O
câncer
colorretal, uma das neoplasias malignas mais frequentes no ocidente, é
considerado a quarta causa mais comum de câncer no mundo e a terceira causa de
incidência e mortalidade em ambos os sexos nos Estados Unidos. No Brasil, ele
representa a quinta neoplasia mais diagnosticada e a quarta causa de óbitos.
Mais de 90% dos cânceres de cólon e
reto ocorrem em indivíduos com idade superior a 50 anos, e 75% atingem
indivíduos sem outros fatores de risco além da idade.
Pessoas com mais de 50 anos com anemia
de origem indeterminada e que apresentem suspeita de perda crônica de sangue no
exame de sangue devem fazer endoscopia gastrintestinal superior e inferior.
Mudança no hábito intestinal (diarréia ou prisão de ventre), desconforto abdominal
com gases ou cólicas, sangramento nas fezes, sangramento anal e sensação de que
o intestino não se esvaziou após a evacuação são sinais de alerta.
Também pode ocorrer perda de peso sem
razão aparente, cansaço, fezes pastosas de cor escura, náuseas, vômitos e
sensação dolorida na região anal, com esforço ineficaz para evacuar.
Esses tumores podem ser detectados
precocemente através de dois exames: pesquisa de sangue oculto nas fezes e
colonoscopia. Pessoas com mais de 50 anos devem se submeter anualmente à
pesquisa de sangue oculto nas fezes. Caso o resultado seja positivo, é
recomendada a colonoscopia (exame de imagem que vê o intestino por dentro).
O diagnóstico requer biópsia (exame de fragmento de tecido retirado da lesão suspeita). A retirada do fragmento é feita por meio de aparelho introduzido pelo reto (endoscópio).
O diagnóstico requer biópsia (exame de fragmento de tecido retirado da lesão suspeita). A retirada do fragmento é feita por meio de aparelho introduzido pelo reto (endoscópio).
O desenvolvimento de várias formas
de câncer resulta da interação entre fatores endógenos e ambientais,
destacando-se a dieta que, quando inadequada, representa cerca de 35% dos
diversos tipos de câncer. Outros fatores incluem o etilismo, o tabagismo, a
obesidade, a inatividade física e a exposição a determinados agentes viróticos,
bacterianos e parasitários, além do contato frequente com algumas substâncias
carcinogênicas.
Estudos científicos têm demonstrado
uma associação positiva entre sobrepeso, obesidade e risco de desenvolvimento
de diversos tipos de câncer, como também na mortalidade por essa doença.
Acredita-se que o provável mecanismo esteja relacionado à hiperinsulinemia e ao
alto nível do fator de crescimento dependente de insulina (IGF-1) e proteínas
que se ligam ao IGF-1 (IGFBP), além de dietas caracterizadas pelo consumo
excessivo de energia. Há uma maior associação entre o excesso de peso e o risco
de câncer colorretal em homens quando comparado com as mulheres, sugerindo que
a distribuição abdominal ou central de adiposidade corporal (tipicamente
masculina) é o principal componente do aumento desse risco, uma vez que está
associada fortemente com a resistência à insulina e à hiperinsulinemia.
Os carboidratos complexos (vide post
carboidratos) diminuem o risco de câncer colorretal, porém seu efeito protetor
pode ser atenuado se a maior parte do amido da dieta for refinado. Dietas ricas
em carboidratos refinados tendem a ser pobres em fibras, hortaliças, frutas e
outros alimentos que exercem efeito protetor contra o câncer colorretal,
reforçando a ideia de que principalmente a qualidade dos carboidratos será o
fator-chave na sua relação com o câncer, o que pode ser confirmado através de
estudos experimentais, epidemiológicos e clínicos que comprovam a relação da
carcinogênese com o consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos
simples e refinados e pobre em fibras.
