quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dietoterapia na AIDS/HIV

            A AIDS é causada pelo vírus HIV, que insere seu material genético no DNA de células
-alvo hospedeiras, principalmente linfócitos CD4, células de defesa do sistema imunológico humano, destruindo-as após ampla replicação em seu interior. Esta replicação do vírus provoca a morte das células-alvo, causando imunodeficiência e predispondo os indivíduos com HIV a inúmeras infecções causadas pelos mais diferentes tipos de patógenos (vírus, fungos, bactérias e protozoários) e afetam diversos sistemas orgânicos.

         O estado nutricional e a ingestão alimentar inadequados desempenham importantes papeis no desenvolvimento da AIDS. Embora a área muscular do braço e o peso corporal apresentem correlação positiva com a contagem de CD4, tem-se que o estado nutricional influencia a sobrevida independentemente desta contagem. Além disso, sabe-se que a alimentação não só afeta a saúde como um todo, mas também a qualidade de vida e a resposta ao tratamento.

            As mudanças nas formas do corpo e metabólicas consistem em:

● aumento no tamanho da cintura e afinamento nas extremidades;
● mudanças na face: traços da pele acentuados, perda de gordura lateral e dobra nasolabial;
● aumento da gordura dorsocervical;
● nas mulheres aumento das mamas e diminuição das coxas;
● aumento do colesterol LDL e VLDL e triglicerídeos;
● alteração no metabolismo glicídico, resistência à insulina, diabetes.

           Praticamente todos os pacientes com AIDS são acometidos pela perda de peso. A síndrome consumptiva pode ser definida como a redução involuntária de 10% ou mais do peso corporal habitual, acompanhada de diarreia e/ou febre e/ou fraqueza crônica. Os pacientes sofrem grande redução de massa magra, diminuição de todos os compartimentos corporais. Quando a massa magra atinge 54% do seu valor habitual, a morte do paciente é inevitável.

Características da dieta

           Para a estimativa da necessidade energética, recomenda-se o uso da equação de Harris-Benedict ou calorimetria indireta, acrescentando-se o fator de injúria (1,3 a 1,7) e o fator térmico, de acordo com a temperatura do paciente.

Quadro 1. Recomendações de energia e proteínas.

HIV/AIDS Assintomáticos
AIDS Sintomáticos
25-30 kcal/kg de peso atual
35-40 kcal/kg de peso/dia
0,8-1,25g de proteínas/kg de peso/dia
1,5-2,0g de proteínas/kg de peso/dia
120:1 cal não proteicas/g de nitrogênio
35 kcal/kg de peso/dia
2,0-3,0g de proteínas/kg/dia
Fonte: Cuppari, 2002.


            O consumo de lipídios não deve ser restringido, exceto quando há esteatorreia. Neste caso, a dieta deve ser suplementada com triglicerídeos de cadeia media (TCM). Alguns autores sugerem o uso concomitante de TCM e óleos de peixe, que podem melhorar a função imune dos doentes.

            A ingestão adequada de carboidratos é fundamental para “poupar” as proteínas. O consumo destes nutrientes deve contribuir com 50 a 60% do valor energético total.

            A suplementação de vitaminas e minerais é necessária, porém não em megadoses. A literatura recente comenta que devem suprir em 100% das recomendações para pessoas saudáveis e múltiplos de vitamina A, E, B6, B12 e zinco. A via preferencial de administração é a oral, pois as injeções são caras, dolorosas e podem provocar abcessos. As gestantes soropositivas devem receber suplementação extra de ferro e folato.

           Os pacientes com AIDS devem consumir pequenas quantidades de alimentos frequentemente. Alimentos que podem ser ingeridos com as mãos são mais interessantes para os indivíduos mais fracos e debilitados, devido à sua dificuldade de manusear talheres.

           Algumas sugestões para aumentar o valor energético e proteico da dieta visando à recuperação do peso:

● enriquecer bebidas, sobremesas (frutas, doces concentrados, pudins) e sopas com leite, queijos, gelatinas, mel, açúcar, margarina;

● adicionar óleo vegetal às preparações salgadas e saladas;

● em preparações líquidas, como sucos de frutas, substituir a água pelo leite;

● se a gordura não for bem tolerada, consumir suplementos e alimentos ricos em carboidratos e proteínas, mas não em lipídios (exemplos: pudins e suflês feitos com leite desnatado, carnes magras, peito de frango, peixes, ovos cozidos, cereais);

● se o leite não for bem aceito, substituí-lo por uma mistura de leite de soja com mel ou açúcar e óleo vegetal e fornecer outras fontes de cálcio, como queijos.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Coppini, LZ; Ferrini, MT. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) . In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina -nutrição clínica no adulto. 1a ed. São Paulo: Manole. 2002. p. 235-247.


Polacow, VO. et al. Alterações no estado nutricional e dietoterapia na infecção por HIV. Rev Bras Nutr Clin 2004; v.19, n.2: p. 79-85.

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