A doença celíaca é uma intolerância
permanente à gliadina, que é um constituinte da proteína do glúten. A gliadina
tem efeito tóxico sobre a mucosa do intestino delgado, resultando na destruição
das vilosidades intestinais e interferindo na absorção dos nutrientes.
O glúten é o nome dado a proteína
presente no trigo, no centeio, na aveia, na cevada e no subproduto da cevada
que é o malte. A parte tóxica do glúten para o celíaco é chamada de prolamina,
que corresponde a 50% da proteína do glúten que não se dissolve na água e que é
solúvel no etanol. Ela recebe diferentes nomes:
Os sintomas podem surgir em qualquer
idade. Os alimentos com glúten, em geral, são introduzidos na dieta da criança
a partir dos 6 meses. Depois de meses ou anos após esta introdução, os sintomas
da doença celíaca se iniciam e podem variar de pessoa para pessoa. Assim, o
indivíduo com doença celíaca pode apresentar apenas um único sintoma ou vários
sintomas:
►
Forma
Clássica: diarreia crônica (que dura mais de 30 dias), dor de
barriga, barriga inchada, humor alterado (irritabilidade ou apatia), perda de
apetite, desnutrição, anemia, vômitos, emagrecimento ou pouco ganho de peso,
atraso no crescimento.
►
Forma
Atípica: osteoporose, hipoplasia do esmalte dentário (manchas no
dente), dor nas juntas ou inflamação nas juntas (artrite), intestino preso,
ciclo menstrual irregular, esterilidade, abortos de repetição, problemas
neurológicos como ataxia (anda como se fosse uma pessoa bêbada); epilepsia, que
pode estar associada com calcificação no cérebro; neuropatia periférica, doença
muscular, problemas psiquiátricos, como depressão e esquizofrenia, autismo, aftas
(úlceras na boca que se repetem frequentemente).
Algumas pessoas tem maior risco de
apresentar a doença celíaca: os familiares de primeiro grau dos celíacos,
aqueles que apresentam síndrome de Down, síndrome de Turner, doença de
Williams, aqueles que apresentam doenças auto-imunes como diabetes insulino
dependente, tireoidite auto-imune, alopecia areata, deficiência seletiva de
IgA, síndrome de Sjögren, colestase auto-imune, miocardite auto-imune.
O diagnóstico da doença celíaca pode ser feito com o auxílio de
diferentes tecnologias em diferentes partes do mundo, dependendo dos recursos
disponíveis, mas a sensibilidade e especificidade dos resultados podem variar
quando forem utilizadas ferramentas inferiores às consideradas como padrão
ouro.
Dependendo dos recursos
disponíveis, as opções diagnósticas podem variar desde uma situação de alto
recurso no qual o padrão ouro acima - endoscopia seguida de biópsia do
intestino delgado e sorologia específica para confirmação ou rastreamento -
pode ser usado, até uma situação onde há poucos recursos disponíveis e só pode
ser realizado o mínimo.
Quando a pessoa apresenta algum dos sintomas mencionados,
ela deve realizar exame de sangue específico, isto é, sorologia para a doença
celíaca, como o anticorpo antigliadina da classe IgA e IgG, ou anticorpo
antiendomísio da classe IgA ou anticorpo antitransglutaminase tissular
recombinante humana da classe IgA. Os dois últimos anticorpos são mais precisos
para detectar a doença celíaca. Como a técnica para realizar o teste do
anticorpo antiendomísio é mais difícil e requer experiência para interpretar o
exame, prefere-se realizar o exame antitransglutaminase tissular recombinante
humana da classe IgA. Se este teste der alterado deve-se realizar a biopsia de
intestino delgado. Atualmente, é absolutamente necessária a realização da
biopsia do intestino delgado para confirmar o diagnóstico da doença.
O intestino delgado normal apresenta as vilosidades
intestinais cujo formato é parecido com os dedos das nossas mãos. É neste local
que ocorre a absorção dos nutrientes – proteínas, carboidratos, gorduras,
vitaminas e sais minerais.
Mucosa do Intestino Delgado com Vilosidade Normal
Mucosa do Intestino
Delgado com Vilosidade Atrofiada causada pela Doença Celíaca
No paciente celíaco essas vilosidades tornam-se
achatadas (atrofiadas), prejudicando a absorção dos nutrientes. A visualização
de como estão as vilosidades do intestino é possível com o auxílio do
microscópio.
Tratamento
O tratamento é
essencialmente dietoterápico, consistindo na exclusão do glúten (trigo, aveia,
centeio, cevada) na alimentação.
Em relação à aveia, ainda é discutível
seu efeito, já que ela não produz reações na maioria dos pacientes celíacos, e
alguns estudos mostram que alguns pacientes podem tolerar seu consumo em função
da estrutura de sua fração proteica e da baixa quantidade de aveninas presente
no grão.
É
importante fornecer ao paciente uma lista de alimentos que não contenham
glúten. São considerados alimentos permitidos na dieta: arroz, grãos (feijão,
lentilha, soja, ervilha, grão de bico), gorduras, óleos e azeites, legumes,
hortaliças, frutas, ovos e carnes (de vaca, frango, porco, peixe) e leite. O
glúten poderá ser substituído pelo milho (farinha de milho, amido de milho,
fubá), arroz (farinha de arroz), batata (fécula de batata), e mandioca (farinha
de mandioca, polvilho).
Os
produtos lácteos também devem ser evitados inicialmente no tratamento pelo fato
dos pacientes celíacos freqüentemente apresentarem deficiência secundária à
lactose. No entanto, podem ser re-introduzidos após um período de 3 a 6 meses.
Outra opção que pode ser temporariamente benéfica é, até a completa recuperação
da mucosa, fazer uso de suplementação de lactase.
Uma
grande atenção deve ser dada aos alimentos e produtos farmacêuticos que
utilizam amido de trigo como ingrediente em suas formulações, o paciente
celíaco deve estar atento à composição dos medicamentos prescritos para ele,
pois o glúten pode estar presente como excipiente nas cápsulas, comprimidos ou
suspensões orais.
Em
virtude das dificuldades para garantir a prática da dieta isenta de glúten, é
lei que haja menção se o produto CONTÉM GLÚTEN ou NÃO CONTÉM GLÚTEN. Em alguns
países há o símbolo característico. Foi promulgada, no Brasil, a Lei Federal
número 10.674 de 16 de maio de 2003, obriga a advertência “contém glúten” ou
“não contém glúten” nos rótulos de todos os alimentos comercializados. A
certificação da ausência de glúten declarada nos rótulos dos alimentos,
essencial para seguir uma dieta segura, requer a avaliação dos produtos
supostamente livres de glúten. Assim, os portadores de doença celíaca podem
identificar os alimentos que não devem consumir.
As
informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento
presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas,
psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente,
para seu conhecimento.
Caruso, L; Simony, RF; Silva, ALND. Dietas
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