A
hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um problema grave de saúde pública no
Brasil e no mundo, sendo uma condição clínica multifatorial caracterizada por
níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se
frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo
(coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e as alterações metabólicas, com
conseqüente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não-fatais.
No Brasil são cerca de 17 milhões de
portadores de hipertensão arterial, 35% da população de 40 anos e mais. Seu
aparecimento está cada vez mais precoce e estima-se que cerca de 4% das
crianças e adolescentes também sejam portadoras.
Por ser uma doença assintomática,
seu diagnóstico e tratamento é frequentemente negligenciado, somando-se a isso
a baixa adesão, por parte do paciente, ao tratamento prescrito.
Modificações de estilo de vida são
de fundamental importância no processo terapêutico e na prevenção da hipertensão.
Alimentação adequada, sobretudo quanto ao consumo de sal, controle do peso,
prática de atividade física, tabagismo e uso excessivo de álcool são fatores de
risco que devem ser adequadamente abordados e controlados, sem o que, mesmo
doses progressivas de medicamentos não alcançarão os níveis recomendados de
pressão arterial.
Fatores de risco para
HAS
●
Idade:
existe relação direta e linear da PA com a idade, sendo a prevalência de HAS
superior a 60% na faixa etária acima de 65 anos.
●
Gênero
e etnia: a prevalência global de HAS entre homens e mulheres é
semelhante, embora seja mais elevada nos homens até os 50 anos, invertendo-se a
partir da 5ª década. Em relação à cor, a HAS é duas vezes mais prevalente em
indivíduos afrodescendentes.
●
Excesso
de peso e obesidade: o excesso de peso se associa com maior prevalência
de HAS desde idades jovens. Na vida adulta, mesmo entre indivíduos fisicamente
ativos, aumento de 2,4kg/m² no índice de massa corporal (IMC) acarreta maior
risco de desenvolver hipertensão. A obesidade central também se associa com PA.
●
Ingestão
de sal: ingestão excessiva de sódio tem sido correlacionada com
elevação da PA. A população brasileira apresenta um padrão alimentar rico em
sal açúcar e gorduras. Em contrapartida, em populações com dieta pobre em sal,
não foram encontrados casos de HAS.
●
Ingestão
de álcool: a ingestão de álcool por períodos prolongados de tempo pode
aumentar a PA e a mortalidade cardiovascular em geral.
●
Sedentarismo:
atividade física reduz a incidência de HAS, mesmo em indivíduos
pré-hipertensos, bem como a mortalidade e o risco de DCV.
●
Fatores
socioeconômicos: a influência do nível socioeconômico na ocorrência da
HAS é complexa e difícil de ser estabelecida. No Brasil a HAS foi mais
prevalente entre indivíduos com menor escolaridade.
●
Genética:
a contribuição de fatores genéticos para a gênese da HAS está bem estabelecida
na população. Porém, não existem, até o momento, variantes genéticas, que
possam ser utilizadas para predizer o risco individual de se desenvolver HAS.
●
Outros
fatores de risco cardiovascular: os fatores de risco cardiovascular
frequentemente se apresentam de forma agregada, a predisposição genética e os
fatores ambientais tendem a contribuir para essa combinação em famílias com
estilo de vida pouco saudável.
Diagnóstico e
Classificação
Hipertensão arterial é definida como
pressão arterial sistólica maior ou igual a 140mmHg e uma pressão arterial
diastólica maior ou igual a 90mmHg, em indivíduos que não estão fazendo uso de
medicação anti-hipertensiva.
Quadro 1. Classificação da pressão arterial
(> 18 anos).
Classificação
|
Pressão sistólica (mmHg)
|
Pressão diastólica (mmHg)
|
Ótima
|
< 120
|
< 80
|
Normal
|
< 130
|
< 85
|
Limítrofe*
|
130-139
|
85-89
|
Hipertensão estágio 1
|
140-159
|
90-99
|
Hipertensão estágio 2
|
160-179
|
100-109
|
Hipertensão estágio 3
|
≥ 180
|
≥ 110
|
Hipertensão sistólica isolada**
|
≥ 140
|
< 90
|
Quando a pressão sistólica e diastólica
situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para
classificação da pressão arterial.
* Pressão normal-alta ou pré-hipertensão são
termos que se equivalem na literatura.
