segunda-feira, 9 de junho de 2014

CONDUTA NUTRICIONAL NO TRATAMENTO DA HIDROLIPODISTROFIA

A busca de um corpo perfeito com minimização da celulite tem se tornado assunto de destaque em todo o mundo. A celulite ou hidrolipodistrofia ocorre em maior incidência nas mulheres, podendo acometer qualquer parte do corpo exceto couro cabeludo, palmas das mãos e dos pés. É caracterizada por um aspecto acolchoado ou “casca de laranja“. A exata etiologia da celulite é desconhecida, contudo fatores genéticos, hormonais, sexo, hipertensão arterial, obesidade, fumo, sedentarismo e má alimentação predispõem o aparecimento da hidrolipodistrofia.

CONDUTA NUTRICIONAL NO TRATAMENTO DA HIDROLIPODISTROFIA

São vários os fatores que contribuem para desenvolver ou agravar o surgimento da hidrolipodistrofia, sendo um deles, maus hábitos alimentares. A nutrição é o campo da área da saúde mais promissor para que a população permaneça em excelente estado de saúde, promovendo uma pele mais saudável com minimização da hidrolipodistrofia. Sendo, um dos meios mais saudáveis para se combater a hidrolipodistrofia em detrimento de outras técnicas, como o uso indiscriminado de medicamentos, cirurgias plásticas e tratamentos estéticos. Ainda há falta de estudos mais recentes sobre o tema, que elucidem seu quadro multifatorial, além de pesquisas sobre a relação da nutrição com a mesma (SCHNEIDER, 2009).

De acordo com Sandoval (2003), o tratamento não promove a cura da celulite, mas uma melhora de seu aspecto. Na literatura há poucos estudos bibliográficos, o que limita a comprovação científica da conduta nutricional do tratamento e da prevenção. Entretanto, percebe-se na prática clínica e por meio de dados subjetivos e objetivos (perimetria e registro fotográfico) que há uma melhora considerável no quadro quando considerada a seguinte conduta: dieta anti- inflamatória, dieta desintoxicante, dieta de baixo índice glicêmico (IG) e carga glicêmica (CG). Juntamente, com o controle do efeito tóxico da constipação intestinal, acúmulo do tecido adiposo, permeabilidade capilar, fator hormonal e insuficiência linfática.

DIETA ANTI-INFLAMATÓRIA

O processo inflamatório é a principal característica das desordens cutâneas, a nutrição pode auxiliar na melhora dos sintomas por meio da modulação do sistema inflamatório (BRIGANTI & PICARDO, 2003). O alto consumo dietético de açúcares e gorduras saturadas está associado com aumento dos níveis circulantes de glicose e ácidos graxos livres (KLEIN et al, 1998; KELLEY, 2003), gerando glicotoxicidade e lipotoxicidade, que alteram a função mitocondrial, promovendo um aumento na formação de radicais livres e, consequentemente, aumento de substâncias pró-inflamatórias (BELLIN et al, 2006; MEYER et al, 2006). Dentre os nutrientes e fitoquímicos que tem ação de modular o estado inflamatório são: ômega 3 (HUDERT et al, 2006), lignanas (NAM, 2006; LEE et al, 2005), catequinas (ANDREADI et al, 2006; HAN et al, 2006; PFEFFER et al, 2005), beta-glucanas (EVANS, et al 2005), curcumina (KIM et al, 2005) antocianinas (PERGOLA, et al 2006; AFAQ, et al 2005), ácidos graxos insaturados (MORENO, 2003) e isoflavonas (LAM et al, 2004; SEAVER &SMITH, 2004).



DIETA DESINTOXICANTE

Arcangeli (2002), expressa que uma dieta equilibrada, rica em frutas e verduras, com baixo teor de gordura saturada e trans e com moderado consumo de sal e açúcar, garante um organismo mais harmonioso, livre de toxinas e que uma importante forma de eliminação de toxinas do corpo é o consumo de água. Para reduzir o consumo de sal é preciso diminuir tanto o consumo de alimentos processados com a alta quantidade de sódio e evitar adicionar sal aos alimentos já preparados. Produtos enlatados têm até 20 vezes mais sal que o produto natural (PUJOL, 2011).

