A alimentação saudável
envolve a escolha de alimentos não somente para manter o peso adequado, mais
também para garantir uma saúde plena. Dessa forma, tem-se os compostos
bioativos que são compostos extranutricionais que geralmente ocorrem em
pequenas quantidades nos alimentos. Eles são bastante estudados por seus
efeitos benéficos na promoção da saúde humana e devem ser consumidos
preferencialmente por meio da alimentação habitual, principalmente pelo consumo
de frutas e hortaliças. Uma ampla variedade de compostos bioativos é
evidenciada e estudada como sendo a responsável pelos efeitos benéficos de uma
alimentação rica em frutas e hortaliças.
Estes compostos variam em estrutura química e nas funções biológicas. Entretanto, eles apresentam algumas características em comum: pertencem a alimentos do reino vegetal, são substâncias orgânicas, não são indispensáveis nem sintetizados pelo organismo humano e apresentam ação protetora na saúde humana quando presentes na alimentação em quantidades significativas. Essas substâncias exercem várias ações do ponto de vista biológico, como atividade antioxidante, modulação de enzimas de destoxificação, modulação do sistema imune, modulação genética, redução da agregação plaquetária, controle do metabolismo hormonal, redução da pressão sanguínea, entre outras atividades como antibacteriana e antiviral.
Em estudos clínicos, em que
a dieta foi suplementada com β-caroteno, vitamina C ou vitamina E, mostraram
que essas substâncias, isoladas da matriz alimento, não foram eficazes na
diminuição de risco à doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), indicando que
fatores como a biodisponibilidade e a ação sinérgica, entre outros, atuam nesse
processo. Na dieta habitual, alguns gramas de compostos bioativos diariamente são
ingeridos. No entanto, as concentrações desses compostos no organismo humano
são muito baixas – na faixa de micromoles, o que está relacionado à sua
limitada absorção e biodisponibilidade. Provavelmente, um composto bioativo é
capaz de modular uma ou duas reações in vivo que, como consequência, afetarão
diferentes processos. A inibição de uma única enzima como a ciclo-oxigenase
(COX-2), por exemplo, afeta a inflamação e, consequentemente, o desenvolvimento
de diversas DCNT.
Como já dito anteriormente,
estes compostos podem variar em suas estruturas químicas e funções e estão
distribuídos em três grandes grupos: polifenóis, glicosinolatos e carotenoides.
Os polifenois ou compostos fenólicos presentes na alimentação humana constituem
um dos mais numerosos e amplamente distribuídos grupos de compostos naturais do
reino vegetal. Eles são classificados em: flavonoides (flavonois, flavonas,
flavanois, antocianidinas, flavanonas, isoflavonas, cumarinas, quercetina,
miricetina), ácidos fenólicos (ácido gálico, hidroxicinamatos, estilbenos
polifenólicos), lignanas (fitoestrógenos) e estilbenos (resveratrol). A capacidade
de interação dos polifenois com proteínas também resulta em inibição de enzimas
digestivas, com consequente redução da digestibilidade de proteínas
alimentares, e por essa razão, alguns polifenois são descritos na literatura
como fatores antinutricionais. Além disso, apresenta variadas funções
biológicas: sequestro de espécies de radicais de oxigênio (EROs), modulação da
atividade de algumas enzimas específicas, ação antibióticos, antialergênicos,
anti-inflamatórios e ação genômica, no sentido de reduzir o risco de DCNT. São
exemplos desses compostos: aipo, salsa e algumas ervas, frutas cítricas,
camomila, chá verde, alcachofra, manjericão, vinho tinto, linhaça, uvas, morangos,
framboesas, romã, amoras, entre outros.
Os glicosinolatos são muito
importantes, já que uma alimentação rica em vegetais crucíferos demonstra
benefícios para a saúde, incluindo associação com um risco reduzido de doenças
cardiovasculares e cânceres. As propriedades biológicas benéficas relacionadas
às hortaliças crucíferas podem ser atribuídas ao seu alto conteúdo de
glicosinolatos, e o conteúdo desses varia conforme o vegetal, dependendo da
espécie, clima e outras condições de cultivo. Glicosinolatos são tioglicosídeos
biologicamente inativos que devem ser hidrolisados a isotiocianatos (ITC),
nitrilas ou tiocianatos para exercer atividade biológica nos seres humanos. A
hidrólise de glicosinolatos, in vivo,
pode ocorrer via ação das mirosinases presentes na hortaliça, ou por ação da
microbiota, que também apresenta atividade dessa enzima. A mastigação tem papel
importante na quebra da parede celular. Em alimentos crus ou processados, ela é
o primeiro passo para a formação de produtos de hidrólise de glicosinolatos no
organismo. A exceção são os alimentos cozidos, em que a mirosinase é totalmente
inativada, impedindo assim, a formação de ITC, tiocianatos e nitrilas durante a
mastigação. Esse grupo de compostos bioativos é encontrado principalmente em
hortaliças do gênero Brássica, como a
couve, repolho, brócolis, couve-flor, rúcula, agrião, couve-de-bruxelas.
Os carotenoides são bastante
numerosos na natureza, sendo que apenas 30 a 40 deles estão presentes na
alimentação. Destes, betacaroteno, alfacaroteno, betacriptoxantina, luteína,
zeaxantina e licopeno são responsáveis por aproximadamente 90% das
concentrações plasmáticas dos carotenoides, além de serem os principais
carotenoides presentes na alimentação. O organismo humano não é capaz de
sintetizar carotenoides; assim, frutas e hortaliças constituem suas principais
fontes. Esses compostos possuem diversas funções, como: ação antioxidante,
ações relacionadas ao controle da expressão genética, à regulação da
comunicação e da proliferação celular, atuação na resposta imune e à modulação
de enzimas metabolizadoras de xenobióticos. É visto que nem todos os
carotenoides apresentam função de pró-vitamina A, especialmente os alfa e
betacaroteno e a betacriptoxantina apresentam essa função, sendo o betacaroteno
desses o composto que apresenta maior eficiência de conversão em vitamina A.
Por sua vez, o licopeno (presente em tomate, melancia, toranjas, mamão,
pêssego) é o mais eficiente com ação antioxidante, além de anticancerígena; a
sua biodisponibilidade é baixa, mas pode ser melhorada por meio de processos
térmicos.
Dessa forma, é visto que os
efeitos dos compostos bioativos na saúde dependem de vários fatores, incluindo
as quantidades consumidas e a biodisponibilidade desses compostos. Esses
compostos atuam na redução da agregação plaquetária e do risco de
aterosclerose, além de ter a capacidade de modular eventos epigenéticos, como a
metilação do DNA e a acetilação de histonas. Assim, sabe-se dos efeitos
terapêuticos desses compostos bioativos, o que aumenta a importância do
entendimento das estruturas químicas e das funções biológicas desses compostos in vivo. Contudo, ainda é necessário
mais estudos conclusivos sobre esse assunto. Por fim, é importante ressaltar
que a alimentação saudável e a prática de atividade física regular e orientada
exercem papeis fundamentais no estilo de vida saudável e na redução do risco de
doenças crônicas não transmissíveis.
Texto elaborado por: Agnes Denise de Lima Bezerra
Nutricionista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN);
Pós-graduanda em Nutrição clínica funcional (Universidade Cruzeiro do Sul/SP);
Mestranda em Nutrição pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Texto elaborado por: Agnes Denise de Lima Bezerra
Nutricionista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN);
Pós-graduanda em Nutrição clínica funcional (Universidade Cruzeiro do Sul/SP);
Mestranda em Nutrição pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
As informações
contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
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