A fenilcetonúria ou PKU, como é mundialmente conhecida, é uma doença genética,
causada por uma mutação no gene que codifica a enzima fenilalanina-hidroxilase,
ativa no fígado e responsável pela transformação do aminoácido fenilalanina
(PHE) em tirosina. A elevação de fenilalanina no sangue, acima de 10mg/dl,
permite a passagem em quantidade excessiva para o Sistema Nervoso Central, no
qual o acumulo tem efeito tóxico. O retardo mental é a mais importante sequela dessa doença.
Quadro 1. Classificação das
Hiperfenilalaninemias por Deficiência de Fenilalanina-hidroxilase.
Denominação
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Atividade
Enzimática
|
Concentração
de Fenilalanina no plasma*
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Fenilcetonúria
Moderada ou Grave (Clássica)
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< 1%
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> 20mg/100ml
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Fenilcetonúria
Leve
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1 a 3%
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10 a 20mg/100ml
|
Hiperfenilalaninemia
Benigna
|
> 3%
|
04 a 10mg/100ml
|
*
Valor de referência normal até 4mg/100ml.
Fonte: Turcato, MF.
Os portadores de fenilcetonúria não
apresentam sintomas ao nascer. Não há anormalidades aparentes ao nascimento,
pois o fígado materno protege o feto. Os níveis sanguíneos de fenilalanina do
recém-nascido fenilcetonúrico aumentam nas primeiras semanas com alimentação proteica, incluindo o leite materno.
As crianças não tratadas não
conseguem atingir os marcos necessários iniciais de desenvolvimento, podendo
apresentar comprometimento progressivo na função cerebral. Desenvolvem-se
sintomas, como irritabilidade, dificuldade de aprendizado, falta de atenção,
distúrbios comportamentais, hiperatividade e crises convulsivas entre os 6 e 18
meses de vida.
A manifestação clínica mais grave é o retardo mental. Um paciente pode perder, em média, cinco unidades de Quociente de Inteligência (QI) a cada 10 semanas de atraso no tratamento.
A fenilalanina em excesso, têm efeito tóxico nas funções somáticas e do sistema nervoso central, interferem na síntese proteica cerebral e mielinização, diminuem a formação de serotonina e alteram a concentração de aminoácidos no líquor. Essas alterações determinam a perda de funções, especialmente da capacidade intelectual do portador.
Outras anormalidades eletroencefalográficas;
o odor "de rato" da pele, dos cabelos e da urina, devido ao acúmulo
de fenilacetato; e a tendência à hipopigmentação e eczema, completam o quadro
clínico. O cheiro característico, quando presente, impregna o local onde esteja
internado um paciente com fenilcetonúria. Em contraste, as crianças acometidas,
detectadas ao nascimento e tratadas imediatamente, em regra, não exibem
quaisquer dessas anormalidades.
Exames e
diagnósticos
O diagnóstico costuma ser feito ainda na
maternidade, por meio do teste do pezinho, que, tanto em hospitais da rede
pública quanto da privada, deve ser obrigatoriamente realizado para pesquisar,
no sangue do recém-nascido com mais de 48 horas de vida, a fenilcetonúria e o
hipotiroidismo.
O resultado positivo
para fenilcetonúria requer confirmação por uma nova análise do sangue do bebê.
Caso o diagnóstico seja feito mais tardiamente, outros métodos diagnósticos
podem ser necessários para avaliar o comprometimento gerado pelo excesso de
fenilalanina no organismo, tais como a ressonância magnética do encéfalo.
Tratamento
Diversas mulheres com
fenilcetonúria, e que foram tratadas desde a lactância, chegaram à idade adulta
e engravidaram. Se os níveis de fenilalanina não forem estritamente controlados
antes e no decorrer da gravidez, a criança estará sob o risco da fenilcetonúria
materna. Ao nascimento, essas crianças apresentam microcefalia e risco
aumentado de defeitos congênitos. A triagem neonatal permite o diagnóstico e
tratamento precoce e, assim, o desenvolvimento de uma geração de mulheres
intelectualmente normais e capazes de reproduzir.
Alimentos Permitidos
(zero a 20mg Phe/100g
de alimento)
|
Alimentos com médio teor de fenilalanina
(10 - 20mg Phe/100g
do alimento)
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Alimentos Proibidos
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Mel
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Massas
feitas sem ovos e com farinha de trigo de baixo teor de proteína
|
Carnes
e derivados
|
Balas
de frutas e de gomas
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Arroz
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Feijão
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Pirulitos
de frutas
|
Batata-inglesa
|
Ervilha
|
Picolés
de frutas
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Batata-doce
|
Soja
|
Algodão-doce
|
Batata-salsa
|
Grão-de-bico
|
Geleias de frutas
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Mandioca
|
Lentilha
|
Goiabada
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Cará
|
Amendoim
|
Farinha
de tapioca
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Abóbora
|
Leite
e derivados
|
Polvilho
de mandioca
|
Abobrinha
|
Achocolatado
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Sagu
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Berinjela
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Ovos
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Sucos
de frutas artificiais
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Beterraba
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Nozes
|
Refrigerantes
isentos de aspartame
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Brócolis
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Gelatinas
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Groselha
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Cenoura
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Bolos
|
Café
|
Chuchu
|
Farinha
de trigo
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Chá
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Couve-flor
|
Alimentos
industrializados com alto teor de fenilalanina
|
Alguns
cremes e pudins nos sabores baunilha, morango e caramelo
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Jiló
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Pães
em geral
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Pós
para milk-shake isentos de Phe
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Quiabo
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Biscoitos
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Tomate
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Alimentos
para fins especiais contendo aspartame
|
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Pepino
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Pimentão
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Cebola
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Folhosos
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Frutas
em geral.
