Evidências
médicas sugerem que a suplementação alimentar pode ser benéfica para um pequeno
grupo de pessoas, aí incluídos atletas competitivos, cuja dieta não seja
balanceada. Nesses casos, comprovada a deficiência de um nutriente, o aumento
da sua ingestão, quer através da alimentação habitual, quer através de
suplementos, é indicado. Entretanto, tem-se observado que adolescentes
envolvidos em atividade física ou atlética estão usando cada vez mais tais
suplementos. A prevalência desse uso varia entre os tipos de esportes (na
musculação e fisiculturismo, seu uso é frequente), aspectos culturais, faixas
etárias (mais comum em adolescentes) e sexo (maior prevalência em homens). Poucos
estudos se referem a frequência, tipo e quantidade de suplementos usados, mas
parece ser comum que as doses recomendadas sejam excedidas.
Suplementos alimentares são
definidos como substâncias utilizadas por via oral com o objetivo de
complementar uma determinada deficiência dietética. Muitas vezes eles são
comercializados como substâncias ergogênicas capazes de melhorar ou aumentar a
performance física. Proteínas e aminoácidos, creatina, carnitina, vitaminas,
microelementos, cafeína, betahidroximetilbutirato e bicarbonato são os
suplementos alimentares mais utilizados.
Quadro 1. Principais motivos citados por
adolescentes pra usarem suplementos alimentares.
*
Ganho de massa muscular;
*
Melhora do desempenho competitivo;
*
Aumento da performance física;
*
Retardo do surgimento da fadiga;
*
Compensar alimentação inadequada;
*
Ultrapassar o platô de condicionamento físico obtido apenas com alimentação;
*
“Norma” cultural em alguns esportes;
*
Recomendação de amigos, colegas e técnicos;
*
Conhecimento de que potenciais competidores fazem uso de suplementos;
*
Disponibilidade dos suplementos em farmácias e lojas especializadas;
*
Propaganda de que eles são seguros, “naturais”, isentos de efeitos adversos e
que podem aumentar a força e resistência muscular;
*
Imitar atletas de elite que supostamente fizeram uso desses suplementos;
*
Prevenir doenças;
*
Melhorar a imunidade.
|
►
Proteínas
Os preparados proteicos são os
suplementos alimentares mais consumidos, principalmente as proteínas do soro do
leite e albumina. As proteínas do soro do leite, conhecidas como whey
proteins, são obtidas após a extração da caseína do leite desnatado.
Possuem alto teor de aminoácidos essenciais e de cadeia ramificada, alto teor
de cálcio e peptídeos bioativos do soro. Seus efeitos biológicos resultam do
aumento da síntese proteica muscular, redução da gordura corporal em função do teor
de cálcio e alta concentração de glutationa, diminuindo a ação dos agentes
oxidantes nos músculos esqueléticos e aumento da concentração de insulina
plasmática favorecendo a captação de aminoácidos para o interior da célula
muscular.
A albumina é um suplemento com elevada
concentração de proteínas, obtida a partir da clara do ovo desidratada e
pasteurizada, possuindo alta digestibilidade e elevado valor biológico.
Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte, o consumo adicional de suplementos proteicos acima das necessidades
diárias de um atleta, as quais podem ser contempladas por uma alimentação
saudável, não determina ganho de massa muscular adicional, nem aumento
do desempenho.
►
Aminoácidos
Os aminoácidos mais utilizados sob a
forma de suplementação alimentar são: glutamina, aminoácidos de cadeia
ramificada (leucina, valina, isoleucina), arginina, lisina e ornitina. Eles
geralmente são usados em combinação com a ingestão de carboidratos, logo após
uma atividade física, para favorecer o aumento de massa muscular.
A glutamina é o aminoácido livre mais
abundante no plasma e tecido muscular; é utilizado por células de divisão
rápida, para fornecer energia e favorecer a síntese de nucleotídeos. Sua
suplementação pode atenuar o estresse oxidativo, reduzir a quantidade de lesões
celulares decorrentes de exercícios físicos exaustivos e melhorar a defesa
imunológica. Dados recentes indicam que a suplementação oral de glutamina não é
justificada mesmo para atletas competitivos.
O consumo de arginina e ornitina como
suplementos alimentares não se associa a mudanças na massa magra ou função
muscular, exceto em indivíduos sob estresse (trauma, queimadura, cirurgias),
nos quais a suplementação pode reduzir a extensa perda muscular. Em relação ao
estímulo da secreção do hormônio de crescimento, apenas a infusão venosa é
capaz de tal estímulo – a ingestão oral desses aminoácidos é ineficaz em
promover maior liberação do hormônio de crescimento.
