Avaliar o estado nutricional de um
indivíduo ou de uma comunidade tem como objetivos principais: identificar o
risco de desenvolvimento de problemas nutricionais; quantificar este risco e
suas complicações e monitorar a adequação da terapia nutricional.
Dentre os métodos utilizados para a
avaliação da composição corporal, a BIA tem sido
amplamente utilizada, sobretudo pela alta velocidade no processamento das
informações, por ser um método não-invasivo, prático, reprodutível e
relativamente barato, que estima, além dos componentes corporais, a
distribuição dos fluidos nos espaços intra e extracelulares, bem como a
qualidade, tamanho e integralidade celular.
Atualmente, a BIA tem sido validada
para estimar a composição corporal e o estado nutricional de indivíduos
saudáveis, e em diversas situações clínicas, como desnutrição, traumas, câncer,
pré e pós-operatório, hepatopatias, insuficiência renal, gestação, bem como em
crianças, idosos e atletas.
A BIA baseia-se no princípio da
condutividade elétrica para a estimativa dos compartimentos corporais. Os
tecidos magros são altamente condutores de corrente elétrica pela grande
quantidade de água e eletrólitos; por outro lado, a gordura e o osso são pobres
condutores.
É um método bicompartimental de
avaliação da composição corpórea. Desta forma, a impedância bioelétrica estima
valores de água corporal total (ACT), os quais são utilizados para calcular a
quantidade de massa corporal magra (MCM) e gordura corpórea (GC).
O compartimento representado pela
MCM é composto pelos elementos de sustentação e transporte (esqueleto, músculo,
colágeno, tendões e derme). Os tecidos magros, com exceção dos ossos, são bons
condutores de corrente elétrica (reactância) por conter grande quantidade de
água (cerca de 73%), material orgânico e eletrólitos. Esta propriedade
caracteriza alta reactância. Ao contrário, a GC comporta-se como isolante,
oferecendo resistência à passagem da corrente elétrica, por ser anidra. O
compartimento adiposo é composto pela gordura subcutânea e gordura que envolve
as vísceras e o cérebro.
A avaliação é realizada com o
paciente deitado com as pernas afastadas e os braços em paralelo afastados do
tronco. Os eletrodos pletismógrafos são colocados em locais específicos da mão
e do pé do lado dominante. Por meio dos eletrodos distais é introduzida uma
corrente imperceptível que é captada pelos eletrodos proximais. Assim, os
valores de resistência e reactância obtidos são utilizados para o cálculo dos
porcentuais de água corporal, massa magra e gordura corporal por meio do
software fornecido pelo fabricante. Existem ainda disponíveis aparelhos de
bioimpedância portáteis que imprimem de imediato os valores de composição
corporal.
Bioimpedância elétrica é um método
de avaliação da composição corporal altamente aceito pela comunidade
científica, inclusive na identificação do estado de hidratação dos indivíduos.
Porém, os resultados podem ser afetados por fatores como alimentação, a
ingestão de líquidos, a desidratação ou retenção hídrica, a utilização de
diuréticos e o ciclo menstrual.
BIA X Gordura
Visceral
Outra vertente de utilização da BIA é a
estimativa de gordura abdominal. Encontram-se na literatura novas técnicas de
referência para avaliar a obesidade central e a gordura visceral através da BIA.
Essa técnica consiste no posicionamento dos eletrodos diretamente no abdômen. Nesses
estudos a BIA demonstrou forte correlação com a gordura abdominal e visceral,
determinada por tomografia computadorizada e ressonância magnética, método que,
segundo os autores, permite avaliar com mais precisão a gordura abdominal,
incluindo a visceral. No entanto, esses estudos não são conclusivos quanto à
validade da BIA para estimativa da gordura visceral.
Segundo seus fabricantes, o modelo da BIA
segmentar inclui avaliação do nível de gordura visceral. Através da análise
isolada do tronco, o método estima com mais precisão essa gordura. Contudo,
devem ser desenvolvidas investigações para testar a confiabilidade desse
modelo, pois não existem estudos na literatura que sustentem a afirmação.
Aplicabilidade da BIA
Apesar de a BIA ser indicada como um
método preciso e confiável, discutem-se, na literatura, possíveis causas que dificultam
o estabelecimento de um consenso acerca de seu uso, pois resultados obtidos em
determinadas pesquisas revelam-se algumas vezes discrepantes. Dentre as
possíveis razões, poderia ser mencionada a utilização de uma variabilidade de
equações disponíveis para vários grupos de indivíduos, que são aplicadas de
forma equivocada em amostras bastante heterogêneas. Além disso, podem interferir
as diferenças étnicas e de composição corporal entre as populações, bem como o
estado de hidratação dos indivíduos avaliados, como mencionado anteriormente.
Dessa forma, pode-se afirmar que ainda pairam dúvidas quanto à precisão e à
confiabilidade da técnica da BIA, quando comparada com outros recursos.
Fonte: Eickemberg,M et al. 2011.
Tendo em vista que seus resultados
podem ser afetados por diversas condições, o controle prévio de alguns fatores
deve ser realizado para a confiabilidade do método da BIA na prática clínica. São
eles: calibração do aparelho, realizada regularmente; manutenção dos eletrodos
em sacos fechados e protegidos do calor; posição do indivíduo avaliado,
conforme recomendação do fabricante; jejum de 4 horas, antes do exame;
abstinência alcoólica de 8 horas, antes do exame; abstinência de atividade
física e sauna, por 8 horas, antes do exame; esvaziamento da bexiga antes da
realização do exame; temperatura do ambiente em torno de 22ºC; pele sem lesões
e limpa com álcool; distância entre os eletrodos de, no mínimo, 5cm;
observância do ciclo menstrual; presença de obesidade; utilização de material
isolante, como toalha entre as pernas; impedimento de contato com superfície
metálica; vedação do procedimento para portadores de marca-passo.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Cuppari L et al. Doenças renais. In: Cuppari
L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de
Medicina -nutrição clínica no adulto. 1a ed. São Paulo: Manole. 2002. p.
71-109.
Eickemberg, M; Oliveira, CC; Roriz, AKC;
Sampaio, LR. Bioimpedância elétrica e sua aplicação em avaliação nutricional.
Rev Nutr 2011; v.24, n.6: p.873-882.
Leite, CMBA; Mulinari, RA; Carvalho, JGR.
Estimativa de gordura corporal total através da bioimpedância tetrapolar:
estudo comparativo entre o método convencional e um monitor de gordura
corporal. Rev Bras Nutr Clin 2003; v.18, n.1: p.26-30.
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