A interação droga-nutriente é um
assunto relativamente recente e as informações a respeito ainda são um pouco
escassas, mas vêm crescendo nos últimos tempos. Vale salientar que outros
fatores além da alimentação podem afetar o mecanismo de ação do medicamento,
como por exemplo, a idade, o peso e o sexo.
É
importante saber que os medicamentos sofrem interação com os nutrientes. Por
isso, algumas drogas não devem ser consumidas juntamente com alimentos, pois
isto pode diminuir sua absorção e utilização pelo organismo humano. Já outros
medicamentos têm indicação para serem administrados junto com a comida, para
evitar, por exemplo, a irritação do estômago. Estas informações são importantes
para a programação da dietoterapia de um paciente. Dessa maneira, é
interessante que o nutricionista saiba onde age cada tipo de droga e como elas
podem interagir com a alimentação.
Sempre escutamos falar sobre a
interação entre leite, café e álcool com inúmeros medicamentos. Por exemplo, o
álcool pode aumentar os efeitos colaterais causados pelos medicamentos, como
a sonolência provocada pelos antialérgicos.
No caso de medicamentos para
doenças cardiovasculares, os inibidores da enzima conversora de angiotensina
podem elevar a quantidade de potássio do corpo. Por isso, ao consumir tais
medicamentos evite comer grandes quantidades de alimentos ricos em potássio
como banana, laranja e substitutos do sal que contenham potássio.
Em contraposição, um problema
relacionado a medicamentos para doenças cardiovasculares é que o consumo de alimentos
ricos em fibras como a cenoura, pode atrapalhar a absorção da digoxina.
Semelhante à digoxina, o paracetamol, um anti-inflamatório
muito utilizado, não é totalmente absorvido quando ingerido com alimentos ricos
em fibras.
Relação entre Medicamentos e
Nutrientes
● Antiácidos:
neutralizam a acidez estomacal. O uso desta droga por longo período de tempo
pode levar a deficiência de alguns nutrientes, pois a acidez do estômago é
importante para a digestão e/ou absorção de alguns nutrientes. Os idosos
produzem menos ácido estomacal, o que leva a menor absorção de vitamina B12
e o uso regular de antiácidos reduz ainda mais a absorção desta vitamina. A
suplementação de vitamina B12
pode ser necessária nesses casos.
● Antibióticos:
são usados para tratar infecções bacterianas e alguns deles diminuem a
síntese de vitamina K pelas bactérias intestinais e prejudicam os mecanismos de
coagulação. Os do tipo tetraciclina, se consumidos junto com leite e derivados,
se ligam ao cálcio e podem ser menos absorvidos. A penicilina e a eritromicina
são mais efetivas quanto ingeridas com o estômago vazio, entretanto, a comida
pode diminuir as chances de irritação do estômago. Por isso, o médico sempre
deve ser consultado para decidir se o antibiótico será ingerido com ou sem
alimentos.
● Anticoagulantes:
como a varfarina, diminuem o processo de coagulação sanguínea e sofrem
interferência com a vitamina K. Portanto, indivíduos que estão sob tratamento
com essas drogas devem ficar atentos à quantidade de vitamina K que ingerem
através da alimentação. É importante que alimentos ricos em vitamina K, como
fígado e vegetais de cor verde-escura (brócolis, espinafre, entre outros) sejam
evitados.
● Anticonvulsivantes:
ajudam a controlar crises de convulsão. As do tipo fenitoína,
fenobarbital e primidone podem causar diarreia e diminuição do apetite e,
consequentemente, diminuir a disponibilidade de vários nutrientes. Estas drogas
também aumentam a utilização da vitamina D pelo organismo humano, o que
significa que menos vitamina D fica disponível para as funções orgânicas (como
absorção do cálcio) e a suplementação pode ser necessária. Alguns
anticonvulsivantes também interagem com a vitamina B e ácido fólico, diminuindo
a quantidade circulante destas vitaminas. Mas, como os suplementos de ácido
fólico afetam os níveis sanguíneos da droga, a suplementação deve ser
supervisionada por um médico.
● Anti-histamínicos:
são usados para tratar alergias. Muitas destas drogas costumam causar
sonolência (principalmente se associadas ao álcool) e aumentar o apetite, o que
pode levar ao aumento de peso.
● Anti-inflamatórios: são prescritos a
pacientes com dores crônicas nas juntas, dores de cabeça, artrites, entre
outros. O uso em longo prazo pode causar irritação estomacal e úlceras, por
isso esta medicação deve ser ingerida com a comida. Uma atenção especial também deve ser
dada ao Ácido acetilsalicílico que tem sua absorção reduzida quando consumido
em conjunto com suco de maracujá (vitamina C) ou alface (Vitamina K) e pode
alterar o transporte de folato.