A suplementação de aminoácidos de cadeia
ramificada, ao aumentar a captação de triptofano pelo sistema nervoso central,
tem sido proposta com o objetivo de reduzir a perda proteica, aumentar o
rendimento e retardar a fadiga. Entretanto, esse efeito, em humanos, além de
discordante, só é observado em situações de estresse acentuado no qual a
proteólise está muito aumentada.
►
Carnitina
A carnitina
(L-3-hidroxitrimetilaminobutanoato) é uma amina quaternária encontrada na carne
vermelha, leite e derivados, e sintetizada a partir da lisina e metionina no
fígado, rim e cérebro. Exceto em seguidores de uma dieta vegetariana rígida, a
deficiência de carnitina é incomum. Ela participa da captação e translocação
dos ácidos graxos livres através da membrana mitocondrial e, dentro da
mitocôndria, contribui para o processo de oxidação de gordura e carboidratos,
aumento na produção de acilcarnitina e aumento da geração de energia. Ela
também pode aumentar o fluxo sanguíneo aos músculos, por seu efeito
vasodilatador e antioxidante. Embora o conteúdo muscular de carnitina diminua
com o exercício, o significado funcional de tal mudança, ou sua prevenção,
através da suplementação, não pode ser prevista, uma vez que sua suplementação
aumenta a concentração plasmática, mas não aumenta o seu conteúdo muscular.
Não há relatos de danos renais em indivíduos
sadios que utilizam carnitina como suplemento dietético, mas há risco de
agravamento da função renal em nefropatas. No momento, não existem conclusões
definitivas sobre o efeito benéfico da carnitina no metabolismo do exercício em
atletas sem deficiência nutricional.
►
Creatina
A creatina é produzida no fígado,
rins e pâncreas a partir da glicina, arginina e metionina. Ela também é encontrada
naturalmente na carne. O requerimento diário médio é de 2 g/dia, sendo 1 g
proveniente da dieta e 1 g da produção do próprio organismo.
Existem três mecanismos de ação da creatina
na fisiologia do esporte: aumento na força muscular, como resultado do aumento
da expressão de miosina de cadeia pesada; ação anticatabólica; e aumento do
volume celular, estimulando a síntese proteica. A suplementação com creatina
pode causar um aumento de 20% na fosfocreatina muscular, acelerando o
reabastecimento da mesma no período de recuperação.
A suplementação nas doses usuais não causa
alteração da função hepática ou renal. Os efeitos adversos do uso prolongado
são: ganho de peso, desconforto gastrointestinal e câimbras musculares.
►
Vitaminas
A atividade física de alta
intensidade e/ou duração pode gerar radicais livres a partir do aumento do
consumo de oxigênio pelas mitocôndrias. Acredita-se que esse excesso de
radicais livres possa levar a dano nas membranas musculares. Entretanto, o
organismo humano possui vários mecanismos endógenos de defesa para neutralizar
os radicais livres, como as enzimas: superóxido-desmutase, glutationa
peroxidase e catalase. Além disso, a atividade física regular aumenta a
efetividade desses mecanismos endógenos, colaborando para que, mesmo após
atividade física extenuante, não ocorra dano oxidativo.
Mesmo assim, é prática comum entre
atletas o uso de doses extras de vitaminas, principalmente C e E, por suas
propriedades antioxidantes. Não existem evidências científicas que justifiquem
a suplementação com vitaminas C e E na melhora da performance física.
►
Microelementos
O ferro
é um nutriente importante para indivíduos fisicamente ativos pelo seu papel na
produção energética como carreador de oxigênio. Os mecanismos pelos quais
ocorre aumento do requerimento de ferro no exercício são: perda no suor, fezes
e urina, hemólise intravascular e absorção prejudicada. Adolescentes na fase de
estirão, meninas logo após a menarca e vegetarianos têm risco aumentado de
desenvolver deficiência, porém sua suplementação só deve ser indicada após
determinação de sua necessidade.
Embora o cálcio
seja essencial para composição óssea, sua suplementação não contribui
para melhora da densidade mineral óssea em indivíduos com dieta normal.