Estudos científicos têm comprovado o
efeito protetor de algumas hortaliças como brócolis, repolho, couve-flor e
couve-de-bruxelas, no câncer colorretal. Essas hortaliças contêm substâncias
químicas, indóis e isotiocianatos, capazes de estimular enzimas de
destoxifixação ou redutoras da atividade de enzimas hepáticas que convertem
compostos químicos ambientais em potentes carcinógenos, aumentando a
solubilidade aquosa de toxinas corporais e sua consequente eliminação.
A carência de fibras na dieta eleva
o tempo de trânsito intestinal, aumentando a concentração do conteúdo do lúmen,
propiciando um maior contato de agentes nocivos e carcinógenos com a mucosa do
cólon. Dentre esses agentes, destacam-se os sais biliares, metabólitos de
ácidos graxos de cadeia curta, gerados pelo aumento do pH intraluminal com
dietas pobres em fibras, que são formados pelo metabolismo de gorduras e
proteínas animais, determinando alterações epiteliais importantes, podendo
culminar com o desenvolvimento dos cânceres de cólon e reto.
O consumo regular de leguminosas é imprescindível devido
ao seu efeito benéfico para a saúde, promovendo a redução de diversas doenças
como o câncer. Na literatura, a relação entre o câncer colorretal e as
leguminosas não está completamente elucidada e estudos epidemiológicos
demonstram efeitos contraditórios. Entretanto as leguminosas contêm
carboidratos complexos, proteínas de origem vegetal, fibras, fitoquímicos,
minerais como o cálcio, ferro, potássio, zinco e manganês e substâncias
bioativas que exercem diversos efeitos protetores contra o câncer.
Na literatura, não há consenso quanto à relação
entre o consumo de carne e seus derivados e o desenvolvimento de câncer
colorretal. Evidências epidemiológicas sugerem que dietas com alto teor de
carne vermelha e de gordura, associadas a um baixo teor de carboidratos fermentados
como as fibras, aumentam o risco de câncer de cólon. Um dos mecanismos que pode
explicar a associação entre o câncer colorretal e a carne vermelha é o aumento
do metabolismo de proteínas no cólon. Os produtos finais desse processo
metabólico incluem a formação de amônia, fenóis, indóis, nitratos, sulfitos e aminas,
que têm demonstrado efeitos tóxicos em estudos in vitro e em modelos
animais. Estes compostos estão presentes em amostras fecais, sugerindo um
efeito tóxico sobre a mucosa intestinal.
Vários estudos epidemiológicos estão sendo
conduzidos para determinar os efeitos do consumo de leite e lacticínios na
carcinogênese. Há também evidências consideráveis de que o cálcio do leite
protege contra o câncer de cólon. A proteína do soro do leite tem papel benéfico,
demonstrado em estudos com animais e humanos. Dados experimentais têm revelado
que a lactoferrina bovina inibe a carcinogênese no cólon.
Existe uma relação positiva entre a incidência de
câncer de cólon e a média percentual de calorias provenientes das gorduras,
tanto para homens quanto para mulheres. O World Cancer Research Fund e American
Institute for Cancer Research sugerem haver evidências consistentes de
que dietas ricas em gorduras possam aumentar o risco de câncer colorretal. O
papel das gorduras na carcinogênese pode variar de acordo com a sua origem e
composição. Acredita-se que a elevada ingestão de gordura total promove aumento
na produção de ácidos biliares, que são mutagênicos e citotóxicos.
Doenças crônicas, como o câncer, estão relacionadas
ao aumento na produção de tromboxanas, leucotrienos, interleucina-1,
interleucina-6, fator de necrose tumoral e proteína C-reativa, devido à
resposta imunológica realizada pelo organismo. O aumento no consumo de ômega-6
promove elevação desses fatores, enquanto o aumento no consumo de ômega-3
(ácido alfa-linolênico), contido nos peixes, promove a redução dos mesmos. Estudos
indicam que as dietas ocidentais são deficientes em ômega-3 e que, nelas, a
relação ômega-6/ômega-3 oscila de 15:1 a 16,7:1, reconhecendo que a modulação dessa
relação para 2,5/1 reduz a proliferação celular retal em pacientes com câncer.
