domingo, 15 de março de 2015

Fósforo



     O fósforo é um mineral fundamental ao organismo humano, está amplamente distribuído nos alimentos e possui boa eficiência na absorção. No organismo, a maior parte do fósforo que não se encontra mineralizado nos tecidos está na forma de fosfato inorgânico, a forma livre, ou orgânico, a forma covalentemente ligada a açúcares, proteínas e outros componentes celulares.

    Cerca de 85% do fósforo encontra-se nos ossos e nos dentes, sob a forma de fosfato de cálcio, conferindo resistência a esses tecidos; o restante distribui-se por todas as células e pelos fluidos extracelulares no organismo na forma de fosfato, desempenhando diversas funções, principalmente participando do metabolismo energético como parte das adenosinas tri, di e monofosfato (ATP, ADP e AMP). A ATP é normalmente o grupo fosfato mais associado à geração de calor e à síntese de ligações entre substâncias e compostos.

    Além das funções referidas, o fósforo participa dos processos de crescimento, manutenção e reparo dos tecidos orgânicos; tem função nos transportadores celulares e participa do metabolismo dos carboidratos por meio de enzimas e da ativação da tiamina (Vitamina B1). Também é componente das lipoproteínas e dos fosfolipídios, sendo as primeiras responsáveis pelo transporte dos ácidos graxos no organismo e um dos componentes de todas as membranas celulares do corpo humano. Estabelece as ligações entre os nucleotídeos do DNA e RNA por meio dos grupamentos de fosfato, e age como bloqueador para manter o pH dos sistemas biológicos.

Metabolismo

    Em adultos, aproximadamente 55% a 70% do fósforo total ingerido pela dieta é absorvido. O fósforo alimentar é uma mistura das formas orgânicas e inorgânicas do mineral, sendo que a absorção ocorre mais na forma inorgânica, após as fosfatases intestinais hidrolisarem o fósforo orgânico.

   A absorção depende significativamente do pH intestinal, sendo que o meio ácido da porção mais proximal do duodeno é importante para a manutenção da solubilidade do fósforo, aumentando sua biodisponibilidade. A combinação com cálcio e sódio no intestino, podendo formar fosfatos de sódio, dicálcico ou tricálcico, a combinação com ácido fítico e a ingestão de alumínio a partir de antiácidos diminuem a biodisponibilidade do fósforo. Uma dieta rica em cálcio ou alumínio pode agravar essa situação, no entanto, níveis normais de cálcio não interferem com o processo absortivo. A absorção tanto de cálcio quanto de fósforo chega a ser ótima quando a relação Ca/P é próxima de 1.







  Diferentemente do cálcio, a baixa ingestão de fósforo parece não gerar um mecanismo de adaptação que estimule sua absorção. O fósforo é absorvido em todo o intestino delgado, por transporte ativo no duodeno, num sistema de cotransporte com o íon sódio. A vitamina D aumenta seu transporte  dependente de sódio. Já no jejuno e no íleo, a absorção ocorre por difusão passiva.

  No plasma, o fósforo é transportado unido o cálcio, magnésio, sódio e proteínas. Da mesma forma que o cálcio, porém de forma menos precisa, o fósforo também possui um sistema de regulação de sua concentração no plasma, uma vez que uma situação de hipofosfatemia ocasiona transferência de fosfato do osso para o sangue a fim de normalizar sua concentração plasmática, sendo que o osso atua como um reservatório desse mineral.  

  A excreção ocorre por via renal, onde as perdas aumentam em virtude de aumento da concentração sanguínea mineral, sendo este o mecanismo primário de sua homeostase no corpo humano.  

Avaliação do Estado Nutricional do Fósforo

   Em adultos, a concentração total de fósforo no sangue é de 35 a 45mg/dL, sendo a maior parte em fosfolipídios de células vermelhas e em lipoproteínas do plasma. Um total de 10% está na forma de fosfato inorgânico, a forma mais rapidamente utilizada pelo organismo, e seus níveis plasmáticos normais variam de 2,5 a 4,5 mg/dL em adultos; 3,5 a 6,8 mg/dL em crianças e 4,2 a 9,0 mg/dL em lactentes.

