O envelhecimento populacional é um
fenômeno mundial e acomete países desenvolvidos e em desenvolvimento como o
Brasil. Estima-se que, considerando a população mundial, o número de pessoas
com 60 anos ou mais crescerá mais de 300% nos próximos 50 anos, chegando a
quase 2 bilhões em 2050.
Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), 9% da população brasileira é constituída por
idosos e o Brasil será considerado a sétima população de idosos do mundo, de
acordo com projeções realizadas para 2025.
O envelhecimento, apesar de ser um
processo natural, submete o organismo a diversas alterações anatômicas,
funcionais, bioquímicas e psicológicas, com repercussões sobre as condições de
saúde e nutrição desses indivíduos. O idoso, diante de tantas peculiaridades,
deve ser avaliado de maneira ampla e interdisciplinar. Dentro deste contexto,
está a importância da avaliação do seu estado nutricional, evitando-se,
portanto, a visão de que as alterações nutricionais do idoso fazem parte do
processo normal do envelhecimento.
Normalmente, o padrão dietético do
idoso continua semelhante àquele estabelecido pelos hábitos da juventude e o
estado nutricional continua a ser adequado mesmo nessa fase da vida. No
entanto, a incidência aumentada de doenças e incapacidades associadas a
mudanças no estilo de vida nesse grupo populacional vem determinando uma
prevalência crescente de distúrbios nutricionais nessa fase da vida.
A obesidade e a desnutrição são dois
problemas que coexistem nos tempos atuais. Apesar de a desnutrição em idosos se
apresentar como um fator mais fortemente associado à mortalidade do que o
excesso de peso, a obesidade tem sido observada em curva ascendente na faixa
geriátrica e traz consigo importantes repercussões clínicas. Sua importância
está associada ao fato de acelerar o declínio funcional do idoso e agravar suas
limitações, gerando assim, perda de independência e autonomia.
Durante a avaliação nutricional do
idoso, várias ferramentas podem ser utilizadas: exames físicos, indicadores
antropométricos, parâmetros bioquímicos, questionários para avaliação
nutricional subjetiva, impedância bioelétrica, entre outras.
Algumas das medidas antropométricas
recomendadas na avaliação nutricional do idoso são peso, estatura,
circunferência do braço e dobras cutâneas tricipital e subescapular. Estas
medidas permitem predizer, de forma operacional, a quantidade de tecido adiposo
e muscular.
Quanto à avaliação bioquímica,
destacam-se as dosagens de albumina plasmática, pré-albumina, transferrina,
colesterol, o índice creatinina-altura, entre outros. Considerando a avaliação subjetiva,
destacam-se a Mini Avaliação Nutricional (MAN) e a Avaliação Subjetiva Global
(ASG).
Apesar da suscetibilidade para
desenvolver desnutrição, o idoso tem um aumento de 20% a 30% na gordura
corporal total (2% a 5%/década, após os 40 anos) e modificação da sua
distribuição, tendendo a uma localização mais central. No sexo masculino, a
gordura se deposita na região abdominal e, no feminino, na região das costas e
nádegas. Há diminuição do tecido gorduroso nos membros superiores e diminuição
da massa magra nas pernas. Em virtude dessas mudanças, o idoso pode apresentar
alterações em algumas variáveis antropométricas, como aumento da circunferência
da cintura e diminuição da circunferência do braço e da dobra cutânea
tricipital.
Podem ser citadas outras alterações
fisiológicas do envelhecimento que comprometem as necessidades nutricionais do
idoso:
●
redução do olfato e paladar, devido à redução nos botões e papilas gustativas
sobre a língua;
●
aumento da necessidade proteica;
●
redução da biodisponibilidade de vitamina D;
●
deficiência na absorção da vitamina B6;
●
redução da acidez gástrica com alterações na absorção de ferro, cálcio, ácido
fólico, B12 e zinco;
●
xerostomia;
●
dificuldade no preparo e ingestão dos alimentos;
●
tendência à diminuição da tolerância à glicose;
●
atividade da amilase salivar reduzida;
●
redução da atividade de enzimas proteolíticas como a amilase e a lipase
pancreáticas;
●
redução do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular.