O magnésio
age como co-fator e ativador de uma série de enzimas do metabolismo energético,
participa do metabolismo do cálcio, ajuda a manter o gradiente elétrico nas
membranas das células musculares e nervosas, além de estar envolvido na função
hormonal, imune cardiovascular e neuromuscular. Sua deficiência (eliminação
pelo suor) tem sido referida como causa de câimbras musculares induzidas por
exercício. O consumo excedente a 500 mg/dia frequentemente resulta em
distúrbios gastrointestinais, além de induzir à perda de fosfato.
O zinco
participa como co-fator de muitas reações enzimáticas, participando do processo
de reparação dos tecidos. O exercício pode estimular a perda urinária. A
maioria dos indivíduos que praticam atividade física consome dietas que proveem
quantidade suficiente de zinco, exceto aqueles que praticam esportes que requerem
restrição de peso. Sua suplementação acima de 50 g/dia pode inibir a absorção
de cobre, além de diminuir a concentração de HDL-colesterol (colesterol bom).
O cobre
atua na modulação da atividade de algumas enzimas, além de atuar na síntese da
hemoglobina, catecolaminas e alguns hormônios peptídeos. Estudos sobre sua suplementação
em atletas mostram que não há necessidade de aumento da sua ingestão.
O iodo
é essencial na síntese dos hormônios tireoideanos. Não há evidências que
sugiram um requerimento maior em indivíduos que fazem atividade física.
►
Cafeína
A cafeína é uma substância presente
em café, chá, guaraná, refrigerante tipo cola, chocolate, guloseimas,
analgésicos e em grande número de suplementos alimentares.
A cafeína pode, em tese, melhorar o
desempenho dos atletas através da mobilização de ácidos graxos livres do tecido
adiposo, aumentando o suprimento de gordura ao músculo, economizando
glicogênio, melhorando a função neuromuscular e prolongando o tempo de
exercício. Atua também melhorando a contratilidade dos músculos cardíacos e
esqueléticos e como estimulante do sistema nervoso central, o que beneficia
atividades que demandam concentração. Acredita-se, ainda, que possa ajudar na
perda de peso, prevenção de fadiga e produção de energia.
Os efeitos adversos são: insônia, tremores,
cefaleia, irritação gastrointestinal, hemorragia e estimulação da diurese,
agitação, tremores e distração mental, hiperestesias, os quais podem retardar
ou mesmo prejudicar a performance.
►
Betahidroximetilbutirato
O betahidroximetilbutirato é um
derivado da leucina. Acredita-se que atue diminuindo a proteólise muscular e/ou
contribuindo para integridade celular. A suplementação pode prevenir o
catabolismo muscular induzido por exercício, resultando num ganho de função
muscular associado ao treino de resistência. Esses achados sugerem que ele
possa ter algum valor para atletas em programas com treinamento de força. Não
foram encontradas mudanças na força nem na composição corporal de atletas,
adultos jovens, sob treino de resistência após a suplementação oral. As
evidências clínicas não são convincentes em relação ao benefício dessa
suplementação, e seu uso não é recomendado mesmo quando se trata de atletas de
competição.
►
Bicarbonato
Embora os trabalhos não sejam
consistentes ou conclusivos, acredita-se que a indução de alcalose metabólica
(através da ingestão de bicarbonato ou citrato de sódio) antes da atividade
física de alta intensidade e com possibilidade de causar importante acidose
muscular possa aumentar a capacidade muscular, ao regular a acidez e aumentar a
taxa de efluxo de íons de hidrogênio do músculo, retardando a fadiga e melhorando
o desempenho muscular. Outros mecanismos propostos incluem: diminuição da
fosfocreatina muscular e utilização do glicogênio muscular. Juntos, tais
mecanismos contribuiriam para a produção de energia anaeróbica. Os efeitos
metabólicos da alcalose induzida são secundários a um aumento no pH plasmático,
o qual leva a um atraso no início da acidificação intracelular durante o
exercício.
Efeitos adversos como vômitos, diarreia e dor
abdominal podem limitar o aumento desejado na performance. O uso do bicarbonato
antes da atividade física parece ser benéfico em exercícios com o potencial de
induzir acidose muscular significante seja devido a sua alta intensidade ou sua
duração prolongada.
As informações contidas neste blog,
não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área
de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referência
Bibliográfica:
Alves,
C; Lima, RVB. Uso de suplementos alimentares por adolescentes. J. Pediatr.
2009; v.85, n.4: p.287-294.
Nenhum comentário:
Postar um comentário