segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Adolescentes e Suplementação

Evidências médicas sugerem que a suplementação alimentar pode ser benéfica para um pequeno grupo de pessoas, aí incluídos atletas competitivos, cuja dieta não seja balanceada. Nesses casos, comprovada a deficiência de um nutriente, o aumento da sua ingestão, quer através da alimentação habitual, quer através de suplementos, é indicado. Entretanto, tem-se observado que adolescentes envolvidos em atividade física ou atlética estão usando cada vez mais tais suplementos. A prevalência desse uso varia entre os tipos de esportes (na musculação e fisiculturismo, seu uso é frequente), aspectos culturais, faixas etárias (mais comum em adolescentes) e sexo (maior prevalência em homens). Poucos estudos se referem a frequência, tipo e quantidade de suplementos usados, mas parece ser comum que as doses recomendadas sejam excedidas.

            Suplementos alimentares são definidos como substâncias utilizadas por via oral com o objetivo de complementar uma determinada deficiência dietética. Muitas vezes eles são comercializados como substâncias ergogênicas capazes de melhorar ou aumentar a performance física. Proteínas e aminoácidos, creatina, carnitina, vitaminas, microelementos, cafeína, betahidroximetilbutirato e bicarbonato são os suplementos alimentares mais utilizados.

Quadro 1. Principais motivos citados por adolescentes pra usarem suplementos alimentares.

* Ganho de massa muscular;
* Melhora do desempenho competitivo;
* Aumento da performance física;
* Retardo do surgimento da fadiga;
* Compensar alimentação inadequada;
* Ultrapassar o platô de condicionamento físico obtido apenas com alimentação;
* “Norma” cultural em alguns esportes;
* Recomendação de amigos, colegas e técnicos;
* Conhecimento de que potenciais competidores fazem uso de suplementos;
* Disponibilidade dos suplementos em farmácias e lojas especializadas;
* Propaganda de que eles são seguros, “naturais”, isentos de efeitos adversos e que podem aumentar a força e resistência muscular;
* Imitar atletas de elite que supostamente fizeram uso desses suplementos;
* Prevenir doenças;
* Melhorar a imunidade.

Proteínas

          Os preparados proteicos são os suplementos alimentares mais consumidos, principalmente as proteínas do soro do leite e albumina. As proteínas do soro do leite, conhecidas como whey proteins, são obtidas após a extração da caseína do leite desnatado. Possuem alto teor de aminoácidos essenciais e de cadeia ramificada, alto teor de cálcio e peptídeos bioativos do soro. Seus efeitos biológicos resultam do aumento da síntese proteica muscular, redução da gordura corporal em função do teor de cálcio e alta concentração de glutationa, diminuindo a ação dos agentes oxidantes nos músculos esqueléticos e aumento da concentração de insulina plasmática favorecendo a captação de aminoácidos para o interior da célula muscular.

A albumina é um suplemento com elevada concentração de proteínas, obtida a partir da clara do ovo desidratada e pasteurizada, possuindo alta digestibilidade e elevado valor biológico.

Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, o consumo adicional de suplementos proteicos acima das necessidades diárias de um atleta, as quais podem ser contempladas por uma alimentação saudável, não determina ganho de massa muscular adicional, nem aumento do desempenho.

Aminoácidos
            
         Os aminoácidos mais utilizados sob a forma de suplementação alimentar são: glutamina, aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, valina, isoleucina), arginina, lisina e ornitina. Eles geralmente são usados em combinação com a ingestão de carboidratos, logo após uma atividade física, para favorecer o aumento de massa muscular.

A glutamina é o aminoácido livre mais abundante no plasma e tecido muscular; é utilizado por células de divisão rápida, para fornecer energia e favorecer a síntese de nucleotídeos. Sua suplementação pode atenuar o estresse oxidativo, reduzir a quantidade de lesões celulares decorrentes de exercícios físicos exaustivos e melhorar a defesa imunológica. Dados recentes indicam que a suplementação oral de glutamina não é justificada mesmo para atletas competitivos.

