quinta-feira, 16 de abril de 2015

Glúten



        O glúten é uma substância elástica, aderente, insolúvel em água, responsável pela estrutura das massas alimentícias. É a porção proteica de cereais como o trigo, aveia, centeio e cevada. Forma-se pela hidratação dessas proteínas, que se ligam entre si e a outros componentes macromoleculares por meio de diferentes tipos de ligações químicas. Sua porção antigênica é predominantemente a gliadina do trigo, bem como a secalina do centeio, a aveína da aveia e a hordeína da cevada.

            A Doença Celíaca (DC) é causada por uma reação alérgica ao glúten, acarretando um processo inflamatório com atrofia das vilosidades intestinais, o que resulta em má absorção de todos os nutrientes.

            A Doença Celíaca ainda não tem cura e o único tratamento cientificamente comprovado é a dieta isenta de glúten. Após a instalação da dieta, a resposta clínica é rápida, havendo desaparecimento dos sintomas gastrintestinais e restauração da morfologia normal da mucosa intestinal. Mas se o glúten for novamente consumido desencadeia a recorrência da doença.

           Esta restrição deve ser seguida por toda a vida, prevenindo complicações em curto prazo, que são os prejuízos nutricionais, de crescimento e desenvolvimento psicomotor e sexual, problemas de fertilidade, alterações dentárias, osteoporose e anemias; e em longo prazo, atrofia do baço e cânceres do trato gastrintestinal.

           O tratamento consiste da exclusão do trigo, do centeio, da cevada e seus híbridos e derivados da dieta. O consumo de aveia é controverso devido a possibilidade de contaminação com cereais que contem glúten; assim como o uso de amido de trigo, pois este pode apresentar traços de glúten.

Sensibilidade ao Glúten

A sensibilidade ao glúten consiste em uma condição clínica em que os indivíduos apresentam alguns sinais e sintomas após a ingestão de alimentos que contenham glúten, como dor abdominal, fadiga, dores de cabeça, dentre outros.

Diferentemente da doença celíaca e da alergia ao trigo, a sensibilidade ao glúten não envolve mecanismos alérgicos ou autoimunes, por isso seus sintomas são menos graves. Na sensibilidade ao glúten, os pacientes são incapazes de tolerar o glúten e desenvolvem uma reação adversa que normalmente não leva a danos no intestino delgado. Além disso, os indivíduos podem apresentar melhora significativa com a exclusão do glúten da dieta. O glúten está presente em alimentos como trigo, aveia, centeio, cevada e malte.

Normalmente, o diagnóstico é feito por exclusão: com a retirada e reintrodução monitorada dos alimentos que contêm glúten. Assim, primeiramente são descartadas as hipóteses de doença celíaca, alergia ao trigo, diabetes tipo 1, doenças inflamatórias intestinais e infecção por Helicobacter pylori. Posteriormente, relaciona-se que os sintomas foram desencadeados pela exposição ao glúten e aliviados por sua exclusão.

Glúten e Emagrecimento

Até o momento não existe nenhuma evidência científica que justifique a restrição total do glúten na dieta para promover a perda de peso de pacientes com sobrepeso ou obesidade, que não tenham doença celíaca ou sensibilidade ao glúten. De maneira geral, a adesão ao padrão alimentar sem glúten pode resultar em baixa ingestão de alimentos ricos em carboidratos que, de forma indireta, pode favorecer a perda de peso.

A recomendação de restrição de consumo de glúten deve ser destinada aos pacientes com diagnóstico clínico confirmado de doença celíaca, de dermatite herpetiforme, de alergia ao glúten, ou quando, eliminada a hipótese de doença celíaca, haja diagnóstico clínico confirmado de sensibilidade ao glúten (também denominada como intolerância ao glúten–não celíaca). Deve-se salientar que o diagnóstico clínico é de competência exclusiva do médico.

Restrição ao Consumo de Glúten

A restrição de consumo de glúten vem sendo propagada como prática de alimentação saudável ou medida terapêutica. No entanto, recomenda-se aos nutricionistas a adoção das seguintes diretrizes para a restrição ao consumo de glúten:

1 - A recomendação indiscriminada para restrição ao consumo de glúten não encontra, atualmente, respaldo na ciência da nutrição e está em desacordo com o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar (2007);

2 - A recomendação de restrição ao consumo de glúten é consenso para os pacientes com diagnóstico clínico confirmado de doença celíaca, de dermatite herpetiforme, ou quando, eliminada a hipótese de doença celíaca, haja sinais clínicos evidenciados no diagnóstico nutricional de sensibilidade ao glúten (também denominada como intolerância ao glúten–não celíaca). Na alergia ao glúten proveniente do trigo, (condição mediada por IgE), não há necessidade de se restringir todas as fontes de glúten, mas somente o trigo e qualquer preparação que o contenha.

3 - A história clínica do paciente e o seu registro alimentar, podem identificar um alimento que seja possível causador da alergia (Consenso Brasileiro sobre Alergias Alimentares/ASBAL, 2008). Nesse caso, a eliminação durante algumas semanas de um antígeno fortemente suspeito é geralmente usada na prática para auxiliar no diagnóstico. Salienta-se que o diagnóstico nosológico é de competência exclusiva do médico;

4 - A adoção da conduta de restrição alimentar é justificável quando não for possível diagnosticar, por meio de exames, que determinado alimento seja o causador da alergia, ou quando houver demora no diagnóstico da doença;

5 - A prescrição dietética é atribuição privativa do nutricionista, devendo estar respaldada nas evidências científicas e respeitada a individualidade do paciente.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Aquino, RC; Bastistuci, G; Andrade, KC. Doença Celíaca (Dermatite Herpetiforme). In: Aquino, RC; Philippi, ST. Nutrição Clínica: Estudos de casos comentados. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2009.

Capriles, VD. Otimização de propriedades nutricionais e sensoriais de produtos à base de amaranto enriquecidos com frutanos, para intervenção em celíacos. [Tese de Doutorado] Universidade de São Paulo – USP, 2009.

Castro, RCB. O que é sensibilidade ao glúten? Disponível em: www.nutritotal.com.br

Castro, RCB. Restringir o glúten da dieta favorece o emagrecimento? Disponível em: www.nutritotal.com.br

Chaves, HL. et al. Doença Celíaca, hábitos e práticas alimentares e qualidade de vida. Rev Nutr 2010; v.23, n.3, p: 467-474.

Martins, BT; Basílio, MC; Silva, MA. Nutrição Aplicada e Alimentação Saudável. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2014.

Restrição ao Consumo de Glúten. Conselho Regional de Nutricionista. Disponível em: www.crn3.org.br

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