quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Nutrição na Gestação



     Alterações nutricionais e metabólicas ocorrem durante a gestação para criar ambiente favorável para o desenvolvimento normal do feto. Essas modificações fisiológicas promovem alterações no organismo materno preparando-o para a maternidade.

     O primeiro trimestre gestacional é caracterizado por grandes modificações biológicas devido à intensa divisão celular que ocorre nessa fase. A saúde do embrião vai depender da condição nutricional pré-gestacional da mãe, não somente quanto às suas reservas energéticas, mas também quanto às de vitaminas e minerais. Nesse período, a mulher, por sua nova fase hormonal, sofre manifestações de enjôos e vômitos que a submetem à privação alimentar, mas que não acarretam prejuízos para o feto.

         O segundo e terceiro trimestres integram outra etapa para a gestante, em que condições ambientais vão exercer influência direta no estado nutricional do feto. O ganho de peso adequado, a ingestão de nutrientes, o fator emocional e o estilo de vida serão determinantes para o crescimento e desenvolvimento normais do feto. São 28 semanas (o período gestacional é constituído de 40 semanas), aproximadamente, um período relativamente curto pela importância que assume quanto às condições de morbi-mortalidade materna e fetal. A disciplina materna, relacionada com os seus hábitos de vida e a qualidade da assistência pré-natal, vai ser responsável pelas consequências imediatas e futuras, tanto para a mãe quanto para a criança.

          Os níveis de nutrientes nos tecidos e líquidos disponíveis para a manutenção do feto são modificados por alterações fisiológicas (expansão do volume sanguíneo, alterações cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais e variação da função renal) e por alterações químicas (modificações nas proteínas totais, lipídios plasmáticos, ferro sérico e componentes do metabolismo do cálcio).

          Os hormônios produzidos na gestação são responsáveis pelas modificações corporais nas gestantes que vão permitir o desenvolvimento e amadurecimento fetal, parto e lactação. São constituídos de esteroides (colesterol: progesterona e estrogênio) e proteínas (gonadotrofina coriônica humana, lactogênio placentário humano). A produção é influenciada pela saúde geral e pelo estado nutricional da gestante.

Quadro 1. Ação dos hormônios sobre o organismo materno durante a gestação.
 



         A qualidade da alimentação e o estado nutricional da mulher, antes e durante a gravidez, afetam o crescimento e desenvolvimento fetal, bem como a evolução da gestação.

      
 
       O  equilíbrio da oferta de macronutrientes em dietas modernas é apontado como um dos fatores mais relevantes para o desenvolvimento fetal. A má nutrição do feto em diversos estágios da gestação pode trazer consequências não apenas no desenvolvimento infantil, mas também pode levar à predisposição de doenças crônicas não-transmissíveis, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, hipercolesterolemia, hipertensão e alguns tipos de câncer durante a vida adulta.

     Têm-se observado, na nossa população, desequilíbrio no consumo alimentar verificado pela avaliação do perfil nutricional, tanto em relação ao excesso de peso quanto ao déficit. Durante a gestação, esse desequilíbrio pode comprometer o crescimento e desenvolvimento do bebê.

     O aumento da taxa de obesidade materna constitui grande desafio para a prática obstétrica. Os riscos maternos durante a gravidez incluem o diabetes gestacional, a pré-eclâmpsia e as maiores taxas de cesarianas. Para o feto, existe maior risco de anomalias congênitas e natimortalidade. A obesidade na gravidez pode comprometer também a saúde materna, a longo prazo, bem como a do feto. Para as mulheres, esses riscos incluem a doença cardíaca e hipertensão. Os descendentes têm maior risco de obesidade futura e doenças cardíacas. Para ambos, mãe e filho, há risco aumentado de diabetes.

Quadro 2. Distribuição do ganho de peso materno durante a gestação.





         



       

        O ganho de peso ideal na gestação é baseado nas recomendações do Institute of Medicine (IOM-2009) e leva em consideração o IMC pré-gestacional da paciente (Quadro 3).