Ingestão e Fontes Alimentares

  Alimentos proteicos são as principais fontes de fósforo, inclusive as leguminosas e oleaginosas. No entanto, as fontes vegetais contêm uma parte do fósforo na forma de ácido fítico, que não é disponível para absorção do organismo. Em alguns alimentos, por colonização bacteriana, há a presença da enzima fitase, que hidrolisa o ácido fítico e disponibiliza parte do fósforo para absorção. Isso também ocorre pelos processos de fermentação, aumentando em até 50% a disponibilidade do fósforo vindo do ácido fítico.



  As principais fontes alimentares de fósforo são os alimentos proteicos (carnes, leite, leguminosas e oleaginosas), mas os cereais, legumes, verduras e frutas também são boas fontes do mineral, comprovando sua ampla distribuição nos diversos grupos de alimentos.

  Os aditivos de polifosfatos, utilizados no processamento industrial, podem aumentar a quantidade de fósforo de alguns alimentos industrializados, como nas bebidas carbonatadas.  

Recomendações de Ingestão de Fósforo

    A necessidade diária de fósforo é estimada entre 100 e 1.250 mg/dia. A recomendação de ingestão aumenta para as mulheres no período da gestação e lactação, segundo a ingestão diária recomendada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

  
Na osteoporose, a preocupação com a baixa ingestão de fósforo deve ser ressaltada quando do tratamento com agentes estimulantes da formação óssea, como o PTH. Ainda não há evidência de que a redução da oferta de fósforo possa contribuir para o desenvolvimento da osteoporose. A ingestão de fósforo deve ser estimulada concomitantemente à ingestão de cálcio.

Quadro 1. Ingestão dietética recomendada (RDA) para o fósforo.

Idade
Homens (mg/dia)
Mulheres (mg/dia)
Crianças e Adolescentes


1-3 anos
460
460
4-8 anos
500
500
9-13 anos
1.250
1.250
14-18 anos
1.250
1.250
Adultos


19-30 anos
700
700
31-50 anos
700
700
51-70 anos
700
700
˃ 70 anos
700
700
Gravidez


≤ 18 anos

1.250
19-30 anos

700
31-50 anos

700
Lactação


≤ 18 anos

1.250
19-30 anos

700
31-50 anos

700
Fonte: Cozzolino, 2005.

Deficiência de Fósforo
           
  
Indivíduos normais em dieta geral usualmente têm oferta exógena de fósforo acima das quantidades diárias de ingestão recomendadas, devido à ampla disposição desse mineral nos alimentos, somando-se a isso a alta proporção de absorção no intestino. Portanto, são raras as situações de carência de tal mineral decorrente da ingestão alimentar. No entanto, em indivíduos idosos e ainda naqueles que fazem restrição alimentar ou têm alguma condição impedindo a absorção ou aumentando a excreção, não é incomum ocorrer balanço negativo de fósforo.

    Nas dietas vegetarianas estritas, a maior parte do fósforo está na forma de fitatos, pouco digeridos em humanos devido à ausência da enzima fitase. Alguns alimentos, as bactérias intestinais e o levedo utilizado na fabricação de pães possuem essa enzima para hidrolisar o fósforo do fitato, sendo que esses alimentos e bactérias contribuem para tornar disponível certa quantidade de fósforo para absorção no trato gastrointestinal.

     No alcoolismo crônico, a diminuição da ingestão alimentar e da absorção, assim como o aumento da excreção urinária de fósforo, são fatores que contribuem para a deficiência nessa condição.

Toxicidade

     O excesso de ingestão de fósforo é expresso como hiperfosfatemia e essencialmente todos os efeitos adversos do fósforo se dão por causa do elevado teor desse mineral no fluido extracelular. Os principais efeitos atribuídos à hiperfosfatemia são: ajustes no controle do sistema hormonal regulando a economia de cálcio; calcificação, em particular do rim; aumento da porosidade dos ossos; e possivelmente redução na absorção de cálcio. Atualmente, maior atenção tem sido dispensada em relação à alta ingestão de fósforo por meio de bebidas carbonatadas e de aditivos de fosfato adicionados a diversos alimentos.


As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:



Cozzolino, SMF; Bortolli, MC; Cominetti, C. Grupo dos feijões e oleaginosas. In: Philippi, ST. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2008.

Silva, AGH; Cozzolino, SMF. Fósforo. In: Cozzolino, SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2005.

Vannucchi, H; Monteiro, TH. Fósforo. São Paulo: ILSI Brasil-Internacional Life Sciences Institute do Brasil, 2010.


 

 

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