O consumo de arginina e ornitina como suplementos alimentares não se associa a mudanças na massa magra ou função muscular, exceto em indivíduos sob estresse (trauma, queimadura, cirurgias), nos quais a suplementação pode reduzir a extensa perda muscular. Em relação ao estímulo da secreção do hormônio de crescimento, apenas a infusão venosa é capaz de tal estímulo – a ingestão oral desses aminoácidos é ineficaz em promover maior liberação do hormônio de crescimento.

A suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada, ao aumentar a captação de triptofano pelo sistema nervoso central, tem sido proposta com o objetivo de reduzir a perda proteica, aumentar o rendimento e retardar a fadiga. Entretanto, esse efeito, em humanos, além de discordante, só é observado em situações de estresse acentuado no qual a proteólise está muito aumentada.

Carnitina

            A carnitina (L-3-hidroxitrimetilaminobutanoato) é uma amina quaternária encontrada na carne vermelha, leite e derivados, e sintetizada a partir da lisina e metionina no fígado, rim e cérebro. Exceto em seguidores de uma dieta vegetariana rígida, a deficiência de carnitina é incomum. Ela participa da captação e translocação dos ácidos graxos livres através da membrana mitocondrial e, dentro da mitocôndria, contribui para o processo de oxidação de gordura e carboidratos, aumento na produção de acilcarnitina e aumento da geração de energia. Ela também pode aumentar o fluxo sanguíneo aos músculos, por seu efeito vasodilatador e antioxidante. Embora o conteúdo muscular de carnitina diminua com o exercício, o significado funcional de tal mudança, ou sua prevenção, através da suplementação, não pode ser prevista, uma vez que sua suplementação aumenta a concentração plasmática, mas não aumenta o seu conteúdo muscular.

Não há relatos de danos renais em indivíduos sadios que utilizam carnitina como suplemento dietético, mas há risco de agravamento da função renal em nefropatas. No momento, não existem conclusões definitivas sobre o efeito benéfico da carnitina no metabolismo do exercício em atletas sem deficiência nutricional.

Creatina

          A creatina é produzida no fígado, rins e pâncreas a partir da glicina, arginina e metionina. Ela também é encontrada naturalmente na carne. O requerimento diário médio é de 2 g/dia, sendo 1 g proveniente da dieta e 1 g da produção do próprio organismo.

Existem três mecanismos de ação da creatina na fisiologia do esporte: aumento na força muscular, como resultado do aumento da expressão de miosina de cadeia pesada; ação anticatabólica; e aumento do volume celular, estimulando a síntese proteica. A suplementação com creatina pode causar um aumento de 20% na fosfocreatina muscular, acelerando o reabastecimento da mesma no período de recuperação.

A suplementação nas doses usuais não causa alteração da função hepática ou renal. Os efeitos adversos do uso prolongado são: ganho de peso, desconforto gastrointestinal e câimbras musculares.


Vitaminas

           A atividade física de alta intensidade e/ou duração pode gerar radicais livres a partir do aumento do consumo de oxigênio pelas mitocôndrias. Acredita-se que esse excesso de radicais livres possa levar a dano nas membranas musculares. Entretanto, o organismo humano possui vários mecanismos endógenos de defesa para neutralizar os radicais livres, como as enzimas: superóxido-desmutase, glutationa peroxidase e catalase. Além disso, a atividade física regular aumenta a efetividade desses mecanismos endógenos, colaborando para que, mesmo após atividade física extenuante, não ocorra dano oxidativo.

           Mesmo assim, é prática comum entre atletas o uso de doses extras de vitaminas, principalmente C e E, por suas propriedades antioxidantes. Não existem evidências científicas que justifiquem a suplementação com vitaminas C e E na melhora da performance física.

Microelementos

O ferro é um nutriente importante para indivíduos fisicamente ativos pelo seu papel na produção energética como carreador de oxigênio. Os mecanismos pelos quais ocorre aumento do requerimento de ferro no exercício são: perda no suor, fezes e urina, hemólise intravascular e absorção prejudicada. Adolescentes na fase de estirão, meninas logo após a menarca e vegetarianos têm risco aumentado de desenvolver deficiência, porém sua suplementação só deve ser indicada após determinação de sua necessidade.

Embora o cálcio seja essencial para composição óssea, sua suplementação não contribui para melhora da densidade mineral óssea em indivíduos com dieta normal.

