segunda-feira, 21 de abril de 2014

Doença Celíaca

            A doença celíaca é uma intolerância permanente à gliadina, que é um constituinte da proteína do glúten. A gliadina tem efeito tóxico sobre a mucosa do intestino delgado, resultando na destruição das vilosidades intestinais e interferindo na absorção dos nutrientes.

            O glúten é o nome dado a proteína presente no trigo, no centeio, na aveia, na cevada e no subproduto da cevada que é o malte. A parte tóxica do glúten para o celíaco é chamada de prolamina, que corresponde a 50% da proteína do glúten que não se dissolve na água e que é solúvel no etanol. Ela recebe diferentes nomes:



            Os sintomas podem surgir em qualquer idade. Os alimentos com glúten, em geral, são introduzidos na dieta da criança a partir dos 6 meses. Depois de meses ou anos após esta introdução, os sintomas da doença celíaca se iniciam e podem variar de pessoa para pessoa. Assim, o indivíduo com doença celíaca pode apresentar apenas um único sintoma ou vários sintomas:

Forma Clássica: diarreia crônica (que dura mais de 30 dias), dor de barriga, barriga inchada, humor alterado (irritabilidade ou apatia), perda de apetite, desnutrição, anemia, vômitos, emagrecimento ou pouco ganho de peso, atraso no crescimento.

Forma Atípica: osteoporose, hipoplasia do esmalte dentário (manchas no dente), dor nas juntas ou inflamação nas juntas (artrite), intestino preso, ciclo menstrual irregular, esterilidade, abortos de repetição, problemas neurológicos como ataxia (anda como se fosse uma pessoa bêbada); epilepsia, que pode estar associada com calcificação no cérebro; neuropatia periférica, doença muscular, problemas psiquiátricos, como depressão e esquizofrenia, autismo, aftas (úlceras na boca que se repetem frequentemente).

            Algumas pessoas tem maior risco de apresentar a doença celíaca: os familiares de primeiro grau dos celíacos, aqueles que apresentam síndrome de Down, síndrome de Turner, doença de Williams, aqueles que apresentam doenças auto-imunes como diabetes insulino dependente, tireoidite auto-imune, alopecia areata, deficiência seletiva de IgA, síndrome de Sjögren, colestase auto-imune, miocardite auto-imune.

            O diagnóstico da doença celíaca pode ser feito com o auxílio de diferentes tecnologias em diferentes partes do mundo, dependendo dos recursos disponíveis, mas a sensibilidade e especificidade dos resultados podem variar quando forem utilizadas ferramentas inferiores às consideradas como padrão ouro.

Dependendo dos recursos disponíveis, as opções diagnósticas podem variar desde uma situação de alto recurso no qual o padrão ouro acima - endoscopia seguida de biópsia do intestino delgado e sorologia específica para confirmação ou rastreamento - pode ser usado, até uma situação onde há poucos recursos disponíveis e só pode ser realizado o mínimo.

Quando a pessoa apresenta algum dos sintomas mencionados, ela deve realizar exame de sangue específico, isto é, sorologia para a doença celíaca, como o anticorpo antigliadina da classe IgA e IgG, ou anticorpo antiendomísio da classe IgA ou anticorpo antitransglutaminase tissular recombinante humana da classe IgA. Os dois últimos anticorpos são mais precisos para detectar a doença celíaca. Como a técnica para realizar o teste do anticorpo antiendomísio é mais difícil e requer experiência para interpretar o exame, prefere-se realizar o exame antitransglutaminase tissular recombinante humana da classe IgA. Se este teste der alterado deve-se realizar a biopsia de intestino delgado. Atualmente, é absolutamente necessária a realização da biopsia do intestino delgado para confirmar o diagnóstico da doença.

O intestino delgado normal apresenta as vilosidades intestinais cujo formato é parecido com os dedos das nossas mãos. É neste local que ocorre a absorção dos nutrientes – proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e sais minerais.