A água desempenha diversas funções orgânicas vitais
e imprescindíveis como transporte de gases, alimentos e produtos do metabolismo
celular, regulação da temperatura corpórea, dentre outras. Apesar da recomendação
de pelo menos 2 litros de água por dia, é sabido que, em determinadas condições
clínicas, como idade avançada e carcinoma do trato gastrintestinal, a
necessidade de água encontra-se reduzida.
Evidências científicas têm sugerido um efeito protetor
do consumo de café no risco de desenvolvimento de câncer colorretal.
Acredita-se que esse efeito está relacionado às substâncias bioativas presentes
no café como flavonoides, entre outros antioxidantes. Na literatura, há
controvérsias em relação a essa associação. Dados de cinco estudos que relacionaram
o consumo de café com o risco de câncer colorretal demonstraram os seguintes
resultados: em três estudos, houve uma ausência de associação; em um estudo,
risco aumentado de câncer entre os consumidores de café; e, no outro estudo,
associação inversa entre o consumo do café e o risco dessa doença.
Estudos epidemiológicos indicam que, além de uma
dieta variada com elevado consumo de frutas, hortaliças e fibras, baixo consumo
de alguns tipos de gordura e ingestão calórica moderada, a prática de atividade
física está intimamente relacionada ao risco reduzido de diversos tipos de
câncer, particularmente, colorretal.
Vários mecanismos podem explicar o papel da
atividade física regular na redução do risco de câncer. O primeiro deles seria
a influência sobre o sistema imunológico. Acredita-se que a atividade física
regular ativa o sistema imunológico de forma semelhante à que ocorre com uma
infecção leve. O mecanismo seria o aumento na produção de interferon, que pode
manter estimuladas as células NK (Natural
Killers), fundamentais na luta imunológica antitumoral, no processo de
metástases e infecções virais.
Outra possível explicação de como a atividade
física regular pode auxiliar na prevenção do câncer de cólon está relacionada à
regulação dos radicais livres. É sabido que a geração de moléculas reativas de oxigênio
(radicais livres) pode causar danos genéticos nas células, contribuindo para o
desenvolvimento do câncer. Apesar do exercício intenso estar associado à
produção de radicais livres, a atividade física regular pode melhorar as
defesas do organismo contra estes elementos através da regulação e adaptação da
atividade de enzimas-chave varredoras de radicais livres (superóxido dismutase
e glutationa peroxidase), como também dos níveis de antioxidantes no organismo
(glutationas e tocoferóis). Ainda é desconhecido na literatura o grau de
influência que estas mudanças induzidas pelo exercício exercem sobre o
desenvolvimento do câncer.
Outro importante efeito da atividade física está
relacionado ao aumento da motilidade intestinal. A prática desportiva regular,
principalmente aeróbia, pode estimular a peristalse, reduzindo o tempo de trânsito
intestinal dos alimentos, provavelmente por um tônus parassimpático aumentado.
Com isso, reduz-se a incidência de câncer de cólon por diminuição da
oportunidade de exposição da mucosa colônica a potentes agentes carcinogênicos,
como também aos ácidos biliares, que vêm sendo acentuadamente descritos como
possíveis promotores do câncer de cólon.
As informações contidas neste blog, não
devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de
saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Colorretal. Instituto Nacional de Câncer.
Disponível em: www.inca.gov.br Acessado
em: 16/08/2013.
Fortes, RC; Rêcova, VL; Melo, AL; Novaes,
MRCG. Hábitos Dietéticos de Pacientes com Câncer Colorretal em Fase
Pós-operatória. Rev Bras Cancererologia 2007; v.53, n.3: p.277-289.
Leser, SM; Soares, EA. Aspectos nutricionais
e atividade física na prevenção do câncer colorretal. Rev Soc Bras Alim Nutr
2001; v.21: p.121-145.
Valadão,M; Castro, LS. Câncer Colo-Retal
Hereditário. Rev Col Bras Cir 2007; v.34, n.3: p.193-200.
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