESM; Rosa, EAR; Simeoni, RB; Rosa; RT. Ação antimicrobiana do Zingiber officinale frente à microbiota bucal. Rev Estud Biol 2006, v.28, n.62: p.61-66.

Júnior, HPL; Lemos, ALA. Gengibre. Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM), Centro Cochrane do Brasil.   Diagn Tratamento 2010, v.15, n.4: p.174-178.

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