A doença de Wilson (DW) é
uma doença rara transmitida por via autossômica recessiva devido à ausência ou
deficiência de uma ATPase transportadora de cobre, envolvendo o cromossomo 13
do gene ATP7B. O produto desse gene é fundamental para o transporte do cobre
através das membranas das organelas intracelulares e sabe-se que sua ausência
ou função diminuída pode reduzir a excreção hepática de cobre na bile e causar
o acúmulo do metal na doença. Dessa forma, a excreção de cobre pelos
hepatócitos na bile é essencial para a manutenção da sua homeostase, sendo
verificado, ao fim da capacidade hepática de armazenamento, morte hepatocitária,
liberação de cobre no plasma, hemólise e deposição tecidual, causando acúmulo
principalmente no fígado, rins, cérebro, córneas e articulações.
Essa doença apresenta prevalência mundial estimada de
1/30.000 habitantes e acredita-se que 1/90 habitantes seja portador
heterozigoto, com aproximadamente 75% dos casos não diagnosticados. Nota-se que
a DW predomina em pessoas jovens entre os 8 e 20 anos, sendo mais rara antes
dos 3 e após os 40 anos.
A sintomatologia da doença relaciona-se ao acúmulo de
cobre nos diversos tecidos, principalmente fígado, gânglios da base, córneas,
rins e articulações, sendo mais comuns as manifestações neurológicas e
hepáticas.
Destaca-se que o comprometimento hepático acontece,
geralmente, antes dos 20 anos, enquanto que a forma neurológica é mais comum
após os 20 anos, sendo que as duas formas da doença podem ocorrer
simultaneamente.
As manifestações hepáticas podem se apresentar como
hepatite crônica, cirrose e, mais raramente, hepatite fulminante. Já as
alterações neurológicas são variáveis, predominando os sintomas como, tremores,
distonia (interrupção brusca dos movimentos), disartria (má coordenação dos
músculos da fala), alterações de humor, sintomas psiquiátricos e, se não
tratada, poderá progredir para incapacidade neurológica grave e morte.
Diagnóstico
e Tratamento
A DW é progressiva e fatal se não diagnosticada e tratada
precocemente. Sem tratamento adequado, a doença evolui para insuficiência
hepática, doença neuropsiquiátrica, falência hepática e morte.
A maioria dos sintomas é inespecífica, justificando a
alta frequência de diagnósticos efetuados tardiamente ou não concretizados,
especialmente em indivíduos sem história familiar. Muitos dos pacientes
diagnosticados na forma assintomática apresentam persistentes elevações
inexplicadas das transaminases séricas ou são irmãos ou parentes de pessoas com
a doença clínica.
O diagnóstico baseia-se na presença de pelo menos dois
dos seguintes critérios:
● Presença de anel corneal
de Kayser-Fleischer, detectada em exame de lâmpada de fenda realizado por
oftalmologista;
● Concentração sérica de
ceruloplasmina reduzida (abaixo de 20mg/dl);
● Cobre sérico livre [cobre
sérico total – (ceruloplasmina em mg/dl x 3,15)] acima de 25µg/dl, ou pelo
aumento da eliminação urinária desse mineral (acima de 100µg em 24 horas), ou
pelo aumento da concentração hepática de cobre (acima de 250µg por grama de
tecido hepático seco).
Ressalta-se que a ceruloplasmina é uma glicoproteína
produzida no fígado, que contém seis átomos de cobre por molécula. Defeitos no
transporte intracelular de cobre levam a diminuição na incorporação de cobre na
molécula de ceruloplasmina. Acredita-se que a ausência de cobre nessa
glicoproteína a deixe menos estável, sendo o motivo pelo qual ocorre a
diminuição dos níveis circulantes de ceruloplasmina nos pacientes com DW.
As opções para o tratamento da doença incluem terapia
farmacológica e transplante hepático. Entretanto, o transplante somente deve
ser indicado para pacientes com doença hepática terminal ou fulminante.
Doença
de Wilson e Alimentação
O cobre é um mineral traço necessário para a ligação cruzada
de moléculas elásticas e de colágeno, e pode ter papeis em outras enzimas de
células ósseas. Sua deficiência é rara, mas, quando presente, é caracterizada
por anemia, neutropenia e anormalidades esqueléticas, especialmente
desmineralização.
Quadro
1.
Recomendação de cobre de acordo com a faixa etária.
