A glutamina é o aminoácido circulante mais abundante no sangue, e, embora seja classificado como aminoácido não essencial em estado de boa saúde, tem sido considerado um nutriente essencial em estados catabólicos, sendo, portanto, um aminoácido condicionalmente essencial.
As principais fontes
alimentares de glutamina são as carnes brancas e vermelhas, proteína isolada de
soja, leite e iogurte, ovos e queijo.
A glutamina é sintetizada em praticamente todos os
tecidos, principalmente na musculatura esquelética. Seu metabolismo é regulado
pelas enzimas glutaminase (que catalisa a hidrólise de glutamina em glutamato)
e glutamina sintetase (que converte o glutamato e amônia em glutamina e água).
Quando liberada pela musculatura esquelética, a glutamina apresenta as
seguintes funções:
● transporta nitrogênio
entre os órgãos, fazendo parte de várias proteínas corpóreas;
● constitui importante fonte
de energia para células de rápida proliferação, como: fibroblastos (importantes para a reparação tecidual); linfócitos (importantes para manter a
resposta imunológica) e as células do
epitélio intestinal (importantes para a manutenção da estrutura, do
metabolismo e das funções intestinais, principalmente em estados críticos, em
que a barreira mucosa do intestino pode estar comprometida);
● fornece nitrogênio para a
síntese de purinas, pirimidinas e nucleotídeos;
● precursora de
neuromediadores como o GABA (ácido gama aminobutírico) e o glutamato.
Indivíduos considerados
saudáveis, pesando aproximadamente 70kg, apresentam cerca de 70-80g de
glutamina, distribuída por diversos tecidos corporais. No sangue, a
concentração de glutamina é em torno de 500-700µmol/L. Tanto a concentração
tecidual, quanto a concentração sanguínea de glutamina podem ser influenciadas
de acordo com a atividade da glutamina sintetase ou da glutaminase. Alguns
tipos de células, tais como células do sistema imune, rins e intestinos,
apresentam elevada atividade da glutaminase, sendo assim considerados tecidos
predominantemente consumidores de glutamina. Por outro lado, os músculos
esqueléticos, os pulmões, o fígado, o cérebro e, possivelmente, o tecido
adiposo apresentam elevada atividade da
enzima glutamina sintetase, sendo assim considerados tecidos predominantemente
sintetizadores de glutamina.
Indicações
Os estudos têm demonstrado
que diversas situações caracterizadas por estresse metabólico determinam
alterações no fluxo interorgânico de glutamina, com diminuição de suas
concentrações no plasma e musculatura esquelética. Essas alterações são o
resultado do aumento da demanda de glutamina (em relação à sua disponibilidade)
no fígado, rins, intestino e sistema imune. São exemplos dessas situações:
síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS); após jejum prolongado;
caquexia por câncer; queimaduras; alterações imunológicas; desnutrição; trauma;
cirurgias (principalmente intestinais); alteração da flora bacteriana
intestinal; hipermetabolismo ou catabolismo.
Em estados infecciosos, a
manutenção ou melhora da resposta imune é fundamental para a sobrevida do
paciente. Linfócitos do tipo T, por exemplo, necessitam aumentar a sua
proliferação para responder a estímulos antigênicos, produzindo citocinas
importantes para a propagação da resposta imune. A proliferação de linfócitos é
regulada pela disponibilidade de glutamina. Adicionalmente, a diferenciação de
linfócitos do tipo B necessita de diferenciação para produzir anticorpos,
contudo, esta função é dependente exclusivamente da concentração de glutamina,
não podendo ser mimetizada por qualquer outro aminoácido.
Em estados inflamatórios,
incluindo traumas e a sepse, o consumo de glutamina tanto por linfócitos quanto
por outras células do sistema imune, tais como neutrófilos e macrófagos
aumentam intensamente.
O aumento da demanda de
glutamina por células do sistema imune, em conjunto com a elevação da
utilização do mesmo aminoácido por outros tecidos leva a um déficit de
glutamina no organismo. Como resultado da menor disponibilidade de glutamina,
células do sistema imune tem sua capacidade de proliferação, diferenciação e
funções limitadas. Estima-se que quando a concentração de glutamina plasmática
baixa próxima de 0,4mmol (normal é 0,6mmol) o sistema imunológico tem suas
funções comprometidas.
Recomendações
Sugere-se que provavelmente
haja uma depleção de glutamina durante os estados hipercatabólicos com um
impacto negativo sobre a celularidade da mucosa intestinal. Isso justificaria a
ideia de que a suplementação de glutamina traria benefício clínico por fortalecer
a barreira mecânica contra a penetração de microrganismos e toxinas causadores
de sepse endógena, barreira essa representada por uma mucosa intestinal
trófica. A recomendação diária de glutamina é de 0,3 a 0,5g/kg/peso/dia.
Alguns
autores avaliaram 60 pacientes politraumatizados em estudo prospectivo,
randomizado e controlado, isocalórico e isonitrogenado, utilizando misturas
nutrititvas oligomonoméricas, com 3,5 e 30,5g% de glutamina nos grupos-controle
e estudo, respectivamente, por um período de 5 dias ininterruptos, e mostraram
o seguinte: uma frequência baixa de pneumonia, sepse e bacteremia nos pacientes
que receberam nutrição enteral suplementada com glutamina.
A
glutamina é igualmente utilizada tanto pelo polo arterial como pelo polo
luminal do enterócito, devendo ser administrada nas quantidades preconizadas
anteriormente para nutrição enteral, na forma de pó cristalino, e para a
nutrição parenteral total, na forma de dipeptídeo alanilglutamina, em solução a
20% e frasco com volume de 50ml, contendo 13,46g de glutamina pura. Deve ser
administrada nas quantidades entre 1,5 a 2,0ml/kg de peso atual/dia, no máximo,
e essa quantidade não deve ser somada e contada como proteína total
administrada para atingir a necessidade de proteínas por dia nos estados
hipermetabólicos, uma vez que é somente um aminoácido e não uma proteína
completa.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Caruso, L; Simony, RF;
Silva, ALND. Dietas hospitalares: uma abordagem na prática clínica. 1. ed. São
Paulo: Editora Atheneu, 2004.
Cruzat, VF. Efeito da
suplementação com L-glutamina livre e na forma de dipeptídeo sobre eixo
glutamina-glutationa, sistema imune, sistema inflamatório e vias de sinalização
proteica em camundongos submetidos à endotoxinas. [Tese de Doutorado].
Universidade de São Paulo – USP, 2013.
Magnoni, D; Cukier, C.
Perguntas e Respostas em Nutrição Clínica. 2 ed. São Paulo: Roca, 2004.
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