Os
lipídios são ingeridos em sua maior parte na forma de triglicerídeos, os quais
compreendem uma molécula comum a todos chamada glicerol e três ácidos graxos
ligados a ele. A composição desses ácidos graxos, portanto, é que caracteriza
os triacilgliceróis.
Dentre os ácidos graxos que compõem
os triglicerídeos, os poli-insaturados (polyunsaturated fatty acid – PUFA),
classificados por terem duas ou mais insaturações, estão presentes nos óleos vegetais. Mais de 95% dos óleos comestíveis são
constituídos de triacilglicerídeos. Além de triacilglicerídeos, os óleos podem
conter outros componentes, como: mono e diglicerídeos, ácidos graxos livres,
tocoferol, esteróis e vitaminas lipossolúveis.
Os ácidos graxos saturados se
encontram, predominantemente, em alimentos de origem animal, como carnes, ovos,
queijo, leite e manteiga, e nos de origem vegetal, como óleos de coco e dendê,
além dos produtos vegetais hidrogenados.
Já os PUFAs se classificam,
funcionalmente, nas séries ômega-9, ômega-6 e ômega-3 que se diferenciam pela
posição da primeira dupla ligação contada a partir do grupo metílico terminal
da cadeia de ácido graxo. O ácido linoléico é expoente da série ômega-6 e está
presente de forma abundante nos óleos vegetais como óleo de girassol, milho,
soja, algodão, etc.
O ácido α-linolênico, representante
da família ômega-3, é encontrado em quantidades apreciáveis em sementes
oleaginosas como canola, soja, linhaça. Contudo, tanto nos vegetais (algas,
microalgas, fitoplancton), quanto nos animais (peixes e crustáceos) de origem marinha,
encontram-se outros ácidos graxos com maior número de carbonos e com maior
quantidade de duplas ligações, que também pertencem à série ômega-3, como o
ácido eicosapentanóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA).
O National Cholesterol Education Program
(NCEP, 2001), recomenda para um estilo de vida saudável e prevenção de doenças
cardiovasculares, a ingestão de 25 a 30% de gorduras do total calórico/dia,
sendo menos de 7% de gorduras saturadas, até 10% de gorduras poli-insaturadas,
20% de gorduras monoinsaturadas e menos que 200mg/dia de colesterol. Isso se
deve aos conhecimentos científicos de que as características da dieta podem
exercer influência decisiva sobre o estado de saúde dos indivíduos.
No organismo, de maneira geral, a
gordura da dieta desempenha várias funções biológicas importantes, entre as
quais, fornece e serve como forma de armazenamento de energia, proteção e
estrutura celular. Por outro lado, compostos classificados como lipídios atuam
como mediadores da função celular.
Embora os lipídios constituam
significante proporção dos requerimentos dietéticos de energia, essa não é sua
única função; servem como veículo para a mobilização das vitaminas
lipossolúveis (A,D,E,K) e fornecem os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e
ômega-6.
Lipídios e Exercício
Físico
A energia gasta para a realização do
exercício físico é obtida pela oxidação do glicogênio muscular, da glicose
sanguínea, dos ácidos graxos não esterificado (AGNE) – ou comumente denominados
ácidos graxos livres – oriundos dos triglicerídeos do tecido muscular e
adiposo. A maioria dos triglicerídeos no organismo está estocada no tecido
adiposo, mas estão também presentes no músculo esquelético e no plasma. O total
de energia armazenada como triglicerídeos é aproximadamente 60 vezes maior que
a quantidade armazenada como glicogênio.
A utilização dos estoques corporais
de carboidratos e/ou lipídios está relacionada à intensidade e à duração da
atividade física. Durante o exercício prolongado, há um aumento na contribuição
dos lipídios para o metabolismo muscular. A produção de energia a partir dos
lipídios é obtida pela lipólise (quebra dos lipídios) dos triglicerídeos que
liberam três moléculas de ácidos graxos, que são oxidadas nas mitocôndrias do
músculo esquelético.
Com o início da atividade física, há
um momento transitório normal de queda nos níveis de ácidos graxos livres
circulantes na corrente sanguínea, devido ao aumento de sua captação pelas
células musculares que, naquele momento, excede a produção de ácidos graxos
pela lipólise nos adipócitos.
