O ferro desempenha
muitas funções no organismo humano. As principais funções do ferro na
hemoglobina são: atuar como vetor de oxigênio, formando com o oxigênio uma
combinação facilmente dissociável, permitindo que o oxigênio transportado seja cedido
aos tecidos na medida das suas necessidades; servir de catalisador da oxidação nas
células e nas moléculas livres de hemina e atuar como constituinte das
diástases oxidantes (catalase, peroxidase, citocromos), intervindo em numerosas
reações de oxidação, por meio das quais se libera energia dos constituintes
alimentares. A atividade de muitas enzimas envolvidas nestas reações
bioquímicas é diminuída se houver a deficiência de ferro nos tecidos.
Em humanos, o ferro é encontrado em inúmeras
proteínas como as flavoproteínas, hemeproteínas, participando como componente
essencial destas ou como co-fator, principalmente em enzimas como os
citocromos, que atuam na cadeia respiratória. As hemeproteínas mais importantes
são: hemoglobina, mioglobina, citocromos, peroxidases e catalases. A maior
parte do ferro, cerca de 65%, é integrante da hemoglobina, transportadora de
oxigênio nos glóbulos vermelhos. Do restante, 4% estão na mioglobina, 1% sob a
forma de diversos compostos hêmicos que promovem a oxidação celular, 0,1% combinado
à proteína transferrina no plasma sanguíneo e, 15% a 30% armazenados,
principalmente, no fígado, medula óssea, e baço, sob a forma de ferritina ou
hemossiderina.
Outro tipo importante de proteína que contém ferro
é a lactoferrina, uma glicoproteína que está presente em altas concentrações no
leite materno e é a principal fonte de ferro para lactentes, auxiliando na prevenção
da anemia no período de amamentação.
Ferro heme
e Ferro não-heme
O ferro proveniente da dieta de seres humanos é
absorvido através das células intestinais, principalmente no duodeno, e é
transportado na corrente sanguínea e fluido extracelular ligado a uma proteína
plasmática chamada transferrina. Dois tipos de ferro são fornecidos pela dieta:
o ferro heme e o ferro não-heme.
- Ferro heme está presente em alimentos de
origem animal, como carne bovina, frango e peixe
- Ferro não-heme é
encontrado nos cereais e outros vegetais.
De acordo com a sua forma, o
ferro pode ser absorvido de diferentes maneiras na mucosa intestinal. O ferro
heme é solúvel nas condições do intestino delgado, sendo facilmente absorvido
pela mucosa intestinal sem a interferência de fatores químicos e/ou
alimentares. Por esta razão, é altamente absorvido: cerca de 15% do ferro heme
ingerido pelo indivíduo normal e 35% naquele com baixa reserva de ferro.
Em contraste, a absorção do
ferro não-heme é bem menor, de cerca de 1 a 5%, e varia em função da presença
de fatores químicos e alimentares, como é o caso das vitaminas C e A, que
facilitam sua absorção. Por outro lado, os fitatos (encontrados em cereais e
grãos), as fibras, os taninos (encontrado em chás e no café) e o cálcio
dificultam sua absorção.
Recomendações Nutricionais
A necessidade durante a
infância é a maior, em relação à ingestão alimentar. A fase de crescimento
rápido durante a adolescência, representa outro período de necessidades aumentadas,
maiores no homem que na mulher; entretanto, com o início das menstruações, as
necessidades da mulher excedem às do homem.
Problemas
no ciclo menstrual podem indicar baixos níveis de ferro no organismo,
geralmente decorrentes da deficiência no consumo ou na absorção do mineral. A
ingestão adequada de ferro (DRI) para mulheres entre 19 e 50 anos é de 18
mg/dia.
As boas
fontes de ferro da alimentação incluem as carnes vermelhas, frango, peru,
porco, peixes, feijão, lentilha, vegetais de cor verde escura, como couve ou
espinafre, e alimentos fortificados. A absorção do ferro dos alimentos de
origem vegetal é aumentada quando ingeridos junto à uma fonte de vitamina C,
como morango, limão, laranja, entre outros.
Na
gravidez, há um aumento das necessidades deste mineral para suprir a expansão
da massa eritrocitária da própria gestante, a formação do sangue da placenta e
do feto e, ainda, para compensar as perdas durante o parto.
A dieta
normal nem sempre é suficiente para suprir as necessidades de ferro na
gestação. Por isso, tem sido proposta a suplementação de 27 mg/dia de ferro
elementar ou sulfato ferroso a partir do segundo trimestre de gestação, e de 9
mg/dia para lactantes (ou 10 mg/dia para lactantes com idade inferior a 18
anos).
Deficiência de Ferro
A deficiência nutricional de ferro ocorre quando a
quantidade absorvida da dieta é insuficiente para alcançar as necessidades normais.
Elas abrangem as perdas obrigatórias do organismo e os requerimentos nutricionais
para o crescimento. Se essa deficiência persiste, os estoques orgânicos de
ferro são exauridos e a anemia ferropriva se instala, afetando os níveis de
hemoglobina sanguínea. A deficiência pode ser causada por ingestão inadequada, absorção deficiente, metabolização imperfeita, perda sanguínea crônica ou
aumento das necessidades como na infância, adolescência e gravidez.