DIETA DE BAIXO ÍNDICE GLICÊMICO (IG) E CARGA GLICÊMICA (CG)

Jenkins e colaboradores (1981) constataram que as dietas de alto IG apresentam menor poder de saciedade, resultando em excessiva ingestão alimentar e favorecendo o aumento do peso corporal, que de acordo com Francischelli (2003), há uma relação direta entre gordura corporal total ou regional aumentada com hidrolipodistrofia. Além disto, Fonseca-Alaniz et al (2006) observaram que, a dieta de alto IG poderia contribuir para a isquemia e a redução do fluxo sanguíneo, uma vez que, na hidrolipodistrofia há um comprometimento circulatório com redução do fluxo sanguíneo. Já dieta de alta CG promove a hiperinsulinemia, que favorece hipertrofia dos adipócitos, inibe a lipólise e pode contribuir para elevar os níveis de estrogênio, importante hormônio desencadeador da hidrolipodistrofia, já que o aumento da adiposidade influencia a síntese e a viabilidade dos hormônios esteroides sexuais.    Dieta de baixo IG é recomendada, tendo em vista a redução do fluxo sanguíneo, estimulo da lipogênese e inibe lipólise, retém líquido por reabsorção de sódio e água, favorece a síntese de estrogênios e o processo inflamatório. (PUJOL, 2011).

EFEITO TÓXICO DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL

A constipação intestinal é um fator predisponente da hidrolipodistrofia (SCHNEIDER, 2009). Para que se possa controlar o efeito tóxico da constipação intestinal devemos incluir na alimentação alimentos que possuam fibras alimentares, prebióticos e probióticos (MALETT et al, 2002; SAAD, 2006).




 As fibras insolúveis agem acelerando o trânsito intestinal (BORTOLOTTI et al, 2008) e aumentando o peso das fezes por trabalho mecânico de absorção de água em sua matriz (NELSON et al, 1994). As fibras insolúveis (75% da RDA de fibras totais) estão presentes em farelos de cereais, grãos integrais entre outros (COZZOLINO & COLLI, 2001).  As fibras solúveis desempenham papel importante no trânsito intestinal, não apenas pela ação mecânica de captação de água, mas essencialmente por serem matéria-prima de fermentação bacteriana, aumentando, assim, a microbiota saudável (TAN & SEOW-CHOEN, 2007). Já os probióticos são organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios á saúde do hospedeiro (FAO-WHO, 2001). Os principais microrganismos bacterianos considerados como probióticos são aqueles dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium, além de Escherichia, Enterococcus e Bacillus. Os prebióticos encontram-se em formulações disponíveis comercialmente em produtos como leites fermentados e iogurtes, contendo culturas probióticas (BELLO & WITT, 2011). E por fim, os prebióticos estimulam seletivamente as bactérias ou colônias de bactérias da microbiota do cólon intestinal quando chegam ao intestino delgado, proporcionando efeito benéfico á saúde do indivíduo (FAO-WHO, 2002). A inulina e os FOS são os principais prebióticos encontrados nos alimentos. A inulina está presente em quantidade significativa nos vegetais. Os FOS são produzidos a partir da inulina fermentada por bifidobacterias, a recomendação de FOS é em média 3 a 10 gs-dia (FREITAS & NAVES, 2010).

            Juntamente com os termos descritos acima, a ingestão hídrica adequada é de extrema importância, sendo indispensável na elaboração do bolo fecal e com propriedade detoxificantes (SOARES & OLIVEIRA, 2007) e evitando o consumo de cereais refinados ou polidos, como arroz branco, além de alto consumo de proteínas e gorduras, pois dificultam a digestão e o peristaltismo intestinal (GARCIA, 2003).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Texto elaborado por: Dra. Juliana Gonçalves
Nutricionista. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pelo Instituto de Cardiologia, RS.
 Especialista em Nutrição Clínica pela ASBRAN.
Especialização em Fitoterapia pela Universidade de Léon (Espanha).
Especialização em Nutrição Clínica pela Faculdade CBES.
Autora do Manual de Atendimento em Nutrição Estética, 2ª edição, editora IPGS (2011). Coautora do livro Atendimento Nutricional em Cirurgia Plástica - Uma Abordagem Multidisciplinar, editora Rúbio (2013).


As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

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