Faixa Etária
|
RDA/AI (µg/dia)
|
UL (µg/dia)
|
|
Bebês
|
0 a 6 meses
|
200
|
ND*
|
7 a 12 meses
|
260
|
ND*
|
|
Crianças
|
1 a 3 anos
|
340
|
1000
|
4 a 8 anos
|
440
|
3000
|
|
Homens
|
9 a 13 anos
|
700
|
5000
|
14 a 18 anos
|
890
|
8000
|
|
˃ 19 anos
|
900
|
10000
|
|
Mulheres
|
9 a 13 anos
|
700
|
5000
|
14 a 18 anos
|
890
|
8000
|
|
˃ 19 anos
|
900
|
10000
|
|
Gravidez
|
1000
|
10000
|
|
Lactação
|
1300
|
10000
|
ND: valores não
determinados.
A concentração de cobre nos alimentos pode ser afetada
por muitos fatores, incluindo as condições do solo, localização geográfica,
espécies, dieta, método de processamento e contaminação no processamento,
sendo, portanto, difícil a avaliação do conteúdo exato de cobre dos alimentos.
Estima-se que evitar alimentos ricos em cobre resulta em uma ingestão de
aproximadamente 2mg/dia; e evitar tantos os alimentos ricos quanto os moderados
em cobre resulta em uma ingestão de aproximadamente 1mg/dia.
Quadro
2.
Fontes alimentares de cobre.
Grupo de Alimentos
|
Alta 0,2mg/porção¹
|
Moderada 0,1 a 0,2mg/porção¹
|
Baixa 0,1mg/porção¹
|
N° de porções/dia recomendado²
|
Cereais, raízes, tubérculos e
massas.
|
Germe
de trigo, Farelos de Pães e Cereais, Granola, Farinha de Soja, Batatas Doces.
|
-
|
-
|
5
a 9
|
Frutas.
|
Abacate,
Nectarina, Frutas Secas (ex. Passas, Ameixas, Nozes, Amendoim e Castanhas),
Azeitona.
|
-
|
-
|
3
|
Verduras e Legumes.
|
Cogumelos
e Brócolis.
|
Brotos
de Feijões, Beterraba, Espinafre, Abobrinha e Suco de Tomate.
|
Todos
os outros, incluindo Tomate Fresco.
|
3
|
Leguminosas.
|
Feijões,
Ervilhas e Lentilhas.
|
-
|
-
|
1
a 2
|
Carnes
e Ovos.
|
Carne
de Porco, Codorna, Pato e Salmão; Vísceras (ex. Fígado, Coração e Rim),
Moluscos (ex. Ostras, Camarão, Lagostas, Mariscos e Caranguejos). Proteína de
Soja e Tofu.
|
Todos
os outros peixes; Peru; Galinha.
|
Carne
Bovina; Queijo e Ovos.
|
2
|
Açúcares e Doces.
|
Chocolate,
Cacau e Geleia de Mocotó.
|
-
|
-
|
2
|
Diversos.
|
Bebidas
Instantâneas, Levedo de Cerveja e Álcool.³
|
Bebidas
a base de Cereais e Molho de Tomate.
|
-
|
-
|
¹ Porções
normalmente utilizadas são aquelas que são geralmente aceitas com tamanho
típico de porções em vários manuais de fonte de dados de nutrientes.
² Porções
recomendadas para adultos de ambos os sexos.
³ Ainda
que não necessariamente elevadas em cobre, as bebidas alcoólicas são
desaconselhadas devido a sua ação como uma hepatotoxina.
O teor de cobre da água consumida também
deve ser analisado. Água desmineralizada deve ser usada caso a água contenha
mais que 0,1mg/L. Tal medida garante que a ingestão de cobre diário não atinja
valores acima do desejado. A Portaria 518 estabelece os procedimentos e
responsabilidades relativos ao controle e à vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Segundo a portaria, as águas
devem apresentar o valor máximo de 2,0mg de cobre/L.
A terapia nutricional deve corroborar o tratamento
farmacológico da DW, favorecendo incremento da qualidade de vida de seus
portadores. Uma dieta equilibrada e variada não apresentará quantidades
elevadas de cobre.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referência
Bibliográfica:
Oliveira, DR; Henriques,
MCC; Santos, LC. Terapia Nutricional na Doença de Wilson. Rev Bras Nutr Clin
2012; v.27, n.2, p. 132-140.
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