segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Lipídios no Exercício Físico



Os lipídios são ingeridos em sua maior parte na forma de triglicerídeos, os quais compreendem uma molécula comum a todos chamada glicerol e três ácidos graxos ligados a ele. A composição desses ácidos graxos, portanto, é que caracteriza os triacilgliceróis.

Dentre os ácidos graxos que compõem os triglicerídeos, os poli-insaturados (polyunsaturated fatty acid – PUFA), classificados por terem duas ou mais insaturações, estão presentes nos óleos vegetais. Mais de 95% dos óleos comestíveis são constituídos de triacilglicerídeos. Além de triacilglicerídeos, os óleos podem conter outros componentes, como: mono e diglicerídeos, ácidos graxos livres, tocoferol, esteróis e vitaminas lipossolúveis.

         Os ácidos graxos saturados se encontram, predominantemente, em alimentos de origem animal, como carnes, ovos, queijo, leite e manteiga, e nos de origem vegetal, como óleos de coco e dendê, além dos produtos vegetais hidrogenados.

        Já os PUFAs se classificam, funcionalmente, nas séries ômega-9, ômega-6 e ômega-3 que se diferenciam pela posição da primeira dupla ligação contada a partir do grupo metílico terminal da cadeia de ácido graxo. O ácido linoléico é expoente da série ômega-6 e está presente de forma abundante nos óleos vegetais como óleo de girassol, milho, soja, algodão, etc.

        O ácido α-linolênico, representante da família ômega-3, é encontrado em quantidades apreciáveis em sementes oleaginosas como canola, soja, linhaça. Contudo, tanto nos vegetais (algas, microalgas, fitoplancton), quanto nos animais (peixes e crustáceos) de origem marinha, encontram-se outros ácidos graxos com maior número de carbonos e com maior quantidade de duplas ligações, que também pertencem à série ômega-3, como o ácido eicosapentanóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA).

         O National Cholesterol Education Program (NCEP, 2001), recomenda para um estilo de vida saudável e prevenção de doenças cardiovasculares, a ingestão de 25 a 30% de gorduras do total calórico/dia, sendo menos de 7% de gorduras saturadas, até 10% de gorduras poli-insaturadas, 20% de gorduras monoinsaturadas e menos que 200mg/dia de colesterol. Isso se deve aos conhecimentos científicos de que as características da dieta podem exercer influência decisiva sobre o estado de saúde dos indivíduos.

         No organismo, de maneira geral, a gordura da dieta desempenha várias funções biológicas importantes, entre as quais, fornece e serve como forma de armazenamento de energia, proteção e estrutura celular. Por outro lado, compostos classificados como lipídios atuam como mediadores da função celular.

          Embora os lipídios constituam significante proporção dos requerimentos dietéticos de energia, essa não é sua única função; servem como veículo para a mobilização das vitaminas lipossolúveis (A,D,E,K) e fornecem os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e ômega-6.

Lipídios e Exercício Físico

          A energia gasta para a realização do exercício físico é obtida pela oxidação do glicogênio muscular, da glicose sanguínea, dos ácidos graxos não esterificado (AGNE) – ou comumente denominados ácidos graxos livres – oriundos dos triglicerídeos do tecido muscular e adiposo. A maioria dos triglicerídeos no organismo está estocada no tecido adiposo, mas estão também presentes no músculo esquelético e no plasma. O total de energia armazenada como triglicerídeos é aproximadamente 60 vezes maior que a quantidade armazenada como glicogênio.

      A utilização dos estoques corporais de carboidratos e/ou lipídios está relacionada à intensidade e à duração da atividade física. Durante o exercício prolongado, há um aumento na contribuição dos lipídios para o metabolismo muscular. A produção de energia a partir dos lipídios é obtida pela lipólise (quebra dos lipídios) dos triglicerídeos que liberam três moléculas de ácidos graxos, que são oxidadas nas mitocôndrias do músculo esquelético.

         Com o início da atividade física, há um momento transitório normal de queda nos níveis de ácidos graxos livres circulantes na corrente sanguínea, devido ao aumento de sua captação pelas células musculares que, naquele momento, excede a produção de ácidos graxos pela lipólise nos adipócitos.