Quando o estoque de ferro do organismo é depletado,
o corpo sofre consequências funcionais, tais como a ineficiência do transporte
de oxigênio e prejuízos no metabolismo oxidativo, no metabolismo nuclear e na
transcrição gênica. As sequelas clínicas incluem a anemia em si, a redução da
atividade física, do rendimento do aprendizado e da diminuição da performance
no trabalho e a diminuição de eficiência da função. A imunocompetência reduzida
é um possível sinal de deficiência precoce de ferro, notada particularmente por
defeitos na imunidade mediada por células e na atividade fagocítica dos neutrófilos,
que podem levar a uma propensão aumentada para infecção.
Geralmente a deficiência de ferro é caracterizada
por 3 estágios, a saber:
(a) depleção
de ferro: o armazenamento de ferro é baixo (baixos níveis de
ferritina e hemossiderina), pequeno aumento da transferrina livre e valores
normais de hemoglobina;
(b) eritropoese
deficiente: o nível de saturação da transferrina cai e
torna-se insuficiente para a manutenção de uma taxa ótima de eritropoiese; a
concentração de protoporfirina dos eritrócitos torna-se elevada, indicando um
desequilíbrio entre a produção de protoporfirina e o suprimento intracelular de
ferro. Contudo, o suprimento de ferro ainda é suficiente para manter 95% do
nível normal de hemoglobina;
(c) anemia
ferropriva: o terceiro estágio é caracterizado pelo
esgotamento total das reservas de ferro, levando a uma produção insuficiente de
hemoglobina, com o desenvolvimento de anemia microcítica e hipocrômica.
A maioria dos sintomas, comuns em anemias, são:
cansaço, fadiga, palidez, diminuição da capacidade de trabalho físico,
alteração da termorregulação e menor capacidade de concentração. O tempo de
restabelecimento das funções cardiorrespiratórias normais em indivíduos anêmicos,
após esforço, é prolongado. Sintomas gastrointestinais como falta de apetite,
flatulência, incômodo epigástrico, náuseas, vômitos, constipação ou diarreia são
comuns.
Quando a anemia por deficiência de ferro se torna mais severa, os defeitos
se desenvolvem na estrutura e função dos tecidos epiteliais, especialmente da língua,
unhas, boca e estômago. As mudanças bucais incluem atrofia das papilas
linguais, queimadura, vermelhidão e, em casos severos, glossite. A gastrite ocorre
frequentemente e pode resultar em acloridria (ausência de ácido clorídrico no suco gástrico). A anemia
não tratada pode resultar em alterações cardiovasculares e respiratórias que
podem eventualmente provocar uma insuficiência cardíaca.
Interações
Dietéticas
Quadro 1. Interações dietéticas que alteram a biodisponibilidade do ferro.
Proteínas
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Aumentam a absorção do ferro
não-heme
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Aminoácidos
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Mistura de aminoácidos favorecem a absorção do
ferro, sendo
a cisteína um dos aminoácidos mais ativos.
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Ácidos orgânicos
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Dietas com alto conteúdo de ácido lático, facilitam
a absorção.
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Fosfatos de cálcio
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Diminuem a absorção.
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Zinco
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A administração de suplementos de zinco inibem a
absorção do ferro. Se o suplemento contiver os 2 elementos, a
biodisponibilidade de ferro é menor quanto maior a proporção Zn:Fe.
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Vitamina C
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Favorece a absorção do ferro não heme ao mantê-lo
solúvel no pH intestinal. Facilita a mobilização de ferro ao inibir a degradação
de ferritina por enzimas lisossômicas. Sua deficiência causa acumulação de
Fe-hemossiderina.
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Vitamina A
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Sua deficiência inibe a utilização do ferro e
acelera o aparecimento de anemia. A deficiência de ferro se associa
epidemiologicamente com a deficiência de vitamina A.
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Chá, café
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Ao se tomar chá, simultaneamente, com fonte de
ferro, a absorção cai de 10,4 para 3,3 %, devido à formação de complexos com
taninos na luz intestinal. O café também inibe a absorção de ferro.
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Polifenóis
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Ligam e insolubilizam o ferro. Benvenutri
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Fonte: Germano e
Canniatti-Brazaca, 2002.
As informações contidas neste
blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais
da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos
e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Cunha DF, Cunha SFC. Microminerais. In: Dutra-de-Oliveira JE,
Marchini JS, eds. Ciências Nutricionais. São Paulo: Sarvier; 1998.
Germano, RMA; Canniatti-Brazaca,
SG. Importância do ferro em
nutrição humana. Rev. Soc. Bras. Alim. Nutr., 2002; v.24, p. 85-104.
Guerra EM, Barretto OCO, Pinto AV, Castellão KG. Prevalência
de deficiência de ferro em gestantes de primeira consulta em centros de saúde
de área metropolitana, Brasil. Etiologia da anemia. Rev Saúde Pública. 1992; v.
26, n.2. p:88-95.
Lombard M, Chua E, O'Toole P. Regulation of intestinal
non-haem iron absorption. Gut. 1997;40(4):435-9.
Martini FCC. Comparação entre a disponibilidade de ferro na
presença de vitamina A e beta-caroteno em alimentos e medicamentos.
[dissertação]. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; 2002.
The Role of
Iron. British Nutrition Foundation; 1998. Disponível
em: http://www.nutrition.org.uk/information/dietandhealth/iron.html. Acessado
em: 18/05/2014.
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