sexta-feira, 20 de junho de 2014

Gota

    A gota é uma doença reumatológica caracterizada pelo aumento sanguíneo nos níveis de ácido úrico (hiperuricemia). Em geral, quando o organismo decompõe os produtos de excreção das purinas, produz normalmente o ácido úrico, que passa pelo sangue e posteriormente pelo rim para ser eliminado na urina. Em pacientes com gota, não ocorre a excreção do ácido úrico adequadamente, ocorrendo um acúmulo de sua concentração no sangue.

        O ácido úrico é um ácido fraco que existe largamente como urato, a forma ionizada, em pH fisiológico. A quantidade de urato no organismo é o resultado do balanço entre a ingesta dietética, a síntese endógena e a taxa de excreção. A hiperuricemia pode ser o resultado da redução da excreção de ácido úrico (85% a 90%) ou do aumento da produção (10% a 15%). Mesmo em indivíduos cuja excreção diária de ácido úrico esteja acima do normal (hiperprodutores), pode ocorrer redução relativa na eliminação renal do ácido úrico, ou seja, tanto a hiperprodução quanto a hipoexcreção contribuiriam para a hiperuricemia.



                              Fonte: Pinheiro, 2008.

A hiperuricemia é geralmente definida como um nível de ácido úrico no sangue superior a 7,0 mg/dL para homens e superior a 6,0 mg/dL em mulheres. Com o aumento da concentração de ácido úrico no sangue, ocorre a deposição de cristais de ácido úrico nos tecidos, principalmente nas articulações e tecidos circundantes (borda externa da orelha, cotovelo, dedão do pé, dedos das mãos) produzindo o quadro de gota, causando inflamação e consequentemente dor e inchaço.

Esse acúmulo pode causar inflamação nos tecidos articulares e levar a sintomas crônicos da artrite, havendo também a possibilidade de se desenvolverem cálculos renais de ácido úrico e, mais tardiamente, doença renal, devido à sobrecarga da função renal. Porém, a hiperuricemia pode desenvolver-se independentemente à gota.

O nível elevado de ácido úrico tem sido considerado um importante marcador para fatores de risco de doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. A hiperuricemia está frequentemente presente nas mesmas condições clínicas que se associam a resistência à insulina. As causas mais comuns de hiperuricemia são os excessos alimentares, ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, sedentarismo, sendo a obesidade um fator fortemente associado.

As estratégias nutricionais para a redução dos níveis de ácido úrico baseiam-se na perda de peso (caso o indivíduo se encontre em sobrepeso/obesidade), redução do consumo de alimentos ricos em purinas, aumento da ingestão hídrica e aumento da ingestão de alguns alimentos que estão associados com a redução dos níveis de ácido úrico.

Orientações:


- A hiperuricemia e a gota, geralmente, estão associadas com obesidade, hipertensão, dislipidemia, aterosclerose e intolerância à glicose (síndrome metabólica). Assim sendo, a orientação deve contemplar mudanças de hábitos de vida e informações precisas sobre dieta e consumo de bebidas alcoólicas;

- Os alimentos ricos em purinas, que devem ser evitados, são carne vermelha, vísceras (fígado, coração, língua e rins), alguns peixes e frutos do mar. Estudos demonstram que a ingestão de vegetais ricos em purinas (ervilhas, feijões, lentilhas, espinafre e couve-flor) não está associada com a hiperuricemia. Além disso, legumes como cenoura e a ingestão de cogumelos estão associados com a diminuição dos níveis de ácido úrico. Zhang e colaboradores observaram que o consumo elevado de alimentos de origem animal, frituras e refrigerantes estão fortemente associados com a hiperuricemia. Outros pesquisadores sugerem que a ingestão de produtos lácteos com baixo teor de gordura, vegetais ricos em purinas, grãos integrais, nozes, legumes, frutas, café e suplementos de vitamina C contribuem para a redução dos níveis de ácido úrico;

