O amaranto (Amaranthus sp.) é um pseudocereal originário provavelmente das
Américas do Sul e Central. Pertence à família das amarantáceas, se divide em 70
gêneros, entre eles o Amaranthus, que
possui mais de 60 espécies. Representou a base da dieta de diversas
civilizações pré-colombianas, dentre estas os Maias, Incas e Astecas, além de
ser considerado um alimento sagrado utilizado em rituais religiosos. No
entanto, no período colonial, em consequência da pressão exercida pelos
espanhois para erradicar as cerimônias pagãs, o consumo e cultivo do amaranto
foram proibidos. Assim, essa cultura desapareceu, mantendo-se espalhada apenas
em algumas regiões andinas de forma incipiente.
Em 1975, o amaranto ressurge
mundialmente, quando a National Academy of Sciences o considera como uma das
culturas mais promissoras para alimentar a humanidade. Desde então houve um
significativo aumento na atividade de pesquisa envolvendo o amaranto.
O grão de A. cruentus apresenta cerca de 60% de amido, 15% de proteína, 13% de
fibra alimentar, 8% de lipídios e 4% de cinzas, destacando-se por apresentar
teores de proteína, de fibra e de vitaminas e minerais superiores aos
observados na maioria dos grãos de cereais.
O teor proteico e o seu perfil de aminoácidos fazem
com que seja uma atrativa fonte proteica, apresenta conteúdo expressivo de
aminoácidos essenciais, especialmente lisina (5%) e aminoácidos sulfurados
(4%). Quanto à fração lipídica observam-se elevados teores de ácidos graxos
insaturados, representando cerca de 75% do óleo de amaranto, além de esqualeno
(5-12%), um composto associado a efeitos hipocolesterolêmico e
anticarcinogênico. Algumas substâncias presentes em sua composição podem
apresentar atividade antioxidante, tais como o esqualeno, os tocoferois, os
tocotrienois, os flavonoides e os compostos fenólicos.
Possui vitamina C e pró-vitamina A em níveis significativos,
além de atender as necessidades da maioria de vitaminas recomendadas pelo “Committee
on Dietary Allowances”. Apresenta lignina e celulose, mostrando-se uma
excelente fonte de fibras insolúveis, com o teor total superior ao dos cereais
comuns.
Em comparação aos outros grãos, o amaranto possui
uma quantidade inferior de niacina (vitamina B3) (1,0 –
1,5mg/100g) e tiamina (vitamina B1) (0,10 –
0,14mg/100g), e quantidade superior de riboflavina (vitamina B2) (0,19 – 0,32 mg/100g) e ácido ascórbico (3,0 – 7,1 mg/100g). Possui ainda
vitamina E, contendo 1,57 mg/100g de α-tocoferol; 0,59 – 1,15 mg/100g de
β-tocotrienol e 0,10– 0,87 mg/100g de g-tocotrienol.
O amaranto possui também concentrações expressivas
de minerais como potássio e ferro e alta biodisponibilidade de zinco, magnésio
e cálcio.
O grão de amaranto apresenta baixos teores de
fatores antinutricionais. Estudos indicam que estes são termolábeis (perdem
suas propriedades em determinada temperatura). Assim, recomenda-se o consumo do
grão de amaranto devidamente processado.
Da parte verde podem-se utilizar as folhas tenras,
usadas como salada, concentrados proteicos, substituto do espinafre, sopas,
recheios, produtos instantâneos e alimentos infantis, e os talos como
suplemento mineral e forragem. As sementes são empregadas em sopas, ensopados,
confeitarias, recheios e, sob a forma de farinha, em mingaus, panquecas, pão,
“tortilhas” e outros, inclusive em bebida semelhante ao leite.
A farinha de amaranto desponta como um ingrediente
alimentar altamente desejável para consumo como alimento de subsistência (base
alimentar) ou para o enriquecimento da dieta de muitas comunidades. O alto
valor nutritivo da proteína faz com que o grão de amaranto seja aplicável,
tanto na fortificação de farinhas de trigo, milho e tubérculos, como na
elaboração de produtos farináceos isentos de glúten.
