quinta-feira, 22 de maio de 2014

Dispepsia

     O termo dispepsia tem origem no grego (dys, prefixo indicativo de dificuldade, imperfeição, desordem e peptein, cozinhar, digerir) e corresponde a indigestão.
 
A dispepsia caracteriza-se por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrin­testinal superior, como dor, queimação ou desconforto na região superior do abdômen, que podem estar associados à saciedade preco­ce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora dos sintomas pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse.

Quadro 1. Sintomas e características de dispepsia ou síndrome dispéptica.

Sintomas de dispepsia
Dor epigástrica (se em queimação: azia ou pirose epigástrica).
Desconforto epigástrico.
Náusea.
Vômitos
Saciedade precoce
Sensação de distensão sem alteração objetiva.
Plenitude, peso ou empachamento.
Características de dispepsia
Não exclusivamente relacionada ao sistema digestório ou à alimentação.
Influência de fatores como estresse e alimentação.
Não necessariamente aliviada por antiácido ou alimento.
Independe do tempo, podendo ser aguda, intermitente ou persistente.
Fonte: Miszputen, SJ. 2007.

A dispepsia divide-se em dois grandes grupos: um secundário, a doença orgânica, e outro denominado dispepsia funcional (DF). Dispepsia orgânica envolve alterações bioquímicas e/ou morfológicas. Além das doenças digestivas, é secundária à ingestão de drogas ou a condições extradigestivas ou não-primárias do sistema digestório, como distúrbios eletrolíticos, metabólicos, endócrinos, infecciosos, músculo-esqueléticos ou cardiovasculares.

No que se refere ao diagnóstico da DF, também conhecida como dispepsia não ulcerosa ou síndrome dispéptica é uma desordem heterogênea em que não se consegue identificar a causa para os seus sintomas. O mecanismo fisiopatológico ainda é desconhecido e o tratamento ainda não está totalmente estabelecido. Concorrem para seu desenvolvimento fatores biopsicossociais: perfil genético, social e psicológico (reprodução de comportamento, de resposta a perdas), além de condições ambientais (trauma, infecção etc.). Traumas emocionais (abusos, perda ou morte, problema familiar, profissional ou afetivo), ansiedade, depressão neurose também estão associados à DF, mas não de maneira causal.

O Consenso de Roma II recomenda que a DF seja diagnosticada quando, em pelo menos 12 semanas consecutivas ou não, nos últimos 12 meses, o paciente apresentar:

1) dor ou desconforto no abdome superior, de caráter persistente ou recorrente, com peso epigástrico pós-prandial e/ou saciedade precoce e/ou náuseas e/ou vômitos e/ou distensão abdominal;
2) ausência de doença orgânica que possa explicar os sintomas;
3) ausência de evidências de que a dispepsia é aliviada pela evacuação ou associada à alteração na frequência ou na forma das fezes.

        O referido Consenso estabeleceu igualmente que pacientes com história clínica de úlcera péptica crônica não devem ser diagnosticados como dispépticos funcionais. Porém, aqueles que tiveram úlcera curada por erradicação do H. pylori e continuam com sintomas devem receber esse diagnóstico. Ainda, segundo o mesmo, as anormalidades fisiológicas mais investigadas em relação à possibilidade de estarem associadas à dispepsia funcional são hipersecreção de ácido gástrico, infecção por H. pylori, dismotilidade gastrointestinal, hipersensibilidade visceral e fatores psicológicos.

Tratamento

       O comum erro alimentar, detectado por meio de pesquisa do dia gástrico, possibilita a detecção de fatores como mastigação deficiente (pressa ao comer ou mesmo falta de dentes); alimentação sob tensão emocional ou sem regularidade; alterações quantitativas (quantidade excessiva) ou qualitativa (excesso de alimentos gordurosos, condimentos, doces, bebidas gasosas, café ou álcool). Nessa situação, a reeducação alimentar é fundamental e as medidas medicamentosas, adjuvantes. Além da correção da forma de se alimentar, a eliminação dos excessos e a restrição de determinados alimentos podem resolver o problema. Flatulência, empachamento e distensão abdominal, por exemplo, podem ser eliminadas mediante restrição de grãos (feijão, ervilha, grão de bico), batata-doce, repolho, couve-flor, doces, farináceos e alimentos dietéticos.

Quadro 2. Associação entre os sintomas dispépticos específicos e a influência da ingestão de alguns alimentos.

Sintoma
Alimento
Plenitude
Carne vermelha, banana, pão, bolos, massas, trigo, cebolas, salsichas, alimentos fritos, feijão, maionese, leite, chocolate, ovos, doces e laranjas (frutas cítricas).
Sensação de distensão abdominal
Refrigerante, cebola, feijão, banana e leite.
Queimação epigástrica e/ou azia
Café, queijo, leite, cebola, pimenta, abacaxi e chocolate.
Fonte: Adaptado de Feinle-Bisset & Azpiroz, 2013.

          O hábito intestinal deve ser avaliado. Não raramente, pacientes dispépticos apresentam obstipação. A correção do hábito intestinal é frequentemente acompanhada de melhora da dispepsia. Outras vezes, há intolerância à lactose ou síndrome de intestino irritável associada à dispepsia, que melhora com o tratamento daquelas condições.

        A correção do excesso de peso e a eliminação do abuso tabaco ou álcool podem ser suficientes para a melhora do paciente. A simples suspensão ou redução de dose de determinadas medicações pode fazer com que haja resolução, prescindindo da investigação diagnóstica.



As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Chehter, L; Vilela, MP. Dispepsia. In: Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar-Unifesp-Escola Paulista de Medicina. Gastroenterologia. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2007; p. 3-19.

Feinle-Bisset C, Azpiroz F. Dietary and lifestyle factors in functional dyspepsia. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2013; v. 10, n. 3: p.150-157.

O que é dispepsia funcional e qual a sua relação com os hábitos alimentares? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 13/05/2014.

Silva, RA. et al. Dispepsia funcional e depressão como fator associado. Arq Gastroenterol. 2006; v.43, n.4: p.293-298.

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