sábado, 16 de novembro de 2013

Bioimpedância Elétrica (BIA)


O interesse pela composição corporal vem crescendo consideravelmente nos últimos anos, pois não há dúvidas sobre a relação do aumento da gordura corporal e sua distribuição com desordens metabólicas e doenças cardiovasculares, a exemplo da hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias.

Avaliar o estado nutricional de um indivíduo ou de uma comunidade tem como objetivos principais: identificar o risco de desenvolvimento de problemas nutricionais; quantificar este risco e suas complicações e monitorar a adequação da terapia nutricional.

       Dentre os métodos utilizados para a avaliação da composição corporal, a BIA tem sido amplamente utilizada, sobretudo pela alta velocidade no processamento das informações, por ser um método não-invasivo, prático, reprodutível e relativamente barato, que estima, além dos componentes corporais, a distribuição dos fluidos nos espaços intra e extracelulares, bem como a qualidade, tamanho e integralidade celular.

     Atualmente, a BIA tem sido validada para estimar a composição corporal e o estado nutricional de indivíduos saudáveis, e em diversas situações clínicas, como desnutrição, traumas, câncer, pré e pós-operatório, hepatopatias, insuficiência renal, gestação, bem como em crianças, idosos e atletas.

    A BIA baseia-se no princípio da condutividade elétrica para a estimativa dos compartimentos corporais. Os tecidos magros são altamente condutores de corrente elétrica pela grande quantidade de água e eletrólitos; por outro lado, a gordura e o osso são pobres condutores.

       É um método bicompartimental de avaliação da composição corpórea. Desta forma, a impedância bioelétrica estima valores de água corporal total (ACT), os quais são utilizados para calcular a quantidade de massa corporal magra (MCM) e gordura corpórea (GC).

         O compartimento representado pela MCM é composto pelos elementos de sustentação e transporte (esqueleto, músculo, colágeno, tendões e derme). Os tecidos magros, com exceção dos ossos, são bons condutores de corrente elétrica (reactância) por conter grande quantidade de água (cerca de 73%), material orgânico e eletrólitos. Esta propriedade caracteriza alta reactância. Ao contrário, a GC comporta-se como isolante, oferecendo resistência à passagem da corrente elétrica, por ser anidra. O compartimento adiposo é composto pela gordura subcutânea e gordura que envolve as vísceras e o cérebro.

          A avaliação é realizada com o paciente deitado com as pernas afastadas e os braços em paralelo afastados do tronco. Os eletrodos pletismógrafos são colocados em locais específicos da mão e do pé do lado dominante. Por meio dos eletrodos distais é introduzida uma corrente imperceptível que é captada pelos eletrodos proximais. Assim, os valores de resistência e reactância obtidos são utilizados para o cálculo dos porcentuais de água corporal, massa magra e gordura corporal por meio do software fornecido pelo fabricante. Existem ainda disponíveis aparelhos de bioimpedância portáteis que imprimem de imediato os valores de composição corporal.



         Bioimpedância elétrica é um método de avaliação da composição corporal altamente aceito pela comunidade científica, inclusive na identificação do estado de hidratação dos indivíduos. Porém, os resultados podem ser afetados por fatores como alimentação, a ingestão de líquidos, a desidratação ou retenção hídrica, a utilização de diuréticos e o ciclo menstrual.

BIA X Gordura Visceral

Outra vertente de utilização da BIA é a estimativa de gordura abdominal. Encontram-se na literatura novas técnicas de referência para avaliar a obesidade central e a gordura visceral através da BIA. Essa técnica consiste no posicionamento dos eletrodos diretamente no abdômen. Nesses estudos a BIA demonstrou forte correlação com a gordura abdominal e visceral, determinada por tomografia computadorizada e ressonância magnética, método que, segundo os autores, permite avaliar com mais precisão a gordura abdominal, incluindo a visceral. No entanto, esses estudos não são conclusivos quanto à validade da BIA para estimativa da gordura visceral.

Segundo seus fabricantes, o modelo da BIA segmentar inclui avaliação do nível de gordura visceral. Através da análise isolada do tronco, o método estima com mais precisão essa gordura. Contudo, devem ser desenvolvidas investigações para testar a confiabilidade desse modelo, pois não existem estudos na literatura que sustentem a afirmação.

Aplicabilidade da BIA

            Apesar de a BIA ser indicada como um método preciso e confiável, discutem-se, na literatura, possíveis causas que dificultam o estabelecimento de um consenso acerca de seu uso, pois resultados obtidos em determinadas pesquisas revelam-se algumas vezes discrepantes. Dentre as possíveis razões, poderia ser mencionada a utilização de uma variabilidade de equações disponíveis para vários grupos de indivíduos, que são aplicadas de forma equivocada em amostras bastante heterogêneas. Além disso, podem interferir as diferenças étnicas e de composição corporal entre as populações, bem como o estado de hidratação dos indivíduos avaliados, como mencionado anteriormente. Dessa forma, pode-se afirmar que ainda pairam dúvidas quanto à precisão e à confiabilidade da técnica da BIA, quando comparada com outros recursos.



      Fonte: Eickemberg,M et al. 2011.

Tendo em vista que seus resultados podem ser afetados por diversas condições, o controle prévio de alguns fatores deve ser realizado para a confiabilidade do método da BIA na prática clínica. São eles: calibração do aparelho, realizada regularmente; manutenção dos eletrodos em sacos fechados e protegidos do calor; posição do indivíduo avaliado, conforme recomendação do fabricante; jejum de 4 horas, antes do exame; abstinência alcoólica de 8 horas, antes do exame; abstinência de atividade física e sauna, por 8 horas, antes do exame; esvaziamento da bexiga antes da realização do exame; temperatura do ambiente em torno de 22ºC; pele sem lesões e limpa com álcool; distância entre os eletrodos de, no mínimo, 5cm; observância do ciclo menstrual; presença de obesidade; utilização de material isolante, como toalha entre as pernas; impedimento de contato com superfície metálica; vedação do procedimento para portadores de marca-passo.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Cuppari L et al. Doenças renais. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina -nutrição clínica no adulto. 1a ed. São Paulo: Manole. 2002. p. 71-109.

Eickemberg, M; Oliveira, CC; Roriz, AKC; Sampaio, LR. Bioimpedância elétrica e sua aplicação em avaliação nutricional. Rev Nutr 2011; v.24, n.6: p.873-882.


Leite, CMBA; Mulinari, RA; Carvalho, JGR. Estimativa de gordura corporal total através da bioimpedância tetrapolar: estudo comparativo entre o método convencional e um monitor de gordura corporal. Rev Bras Nutr Clin 2003; v.18, n.1: p.26-30.

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