A gota é uma doença reumatológica
caracterizada pelo aumento sanguíneo nos níveis de ácido úrico (hiperuricemia).
Em geral, quando o organismo decompõe os produtos de excreção das purinas,
produz normalmente o ácido úrico, que passa pelo sangue e posteriormente pelo
rim para ser eliminado na urina. Em pacientes com gota, não ocorre a excreção
do ácido úrico adequadamente, ocorrendo um acúmulo de sua concentração no
sangue.
O ácido úrico é um ácido fraco que
existe largamente como urato, a forma ionizada, em pH fisiológico. A quantidade
de urato no organismo é o resultado do balanço entre a ingesta dietética, a
síntese endógena e a taxa de excreção. A hiperuricemia pode ser o resultado da
redução da excreção de ácido úrico (85% a 90%) ou do aumento da produção (10% a
15%). Mesmo em indivíduos cuja excreção diária de ácido úrico esteja acima do
normal (hiperprodutores), pode ocorrer redução relativa na eliminação renal do
ácido úrico, ou seja, tanto a hiperprodução quanto a hipoexcreção contribuiriam
para a hiperuricemia.
Fonte: Pinheiro, 2008.
A hiperuricemia é geralmente
definida como um nível de ácido úrico no sangue superior a 7,0 mg/dL para
homens e superior a 6,0 mg/dL em mulheres. Com o aumento da concentração de
ácido úrico no sangue, ocorre a deposição de cristais de ácido úrico nos
tecidos, principalmente nas articulações e tecidos circundantes (borda externa
da orelha, cotovelo, dedão do pé, dedos das mãos) produzindo o quadro de gota,
causando inflamação e consequentemente dor e inchaço.
Esse
acúmulo pode causar inflamação nos tecidos articulares e levar a sintomas
crônicos da artrite, havendo também a possibilidade de se desenvolverem
cálculos renais de ácido úrico e, mais tardiamente, doença renal, devido à
sobrecarga da função renal. Porém, a hiperuricemia pode desenvolver-se
independentemente à gota.
O nível elevado de ácido
úrico tem sido considerado um importante marcador para fatores de risco de
doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. A hiperuricemia está
frequentemente presente nas mesmas condições clínicas que se associam a
resistência à insulina. As causas mais comuns de hiperuricemia são os excessos
alimentares, ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, sedentarismo, sendo a
obesidade um fator fortemente associado.
As estratégias nutricionais
para a redução dos níveis de ácido úrico baseiam-se na perda de peso (caso o
indivíduo se encontre em sobrepeso/obesidade), redução do consumo de alimentos
ricos em purinas, aumento da ingestão hídrica e aumento da ingestão de alguns
alimentos que estão associados com a redução dos níveis de ácido úrico.
Orientações:
-
A hiperuricemia e a gota, geralmente, estão associadas com obesidade,
hipertensão, dislipidemia, aterosclerose e intolerância à glicose (síndrome
metabólica). Assim sendo, a orientação deve contemplar mudanças de hábitos de
vida e informações precisas sobre dieta e consumo de bebidas alcoólicas;
-
Os alimentos ricos em purinas, que devem ser evitados,
são carne vermelha, vísceras (fígado, coração, língua e rins), alguns peixes e
frutos do mar. Estudos demonstram que a ingestão de vegetais ricos em purinas
(ervilhas, feijões, lentilhas, espinafre e couve-flor) não está associada com a
hiperuricemia. Além disso, legumes como cenoura e a ingestão de cogumelos estão
associados com a diminuição dos níveis de ácido úrico. Zhang e colaboradores
observaram que o consumo elevado de alimentos de origem animal, frituras e
refrigerantes estão fortemente associados com a hiperuricemia. Outros
pesquisadores sugerem que a ingestão de produtos lácteos com baixo teor de
gordura, vegetais ricos em purinas, grãos integrais, nozes, legumes, frutas,
café e suplementos de vitamina C contribuem para a redução dos níveis de ácido
úrico;
-
É importante "negociar" com o paciente que faz uso de bebida
alcoólica quanto ao momento de consumi-la, a quantidade e o tipo de bebida.