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||
Benvenutri.
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Fonte: Adaptado de Monteiro & Cândido.
Por falta de maiores estudos, os
requerimentos proteicos para os fenilcetonúricos seguem as recomendações
propostas pela FAO/WHO, considerando-se a necessidade de ingestão de proteína
igual à de indivíduos sadios (0,8-1,0g/kg).
A baixa ingestão de proteínas de
alto valor biológico e a predominância de alimentos de origem vegetal contendo
fibras, fitatos, oxalatos e taninos, entre outros fatores, repercute
diretamente na redução da biodisponibilidade de nutrientes como ferro, zinco,
cálcio, selênio, vitaminas A, complexo B, D, entre outros.
O zinco (Zn) é essencial para a
função de mais de 70 enzimas diferentes. Assim, a biodisponibilidade do Zn é influenciada pela dieta rica em
fibra e ácido fítico, pela presença de hemiceluloses, que aumentam a excreção
de Zn fecal, por dietas ricas em ácidos graxos poliinsaturados, pelo excesso de
aminoácidos livres e pelas interações entre Zn/Fe, Zn/Ca e Zn/P.
Em pesquisa realizada com crianças
fenilcetonúricas, demonstrou-se um decréscimo da densidade mineral óssea na
espinha lombar e extremidades menores, e discute se a menor concentração de
cálcio (Ca) e magnésio (Mg) séricos de crianças com PKU é devida ao tratamento
e processo da doença ou à reduzida biodisponibilidade mineral.
As necessidades de Fe aumentam na
adolescência devido à demanda da expansão de massa muscular e volume sanguíneo.
Investigando a quantidade de selênio
(Se), verificaram que os valores de Se e a atividade da glutationa peroxidase
no plasma e eritrócitos foram bem menores, quando comparados com os de crianças
sadias. Nutrientes ricos em Se estão ligados a carnes, frutos do mar, ovos e
alguns grãos, que não fazem parte da alimentação dos fenilcetonúricos devido ao
alto teor de Phe. Conseqüentemente, a quantidade de Se diminui nos pacientes
após o início da dietoterapia, reduzindo a atividade da glutationa peroxidase
no eritrócito.
Deficiência de vitamina B12 também
foi observada em adolescentes e adultos com PKU. A vitamina B12 é
essencial para o crescimento dos tecidos, havendo maior necessidade durante a
adolescência. A sua deficiência se manifesta por anemia megaloblástica e
desordens neurológicas. As maiores fontes dessa vitamina são carnes, fígado,
peixe, ovos, leite e derivados. Cereais, legumes e frutas não contêm vitamina B12.
Logo, portadores de PKU têm grande propensão a essa deficiência, devido ao
tratamento alimentar.
Observa-se também que, devido à reduzida
ingestão de proteínas animais, crianças com PKU têm como conseqüência baixa
ingestão de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, como ácido
araquidônico, ácido eicosapentaenóico e ácido docosahexaenóico, encontrados
somente em alimentos de origem animal. Esses ácidos graxos estão ligados quase
que exclusivamente à síntese endógena de precursores como o ácido linoleico e
a-linolênico. A redução ou não ingestão desses ácidos graxos faz com que esse
mecanismo de síntese seja inadequado às necessidades fisiológicas das células e
tecidos e tem por conseqüência implicações nas respostas inflamatórias,
coagulativas e vasoativas, bem como sobre os processos homeostáticos.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Fenilcetonúria. Disponível em: www.fleury.com.br Acessado em: 22/01/2014.
Mira, NVM; Marquez, UML. Importância do
diagnóstico e tratamento da fenilcetonúria. Rev Saúde Pública 2000; v.34, n.1:
p. 86-96.
Monteiro, LTB; Cândido, LMB. Fenilcetonúria
no Brasil: evolução e casos. Rev Nutr 2006; v.19, n.3: p. 381-387.
Turcato, MF. Erros Inatos do Metabolismo da
Fenilalanina: Fenilcetonúria clássica e demais Hiperfenilalaninemias. Faculdade
de Medicina de Ribeiro Preto-USP. Disponível em: www.mp.fmrp.usp.br Acessado em:
22/01/2014.
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