Outros fatores contribuem para o
desenvolvimento da desnutrição: menor acesso ao alimento devido a causas
físicas, como sequela de acidente vascular encefálico, ou sociais, como a
institucionalização; uso de medicações que causam inapetência; depressão;
desordens na mastigação, causadas por próteses mal adaptadas; alcoolismo; entre
outros.
O idoso, portanto, passa por uma série
de alterações, que são, na verdade, fisiológicas e naturais ao processo de
envelhecimento, mas que, sem dúvida, o torna mais frágil ao desenvolvimento de
distúrbios nutricionais e podem, por fim, agravar seu estado de saúde e levá-lo
à morte.
Considerando as modificações
corporais que ocorrem com o envelhecimento, foram propostos novos pontos de
corte por Lipschitz. Os pontos de corte para baixo peso e sobrepeso são,
respectivamente, IMC abaixo de 22 e acima de 27.
Quadro 1. Estado nutricional de idosos segundo
o IMC.
IMC
(kg/m²)
|
Classificação
|
< 22
|
Magreza
|
22-27
|
Eutrofia
|
>27
|
Excesso de peso
|
Fonte: Cuppari, 2002.
Em alguns idosos, a aplicação do IMC
se torna difícil, como nos idosos que não podem deambular. Nesses casos, as
medidas de peso e estatura podem ser obtidas por meio das equações de
estimativas desenvolvidas por Chumlea et
al.
A circunferência muscular do braço e
área muscular do braço são parâmetros que permitem verificar a quantidade de
tecido muscular no idoso. A circunferência do braço vem sendo empregada para a
avaliação da desnutrição em idosos e apresenta uma alta sensibilidade, sendo um
método confiável para o diagnóstico de desnutrição.
As pregas cutâneas estimam a gordura
corporal total, uma vez que mais de 50% da gordura do corpo se deposita no
tecido subcutâneo. A região do tríceps é o local frequentemente utilizado,
pois se considera que seja o mais significativo da camada subcutânea de
gordura.
A circunferência abdominal é usada
como um indicador de obesidade e distribuição de gordura corporal. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), valores acima de 80cm, para as mulheres, e
94cm, para os homens, traduzem risco elevado de morbimortalidade associada a
várias doenças.
Avaliação Bioquímica
A albumina é a proteína mais utilizada na avaliação nutricional, estando associada ao aumento da incidência de complicações clínicas, mortalidade e morbidade, quando em baixas concentrações. É um importante marcador para identificação do estado nutricional, principalmente quando utilizada conjuntamente com outros indicadores. Sua reserva corporal é grande e sua meia-vida é longa. Algumas limitações em seu uso são: diminuição na hepatopatia, na inflamação, na infecção e síndrome nefrótica.
A transferrina e pré-albumina têm
meia-vida de 7 a 8 dias e de 2 a 3 dias, respectivamente, e têm baixa
sensibilidade e especificidade na avaliação nutricional quando utilizadas
isoladamente. Uma limitação no uso da transferrina é que ela pode estar
aumentada na anemia ferropriva e nas hepatites agudas e diminuída na anemia
hemolítica, hepatopatia crônica, neoplasias, inflamação e infecção. A
pré-albumina também pode sofrer alterações e está diminuída na inflamação,
infecção, estresse e deficiência de zinco.
Em relação aos linfócitos, sua contagem
reflete indiretamente o estado nutricional do idoso, pois desequilíbrios na
ingestão de nutrientes podem causar imunossupressão. A relação CD3/CD4 inferior
a 50 também está associada a quadros de déficits nutricionais e de
imunossupressão.
