A colite ulcerativa é definida como uma inflamação crônica com a presença de ulceração na mucosa do intestino grosso. A sua etiologia é desconhecida, mas pode ser desencadeada por estresse, distúrbios autoimunes e predisposição genética.
Quadro 1. Características para diferenciar entre a
colite ulcerativa (CU) e doença de Crohn (DC).
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Características típicas da colite
ulcerativa
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Características típicas da doença de
Crohn
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Clínicas
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Diarreia
frequente de pequeno volume, com urgência.
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Diarreia
acompanhada de dor abdominal e desnutrição.
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Diarreia
predominantemente sanguinolenta.
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Estomatite.
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Tumoração
abdominal.
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Lesões
perianais.
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Endoscópicas
e radiológicas
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Inflamação
superficial do cólon.
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Lesões
assimétricas transmurais descontínuas.
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Envolvimento
do reto.
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Fundamentalmente
compromete íleo e o lado direito do cólon.
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Erosões
e úlceras pouco profundas.
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Aspecto
pavimentoso.
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Sangramento
espontâneo.
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Úlcera
longitudinal.
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Fissuras
profundas.
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Histopatológicas
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Inflamação
difusa da mucosa ou submucosa.
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Inflamação
granulomatosa.
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Distorção
das criptas.
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Podem-se
observar fissuras ou aftas; frequentemente inflamação transmural.
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Marcadores
séricos
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Anticorpos
citoplasmáticos antineutrófilos.
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Anticorpos
anti-Saccharomyces cerevisiae.
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Fonte: World Gastroenterology
Organization Practice Guidelines, 2009.
Diagnósticos da Doença Inflamatória
Intestinal em Pacientes Adultos
O diagnóstico da DII requer um exame físico
completo e a revisão da história do paciente. Existem vários exames, incluindo
os exames de sangue, de fezes, endoscopia, biópsia e exames imaginológicos, que
ajudam a excluir outras causas e a confirmar o diagnóstico.
● Inquirir sobre os sintomas—diarreia (sangue, muco), dor
abdominal, vômitos, perda de peso, manifestações extraintestinais, fístulas,
doença perianal (em DC), febre.
● Inquirir se alguns dos sintomas apresentados tinham
ocorrido já no passado (não é infrequente que no passado tenha havido surtos da
doença que não foram diagnosticados nesse momento).
● Duração dos sintomas atuais, despertar noturno, absenteísmo
laboral ou das atividades sociais habituais.
● Inquirir sobre possíveis manifestações extraintestinais -
incluindo, entre outras: artrite, patologia ocular inflamatória, doenças
cutâneas, osteoporose e fraturas, doença venosa tromboembólica.
● Identificar se há transtornos do humor.
● Problemas médicos recentes e passados — infecção
intestinal.
● Antecedente de tuberculose (TBC) e contatos conhecidos de
TBC.
●
Antecedentes de viagens.
●
Medicações
— antibióticos e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs).
● Antecedentes familiares (DII, doença celíaca, câncer
colorretal).
●
Tabagismo.
Conduta
Nutricional
● Energia:
Hipercalórica, para garantir a recuperação do estado nutricional, e devido ao
hipermetabolismo das doenças inflamatórias intestinais.
● Proteínas:
Hiperproteica (1,0-1,5g/kg de peso ideal/dia. Podemos chegar até 2,0g para
desnutridos), com 70% de proteína de alto valor biológico, para garantir
síntese proteica, melhora do sistema imune e recuperação da massa magra.
● Carboidratos:
Fase
Aguda: Isenta de
lactose (evitar leite e derivados) A lactase é uma enzima de frágil inserção na
mucosa intestinal e seus níveis podem estar diminuídos na diarreia, havendo
intolerância. Controle de mono e dissacarídeos para evitar soluções
hiperosmolares que possam aumentar o quadro diarreico. Rica em fibras solúveis
e pobre em fibras insolúveis.
Fase
de Remissão:
Evoluir progressivamente o teor de fibras insolúveis.
