terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Gastrite e Úlcera


Tanto na gastrite como na úlcera o ponto central da doença consiste no desequilíbrio entre os fatores que agridem a mucosa gastrointestinal (como ácido clorídrico, pepsina, bile, medicamentos ulcerogênicos) e os fatores que a protegem (como a prostaglandinas, secreção mucosa). Esse desequilíbrio resulta em lesão da mucosa, que, dependendo do grau de profundidade, pode caracterizar a gastrite (inflamação) ou a úlcera péptica (perda de tecido nas áreas do tubo digestório que entram em contato com a secreção ácido do estômago). Um fator importante na etiopatogenia da úlcera é a presença do Helicobacter pylori, que aparece em cerca de 70% das úlceras gástricas e de 90% nas duodenais.

              O diagnóstico é feito pelo clínico e/ou endoscopista, prescindindo da microscopia.

           A gastrite é classificada como aguda ou crônica de acordo com as células inflamatórias que infiltram o tecido. A gastrite aguda é a infiltração da mucosa por polimorfonucleares causada por hábito alimentar desregrado, álcool, medicamentos e estresse. Causa dor na parte superior do abdômen, náuseas, vômitos, mal-estar, anorexia. A gastrite crônica é a inflamação da mucosa do estômago, que tem como principal fator etiológico o Helicobacter pylori. A dor pode ser contínua, ocorrendo perda de apetite e hemorragia.

              Azia (queimação), estufamento, dificuldade de digestão, flatulência são sintomas constantes.

  Além do H. pylori, há diversos fatores etiológicos que podem estar envolvidos no desenvolvimento da gastrite crônica. O uso crônico de bebidas alcoólicas, por exemplo, pode causar eritema e erosões, sendo que as lesões que são produzidas pela ingestão do álcool resultam no rompimento da barreira da mucosa gástrica e, como consequência, a retrodifusão dos íons H+.

               Ao todo, os fatores etiológicos da gastrite crônica se resumem à dieta inapropriada, tabagismo, alcoolismo, medicamentos e ingestão de substâncias corrosivas, estresse, procedimentos cirúrgicos, insuficiência hepática, infecções sistêmicas e também o H. pylori.

Avaliação Nutricional

              É fundamental a investigação sobre a existência de deficiências nutricionais, com a finalidade de planejar a sua recuperação no preparo do plano dietético. As deficiências mais comuns são de energia, proteínas e ferro (que pode ocorrer devido a hemorragias constantes). Na gastrite crônica é comum a deficiência de vitaminas B12.

Quadro 1. Indicadores para avaliação nutricional.

Antropométricos
Clínicos
Bioquímicos
Peso
Avaliação nutricional subjetiva
Albumina sérica
Altura
Exame físico
Pré-albumina sérica
Prega cutânea do tríceps
Anamnese alimentar
Hemograma
Circunferência muscular do braço

Balanço nitrogenado


Transferrina sérica
Fonte: Cuppari, 2002.


Recomendações Nutricionais

         Embora os tipos de lesões nas gastrites e úlceras sejam distintos do ponto de vista morfológico, no que diz respeito ao tratamento dietético podem ser estabelecidas as mesmas diretrizes.


           Os alimentos interferem de forma fundamental na produção de substâncias e alterações da motilidade gástrica. Os muito quentes acarretam congestão da mucosa gástrica que eleva a secreção ácida e diminui o tempo de evacuação.

           O leite não é um alimento indicado para aliviar a dor ou queimação, sintoma comum nesses pacientes. Embora possa levar ao alívio instantâneo quando ingerido, o leite por ser rico em cálcio e proteínas, resulta em rebote ácido, isto é, estimula a produção ácida gástrica e acaba intensificando a dor. Ele deve ser consumido como parte integrante da alimentação, na quantidade recomendada nos guias alimentares (duas a três porções ao dia), e não em quantidades abusivas com o objetivo de aliviar a dor.
 
Com relação as frutas ácidas, deve-se respeitar a tolerância do paciente. O pH do estômago (por volta de 2) é mais ácido que qualquer fruta (por exemplo, o pH do suco de laranja é em torno de 3), e por isso não seria necessário evitá-las, no entanto alguns pacientes relatam dispepsia (dificuldade na digestão dos alimentos) com cítricos.

Quadro 2.  Recomendações dietéticas para gastrite.

Característica
Recomendação
Valor energético total
Suficiente para manter ou recuperar o estado nutricional
Distribuição calórica
Normal (carboidratos: 50-60%, proteínas: 10-15%, lipídios: 25-20%)
Consistência
Geral ou adaptada às condições da cavidade oral.
Fracionamento
4 a 5 refeições/dia (evitar longos períodos em jejum).
Alimentos com efeito positivo
Ricos em fibras alimentares (vegetais em geral): a fibra apresenta efeitos benéficos, agindo como tampão, reduzindo a concentração de ácidos biliares no estômago e reduzindo o tempo de trânsito intestinal, levando a menor distensão.
Alimentos a serem evitados
Bebidas alcoólicas: o álcool é um potente irritante da mucosa intestinal.
Café: mesmo que seja do tipo descafeinado, leva ao aumento da produção ácida gástrica, resultando em irritação da mucosa.
Refrigerantes: à base de cola são relacionados ao aumento da produção ácida. Além disso, por serem gasosos, provocam distensão gástrica e podem relacionar-se a dispepsia.
Pimenta vermelha: possui capsaicina –substância irritante gastrintestinal. A preta também é irritante, porém a substância ainda não foi identificada.
Mostarda em grão, chilli: são irritantes.
Frutas ácidas
Respeitar a tolerância do paciente. O pH do estômago (por volta de 2) é mais ácido do que qualquer fruta (por exemplo, o pH do suco de laranja é em torno de 3), por isso não seria necessário evitá-las. No entanto, alguns pacientes relatam dispepsia com cítricos.
Ambiente durante a alimentação
Procurar fazer as refeições em ambiente tranqüilo, comendo devagar e mastigando bem os alimentos.
Fonte: Cuppari, 2002.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Badawi, C. Gastrite – Aspectos Nutricionais. Disponível em: www.nutrociencia.com.br Acessado em: 13/09/2013.

Caruso, L. Distúrbios do Trato Digestório. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina -nutrição clínica no adulto. 1a ed. São Paulo: Manole. 2002. p. 201-222.
Caruso, L; Simony, RF; Silva, ALND. Dietas Hospitalares: uma abordagem na prática clínica. 1 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2004, p.33-34.

Chehter, L et al. Gastrites. In: Miszputen SJ. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina - Gastroenterologia. 2a ed. São Paulo: Manole. 2007. p. 31-38.


Ddine, LC et al. Fatores associados com a gastrite crônica em pacientes com presença ou ausência do Helicobacter pylori. ABCD Arq Bras Cir Dig 2012; v.25, n.2: p.96-100.

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