segunda-feira, 4 de maio de 2015

Pereskia aculeata Miller (ora-pro-nobis)



         A utilização de Plantas Alimentícias não Convencionais (PANC’s) tem sido amplamente divulgada atualmente.  Apesar da carência de estudos, tem se verificado que estas plantas apresentam, em sua maioria, teores de nutrientes significativamente superior as plantas comestíveis domesticadas e cultivadas.

            Entre elas podemos citar Pereskia aculeata Miller, conhecida como ora-pro-nobis, lobrodo, carne dos pobres ou groselha da América. È uma espécie nativa dos trópicos americanos, ocorrendo da Flórida, nos Estados Unidos, até o norte da Argentina.  No Brasil, há relatos dessa espécie em uma vasta extensão territorial que vai deste os estados do Rio Grande do Sul até a Bahia.

Pereskia aculeata é uma planta perene, com características de trepadeira, mas pode crescer sem a presença de amparo com folhas verdes, suculentas e lanceoladas. As flores são pequenas e brancas, possui fruto pomaceo, tipo cactidio, com sementes imersas em uma massa gelatinosa, a sua cor varia entre o amarelo e o vermelho (Rosa & Souza, 2003). No caule há a presença de acúleos (falsos espinhos), que nos ramos mais velhos crescem aglomerados (Brasil, 2010).

Na medicina popular, o ora-pro-nobis é também utilizado no abrandamento dos processos inflamatórios e na recuperação da pele em casos de queimadura melhora em processo de cicatrização e apresenta ação antioxidante. O extrato aquoso e a mucilagem de suas folhas mostram resultados farmacológicos promissores.

Com base nesses relatos, pesquisas científicas buscam esclarecer os mecanismos de ação e a composição química que esta espécie apresenta. Esterois (sitosterol e estigmasterol), flavonoides e fenois são reportados em folhas de ora-pro-nobis. Outras pesquisam mostram que ocorre inibição da proliferação de células cancerígenas MCF-7 e HL60 e que fenois são os responsáveis pela ação antioxidante.  Também foram encontrados ação antibacteriana em bactérias gram positivas utilizando óleo de Pereskia aculeata.
  
Na alimentação, apresentando uma característica mucilaginosa e ausência de toxicidade, suas folhas são consumidas na forma de saladas ou em alimentos preparados, como sopas, refogados, mistos, mexidos e omeletes além servir de base na preparação de farinhas para produtos como massas e pães.

 Além da alimentação, a planta pode ser utilizada como planta ornamental e cultivada para fins de produção de mel pelos apicultores, pois apresenta floração rica em pólen e néctar.

Estudos revelam que o ora-pro-nobis possui elevados teores de proteína (20%), lipídios (2,07%) fibras dietéticas totais (39%), minerais, principalmente ferro, cálcio, magnésio, manganês e zinco, e vitaminas, A, C e Ácido fólico. A avaliação do teor de aminoácidos evidenciou que essa planta possui triptofano como o aminoácido mais abundante e lisina e metionina como os aminoácidos limitantes.
  
Apesar da importância e do potencial alimentício do ora-pro-nobis, pouco se tem feito para expandir o conhecimento de matérias primas, diferentes, não convencionais e ao mesmo tempo acessíveis à população, dando ênfase, principalmente, ao aproveitamento destes alimentos visando diminuir custos, melhorando a qualidade nutricional do cardápio.

            De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, mais de 900 milhões de pessoas no mundo se alimentam menos que o suficiente para serem consideradas saudáveis, um cenário que torna políticas públicas de segurança alimentar imperativas para o desenvolvimento social.  Neste âmbito, pesquisas que busquem inovações no setor produtivo de alimentos com plantas não convencionais atendem o setor de inovação tecnológica, pois busca técnicas de produção de alimentos sem degradar o ambiente, satisfazer às necessidades nutricionais de uma população humana que cresce e envelhece, além de diminuir o desperdício e aumentar a qualidade de da dieta.
  
              Neste sentido, torna-se necessário o incentivo do consumo destas hortaliças potenciais com enfoque no cultivo e utilização destas espécies de ocorrência espontânea como o ora-pro-nobis, que apresentam destacado potencial alimentício, produtivo e mercadológico.

Texto elaborado por: Lucéia Souza.

Nutricionista formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pelo Instituto de Ciência e Tecnologia dos Alimentos (ICTA) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Doutora em Fitotecnia, ênfase em Horticultura pelo Departamento de Horticultura e Silvicultura da Faculdade de Agronomia da UFRGS. 

Possui experiência em Nutrição Experimental e compostos bioativos. 

Desenvolve projetos nas áreas de Alimentos Orgânicos, Plantas Medicinais e Aromáticas e Plantas Alimentícias não Convencionais no contexto da Segurança alimentar. 

Atualmente pós-doutoranda do Laboratório de Plantas medicinais e aromáticas da Universitá Degli Studi di Salerno (Itália).

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas: 

1-     ALMEIDA, M.E.F. et al. Caracterização química das hortaliças não-convencionais conhecidas como ora-pro-nobis. Biosciense Journal, Uberlandia, v. 30, n.1, p. 431-439, 2014.

2-     BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. Manual de Hortaliças Não-Convencionais. Brasília, DF: Mapa/ACS, 2010.

3-     FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION (FAO). Building on Gender, Agrobiodiversity and Local Knowledge: A Training Manual. Rome: Gender and Development Service, Sustainable Development Department, FAO. 2005.

4-     KINUPP, V.F.; BARROS, I.B.I. de. Riqueza de plantas alimentícias não-convencionais na Região Metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Biociências. Porto Alegre, V. 15, supl. 1, p. 63-65, 2007

5-       ROSA, S.M; SOUZA, L.A. Morfo-Anatomia do fruto (hipanto, pericarpo e semente) em desenvolvimento de Pereskia aculeata Miller (cactácea). Acta Scientiarum. Biological Sciences .Maringá, v. 25, no. 2, p. 415-428, 2003.


6-     SOUZA et al., Chemical Composition and Biological Activities of the Essential Oils from Two Pereskia Species Grown in Brazil. Revista Natural Product Communications. V. 9, n.12, p.1805-1808. 2014.

7-     SOUZA, L.F. Aspectos Fitotécnicos, Bromatológicas e Componentes Bioativos de Pereskia aculeata, Pereskia grandifolia e Anredera cordifolia. Tese de Doutorado em Fitotecnia. Faculdade de Agronomia, 130f. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.

Nenhum comentário: