A prevalência de SM vem aumentando
em todo o mundo nas últimas décadas. No Brasil, achados de pesquisas têm
observado padrões similares, com dados variando de 48% a 87% desses indivíduos
com SM. Um dos motivos para o aumento significativo da SM na população é a
associação desta com obesidade e diabete melito tipo 2 (DM2).
A abordagem nutricional na síndrome
metabólica é parte importante do tratamento não-farmacológico, contribuindo
para o controle da obesidade, hiperglicemia ou diabetes propriamente dito,
hipertensão arterial e dislipidemia.
Um plano alimentar saudável é
fundamental no tratamento da SM. Ele deve ser individualizado e prever uma
redução de peso sustentável de 5% a 10% de peso corporal inicial. Deve fornecer
um valor calórico total (VCT) compatível com a obtenção e/ou manutenção de peso
corporal desejável. Para obesos, a dieta deve ser hipocalórica, com uma redução
de 500kcal a 1000kcal do gasto energético total (GET) diário previsto ou da
anamnese alimentar, com o objetivo de promover perdas ponderais de 0,5kg a
1,0kg/semana. Um método prático para o cálculo do GET é utilizar 20kcal a
25kcal/kg peso atual/dia. Não utilizar dietas inferiores a 800kcal, pois não
são efetivas para a redução de peso.
Carboidratos
(50% a 60% das calorias totais)
É recomendado o consumo de
hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. O açúcar de mesa ou produtos
contendo açúcar podem eventualmente ser ingeridos no contexto de um plano
alimentar saudável. O total de porções diárias desse grupo de alimentos varia
de acordo com o VCT do plano alimentar prescrito. Considerando que uma porção
de carboidratos corresponde a uma fatia de pão de fôrma, ou meio pão francês,
ou uma escumadeira rasa de arroz ou de macarrão, ou uma batata média, ou meia
concha de feijão, por exemplo, mulheres com IMC > 27kg/m² e sedentárias
poderão receber apenas seis porções/dia, enquanto homens ativos com peso normal
poderão ingerir até 11 porções/dia.
Proteínas
(0,8g a 1,0g/kg atual/dia ou 15%)
Recomenda-se uma ingestão diária de
0,8g a 1g/kg de peso atual ou 15% do VCT. Corresponde a duas porções pequenas
de carne magra/dia, que podem ser substituídas pelas leguminosas (soja, grão de
bico, feijões, lentilha, etc) e duas a três porções diárias de leite desnatado
ou queijo magro. O consumo de peixes deve ser incentivado por sua riqueza em
ácidos graxos ômega-3. Os ovos também podem ser utilizados como substitutos da
carne, respeitando-se o limite de duas gemas/semana, em função do teor de
colesterol. Excessos proteicos devem ser evitados.
Gorduras
(25% a 35% das calorias totais)
A ingestão de gordura é inversamente
associada à sensibilidade insulínica não somente pela relação positiva com o
peso corporal, mas também pela qualidade da oferta de ácidos graxos. Em algumas
situações, como na hipertrigliceridemia ou quando o HDL-colesterol for inferior
ao desejável, pode ser aconselhável aumentar a quantidade de gordura
monoinsaturada, reduzindo neste caso a oferta de carboidratos. Esta
substituição deve acontecer, pois o aumento dos ácidos graxos monoinsaturados
de forma aditiva ao plano alimentar pode promover o aumento de peso. O uso de
gordura em cotas inferiores a 15% do VCT pode diminuir o HDL-colesterol e
aumentar os níveis plasmáticos de glicose, insulina e triglicerídeos.
Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 podem ser benéficos na síndrome metabólica em especial no tratamento da
hipertrigliceridemia grave em pessoas com diabetes tipo 2. Duas ou três porções
de peixe/semana são recomendadas.
Os ácidos graxos trans aumentam o LDL-colesterol e
triglicerídeos e reduzem a fração HDL-colesterol. A maior contribuição desses
ácidos graxos na dieta origina-se do consumo de óleos e gorduras hidrogenadas,
margarinas duras e shortenings
(gorduras industriais presentes em sorvetes, chocolates, produtos de padaria,
salgadinho tipo chips, molho para
saladas, maionese, cremes para sobremesa e óleos para fritura industrial) e, em
menor quantidade, produtos lácteos e carnes bovinas e caprinas. Seu consumo
deve ser reduzido.