Os triglicerídeos intramusculares
são importante fonte de energia durante o exercício. Sua mobilização é mais
conveniente ao organismo, uma vez que estão mais próximos das células
musculares que os demandam e não necessitam de transporte pela corrente
sanguínea. Contudo, a quantidade de triglicerídeos intramusculares de um
indivíduo saudável dependerá de seu tipo predominante de fibra muscular, estado
nutricional e do tipo de atividade física ao qual está condicionado.
Os estudos mais recentes observaram
que, durante as atividades de endurance, as concentrações de lipídios
intramusculares são reduzidas de 25 a 50%, e sua contribuição para a síntese de
energia durante a atividade, em relação à contribuição total dos lipídios como
fonte de energia, varia de 5 a 35%. Diferentes tipos de exercício recrutarão
fibras musculares distintas, o que resultará em diferentes taxas de oxidação de
triglicerídeos.
Os lipídios transportados pela
corrente sanguínea e pelas lipoproteínas também contribuem para a produção de
energia durante o exercício. As lipoproteínas com maior concentração de
triglicerídeos são os quilomícrons e as VLDLs (vide post dislipdemias). Se um
indivíduo inicia uma atividade após a refeição, os níveis séricos de quilomícrons
podem estar altos. Assim como a lipólise nos tecidos adiposo e muscular, os
ácidos graxos que compõem as lipoproteínas também precisam ser liberados das
moléculas de triglicerídeos antes de entrar na célula muscular. A enzima lipase
lipoprotéica (LPL) é a responsável por clivar os ácidos graxos dos
triglicerídeos das lipoproteínas séricas. Os ácidos graxos livres estarão,
então, disponíveis para serem transportados para o interior das células
musculares e ser oxidados à energia, ou, ainda, para ser armazenados no tecido
adiposo. Uma vez que é praticamente inviável submeter-se ao exercício intenso
após grande refeição, em especial com uma quantidade considerável de gorduras,
a contribuição energética dos lipídios das lipoproteínas é muito pequena.
Recomendações
Um adulto necessita diariamente de
cerca de 1g de gordura por kg/peso corporal, o que significa 30% do valor
calórico total (VCT) da dieta. A parcela de ácidos graxos essenciais deve ser
de 8 a 10g/dia. Para os atletas, tem prevalecido a mesma recomendação
nutricional destinada à população em geral, portanto, as mesmas proporções de
ácidos graxos essenciais, que são: 10% de saturados, 10% de poli-insaturados e
10% de monoinsaturados.
Deve constar a orientação para não
ingerirem dietas muito pobres em gorduras por muito tempo. Quando houver a
necessidade de dietas hipolipídicas, devem prevalecer as cotas, em relação ao
aporte calórico total, menor do que 8% para as saturadas, maior que 8% para as
monoinsaturadas e de 7 a 10% para as poli-insaturadas. Em geral, os atletas
consomem mais do que 30% do VCT em lipídios, com déficit na ingestão de
carboidratos, que tendem a serem consumidos em proporções inferiores ao
recomendável.
Alguns estudos sugerem um efeito
positivo de dietas relativamente altas em gorduras na performance atlética e
têm proposto a suplementação de lipídios de cadeia média e longa, poucas horas
antes ou durante o exercício, com a finalidade de poupar o glicogênio muscular.
Diante da falta de evidências
científicas consistentes, recomenda-se não usar suplementação de lipídios.
As informações contidas neste blog, não devem ser
substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde,
como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas
única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
César, TB; Rogero, MM; Tirapegui, J. Lipídios
e Atividade Física. In: Nutrição, Metabolismo e Suplementação na Atividade
Física. 1 ed. São Paulo: Atheneu, 2005; p.39-49.
Franco,LDP. Dieta Hiperlipídica e Exercício
Físico: Consequências sobre o Metabolismo e a Peroxidação Lipídica – Estudo em
Modelo Animal. [Dissertação de Mestrado] Universidade Estadual Paulista –
UNESP, 2007.
Leser, S. Os lipídios no exercício. In:
Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte. 1 ed. Barueri: Manole,
2005; p.49-86.
Modificações dietéticas, reposição hídrica,
suplementos alimentares e drogas: comprovação da ação ergogênica e potenciais
riscos para a saúde. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.
Rev Bras Med Esporte 2003, v.9, n.2: p. 1-13.
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