Os Transtornos Alimentares (TA) são
graves distúrbios psiquiátricos considerados importantes problemas de saúde. Os
quadros clássicos têm seus critérios diagnósticos definidos pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) ou Associação Americana de Psiquiatria (APA), enquanto
outros quadros considerados não oficiais têm sido sugeridos nos últimos anos,
denominados muitas vezes de comer transtornada (do inglês, disordered eating).
Um quadro recentemente apresentado é denominado pelo neologismo (do grego, orthos
significa correto e orexis, apetite) Ortorexia Nervosa (ON). Descrita
como um comportamento obsessivo patológico, a ortorexia nervosa caracteriza-se
pela fixação por saúde alimentar, qualidade dos alimentos e pureza da dieta.
O indivíduo com ortorexia nervosa
torna-se extremamente preocupado com a qualidade dos alimentos e com a pureza
da dieta, preocupando-se em comer apenas “alimentos politicamente corretos e
saudáveis”. A tônica dominante não é a preocupação com o peso, mas o desejo de
prevenir ou eliminar sintomas físicos (reais ou exagerados) ou de ser puro e
natural (atingindo até conotações religiosas). Lapsos são punidos com jejuns e
dietas mais restritivas ainda e, com o tempo, o que comer e o quanto comer
passam a dominar o cotidiano da pessoa. Assim, a vida interna da pessoa com
ortorexia nervosa passa a ser resistir às tentações, punir-se pelos lapsos,
congratular-se pelas restrições que consegue fazer e desprezar aqueles que
comem junk food. Dessa forma, seu cotidiano torna-se limitado, em virtude do
padrão de alimentação, e o prazer alimentar é transferido dos meios (o
desfrutar da comida) para os fins (orgulho por ter comido ‘certo’).
Os pacientes ortoréxicos excluem alimentos que eles
consideram ser “impuros”, com a justificativa de que contêm herbicidas,
pesticidas ou substâncias artificiais e se preocupam em excesso sobre as
técnicas e materiais utilizados na preparação dos alimentos. Essa obsessão leva
à perda de relações sociais e insatisfações afetivas que, por sua vez, favorece
a preocupação obsessiva sobre a comida, fazendo da dieta a parte mais
importante de suas vidas.
Os indivíduos com ortorexia também evitam
obsessivamente os alimentos que possam conter corantes, aromatizantes,
ingredientes geneticamente modificados, todos os tipos gorduras, alimentos
que contenham muito sal ou muito açúcar. Esse distúrbio, muitas vezes, têm uma
história ou características em comum com pacientes anoréxicos. Os ortoréxicos
são muito cuidadosos, detalhados e bem organizados, com uma necessidade
exagerada de autocuidado e proteção.
A prevalência da ortorexia nervosa ainda é
desconhecida em nossa sociedade. A ortorexia ainda não é reconhecida pelos manuais da DSM-IV (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders), devido à falta de estudos clínicos sobre o
assunto. Trata-se de novos distúrbios que envolvem o comportamento alimentar,
que vêm sendo discutidos cada vez mais entre os especialistas. Alguns estudos
têm sugerido ferramentas de triagem para o diagnóstico precoce dessas doenças,
mas ainda necessitam de validação clínica.
O tratamento da ortorexia requer a
participação de equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos e
nutricionistas especializados. Tão importante quanto é o debate entre
profissionais de saúde e toda a sociedade sobre o que significa a “alimentação
saudável”, que não deve ser vista apenas do ponto de vista biológico,
classificando alimentos em “bons” ou “ruins”, “saudáveis” ou “não saudáveis”, e
sim em sua totalidade que engloba aspectos sociais, culturais, religiosos,
entre outros
Alimentação Saudável
As diretrizes sobre o que se deve
comer (Pirâmide Alimentar e o Guia Alimentar da População Brasileira) devem ser
seguidas, porém tal consumo preconizado deve ser visto como a consequência
natural de uma sequência culturalmente apropriada de cozinhar e/ou comer. O
hábito de comer comidas que apresentam grandes benefícios para saúde, como frutas,
verduras e legumes, deve ser decorrente de uma educação alimentar que conquiste
e eduque pelo gosto, não pelos fatos (“faz bem”).
Atitudes sugeridas para uma
alimentação saudável:
●
Aceitar e sentir-se confortável com a obtenção de prazer por meio da comida e
com a experiência de se sentir satisfeito;
●
Sentir-se calmo diante da comida, mesmo que se trate de itens desconhecidos ou
detestados;
●
Ser capaz de selecionar comidas, recusando ou aceitando-as quando for coerente;
●
Ser curioso em relação a novas comidas;
●
Confiar que haverá comidas suficientemente recompensadoras nas refeições
estruturadas, que serão capazes de satisfazer a fome e o apetite;
●
Comer de maneira intencional e planejada, prestando atenção aos sinais de fome
e apetite e parando de comer quando estiver saciado;
●
Organizar-se a fim de ter tempo para comer e preparar suas refeições.
As informações contidas neste
blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais
da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos
e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Alvarenga, M; Scagliusi, FB;
Philippi, ST. Nutrição
e transtornos alimentares. 1. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2011; p.52-55.
Castro,
RCB. O que é ortorexia e vigorexia? Disponível em: www.nutritotal.com.br
Acessado em: 07/05/2014.
Martins,
MCT; Alvarenga, MS; Vargas, SVA; Sato, KSCJ; Scagliusi, FB. Ortorexia nervosa:
reflexões sobre um novo conceito. Rev Nutr. 2011; v.24, n.2: p. 345-357.
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