A artrite reumatoide (AR) é uma
doença inflamatória autoimune progressiva com efeitos articulares e sistêmicos,
com prevalência estimada em 0,5%–1% da população, predominante em mulheres e na
faixa etária de 30 a 50 anos1.
A AR acomete simetricamente
pequenas e grandes articulações, principalmente mãos e pés. Além da deformidade
irreversível e da limitação funcional, os pacientes com AR e doença avançada
podem apresentar menor sobrevida2.
Nos últimos 10 anos, houve grande
avanço na elucidação dos mecanismos fisiopatológicos da AR, com implementação
de diferentes estratégias de tratamento. O período inicial da doença, em
especial seus 12 primeiros meses é considerado uma janela de oportunidade
terapêutica com a possibilidade de remissão sustentada da AR3.
A interação entre fatores
genéticos predisponentes e gatilhos ambientais é necessária para a manifestação
da doença. Segundo as evidências científicas, tabagismo, consumo de café,
obesidade, gravidez, maior peso ao nascer e menor nível socioeconômico estão
diretamente associados ao risco; enquanto que os antioxidantes alimentares e
amamentação são protetores4,5.
Tem sido proposto um possível
papel da microbiota na manifestação da AR. A disbiose cria um desequilíbrio nas
respostas imunes dos sistemas inato e adaptativo resultando no início de uma
cascata inflamatória, com posterior rompimento do tecido local e doença clínica6.
Vários agentes infecciosos, tais
como bactérias e vírus têm sido associados com a patogênese da AR. Se a
resposta inflamatória não for adequada e/ou a infecção não for controlada, a
persistência pode eventualmente resultar em inflamação crônica e autoimunidade.
Em modelos animais geneticamente predispostos, as bactérias do intestino induziram
a autoimunidade7.
As hipersensibilidades alimentares podem promover
reações autoimunes nas articulações. Frequentemente há uma associação entre a
ingestão de alimentos e a gravidade da AR. Portanto, a eliminação de possíveis
antígenos alimentares pode trazer benefícios clínicos à doença8,9.
Um estudo piloto demonstrou uma
melhora clínica da AR com dieta elementar por 2 semanas, sendo esta tão eficaz
quanto o tratamento com prednisolona oral (15mg/dia). Tal pesquisa apoiou a
ideia de que a AR pode ser uma reação a um antígeno alimentar, e que o processo
da doença começa no intestino10.
Outra pesquisa investigou a ligação entre o
intestino, a imunidade e a AR. Os anticorpos (IgG, IgA, e IgM) alimentares para
a α-lactoalbumina, β-lactoglobulina, caseína, gliadina, aveia, soja,
ovalbumina, peixe, bacalhau e carne de porco foram medidos no soro e fluido de
perfusão jejunal de pacientes com AR e controles saudáveis. A produção de
anticorpos reativos cruzados foi notavelmente maior no intestino de muitos
pacientes com AR8.
Um estudo randomizado mostrou que a dieta vegetariana livre de glúten melhorou
os sinais e sintomas da AR e reduziu os níveis de imunoglobulina G (IgG) do
anti-gliadina e anti-β-lactoglobulina9.
Em pacientes com AR, o sistema de
defesa antioxidante é comprometido, como evidenciado pelo aumento dos
marcadores de stress oxidativo, e diminuição dos níveis de enzimas
antioxidantes protetoras. Uma alimentação enriquecida com antioxidantes, como a
vitamina E11, vitamina C12, β-caroteno11,
licopeno12 e substâncias fenólicas11,12, tem sido
sugerida para melhorar os sintomas. Os benefícios clínicos também têm sido
atribuídos ao consumo de frutas e vegetais12.
Os ácidos graxos ômega-3 demonstraram melhora dos
sintomas clínicos da AR em vários estudos, com inibição da transmissão da dor
por suprimir a produção de citocinas e eicosanoides mais inflamatórios, e por
modular a sensibilização central induzida por dor inflamatória e neuropática.
Os efeitos benéficos do ômega 3 em várias doenças inflamatórias foram
explicados pela ação antagonista deste para a cascata do ácido araquidônico 13-14.
Portanto, a intervenção dietética pode melhorar os sintomas dos pacientes com
AR. Os mecanismos propostos incluem tratamento do intestino, remoção de
alérgenos, inclusão de alimentos/suplementos antioxidantes e antinflamatórios,
e uma redução de gorduras inflamatórias. A maioria dos estudos foi realizada em
modelos experimentais animais. Mais pesquisas randomizadas em humanos com um
período maior de intervenção são necessárias para confirmar os benefícios.
As informações contidas neste
blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais
da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos
e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Texto elaborado por: Fernanda Serpa de
Carvalho
Docente e
representante VP Consultoria Nutricional RJ
Diretora
Nutconsult
Nutrição Clínica
Funcional
Fitoterapia
Funcional
Mestre em
Clínica Médica
Consultório:
(21) 26101416
Referências Bibliográficas:
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