● Antifermentativa:
Evitar alimentos relacionados com a formação de gases (brócolis, couve-flor,
cebola crua, rabanete, batata-doce, feijão, lentilha, melão, abacate, melancia,
doces concentrados como goiabada, cocada e etc...).
● Lipídios:
Hipolipídica (inferior a 20% das calorias totais), uma vez que os lipídios
podem piorar a diarreia (devido à deficiência de sais biliares). Oferecer
ácidos graxos ômega-3 (3-5g/dia) para diminuir a resposta inflamatória.
● Nutrientes
Específicos (Imunomoduladores): Glutamina, Arginina, Ácidos Graxos Ômega-3.
Antioxidantes
Pesquisas têm demonstrado que a
suplementação com antioxidantes pode ser eficaz no tratamento da colite
ulcerativa. Os principais micronutrientes antioxidantes investigados são
vitamina E, C, betacaroteno e selênio. Além disso, alguns fotoquímicos
antioxidantes e com atividade anti-inflamatória, como a curcumina, também têm
beneficiado esses pacientes. Os mecanismos de ação incluem: (1) eliminação
direta de espécies reativas de oxigênio, (2) diminuição da expressão de
proteínas pró-inflamatórias e (3) modulação de moléculas na superfície dos
leucócitos.
Vários estudos têm demonstrado que os
pacientes com colite ulcerativa, muitas vezes têm deficiências de nutrientes
antioxidantes, como selênio, betacaroteno, vitaminas A, E e C, no momento
do diagnóstico. Esses pacientes também possuem atividade plasmática reduzida da
glutationa peroxidase, que é uma enzima antioxidante dependente de selênio.
Um estudo clínico randomizado e
controlado avaliou a eficácia de um suplemento oral, contendo óleo de peixe,
fibras solúveis, selênio e vitaminas E e C em 121 pacientes com colite
ulcerativa leve a moderada. Em comparação com o grupo placebo, o grupo que
recebeu a suplementação apresentou uma diminuição significativa da dose de
prednisona necessária para controlar os sintomas clínicos. Embora os
pesquisadores tenham utilizado outros componentes que beneficiam os pacientes
com colite ulcerativa, esse foi um dos poucos estudos clínicos que incluiu
antioxidantes na suplementação.
Nos últimos anos, diversos estudos
investigaram a eficácia de curcumina, um antioxidante polifenólico da Curcuma
longa L ., em modelos experimentais de colite
ulcerativa. Entretanto, poucos estudos foram realizados em seres humanos.
Em um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo a
eficácia da curcumina foi avaliada em 89 pacientes com colite
ulcerativa. Além da medicação usual (sulfasalazina ou mesalazina), os
participantes receberam a curcumina (2 g/d) ou placebo, durante 6 meses. A taxa
de recorrência da doença foi significativamente menor no grupo que recebeu a
curcumina, com melhora dos sintomas clínicos e dos exames
endoscópicos, além de não causar efeitos adversos.
Apesar dos efeitos promissores, mais
estudos clínicos randomizados, duplo-cego e controlados por placebo são
necessários para alcançar evidência convincente do uso rotineiro de
micronutrientes antioxidantes e da curcumina em pacientes com colite
ulcerativa.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Caruso,
L. Distúrbios do Trato Digestório. In: Cuppari, L. Guias de medicina
ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina - Nutrição. 1
ed. Baureri: Manole. 2002. p.201-222.
Castro,
RCB. Antioxidantes podem contribuir para o tratamento
da colite ulcerativa? Disponível em: www.nutritotal.com.br
Diretriz
Doença Inflamatória Intestinal: Uma Perspectiva Global. World Gastroenterology
Organization Practice Guidelines, 2009.
Lopes,
MSMS; Aquino, LA; Silva, TA; Vogel, CE. Doenças Inflamatórias Intestinais. In:
Pereira, AF; Bento, CT. Dietoterapia: uma abordagem prática. 1. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
Martins,
BT; Basílio, MC; Silva, MA. Nutrição Aplicada e Alimentação Saudável. 1. ed.
São Paulo: Editora Senac, 2014.
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