                                   Mucosa do Intestino Delgado com Vilosidade Normal


            Mucosa do Intestino Delgado com Vilosidade Atrofiada causada pela Doença Celíaca

No paciente celíaco essas vilosidades tornam-se achatadas (atrofiadas), prejudicando a absorção dos nutrientes. A visualização de como estão as vilosidades do intestino é possível com o auxílio do microscópio.

Tratamento

            O tratamento é essencialmente dietoterápico, consistindo na exclusão do glúten (trigo, aveia, centeio, cevada) na alimentação.

            Em relação à aveia, ainda é discutível seu efeito, já que ela não produz reações na maioria dos pacientes celíacos, e alguns estudos mostram que alguns pacientes podem tolerar seu consumo em função da estrutura de sua fração proteica e da baixa quantidade de aveninas presente no grão.

É importante fornecer ao paciente uma lista de alimentos que não contenham glúten. São considerados alimentos permitidos na dieta: arroz, grãos (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão de bico), gorduras, óleos e azeites, legumes, hortaliças, frutas, ovos e carnes (de vaca, frango, porco, peixe) e leite. O glúten poderá ser substituído pelo milho (farinha de milho, amido de milho, fubá), arroz (farinha de arroz), batata (fécula de batata), e mandioca (farinha de mandioca, polvilho).

Os produtos lácteos também devem ser evitados inicialmente no tratamento pelo fato dos pacientes celíacos freqüentemente apresentarem deficiência secundária à lactose. No entanto, podem ser re-introduzidos após um período de 3 a 6 meses. Outra opção que pode ser temporariamente benéfica é, até a completa recuperação da mucosa, fazer uso de suplementação de lactase.

Uma grande atenção deve ser dada aos alimentos e produtos farmacêuticos que utilizam amido de trigo como ingrediente em suas formulações, o paciente celíaco deve estar atento à composição dos medicamentos prescritos para ele, pois o glúten pode estar presente como excipiente nas cápsulas, comprimidos ou suspensões orais.


Em virtude das dificuldades para garantir a prática da dieta isenta de glúten, é lei que haja menção se o produto CONTÉM GLÚTEN ou NÃO CONTÉM GLÚTEN. Em alguns países há o símbolo característico. Foi promulgada, no Brasil, a Lei Federal número 10.674 de 16 de maio de 2003, obriga a advertência “contém glúten” ou “não contém glúten” nos rótulos de todos os alimentos comercializados. A certificação da ausência de glúten declarada nos rótulos dos alimentos, essencial para seguir uma dieta segura, requer a avaliação dos produtos supostamente livres de glúten. Assim, os portadores de doença celíaca podem identificar os alimentos que não devem consumir.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:
Caruso, L; Simony, RF; Silva, ALND. Dietas Hospitalares: Uma Abordagem na Prática Clínica. 1. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2004.

Casemiro JM, Adesão à dieta sem glúten por pacientes celíacos em acompanhamento no hospital universitário de Brasília [Dissertação de Mestrado]. Universidade de Brasília - UnB; 2006.

Doença Celíaca. Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO) – World Gastroenterology, 2012.

Doença Celíaca. World Gastroenterology Organisation Practice Guidelines: Celiac Disease. 2005.

Guia Orientador Para Celíacos. Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil – FENACELBRA, 2010.

Kotze LMS. Doença celíaca. J. bras. Gastroenterol, 2006; 1(6):23-34.

Silva PC, Almeida PDV, Azevedo LR, Grégio AMT, Machado MAN, Lima AAS. Doença celíaca: revisão. Clin. Pesq. Odontol., Curitiba, jul./dez. 2006: v.2, n.5/6, p. 401-406.


Teixeira, NS. Dietoterapia na Doença Celíaca. [Trabalho de Conclusão de Curso]. Grupo de Apoio Nutrição Enteral e Parenteral – GANEP, 2010.

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