A taurina ou
ácido beta-aminossulfônico é um composto final do metabolismo dos aminoácidos
sulfurados (metionina e cisteína) que se encontra conjugada com ácidos biliares
de sódio e potássio, resultando na formação do ácido taurocólico, um dos ácidos
da bile alcalina, essencial para absorção das gorduras.
A excreção da taurina ocorre por via renal e também
através dos sais biliares. Dessa forma, o excesso de taurina adquirida da dieta
é eliminado na urina. Quando o aporte de taurina é limitado, os rins aumentam a
reabsorção desse aminoácido diminuindo sua excreção.
O papel benéfico da taurina foi primeiramente descrito
em modelos experimentais de acidente vascular cerebral e prevenção de doenças
cardiovasculares. Seus mecanismos de ação foram atribuídos à modulação
simpática para reduzir a pressão arterial e ação anti-inflamatória.
Está presente em altas concentrações em algas e no
reino animal. A síntese de taurina ocorre a partir dos aminoácidos metionina e
cisteína, através de uma sequência de reações enzimáticas de oxidação e transulfuração
que requerem a participação da vitamina B6 como co-fator.
Portanto, sem dúvida que menor ingestão desses aminoácidos pode acarretar
aumento das necessidades de taurina.
As necessidades dos aminoácidos sulfurados em adultos
correspondem a 17mg/g de proteína ingerida. A maior concentração de taurina
ocorre naturalmente em frutos do mar (8.270mg/kg para crustáceos, 5.200mg/ kg
para moluscos e 6.550mg/kg para mexilhões), pescada (1.720mg/ kg), carne escura
de aves (2.000mg/kg para frango e 3.000mg/kg para peru). A ingestão diária de
taurina exerce papel importante na manutenção do pool desse aminoácido
no organismo, uma vez que, nos mamíferos, a habilidade de sintetizá-la é
limitada. Assim, os níveis baixos são encontrados em vegetarianos estritos e
altos níveis em consumidores de frutos do mar e energéticos à base de taurina.
Recém-nascidos e crianças necessitam de taurina
exógena, uma vez que existe uma baixa atividade das enzimas necessárias para a
sua síntese na infância. Além disso, no adulto, o cérebro também necessita de
taurina exógena por ter uma baixa atividade enzimática para sua síntese. Por
estes motivos, a taurina passou a ser considerada condicionalmente essencial em
fase de desenvolvimento humano, principalmente para o sistema nervoso, rins e
retina. A deficiência de taurina está associada com cardiomiopatias,
degeneração da retina e retardo no crescimento.
A taurina pode ser obtida por uma dieta rica em frutos
do mar e derivados de carne, sendo o leite materno uma das maiores fontes deste
aminoácido. Por esta razão, é adicionada em fórmulas alimentícias de bebês
prematuros, assim como na suplementação para neonatos mantidos em nutrição
parenteral total em longo prazo.
Embora o papel fisiológico da taurina não esteja
totalmente esclarecido, sabe-se que este aminoácido não é utilizado para
síntese proteica, sendo encontrado livremente no líquido intracelular. A
taurina está envolvida em uma variedade de processos biológicos, como a formação
de sais biliares, osmorregulação, inibição do estresse oxidativo,
imunomodulação, diabetes e aterosclerose.
Osmorregulação: No cérebro, a taurina representa a molécula mais
relevante osmoticamente ativa. A taurina é usada pelas células para a regulação
do volume celular para se adaptar a um desequilíbrio osmótico.
Antioxidante e imunomodulador: Muitos estudos têm demonstrado um efeito antioxidante da taurina devido ao conteúdo de enxofre presente neste aminoácido.
Diabetes e obesidade: A taurina foi capaz de reduzir a resistência à insulina, hiperglicemia, hiperinsulinemia e peroxidação lipídica em ratos com diabetes tipo 2. A administração de taurina também foi associada com uma diminuição na concentração de lipídeos séricos tanto em ratos diabéticos quanto em pacientes com sobrepeso/obesidade. A ingestão diária de 3 g de taurina durante 7 semanas mostrou ser eficiente na redução de obesidade em adultos.
Formação de sais biliares e
aterosclerose: uma das
atividades biológicas bem documentada da taurina é a formação de sais biliares.
Verificando-se que a taurina é capaz de melhorar a excreção biliar nas fezes e
regredir lesões induzidas pelo alto conteúdo de colesterol.
Neuroproteção: o papel neurotransmissor da taurina também vem sendo destacado, pois ela atua como um neuroprotetor através da redução da concentração de cálcio intracelular e despolarização de membrana.
Taurina e Exercício Físico
Existe uma ação scavenger (sequestradora) da taurina sobre os radicais livres
e na regulação da taxa de geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) por
mitocôndria. Isto é importante, porque elevada geração de superóxido por mitocôndria
é capaz de iniciar a transição de permeabilidade mitocondrial, que, por sua
vez, aciona a cascata apoptótica. Dessa forma, levou à proposição de que a
suplementação de taurina pode ser benéfica em condições que impliquem aumento
da susceptibilidade à lesão muscular e estresse oxidativo, como envelhecimento e
exercício físico exaustivo.
Devido a essas funções fisiológicas da taurina, este aminoácido
tornou-se ingrediente funcional (aproximadamente 1.000-2.000 mg por porção) das
bebidas energéticas (BE), com a alegação de efeitos ergogênicos por parte dos fabricantes.
Existe uma literatura extensa apoiando a ingestão de taurina para
melhorar o desempenho físico aeróbio e anaeróbio. Contudo, alguns estudos não apresentaram
evidências de um efeito ergogênico. Além disso, não há um consenso na
literatura em relação às doses necessárias de taurina para a prática esportiva,
havendo sugestão de 1 g /dia, 1,66 g /dia, 2g/dia ou 6 g/dia.
Existem evidências de que o consumo de apenas 1 g de taurina, independentemente
do tempo prévio de ingestão, apresentou efeito ergogênico tanto em exercícios
de componente aeróbio com anaeróbio. No componente aeróbio foram observados
efeitos positivos sobre o aumento do tempo total de exercício, na oxidação de
gorduras e no sistema cardiovascular. Já no exercício de componente anaeróbio
os efeitos foram observados sobre o aumento do tempo total de exercício de
carga máxima e do número de repetições a 1 RM.
Existe uma série de implicações metabólicas decorrentes do consumo da
taurina. Dentre as principais, destacam-se: maior potencial de oxidação de
gorduras durante o exercício aeróbio e melhor resposta dos íons de Cálcio na
contração muscular no exercício anaeróbio.
Os efeitos ergogênicos de taurina, se comprovados, podem ser
interessantes tanto na dinâmica diária de treinamento e competição de atletas como
de certas populações especiais, a exemplo de obesos e de cardíacos.
As informações contidas neste blog, não
devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de
saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Agnol, TD; Souza, PFA. Efeitos fisiológicos agudos da taurina
contida em uma bebida energética em indivíduos fisicamente ativos. Rev Bras Med
Esporte 2009; v.15, n.2: p. 123-126.
Hammes, TO. Efeito da taurina
sobre a esteatose hepática induzida por tioacetamida em Danio reio. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS, 2011.
Pereira, JC; Silva, RG; Fernandes,
AA; Marins, JCB. Efeito da ingestão de taurina no desempenho físico: uma
revisão sistemática. Rev Andal Med Esporte 2010; v.3, n.3: p.156-162.
Taurina. Disponível em: www.nutritotal.com.br
Acessado em: 22/03/2014.
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