●
Ácidos Graxos Saturados (AGS): <
10% das calorias totais. Incluem os ácidos graxos saturados e os ácidos graxos
trans. Recomendar até 7% se LDL-colesterol for > 100mg/dL.
●
Ácidos Graxos Poli-insaturados (AGPI):
até 10% das calorias totais. Incluem os ácidos graxos ômega-3 os quais são encontrados
em peixes como salmão, sardinha, cavala e arenque.
●
Ácidos Graxos Monoinsaturados (AGMI):
até 20% das calorias totais. O azeite de oliva possui 77% de AGMI e seu consumo
é predominante na dieta Mediterrânea.
●
Colesterol: < 300mg/dia. Alguns
indivíduos com LDL-colesterol > 100mg/dL podem se beneficiar com uma
ingestão diária de colesterol de 200mg/dia.
Fibras
(20g a 30g/dia)
É recomendado o consumo de fibras em
20g a 30g/dia sob a forma de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas,
pois fornecem minerais, vitaminas e outros nutrientes essenciais para uma dieta
saudável. Embora altas quantidades de fibras (50g/dia) mostrem efeitos
benéficos sobre o controle glicêmico e lipídico, não é conhecido se a
palatabilidade e os efeitos gastrintestinais colaterais dessa quantidade de
fibras seriam aceitáveis pela população.
Vitaminas
e Minerais
O plano alimentar deve prover a
recomendação para o consumo diário de duas a quatro porções de frutas, sendo
pelo menos uma rica em vitamina C (frutas cítricas) e de três a cinco porções
de hortaliças cruas e cozidas. Sempre que possível, prefira os alimentos
integrais.
Sal
de cozinha
Deve ser limitado a 5g/dia. Devem
ser evitados os alimentos processados como embutidos, conservas, enlatados,
defumados e salgados de pacotes tipo snacks.
Ao contrário, temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas são
recomendados em vez de condimentos industrializados.
Álcool
O consumo de álcool deverá ser
evitado. O seu efeito depende da qualidade e da quantidade ingerida, se o seu
consumo está ou não associado a algum tipo de alimento. O consumo diário não
deverá ultrapassar duas doses para o homem e uma para a mulher, sendo que uma
dose equivale a uma taça de vinho (100mL) ou 40mL de bebida destilada (uísque,
pinga, vodca) ou uma lata de cerveja (350mL).
Dieta
DASH e Dieta Mediterrânea
Preconizam o uso de hortaliças,
leguminosas, grãos integrais e frutas, laticínios com baixo teor de gordura
total, gordura saturada e trans e colesterol, alta quantidade de gordura
monoinsaturada (azeite de oliva) e ácidos graxos ômega-3 e fornece altas
quantidades de potássio, magnésio e cálcio. Elas podem ser uma opção
terapêutica na síndrome metabólica quando associada a uma intervenção no estilo
de vida.
Recomendações
Complementares
O plano alimentar deve ser
fracionado em cinco refeições, sendo três principais e dois lanches. Quanto à
forma de preparo dos alimentos, preferir os grelhados, assados, cozidos no
vapor ou até mesmo crus. Os alimentos diet
e light podem ser indicados no
contexto do plano alimentar e não utilizado de forma exclusiva. Devem-se
respeitar as preferências individuais e o poder aquisitivo do paciente e da
família.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e
Tratamento da Síndrome Metabólica. Arq Bras Cardiol, 2005, v.84, Suplemento I:
p. 1-28.
Busnello, FM;
Bodanese, LC; Pellanda, LC; Santos, ZEA. Intervenção Nutricional e Impacto na Adesão
ao Tratamento em Pacientes com Síndrome Metabólica. Arq Bras Cardiol 2011;
v.97, n.3: p. 217-224.
Lopes, HF. Síndrome Metabólica: Uma Abordagem
Multidisciplinar. 1ed. São Paulo: Atheneu, 2007, p.151-163.
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