Fazer uso de bebidas alcoólicas durante ou logo após um episódio agudo pode
prolongá-lo ou reduzir o intervalo de recidiva. Após o controle adequado de uma
crise aguda, a ingestão de uma quantidade moderada (por exemplo, uma taça de
vinho ao dia) pode ser permitida. O uso de cerveja, principalmente em grandes
quantidades, deve ser formalmente evitado;
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Líquidos como água e sucos devem ser ingeridos à vontade (mais de três litros
por dia). Isso facilita a excreção de ácido úrico e minimiza a possível
formação de cálculos;
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Quanto à hiperuricemia propriamente dita, é suficiente enfatizar a necessidade
de se restringir alimentos ricos em purinas de origem animal. Alimentos ricos em purinas de origem vegetal não
precisam nem devem ser evitados e o consumo de laticínios com baixo teor de
gordura deve ser estimulado;
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A dieta não pode ser de muito baixa caloria e não deve haver jejum prolongado,
pois ambos podem aumentar os níveis de ácido úrico no sangue devido à acidose
metabólica e pelo estado de hidratação do compartimento do líquido
extracelular, influenciando a reabsorção tubular de íons filtrados e de ácido
úrico;
-
Medicamentos, quando receitados, devem ser seguidos por todo o tempo
recomendado, pois podem ter efeito incompleto se interrompidos;
-
Quando presentes, tanto o tabagismo quanto o sedentarismo devem ser evitados. A
orientação dietética deve ter como prioridades o controle do peso corporal, da
pressão arterial sistêmica e das eventuais alterações metabólicas presentes,
como a intolerância à glicose e a dislipidemia.
Alimentos com alto teor de purinas
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Alimentos com médio teor de purinas
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Alimentos com baixo teor de purinas
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Carnes: vitela, bacon, cabrito, carneiro ou
ovelha, embutidos.
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Carnes: vaca, frango, porco, coelho e
presunto.
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Leite,
chá, café, chocolate, queijos magros, ovos cozidos, manteiga e margarina.
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Miúdos: fígado, coração, língua, rim e
miolos.
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Peixes e frutos do
mar: camarão,
ostra, lagosta, caranguejo.
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Cereais
e farináceos: pão, macarrão, sagu, fubá, mandioca, araruta, arroz branco e
milho.
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Peixes e frutos do
mar: sardinha,
salmão, truta, bacalhau, arenque, anchova, ovas de peixe, mexilhão, marisco.
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Leguminosas: feijão, soja, grão-de-bico,
ervilha, lentilha, aspargos, cogumelos, couve-flor e espinafre.
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Vegetais:
couve, repolho, alface, acelga, agrião, radiche.
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Aves: galeto, peru, pombo e ganso.
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Cereais integrais: arroz integral, trigo em grão,
centeio e aveia.
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Doces
e frutas de todos os tipos, incluindo todos os sucos.
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Bebidas
alcoólicas de todos os tipos.
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Oleaginosas: nozes, amendoim, castanha,
pistache, avelã.
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Tomates
e extrato de tomate.
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Caldos
de carnes e molhos prontos.
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Fermento
de pães.
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Benvenutri
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Fonte: Salgado, JM. 2004.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Brocanelli, AM. O que é gota? Disponível em: www.nutrociência.com.br Acessado em:
09/06/2014.
Castro, RCB. Quais são as
estratégias nutricionais na hiperuricemia (níveis altos de ácido úrico no
sangue)? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em: 09/06/2014.
Cruz, Boris Afonso. Gota. Rev. Bras. Reumatol., Dez 2006, vol.46, no.6,
p.419-422.
Gota. Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Disponível em: www.reumatologia.com.br
Acessado em: 09/06/2014.
Marques, CG. O que é e quais os cuidados
nutricionais que devem receber os pacientes com gota? Disponível em: www.nutritotal.com.br Acessado em:
09/06/2014.
Pinheiro, GRC. Revendo a orientação dietética na
gota. Rev Bras Reumatol 2008; v. 48, n.3: p. 157-161.
Salgado, JM. Pharmacia de
Alimentos. 1. ed. São Paulo: Madras, 2004.
Zhang M,
Chang H, Gao Y, Wang X, Xu W, Liu D, et al. Major dietary patterns and risk of
asymptomatic hyperuricemia in Chinese adults. J Nutr Sci
Vitaminol (Tokyo). 2012; v.58, n.5: p. 339-45.
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