Quadro 3. Ganho de peso recomendado de acordo com o IMC materno pré-gestacional.






        


  

       De acordo com a situação inicial da gestante (baixo peso, adequado, sobrepeso ou obesidade) há uma faixa de ganho de peso por trimestre. É importante que na primeira consulta a gestante seja informada sobre o peso que deve ganhar. Pacientes com baixo peso devem ganhar 2,3kg no primeiro trimestre e 0,5kg/semana nos segundo e terceiro trimestre. Da mesma forma, gestantes com IMC adequado devem ganhar 1,6kg no primeiro trimestre e 0,4kg/semana nos segundo e terceiro trimestre. Gestantes com sobrepeso devem ganhar até 0,9kg no primeiro trimestre e gestantes obesas não necessitam ganhar peso no primeiro trimestre. Já no segundo e terceiro trimestre as gestantes com sobrepeso e obesas devem ganhar até 0,3kg/semana e 0,2kg/semana, respectivamente.

         É importante lembrar que durante a gravidez não se deve comer por dois, isso é um mito. Alguns nutrientes devem ser consumidos um pouco mais como: ácido fólico, ferro, cálcio e proteína. O consumo de calorias/energia também pode aumentar, principalmente no final da gravidez.
 
E para assegurar o consumo destes nutrientes e de todos os outros, a gestante deve ter uma alimentação balanceada e equilibrada com os diversos grupos alimentares. Ingerindo alimentos fontes de: 

► Proteína (carnes magras, aves e peixes), ferro (carnes em geral, feijão, lentilha, fígado, vegetais folhosos verdes escuros);
► Vitamina C para ajudar na absorção do ferro (laranja, morango, tangerina, limão, acerola, etc.);
► Fibras (frutas e vegetais principalmente crus, cereais e alimentos integrais);
► Energia (massas, pães, gordura vegetal como óleos);
► Cálcio (leites e derivados);
► Vitamina do complexo B (tomate, ervilha e brócolis), ácido fólico (fígado de boi, espinafre cozido, feijão branco cozido, brócolis, suco de laranja e repolho cru).
Algumas recomendações são necessárias neste período:

● Realizar as refeições de 3 em 3 horas, em pouco volume, principalmente nos meses finais onde a capacidade gástrica fica reduzida;

● Evitar ingerir líquidos durante as refeições;

● Evitar o consumo excessivo de açúcar, sal, gorduras e aditivos químicos;

● Lavar corretamente com água corrente e deixar em solução de hipoclorito de sódio as frutas, legumes e verduras que irão ser consumidos crus;

● Ingerir no mínimo 2 litros de água entre as refeições por dia, pois auxilia no funcionamento intestinal e na produção do leite materno;

● Em casos de náuseas e vômitos dar preferência para alimentos secos, principalmente na primeira refeição como torradas e bolacha salgada;

● Controlar o ganho de peso, que deve ser em torno de 9 à 12kg em toda a gravidez;

Praticar atividade física com recomendação médica.

            A assistência pré-natal de qualidade significa prevenir, diagnosticar e tratar os eventos indesejáveis na gestação, visando ao bem-estar da gestante e do seu bebê. No Brasil, a assistência pré-natal inclui o acompanhamento e o monitoramento de peso gestacional e prevê orientações nutricionais no período.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Accioly, E; Saunders, C; Lacerda, EMA. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 1 ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica 2004; p. 101-117.

Alimentação Saudável na Gestação. Disponível em: www.santamarcelina.org Acessado em: 28/07/2013.

Fazio, ES. Perfil nutricional de gestantes que receberam orientação dietética: avaliação do ganho ponderal materno total, tipo de parto e resultados perinatais. [Dissertação de Mestrado] Universidade de São Paulo – USP, 2010.

Melo, ME. Ganho de Peso na Gestação. Disponível em: www.abeso.org.br Acessado em: 11/07/2013.

Vitolo, MR. Nutrição: da Gestação à Adolescência. 1 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003; p.4-9.

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