A culinária árabe foi trazida ao
Brasil no final do século 19 pelos imigrantes de diversas nações, em especial
pelos sírios e libaneses, e desde então faz parte da variada cozinha nacional.
Pelo menos para os quase 15 milhões de descendentes dos primeiros árabes que
aqui aportaram é uma questão de honra manter o rigor das receitas originais de
seus antepassados. Aliás, poder oferecer um banquete diversificado e farto aos
seus convidados é da natureza deste povo.
Definir a origem da culinária árabe
é difícil, mas remonta a costumes de tribos e beduínos que cruzavam o deserto e
civilizações de quase 4.000 anos que se estabeleceram tanto no crescente fértil
(áreas cultiváveis entre os rios Tigre e Eufrates), quanto em áreas vizinhas à
Creta, Pérsia e Egito. Acima de tudo, o Oriente traduz em sua comida milênios
de conquistas, miscigenação, relações comerciais e riqueza cultural.
Uma particularidade dos pratos de
origem árabe são os seus temperos, intensos, equilibrados e raros, mas usados
de forma mais comedida do que a observada na culinária indiana, nação
historicamente ligada à Arábia devido aos laços de comércio seculares que
compartilharam.
Aromas
Tomilho, cominho, alho, canela,
açafrão e gergelim acabam por ser a base de dois temperos muito difundidos, o
zaatar e a pimenta síria. Comum na Jordânia e Líbano, o zaatar (também grafado
zahtar ou za´atar) é uma mistura de ervas desidratadas como o tomilho libanês,
manjerona, sementes de gergelim torradas, sal e bagas vermelhas e amargas de
sumagre. Os sírios, por sua vez, fazem a bahar e a pimenta síria, que
geralmente leva cravo, canela, noz-moscada, gengibre, pimenta-da-jamaica e
pimenta-do-reino preta e branca. Entre as ervas, a salsa e a hortelã permeiam
diversos preparados e trazem frescor ao paladar, mesmo nos pratos mais intensos
como os assados de carneiro, num delicioso jogo de contrastes.
Alguns ingredientes (como trigo,
tâmaras, cevada, arroz, carne e grãos) são a base dessa rica culinária que
desfruta de complementos e petiscos surpreendentes e capazes de equilibrar o
turbilhão de sabores das especiarias. Esse é o caso do labaneh (um iogurte fino), do xancliche
(pequenas bolinhas de leite de cabra coalhadas, secas e temperadas com
zaatar), do baba ghanouj (uma pasta
de berinjela de gosto característico) e da pasta de grão-de-bico, também
conhecida como homus. Outros
preparados são uma mistura requintada de carnes, principalmente de carneiro e
frango, com legumes e verduras como pimentão, berinjela, abobrinha, tomate, repolho
e acelga. Preparos com pimenta síria, arroz e carne e cuidadosamente enrolados
em folhas de parreira, os charutos proporcionam um sabor levemente azedo que se
une ao toque singelo da canela presente no tempero. Aliás, o uso da canela em
pratos salgados é um forte diferencial entre esta culinária e a ocidental.
Numa refeição árabe quase tudo
come-se com azeite, limão e, principalmente, pão pita, que poderia até ser
considerado um substituto do talher, já que com ele são degustadas as porções,
absorvidos os molhos e esvaziados os pratos.
O trigo é o ingrediente de pratos
tradicionais como os quibes, que são bolos de carne que podem ser servidos
fritos, assados ou crus e do colorido tabuleh,
feito com pepino, tomate (o tomate, fruto originário das Américas, foi
adicionado na cozinha europeia e mediterrânea pelos colonizadores ibéricos e
hoje é usado pela culinária árabe, mas originalmente não era base de seus
pratos), cebola, salsa, hortelã e outras ervas.
O universo das cozinhas árabes é
riquíssimo, pois em quase todo o Oriente Médio há uma preferência pela carne de
carneiro e cordeiro, seguida por aves e peixes, e pela carne de vaca em menor
escala. A carne mais consumida é a de carneiro, que pode ser assado, frito,
cozido, considerada dentre as carnes vermelhas a de mais fácil digestão,
tornando a degustação mais leve e saborosa. A diferença entre carneiro e
cordeiro está na idade do animal. Quando abatido antes de um ano de idade é
considerado cordeiro, enquanto que o carneiro é o animal abatido depois de um
ano de vida. De acordo com a tradição e gosto, a idade ideal para se obter uma
carne macia e mais suculenta é entre os cinco e seis meses de vida.
A carne moída é muito utilizada
nesta culinária. Tendo os árabes o costume de comer com as mãos, utilizando um
pedaço de pão para levar comida à boca, os pratos preparados com esta carne têm
maior aceitação devido à facilidade que oferecem na hora de comer (quibe,
esfiha).
No Egito, por exemplo, se consome o Malchi (preparado com carne moída e
legumes). Já no Iraque o Kiba Hamid,
prato que deve ser preparado com antecedência, pois o arroz deve permanecer em
conserva por seis horas antes da elaboração. Entre seus ingredientes está a
carne moída, manteiga, cebola, grão-de-bico, azeite, bicarbonato de sódio e
molho de tomate. Outra opção com carne moída, ainda no Líbano é o Xishbarak, preparado com coalhada, ovos,
farinha, amido de milho, cebola, salsinha e arroz. Retornando ao Egito, outro
prato muito apreciado é Mulukhia,
feito à base de frango desfiado, folhas de mulukhia,
especiarias, que deve ser servido com arroz. Já na Síria, apreciam o Xacrie, feito com a coalhada, arroz,
carne em cubos e especiarias.
Bebidas
Sendo as bebidas alcoólicas
proibidas aos muçulmanos, estes acabam por consumir muito chá e café. O café é
também conhecido por Kahwa, é a principal bebida do mundo árabe,
particularmente na Arábia Saudita, Iêmen, Jordânia, Síria e Líbano. Um bom café
árabe é preparado de forma única, sem coar, e servido com cardamomo. No que diz
respeito ao chá, acreditam que esta bebida auxilie na digestão e deve ser
preparado em um samovar, importado
originalmente da Rússia. Na verdade, é que ambos, chá e café, fazem parte da
vida em sociedade de muitos árabes.
Outra iguaria como o iogurte, é alimento
básico no Oriente, consumido com ou sem mel, e que acompanha diversos pratos.
Além de ser apreciado como bebida, é utilizado pelos árabes para a elaboração
de uma espécie de sopa fria, preparada com pepino e menta. O queijo de iogurte
é também outra iguaria produzida.
Sobremesa
Os doces, elaboradíssimos, são geralmente
de nozes, pistache, amêndoas, frutas secas e mel, e aromatizados com deliciosas
essências, como a de rosas e a de flor de laranja. São muito açucarados e, por
esse motivo, caíram no gosto dos brasileiros. Um exemplo é o falafel, quitute
feito à base de grão-de-bico.
As informações contidas neste blog, não
devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de
saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Fernandes, MCR. As aventuras do gosto: O
Restaurante Al Manzul de Cuiabá como Expressão da Culinária Árabe (1991-2008).
[Dissertação de Mestrado] Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2010.
Maestria na mistura de sabores. Rev Hospital
Sírio Libanês, 2010. Disponível em: www.hospitalsiriolibanes.org.br
Acessado em 16/07/2013.
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