O magnésio age como co-fator e ativador de uma série de enzimas do metabolismo energético, participa do metabolismo do cálcio, ajuda a manter o gradiente elétrico nas membranas das células musculares e nervosas, além de estar envolvido na função hormonal, imune cardiovascular e neuromuscular. Sua deficiência (eliminação pelo suor) tem sido referida como causa de câimbras musculares induzidas por exercício. O consumo excedente a 500 mg/dia frequentemente resulta em distúrbios gastrointestinais, além de induzir à perda de fosfato.

O zinco participa como co-fator de muitas reações enzimáticas, participando do processo de reparação dos tecidos. O exercício pode estimular a perda urinária. A maioria dos indivíduos que praticam atividade física consome dietas que proveem quantidade suficiente de zinco, exceto aqueles que praticam esportes que requerem restrição de peso. Sua suplementação acima de 50 g/dia pode inibir a absorção de cobre, além de diminuir a concentração de HDL-colesterol (colesterol bom).

O cobre atua na modulação da atividade de algumas enzimas, além de atuar na síntese da hemoglobina, catecolaminas e alguns hormônios peptídeos. Estudos sobre sua suplementação em atletas mostram que não há necessidade de aumento da sua ingestão.

O iodo é essencial na síntese dos hormônios tireoideanos. Não há evidências que sugiram um requerimento maior em indivíduos que fazem atividade física.

Cafeína

         A cafeína é uma substância presente em café, chá, guaraná, refrigerante tipo cola, chocolate, guloseimas, analgésicos e em grande número de suplementos alimentares.

A cafeína pode, em tese, melhorar o desempenho dos atletas através da mobilização de ácidos graxos livres do tecido adiposo, aumentando o suprimento de gordura ao músculo, economizando glicogênio, melhorando a função neuromuscular e prolongando o tempo de exercício. Atua também melhorando a contratilidade dos músculos cardíacos e esqueléticos e como estimulante do sistema nervoso central, o que beneficia atividades que demandam concentração. Acredita-se, ainda, que possa ajudar na perda de peso, prevenção de fadiga e produção de energia.

 Os efeitos adversos são: insônia, tremores, cefaleia, irritação gastrointestinal, hemorragia e estimulação da diurese, agitação, tremores e distração mental, hiperestesias, os quais podem retardar ou mesmo prejudicar a performance.

Betahidroximetilbutirato

            O betahidroximetilbutirato é um derivado da leucina. Acredita-se que atue diminuindo a proteólise muscular e/ou contribuindo para integridade celular. A suplementação pode prevenir o catabolismo muscular induzido por exercício, resultando num ganho de função muscular associado ao treino de resistência. Esses achados sugerem que ele possa ter algum valor para atletas em programas com treinamento de força. Não foram encontradas mudanças na força nem na composição corporal de atletas, adultos jovens, sob treino de resistência após a suplementação oral. As evidências clínicas não são convincentes em relação ao benefício dessa suplementação, e seu uso não é recomendado mesmo quando se trata de atletas de competição.

Bicarbonato

           Embora os trabalhos não sejam consistentes ou conclusivos, acredita-se que a indução de alcalose metabólica (através da ingestão de bicarbonato ou citrato de sódio) antes da atividade física de alta intensidade e com possibilidade de causar importante acidose muscular possa aumentar a capacidade muscular, ao regular a acidez e aumentar a taxa de efluxo de íons de hidrogênio do músculo, retardando a fadiga e melhorando o desempenho muscular. Outros mecanismos propostos incluem: diminuição da fosfocreatina muscular e utilização do glicogênio muscular. Juntos, tais mecanismos contribuiriam para a produção de energia anaeróbica. Os efeitos metabólicos da alcalose induzida são secundários a um aumento no pH plasmático, o qual leva a um atraso no início da acidificação intracelular durante o exercício.

Efeitos adversos como vômitos, diarreia e dor abdominal podem limitar o aumento desejado na performance. O uso do bicarbonato antes da atividade física parece ser benéfico em exercícios com o potencial de induzir acidose muscular significante seja devido a sua alta intensidade ou sua duração prolongada.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referência Bibliográfica:

Alves, C; Lima, RVB. Uso de suplementos alimentares por adolescentes. J. Pediatr. 2009; v.85, n.4: p.287-294.

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