As pimentas são plantas utilizadas
na alimentação que produzem as sensações picantes e de calor devido aos seus
componentes químicos, capazes de estimular as papilas gustativas da boca.
São inúmeros os seus tipos e
basicamente divididas em 2 grupos: as piperaceae, em que se destaca o gênero Piper
(pimenta-do-reino, pimenta-preta) e as do gênero Capsicum, que abrange
quase 30 tipos diferentes, são mais “picantes”, inclusive havendo uma escala
que classifica a intensidade do ardor (“picância”), que é a Escala de Scoville
e que compreende a pimenta vermelha, pimenta-malagueta, dedo-de-moça, entre
outras. As pimentas do gênero capsicum são discretamente tóxicas e, em altas
doses, podem causar hipertensão e sudorese.
As pimentas podem ser saboreadas
frescas puras, desidratadas (que podem ser secas ao sol ou por outras técnicas,
duram mais, ardem menos) e frescas em molhos. Também podem ser harmonizadas com
os pratos, só que os termos de comparação são diferentes, o que deve ser
considerado é: o teor de ardência ou picância, isto é o fator de calor que ela
provoca no sabor, os ingredientes de seu molho ou de seu extrato.
Tipos de Pimentas
●
Pimenta-da-costa: originária da Etiópica,
veio para o Brasil com os escravos. É muito semelhante à pimenta-do-reino e
pode substituí-la. Normalmente é utilizada na culinária baiana (que tem sua
origem na culinária africana) e também nas culinárias indígena e sertaneja.
●
Pimenta-da-jamaica (allspice, murta-pimenta,
pimenta-de-coroa): originária da Jamaica, Cuba e do México,
seus frutos se dispõem em bagas, que devem ser colhidas verdes e secas ao sol
até ficarem pardo-avermelhadas. A pimenta-da-jamaica tem sabor picante, mas
suave, parecido com a combinação de cravo-da-índia, canela e noz-moscada; por
isso, os norte-americanos a chamam de allspice
(“todas as especiarias”).
Em doces e salgados, pode ser
utilizada em:
-
(inteira): sopas, conservas, molhos,
tempero de carnes, peixes, salsicharia e picles.
-
(moída): bolinhos de carne, molho de
tomate, peixes, mariscos, cenouras, pasteis, bolos, pudins de leite e
chocolates, tortas de frutas, cremes, licor e o “pimento dram” (bebida muito
apreciada na Jamaica). É também ingrediente de algumas misturas do curry
indiano.
●
Pimenta-do-reino (pimenta-da-índia, pimenta-preta,
pimenta-ordinária, motanga, malago): a pimenta-do-reino,
conhecida como a rainha das especiarias, é a baga de uma planta nativa das
florestas equatoriais da Índia, a Piper
nigrum. A pimenta é apreciada pelo seu aroma quente e sabor picante, que dá
profundidade e equilíbrio a muitos pratos. Pode ser utilizada nas seguintes
formas:
-
pimenta-verde: colhida antes de
amadurecer, bem tenra, é conservada no óleo ou vinagre, é a mais perfumada;
-
pimenta-negra: colhida antes das
bagas estarem completamente maduras, são postas para secar até ficarem negras e
rugosas (é a pimenta-do-reino);
-
pimenta-branca: colhida madura e
colocada de molho para retirar a camada externa, que reveste os frutos; é a
pimenta mais fina e mais aromática que a negra.
É preferível adquirir a pimenta em
grãos, e moê-la, para haver menor risco de fraude (como a de misturar grãos de
pimenta com sementes secas de mamão).
As formas mais comuns de uso são:
-
grãos: para sopas, picles e carnes;
-
moída: para molhos, carnes, caldos,
legumes, saladas e ovos.
A pimenta-branca, de sabor mais
suave, é preferida para peixes, molho branco, salada de batata, maionese, pois
desaparece ao ser misturada, não deixando o salpicado de pontinhos pretos, que
a pimenta negra deixa. A pimenta negra é usada geralmente em carnes vermelhas e
refogados.
●
Pimenta malagueta (ou pimenta cumari, comarim):
cultivada principalmente na Índia,
México, Japão, Turquia, África e Brasil, é
uma planta perene, produz frutos, que variam de vermelho a alaranjado e/ou a
amarelo, e possui aroma e sabor muito picantes. Tem um lugar de destaque na
culinária nordestina (principalmente na baiana). No comércio são encontradas
frescas (ainda verdes) ou maduras (amarelas, vermelhas ou arroxeadas), e secas
(em pó ou em conserva, forma mais consumida). As partes mais picantes das pimentas
são as fibras internas e as sementes, com poucas exceções; quanto menores as
pimentas, mais ardidas são. Podem ser usadas em todos os tipos de preparações.
