A Bulimia Nervosa manifesta-se por
meio de episódios de ingestão exagerada de alimentos, ou seja, consumo de
quantidade de comida definitivamente superior àquela que a maioria das pessoas
comeria em um período similar, em circunstâncias semelhantes. Em média são
ingeridas 2.000 a 5.000kcal por episódio, acompanhado de sensação intensa de
perda de controle, culpa e vergonha. Esses episódios de voracidade podem ser
seguidos de métodos compensatórios purgativos, como vômitos autoinduzidos (80 a
85% dos casos), abuso de laxantes ou diuréticos, além de períodos de jejum
prolongado e excesso de atividade física.
O início dos sintomas, na bulimia nervosa, ocorre
entre os 18 e 23 anos em mulheres, mas se observa que a procura por tratamento
médico demora, em média, cinco anos. Observa-se início um pouco mais tardio
para homens (20 a 25 anos). Com os novos padrões de estética masculina, é
possível que ocorram alterações no aparecimento do número de casos de homens
com esse tipo de transtorno.
Para critério diagnóstico, tanto os episódios do
comer compulsivo como os comportamentos purgativos devem ocorrer uma vez por semana, por no mínimo três meses. O medo de ficar
“gordo” é uma preocupação extrema, que se torna praticamente tema único da vida
do paciente; ele tem prejuízo em sua autoavaliação em consequência da forma e
peso corporais. A bulimia nervosa tem subtipos para diferenciar os métodos
purgativos utilizados para compensar o episódio bulímico:
Subtipos:
- Purgativos: autoindução de
vômitos, uso indevido de laxantes e diuréticos.
- Sem purgação: sem práticas
purgativas, porém com prática de exercícios excessivos ou jejuns.
A bulimia nervosa, diferente da anorexia, não é uma
doença com características “visíveis aos olhos”; os pacientes têm
invariavelmente peso normal e as alterações físicas são - pelo menos no início
– sutis e observáveis apenas para os profissionais que conhecem a patologia.
São três os sinais clínicos clássicos na observação do paciente com BN: a hipertrofia
bilateral das glândulas salivares, particularmente das parótidas, - cuja
patofisiologia é de origem desconhecida; a lesão de pele no dorso da mão,
conhecida como “sinal de Russell”, causada pela introdução da mão na boca para
estimular o reflexo do vômito, que pode variar de calosidade à ulceração, e o
desgaste dentário provocado pelo suco gástrico dos vômitos, que leva à
descalcificação dos dentes e aumenta o desenvolvimento de cáries, podendo levar
até a perda de dentes. Outros sinais e sintomas clínicos encontrados são: edema
generalizado, queda de cabelo, equimoses na face e pescoço, descamação da pele,
alterações menstruais, hipotermia, gengivite, fraqueza muscular e cãibras,
assim como arritmias e poliúria.
Alterações metabólicas e hidroeletrolíticas são as
mais comuns, e as mais graves complicações encontradas. A desidratação,
hipocalemia, hipomagnesemia, hipocloremia, hiponatremia, alcalose metabólica
são encontradas em cerca de 25% dos pacientes.
A bulimia nervosa é, ainda, muitas vezes
acompanhada de comorbidades psiquiátricas, como, depressão, doença afetiva
bipolar, distimia, transtorno ansioso, transtorno obsessivo compulsivo,
transtornos de personalidade, ideação suicida, que podem levar a complicações
clínicas e prejuízo na vida como um todo: social, sexual, trabalhista, familiar.
Terapia Nutricional
A American Dietetic Association estabeleceu
diretrizes básicas para o tratamento nutricional dos transtornos alimentares,
propondo uma fase inicial baseada em educação nutricional e uma fase seguinte
baseada em aconselhamento para mudar comportamentos e atitudes alimentares.
A interrupção do ciclo da bulimia e
a normalização do padrão alimentar são o foco principal do tratamento. A
orientação nutricional começa no “início do tratamento”: o paciente precisa
readquirir o controle sobre o comportamento alimentar. Deve ser encorajado a
aderir a uma rotina alimentar que ajude a normalizar a alimentação. O
planejamento das refeições consiste em 3 refeições principais além dos lanches
intermediários.
A ingestão calórica, inicialmente,
deve ser suficiente para manter o peso e prevenir a fome, já que esta aumenta a
possibilidade de compulsão. É necessário aprender, quando se pode comer, quanto
de comida é o suficiente e o que é comer normalmente, aspectos que parecem
simples mas se tornam confusos para esses pacientes.
O aconselhamento nutricional faz
parte da terapia cognitiva-comportamental (TCC) recomendada para o tratamento
de BN, que aborda o controle do peso corpóreo, balanço energético, efeitos da
fome, consequências da purgação, crenças e mitos sobre dietas e peso, assim
como acessa atitudes distorcidas e os sentimentos sobre o corpo e forma. O
diário alimentar pode ser uma ótima ferramenta para ajudar o paciente a normalizar
o consumo alimentar, pois é um meio de suporte, segurança e educação.
Se há excesso de peso, uma perda
razoável só será conseguida após a estabilização do comportamento alimentar. A
interrupção da purgação pode levar a aumento de peso atribuído parcialmente à
reidratação. As flutuações de peso devem ser discutidas com o paciente, e é
possível utilizar a composição corpórea como forma de controle. Por outro lado,
a retirada dos laxantes às vezes leva à constipação e, assim, deve haver
orientação alimentar para promover a função intestinal normal.
À medida que o paciente estabiliza o
consumo alimentar e o peso, a frequência do acompanhamento vai sendo reduzida.
Podem ocorrer recaídas, o que não significa retrocesso, mas um estágio no
processo de recuperação, com o paciente devendo ser orientado a retornar à sua
rotina alimentar.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores
físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Alvarenga, M. S. Bulimia Nervosa: Avaliação do padrão e comportamento alimentares. [Tese
de Doutorado] Universidade de São Paulo – USP, 2001.
Alvarenga, MS; Scagliusi, FB. Tratamento
nutricional da bulimia nervosa. Rev Nutr. 2010; v.23, n.5: p. 907-918.
Alvarenga, MS; Scagliusi, FB; Philippi, ST. Nutrição e
transtornos alimentares: Avaliação e tratamento. 1 ed. São Paulo: Manole, 2011.
Claudino, AM; Zanella, MT. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola
Paulista de Medicina - Transtornos Alimentares e Obesidade. 1 ed. Baureri:
Manole. 2005. p.39-48.
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