●
Anti-hiperlipidêmicos: as substâncias
utilizadas para reduzir o colesterol atuam reduzindo a absorção de gordura, o
que pode ter como efeito colateral a redução da absorção de vitamina A, D, E, K
e carotenoides. Foi demonstrado também que as absorções de vitamina B12, folato e cálcio
podem ser afetadas. Se utilizadas por longos períodos,
a suplementação com cálcio e multivitamínicos pode ser necessária.
● Anti-hipertensivos: podem alterar os
níveis de alguns minerais, como potássio, cálcio e zinco. Captopril, uma
substância hipotensiva e inibidora da enzima conversora de angiotensina, pode
se ligar ao ferro no intestino se for administrado juntamente com suplemento de
ferro. A alimentação também interfere na absorção dessa substância, já que a
alimentação retarda o esvaziamento gástrico e eleva o pH. Pacientes diabéticos que
estão sob tratamento com anti-hipertensivos podem ter maior dificuldade para
controlar a glicemia.
● Antineoplásicos: são utilizadas para
tratar diferentes tipos de câncer. Por irritarem a mucosa da boca, do estômago
e do intestino, estas drogas frequentemente causam náuseas, vômitos e/ou diarreia,
sintomas que afetam o estado nutricional. O mais conhecido é o metotrexato, o
qual prejudica o metabolismo do folato. Para minimizar esse efeito colateral,
recomenda-se o aumento da ingestão desse nutriente.
● Antitubecular (Tuberculose): O
medicamento isoniazida se liga à piridoxina e aumenta o risco de deficiência de
vitamina B6. Parece inibir também o metabolismo hepático
da vitamina D. A pelagra está associada ao uso prolongado de isoniazida, devido
a sua interferência no metabolismo de niacina.
● Antifúngicos: como o itraconazol,
devemos tomá-lo durante ou logo após uma refeição completa para obtermos maior eficiência.
● Diuréticos:
fazem com que o organismo humano aumente a excreção de urina, por isso são
frequentemente utilizados para tratar pessoas com hipertensão e retenção
hídrica. Porém, alguns diuréticos aumentam a perda de potássio, magnésio e
cálcio pela urina, outros limitam a perda de minerais. Neste último caso, a
suplementação mineral deve ser evitada. A furosemida tem sido associada à
deficiência de vitamina B1
em idosos.
● Laxantes:
aumentam a velocidade da digestão e reduzem o tempo de absorção de nutrientes.
O uso excessivo de laxantes pode causar a depleção de vitaminas lipossolúveis
(A, D, E, K), minerais (sódio e potássio) e aumentar as perdas hídricas,
podendo levar à desidratação.
No tratamento da osteoporose, os
medicamentos são melhores absorvidos quando consumidos com o estômago vazio.
Algumas
das drogas para saúde mental (que tratam depressão, ansiedade, entre outros)
podem causar aumento ou diminuição do apetite, tendo impacto no estado
nutricional do paciente. O álcool deve ser evitado junto com este tratamento
medicamentoso, pois pode intensificar a sonolência causada pela droga. Algumas
dessas drogas são inibidoras da MAO (enzima monoamina oxidase) e diminuem a
utilização de compostos chamados monoaminas pelo corpo humano. Os inibidores da
MAO também podem reagir com a tiramina (uma monoamina) encontrada em certos
alimentos (principalmente alimentos “envelhecidos” e fermentados, como alguns
queijos, extrato de malte, arenque em conserva, favas e alguns vinhos). Esta
reação pode causar um aumento importante na pressão sanguínea e, se não for
tratado, pode levar o indivíduo a óbito.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores
físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Pfrimer, K; Ferriolli, E. Avaliação
Nutricional do Idoso. In: Vitolo, MR. Nutrição: da gestação ao envelhecimento.
1. ed. Rio de Janeiro: Ed. Rubio, 2008.
Lewinski, IW. O que
devo saber sobre o medicamento do meu paciente. Disponível em: www.nutritotal.com.br
Morzelle, MC. Alimento e Medicamento: Amigos ou Inimigos?
Grupo de Estudo em Alimentos Funcionais. Disponível em? www.alimentofuncional.webnode.com.ve
University of
Florida. Food/Drug and Drug/Nutrient Interactions: what you should know about
your medications. Disponível em:
http://edis.ifas.ufl.edu/pdffiles/HE/HE77600.pdf.
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