          Os triglicerídeos intramusculares são importante fonte de energia durante o exercício. Sua mobilização é mais conveniente ao organismo, uma vez que estão mais próximos das células musculares que os demandam e não necessitam de transporte pela corrente sanguínea. Contudo, a quantidade de triglicerídeos intramusculares de um indivíduo saudável dependerá de seu tipo predominante de fibra muscular, estado nutricional e do tipo de atividade física ao qual está condicionado.

           Os estudos mais recentes observaram que, durante as atividades de endurance, as concentrações de lipídios intramusculares são reduzidas de 25 a 50%, e sua contribuição para a síntese de energia durante a atividade, em relação à contribuição total dos lipídios como fonte de energia, varia de 5 a 35%. Diferentes tipos de exercício recrutarão fibras musculares distintas, o que resultará em diferentes taxas de oxidação de triglicerídeos.

            Os lipídios transportados pela corrente sanguínea e pelas lipoproteínas também contribuem para a produção de energia durante o exercício. As lipoproteínas com maior concentração de triglicerídeos são os quilomícrons e as VLDLs (vide post dislipdemias). Se um indivíduo inicia uma atividade após a refeição, os níveis séricos de quilomícrons podem estar altos. Assim como a lipólise nos tecidos adiposo e muscular, os ácidos graxos que compõem as lipoproteínas também precisam ser liberados das moléculas de triglicerídeos antes de entrar na célula muscular. A enzima lipase lipoprotéica (LPL) é a responsável por clivar os ácidos graxos dos triglicerídeos das lipoproteínas séricas. Os ácidos graxos livres estarão, então, disponíveis para serem transportados para o interior das células musculares e ser oxidados à energia, ou, ainda, para ser armazenados no tecido adiposo. Uma vez que é praticamente inviável submeter-se ao exercício intenso após grande refeição, em especial com uma quantidade considerável de gorduras, a contribuição energética dos lipídios das lipoproteínas é muito pequena.

Recomendações

      Um adulto necessita diariamente de cerca de 1g de gordura por kg/peso corporal, o que significa 30% do valor calórico total (VCT) da dieta. A parcela de ácidos graxos essenciais deve ser de 8 a 10g/dia. Para os atletas, tem prevalecido a mesma recomendação nutricional destinada à população em geral, portanto, as mesmas proporções de ácidos graxos essenciais, que são: 10% de saturados, 10% de poli-insaturados e 10% de monoinsaturados.

       Deve constar a orientação para não ingerirem dietas muito pobres em gorduras por muito tempo. Quando houver a necessidade de dietas hipolipídicas, devem prevalecer as cotas, em relação ao aporte calórico total, menor do que 8% para as saturadas, maior que 8% para as monoinsaturadas e de 7 a 10% para as poli-insaturadas. Em geral, os atletas consomem mais do que 30% do VCT em lipídios, com déficit na ingestão de carboidratos, que tendem a serem consumidos em proporções inferiores ao recomendável.

       Alguns estudos sugerem um efeito positivo de dietas relativamente altas em gorduras na performance atlética e têm proposto a suplementação de lipídios de cadeia média e longa, poucas horas antes ou durante o exercício, com a finalidade de poupar o glicogênio muscular. Diante da falta de evidências científicas consistentes, recomenda-se não usar suplementação de lipídios.

            As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

César, TB; Rogero, MM; Tirapegui, J. Lipídios e Atividade Física. In: Nutrição, Metabolismo e Suplementação na Atividade Física. 1 ed. São Paulo: Atheneu, 2005; p.39-49.

Franco,LDP. Dieta Hiperlipídica e Exercício Físico: Consequências sobre o Metabolismo e a Peroxidação Lipídica – Estudo em Modelo Animal. [Dissertação de Mestrado] Universidade Estadual Paulista – UNESP, 2007.

Leser, S. Os lipídios no exercício. In: Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte. 1 ed. Barueri: Manole, 2005; p.49-86.

Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação da ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Rev Bras Med Esporte 2003, v.9, n.2: p. 1-13.

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