** Hipertensão sistólica isolada é definida
como comportamento anormal da PA sistólica com PA diastólica normal. A
hipertensão sistólica isolada e a pressão de pulso são fatores de risco
importantes para doença cardiovascular em pacientes de meia-idade e idosos.
Fonte: VI Diretrizes
Brasileiras de Hipertensão, 2010.
Tratamento
O tratamento da hipertensão arterial
compreende dois tipos de abordagem: o farmacológico, com uso de drogas
anti-hipertensivas; e o não farmacológico, que se fundamenta em mudanças de
estilo de vida que favoreçam a redução da pressão arterial.
Quadro 2. Medidas não farmacológicas para
controle da hipertensão e dos fatores de risco cardiovascular.
Medidas com maior eficácia Anti-hipertensiva
|
Medidas sem Avaliação Definitiva
|
Medidas Associadas
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Redução do peso corporal
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Suplementação de cálcio e magnésio
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Abandono do tabagismo
|
Redução do consumo de sódio
|
Dietas ricas em fibras
|
Controle das dislipidemias
|
Maior ingestão de alimentos ricos em
potássio
|
Medida anti-estresse
|
Controle do diabetes melito
|
Redução do consumo de bebidas alcoólicas
|
Evitar drogas que potencialmente elevem a
pressão.
|
|
Exercícios físicos regulares
|
Fonte: Cuppari, 2002.
Uma alimentação com conteúdo reduzido
de teores de sódio (< 2,4g/dia, equivalente a 6 gramas de cloreto de sódio),
baseada em frutas, verduras e legumes, cereais integrais, leguminosas, leite e
derivados desnatados, quantidade reduzida de gorduras saturadas, trans e
colesterol mostrou ser capaz de reduzir a pressão arterial em indivíduos
hipertensos.
A utilização de sais dietéticos,
usados como substitutos do sal de cozinha, deve ser feita com cuidado, uma vez
que estes sais são definidos como produto elaborado a partir da mistura de
cloreto de sódio com outros sais, de modo que a mistura final mantenha poder
salgante semelhante ao do sal de mesa, fornecendo, no máximo, 50% do teor de
sódio contido na mesma quantidade de cloreto de sódio.
Como coadjuvantes do tratamento
dietético temos outras medidas fundamentais como a redução do consumo de
bebidas alcoólicas, o abandono ao tabagismo, a redução de peso corporal e a
atividade física.
Dicas Gerais:
* Manter o peso corporal adequado;
* Reduzir a quantidade de sal no
preparo dos alimentos e retirar o saleiro da mesa;
* Restringir as fontes
industrializadas de sal: temperos prontos, sopas, embutidos como salsicha,
lingüiça, salame e mortadela, conservas, enlatados, defumados e salgados de pacote,
fast-food;
* Limitar ou abolir o uso de bebidas
alcoólicas;
* Dar preferência a temperos
naturais como limão, ervas, alho, cebola, salsa e cebolinha, ao invés de
similares industrializados;
* Substituir bolos, biscoitos doces
e recheados, sobremesas doces e outras guloseimas por frutas in natura;
* Incluir, pelo menos, seis porções
de frutas, legumes e verduras no plano alimentar diário, procurando variar os
tipos e cores consumidos durante a semana;
* Optar por alimentos com reduzido
teor de gordura e, preferencialmente, do tipo mono e poliinsaturada,
presentes nas fontes de origem vegetal, exceto dendê e coco;
* Manter ingestão adequada de cálcio
pelo uso de vegetais de folhas verde-escuras e produtos lácteos, de
preferência, desnatados;
* Identificar formas saudáveis e
prazerosas de preparo dos alimentos: assados, grelhados, etc;
|
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores
físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Cuppari, L. Nutrição Clínica no Adulto. Guias
de Medicina Ambulatorial e Hospitalar –Unifesp. 1 ed. Barueri, SP: Manole,
2002: p. 275-276.
Isosaki, M; Cardoso, E. Manual de
Dietoterapia e Avaliação Nutricional do serviço de nutrição e dietética do
Instituto do Coração – HCFMUSP. 1 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2004:
p.19-23.
Ministério da Saúde. Hipertensão Arterial
Sistêmica. Cadernos de Atenção Básica 2006; 15: p.25.
Sociedade Brasileira de Cardiologia/
Sociedade Brasileira de Hipertensão/ Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010; 95 (1 supl.1.):
1-51.
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