- É importante "negociar" com o paciente que faz uso de bebida alcoólica quanto ao momento de consumi-la, a quantidade e o tipo de bebida. Fazer uso de bebidas alcoólicas durante ou logo após um episódio agudo pode prolongá-lo ou reduzir o intervalo de recidiva. Após o controle adequado de uma crise aguda, a ingestão de uma quantidade moderada (por exemplo, uma taça de vinho ao dia) pode ser permitida. O uso de cerveja, principalmente em grandes quantidades, deve ser formalmente evitado;

- Líquidos como água e sucos devem ser ingeridos à vontade (mais de três litros por dia). Isso facilita a excreção de ácido úrico e minimiza a possível formação de cálculos;

- Quanto à hiperuricemia propriamente dita, é suficiente enfatizar a necessidade de se restringir alimentos ricos em purinas de origem animal. Alimentos ricos em purinas de origem vegetal não precisam nem devem ser evitados e o consumo de laticínios com baixo teor de gordura deve ser estimulado;

- A dieta não pode ser de muito baixa caloria e não deve haver jejum prolongado, pois ambos podem aumentar os níveis de ácido úrico no sangue devido à acidose metabólica e pelo estado de hidratação do compartimento do líquido extracelular, influenciando a reabsorção tubular de íons filtrados e de ácido úrico;

- Medicamentos, quando receitados, devem ser seguidos por todo o tempo recomendado, pois podem ter efeito incompleto se interrompidos;

- Quando presentes, tanto o tabagismo quanto o sedentarismo devem ser evitados. A orientação dietética deve ter como prioridades o controle do peso corporal, da pressão arterial sistêmica e das eventuais alterações metabólicas presentes, como a intolerância à glicose e a dislipidemia.

Alimentos com alto teor de purinas
Alimentos com médio teor de purinas
Alimentos com baixo teor de purinas
Carnes: vitela, bacon, cabrito, carneiro ou ovelha, embutidos.
Carnes: vaca, frango, porco, coelho e presunto.
Leite, chá, café, chocolate, queijos magros, ovos cozidos, manteiga e margarina.
Miúdos: fígado, coração, língua, rim e miolos.
Peixes e frutos do mar: camarão, ostra, lagosta, caranguejo.
Cereais e farináceos: pão, macarrão, sagu, fubá, mandioca, araruta, arroz branco e milho.
Peixes e frutos do mar: sardinha, salmão, truta, bacalhau, arenque, anchova, ovas de peixe, mexilhão, marisco.
Leguminosas: feijão, soja, grão-de-bico, ervilha, lentilha, aspargos, cogumelos, couve-flor e espinafre.
Vegetais: couve, repolho, alface, acelga, agrião, radiche.
Aves: galeto, peru, pombo e ganso.
Cereais integrais: arroz integral, trigo em grão, centeio e aveia.
Doces e frutas de todos os tipos, incluindo todos os sucos.
Bebidas alcoólicas de todos os tipos.
Oleaginosas: nozes, amendoim, castanha, pistache, avelã.

Tomates e extrato de tomate.


Caldos de carnes e molhos prontos.


Fermento de pães.

                      Benvenutri
Fonte: Salgado, JM. 2004.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:

Brocanelli, AM. O que é gota? Disponível em: www.nutrociência.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Castro, RCB. Quais são as estratégias nutricionais na hiperuricemia (níveis altos de ácido úrico no sangue)? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Cruz, Boris Afonso. Gota. Rev. Bras. Reumatol., Dez 2006, vol.46, no.6, p.419-422.

Gota. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Disponível em: www.reumatologia.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Marques, CG. O que é e quais os cuidados nutricionais que devem receber os pacientes com gota? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 09/06/2014.

Pinheiro, GRC. Revendo a orientação dietética na gota. Rev Bras Reumatol 2008; v. 48, n.3: p. 157-161.

Salgado, JM. Pharmacia de Alimentos. 1. ed. São Paulo: Madras, 2004.


Zhang M, Chang H, Gao Y, Wang X, Xu W, Liu D, et al. Major dietary patterns and risk of asymptomatic hyperuricemia in Chinese adults. J Nutr Sci Vitaminol (Tokyo). 2012; v.58, n.5: p. 339-45.

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