As pimentas apresentam em sua
composição elevadas quantidades de vitamina A, E e C, ácido fólico e zinco, bioflavonoides e pigmentos vegetais carotenoides, como o licopeno e betacatoreno. Além disso, são capazes de armazenar potássio e apresentam níveis
quase nulos de colesterol.
Porém, a substância química que dá à
pimenta o seu caráter ardido é exatamente aquela que apresenta as propriedades
benéficas à saúde: a capsaicina. Ela é encontrada nas sementes e membranas
desses frutos e apresenta natureza lipídica (gordurosa). Os capsaicinoides são componentes químicos que dão às
pimentas sua ardência característica e têm atraído grande atenção devido às
suas extensas propriedades farmacológicas, como as atividades de analgesia,
anti-cancerígena, anti-inflamatória, antioxidante e anti-obesidade.
Os estudos sugerem os seguintes efeitos da capsaicina:
-Alívio da dor: tem sido demonstrado que a capsaicina quando utilizada por via oral ou localmente (uso tópico) pode reduzir a inflamação e dores relacionadas com artrite reumatoide e fibromialgia. A capsaicina tem sido acrescentada em fármacos para tratamento de osteoartrite. Recentemente, grande progresso tem sido feito na compreensão dos mecanismos responsáveis pelo efeito de capsaicina no alívio da dor. Estudos demonstram que a capsaicina exerce esse efeito por meio do receptor específico para a capsaicina, denominado receptor de vanilóide (TRPV1). Trata-se de um canal sensível à capsaicina, que participa da transdução periférica da dor térmica e inflamatória.
-Prevenção do câncer: a atividade anti-cancerígena de capsaicinoides tem sido demonstrada em estudos "in vitro" e "in vivo". Os efeitos anti-cancerígenos e quimiopreventivo da capsaicina estão relacionados com a sua capacidade de prevenir a proliferação e migração celular, bem como de induzir a apoptose de células tumorais. A capsaicina, juntamente com a dihidrocapsaicina podem reprimir o crescimento de várias linhagens de células tumorais, por meio da indução de parada do ciclo celular, apoptose e/ou pela inibição do metabolismo tumoral.
-Redução de peso: estudos demonstram que a capsaicina aumenta o gasto energético e reduz o depósito de gordura corporal. Estudo com ratos demonstrou que a capsaicina regula o metabolismo energético e de lipídios, induzindo a termogênese. Embora a capsaicina tenha apresentado efeitos anti-obesidade, mais estudos devem ser realizados para confirmar esses resultados.
-Gastrite e úlcera:
há estudos recentes mostrando que certos tipos de pimenta, principalmente a
vermelha (Red Hot Chilli) pode
proteger certas populações do aparecimento de úlceras. Porém, na presença de
sintomas de gastrite ou úlcera, quando o paciente já tem algum problema, as
pimentas podem sim agravar os sintomas. Isso ocorre pelo estímulo de
determinadas terminações nervosas, principalmente pela capsaicina, presente nas
pimentas de gênero capsicum. Portanto, a recomendação que geralmente utilizo
aos pacientes é a de evitar a ingestão durante tratamento para não piorarem os
sintomas. Fora de tratamento e em indivíduos sadios, a ingestão das pimentas
estimula as secreções digestivas, acelera o trânsito intestinal e estimula a
acidez, além de ter um efeito antioxidante.
- Hemorroidas: nunca
houve qualquer relação entre pimenta e a causa do problema. Trata-se de um mito
popular dizer que seu consumo pode agravar sintomas ou desencadear “crise”. O
que se sabe de concreto é que também não agrava a doença e nem contribui para o
aumento do tamanho.
Não há estudos ou recomendações sobre o consumo máximo
que uma pessoa deve ingerir de pimenta por dia. Mas como todo alimento
funcional, seu consumo deve ser regular, para que os benefícios que os
compostos presentes neste vegetal apresentem os resultados esperados. Alguns
trabalhos realizados em ratos mostraram que a ingestão do equivalente a dez
pimentas, três vezes na semana resultou numa diminuição de 80% das células
cancerosas. Alguns especialistas indicam que 5g por dia de pimenta é
considerada uma quantidade aceitável de ingestão.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
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pimentinha? Disponível em: www.nutrociencia.com.br
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