Perfil
Lipídico
O efeito do amaranto no perfil lipídico foi
demonstrado em estudo realizado com coelhos, no qual se constatou uma
expressiva redução nos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) e
colesterol total (CT) com o uso de amaranto extrusado. As concentrações de
lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL-C) e triacilgliceróis (TG) também
foram reduzidas e as concentrações de lipoproteína de alta densidade (HDL-C)
não apresentaram diferenças significativas.
Já em pesquisa realizada com 125 pacientes que
apresentavam doença cardiovascular observou-se uma redução nos níveis de CT,
TG, LDL-C e VLDL-C ao administrar óleo de amaranto nas seguintes quantidades:
3, 6, 12 e 18ml/dia por 3 semanas, concluindo que o óleo de amaranto pode ser
benéfico a pacientes com doenças cardiovasculares.
Alguns trabalhos sugerem possíveis mecanismos para
explicar a ação do amaranto na diminuição da pressão arterial. Neste grão estão
presentes algumas globulinas como as 11S, globulina P e pequena quantidade de
globulina 7S, sendo que a 11S (amarantina) possui características moleculares
semelhantes às das globulinas de leguminosas, como, por exemplo, a soja,cujo
hidrolisado proteico possui atividade comprovada inibidora da enzima conversora
de angiotensina I.
Resposta
Glicêmica
Alguns autores avaliaram a digestibilidade de snacks
de amaranto em 11 mulheres e observaram uma resposta glicêmica alta,
semelhante ao pão branco. O resultado foi atribuído ao processamento do grão
(extrusão). Em outro estudo, conduzido por três semanas com ratos saudáveis,
diabéticos e diabéticos suplementados com grão de amaranto e óleo de amaranto,
observou-se que os níveis de glicose sérica e a tolerância à glicose melhoraram
nos ratos suplementados, assim como os parâmetros séricos como: CT, TG e
VLDL-C. A excreção fecal de colesterol, TG e ácidos biliares foi drasticamente
aumentada nos grupos suplementados, concluindo, portanto, que esta
suplementação melhora o metabolismo da glicose e lipídeos.
Síndrome
Metabólica (SM)
No Laboratório de
Fontes Proteicas da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp foi realizado um estudo experimental, do tipo longitudinal, com pessoas com
diagnóstico de SM, que teve como objetivo avaliar o efeito do consumo diário de
cookies de amaranto nos parâmetros da síndrome.
Participaram da pesquisa 18 indivíduos de ambos os
gêneros, com idades entre 33 e 55 anos. Os participantes consumiram
aleatoriamente 30g por dia de farinha de aveia ou amaranto na forma de cookies
durante 30 dias, sem outras alterações na dieta habitual.
Nenhuma diferença significativa foi observada para
os parâmetros da SM entre os grupos que consumiram aveia e amaranto. No
entanto, ambos os grupos apresentaram níveis significativamente mais baixos de
CT (11,68% e 11,51%, para a aveia e amaranto, respectivamente.), porém houve
redução de HDL-C (9,27%) no grupo aveia, enquanto o amaranto não apresentou
esse efeito, mas diminuiu LDL-C (12,73%). Nos voluntários que consumiram
amaranto houve redução da pressão sistólica (6,53%) e HOMA-IR (25,81%).
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Capriles, VD. Otimização de propriedades
nutricionais e sensoriais de produtos à base de amaranto enriquecidos com
frutanos, para intervenção em celíacos. [Tese de Doutorado] Universidade de São
Paulo – USP, 2009.
Farfan, JA; Marcílio, R; Spehar, CR. Deveria o
Brasil investir em novos grãos para sua alimentação? A proposta do amaranto (Amaranthus sp.). Rev Segurança Alimentar
e Nutricional 2005; v.12, n.1: p.47-56.
Rocha, LM. Amaranto? O que é isso, doutor? Rev
ABESO 2012; n.55: p.10-14.
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