Quanto à contagem total de
colesterol, seu valor alterado pode traduzir aumento de morbidade e
mortalidade. Colesterol total abaixo de 160mg/dL pode ser indício de redução
dos níveis de lipoproteínas e, consequentemente, de proteínas viscerais. Sua
redução se manifesta tardiamente no curso da desnutrição, limitando seu uso na
avaliação nutricional, sendo assim, mais utilizado como método de prognóstico.
Outro indicador de segmento
nutricional é a proteína transportadora de retinol. Sua vida média é de 12
horas e, como os demais parâmetros, tem suas limitações, encontrando-se
diminuída na doença hepática, infecção e estresse grave.
Vitaminas e minerais, como selênio,
podem ser utilizados na avaliação nutricional de idosos desnutridos, uma vez
que eles podem estar reduzidos na desnutrição.
Outros parâmetros bioquímicos podem
ser utilizados na avaliação nutricional, como hemograma, creatinina e enzimas
hepáticas.
Avaliação Nutricional
Subjetiva
A Avaliação Subjetiva Global (ASG) é um método simples, de
baixo custo e não invasivo, podendo ser aplicado à beira do leito. Pode ser
aplicado por profissionais treinados, em ambiente hospitalar ou domiciliar.
Seus resultados podem diferir daqueles encontrados por outros métodos
objetivos, pois combinam informações sobre alterações na ingestão de
nutrientes, digestão e absorção como seus efeitos na função e na composição
corpórea.
Vem sendo considerada como o
melhor método para iniciar a avaliação nutricional do idoso, em virtude da
rapidez da sua realização, do fato de ser de fácil aprendizagem e da validade
convergente e preditiva da ferramenta.
A Mini Avaliação Nutricional (MAN) tem por objetivo avaliar o
risco de desnutrição em idosos, assim como identificar aqueles que possam se
beneficiar com a intervenção dietoterápica precoce. Pode ser aplicada a idosos
em nível ambulatorial, hospitalizados, institucionalizados e em atendimento
domiciliar.
A MAN compreende quatro categorias:
avaliação antropométrica, avaliação geral, avaliação dietética e avaliação
subjetiva. Pode ser utilizada tanto para triagem como para apreciação
diagnóstica. É um método de avaliação simples e rápido. Quando, por meio da sua
aplicação, se obtém uma pontuação que indica desnutrição, esta última deve ser
mais bem analisada mediante parâmetros bioquímicos e antropométricos.
Bioimpedância
A análise de bioimpedância (BIA) é
um método rápido, não invasivo e relativamente barato para avaliar a composição
corporal do idoso. Não requer alto grau de
habilidade do avaliador, é confortável, não invade a privacidade do indivíduo. Tem como finalidade estimar a água corporal total e, a
partir disso, a massa isenta de gordura.
Algumas desvantagens podem ser
consideradas: depende de grande colaboração por parte do avaliado; apresenta
custo mais elevado que as outras técnicas duplamente indiretas; é altamente
influenciada pelo estado de hidratação do avaliado e nem sempre os equipamentos
dispõem das equações adequadas aos indivíduos que se pretende avaliar.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Cuppari
L et al. Doenças renais. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e
hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina -nutrição clínica no adulto. 1a
ed. São Paulo: Manole. 2002. p. 71-109.
Najas, M; Yamatto,TH. Avaliação do Estado
Nutricional de Idosos – Nutrição na Maturidade. Nestlé Nutrition. Disponível
em: www.nestle-nutricaodomiciliar.com.br
Acessado em: 14/08/2013.
Passero, V; Moreira, EAM. Estado nutricional
de idosos e sua relação com a qualidade de vida. Rev Bras Nutr Clin 2003; v.18,
n.1: p.1-7.
Santos, ACO; Machado, MMO; Leite, EM.
Envelhecimento e alterações do estado nutricional. Geriatria & Gerontologia
2010; v.4, n.3: p.168-175.
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