O termo dispepsia tem origem no
grego (dys, prefixo indicativo de
dificuldade, imperfeição, desordem e peptein,
cozinhar, digerir) e corresponde a indigestão.
A dispepsia caracteriza-se por um conjunto de sintomas
relacionados ao trato gastrintestinal superior, como dor, queimação ou
desconforto na região superior do abdômen, que podem estar associados à
saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, sensação de
distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora dos sintomas pode ou não estar
relacionado à alimentação ou ao estresse.
Quadro 1. Sintomas e características de dispepsia ou síndrome
dispéptica.
Sintomas
de dispepsia
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Dor
epigástrica (se em queimação: azia ou pirose epigástrica).
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Desconforto
epigástrico.
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Náusea.
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Vômitos
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Saciedade
precoce
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Sensação
de distensão sem alteração objetiva.
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Plenitude,
peso ou empachamento.
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Características
de dispepsia
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Não
exclusivamente relacionada ao sistema digestório ou à alimentação.
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Influência
de fatores como estresse e alimentação.
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Não
necessariamente aliviada por antiácido ou alimento.
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Independe
do tempo, podendo ser aguda, intermitente ou persistente.
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Fonte: Miszputen, SJ. 2007.
A dispepsia divide-se em dois grandes
grupos: um secundário, a doença orgânica, e outro denominado dispepsia
funcional (DF). Dispepsia orgânica envolve alterações bioquímicas e/ou
morfológicas. Além das doenças digestivas, é secundária à ingestão de drogas ou
a condições extradigestivas ou não-primárias do sistema digestório, como
distúrbios eletrolíticos, metabólicos, endócrinos, infecciosos,
músculo-esqueléticos ou cardiovasculares.
No que se refere ao diagnóstico da DF,
também conhecida como dispepsia não ulcerosa ou
síndrome dispéptica é uma desordem heterogênea em que não se consegue identificar
a causa para os seus sintomas. O mecanismo fisiopatológico ainda é desconhecido
e o tratamento ainda não está totalmente estabelecido. Concorrem para seu
desenvolvimento fatores biopsicossociais: perfil genético, social e psicológico
(reprodução de comportamento, de resposta a perdas), além de condições
ambientais (trauma, infecção etc.). Traumas emocionais (abusos, perda ou morte,
problema familiar, profissional ou afetivo), ansiedade, depressão neurose
também estão associados à DF, mas não de maneira causal.
O Consenso de Roma II recomenda
que a DF seja diagnosticada quando, em pelo menos 12 semanas consecutivas ou
não, nos últimos 12 meses, o paciente apresentar:
1)
dor ou desconforto no abdome superior, de caráter persistente ou recorrente, com
peso epigástrico pós-prandial e/ou saciedade precoce e/ou náuseas e/ou vômitos
e/ou distensão abdominal;
2)
ausência de doença orgânica que possa explicar os sintomas;
3)
ausência de evidências de que a dispepsia é aliviada pela evacuação ou
associada à alteração na frequência ou na forma das fezes.
O referido Consenso estabeleceu igualmente
que pacientes com história clínica de úlcera péptica crônica não devem ser
diagnosticados como dispépticos funcionais. Porém, aqueles que tiveram úlcera
curada por erradicação do H. pylori e continuam com sintomas devem
receber esse diagnóstico. Ainda, segundo o mesmo, as anormalidades fisiológicas
mais investigadas em relação à possibilidade de estarem associadas à dispepsia
funcional são hipersecreção de ácido gástrico, infecção por H. pylori,
dismotilidade gastrointestinal, hipersensibilidade visceral e fatores
psicológicos.
Tratamento
O comum erro alimentar, detectado por meio de pesquisa do dia
gástrico, possibilita a detecção de fatores como mastigação deficiente (pressa
ao comer ou mesmo falta de dentes); alimentação sob tensão emocional ou sem
regularidade; alterações quantitativas (quantidade excessiva) ou qualitativa
(excesso de alimentos gordurosos, condimentos, doces, bebidas gasosas, café ou
álcool). Nessa situação, a reeducação alimentar é fundamental e as medidas
medicamentosas, adjuvantes. Além da correção da forma de se alimentar, a
eliminação dos excessos e a restrição de determinados alimentos podem resolver
o problema. Flatulência, empachamento e distensão abdominal, por exemplo, podem
ser eliminadas mediante restrição de grãos (feijão, ervilha, grão de bico),
batata-doce, repolho, couve-flor, doces, farináceos e alimentos dietéticos.
Quadro 2. Associação entre
os sintomas dispépticos específicos e a influência da ingestão de alguns
alimentos.
Sintoma
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Alimento
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Plenitude
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Carne
vermelha, banana, pão, bolos, massas, trigo, cebolas, salsichas, alimentos
fritos, feijão, maionese, leite, chocolate, ovos, doces e laranjas (frutas
cítricas).
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Sensação
de distensão abdominal
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Refrigerante,
cebola, feijão, banana e leite.
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Queimação
epigástrica e/ou azia
|
Café,
queijo, leite, cebola, pimenta, abacaxi e chocolate.
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Fonte: Adaptado de Feinle-Bisset & Azpiroz, 2013.
O hábito intestinal deve ser avaliado. Não raramente,
pacientes dispépticos apresentam obstipação. A correção do hábito intestinal é
frequentemente acompanhada de melhora da dispepsia. Outras vezes, há
intolerância à lactose ou síndrome de intestino irritável associada à
dispepsia, que melhora com o tratamento daquelas condições.
A correção do excesso de peso e a
eliminação do abuso tabaco ou álcool podem ser suficientes para a melhora do
paciente. A simples suspensão ou redução de dose de determinadas medicações
pode fazer com que haja resolução, prescindindo da investigação diagnóstica.
As informações contidas neste blog,
não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área
de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e
sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Chehter,
L; Vilela, MP. Dispepsia. In: Guias de Medicina Ambulatorial e
Hospitalar-Unifesp-Escola Paulista de Medicina. Gastroenterologia. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2007;
p. 3-19.
Feinle-Bisset
C, Azpiroz F. Dietary and lifestyle factors in functional dyspepsia. Nat Rev
Gastroenterol Hepatol. 2013; v. 10, n. 3: p.150-157.
O que é dispepsia funcional e
qual a sua relação com os hábitos alimentares? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em:
13/05/2014.
Silva, RA. et al. Dispepsia funcional e
depressão como fator associado. Arq Gastroenterol. 2006; v.43, n.4: p.293-298.
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