A utilização de Plantas Alimentícias
não Convencionais (PANC’s) tem sido amplamente divulgada atualmente. Apesar da carência de estudos, tem se
verificado que estas plantas apresentam, em sua maioria, teores de nutrientes
significativamente superior as plantas comestíveis domesticadas e cultivadas.
Entre elas podemos citar Pereskia aculeata Miller, conhecida como
ora-pro-nobis, lobrodo, carne dos pobres ou groselha da América. È uma espécie nativa
dos trópicos americanos, ocorrendo da Flórida, nos Estados Unidos, até o norte
da Argentina. No Brasil, há relatos dessa
espécie em uma vasta extensão territorial que vai deste os estados do Rio
Grande do Sul até a Bahia.
Pereskia aculeata é uma planta perene, com
características de trepadeira, mas pode crescer sem a presença de amparo com
folhas verdes, suculentas e lanceoladas. As flores são pequenas e brancas,
possui fruto pomaceo, tipo cactidio, com sementes imersas em uma massa
gelatinosa, a sua cor varia entre o amarelo e o vermelho (Rosa & Souza,
2003). No caule há a presença de acúleos (falsos espinhos), que nos ramos mais
velhos crescem aglomerados (Brasil, 2010).
Na
medicina popular, o ora-pro-nobis é também utilizado no abrandamento dos
processos inflamatórios e na recuperação da pele em casos de queimadura melhora
em processo de cicatrização e apresenta ação antioxidante. O extrato aquoso e a
mucilagem de suas folhas mostram resultados farmacológicos promissores.
Com base
nesses relatos, pesquisas científicas buscam esclarecer os mecanismos de ação e
a composição química que esta espécie apresenta. Esterois (sitosterol e
estigmasterol), flavonoides e fenois são reportados em folhas de ora-pro-nobis.
Outras pesquisam mostram que ocorre inibição da proliferação de células
cancerígenas MCF-7 e HL60 e que fenois são os responsáveis pela ação
antioxidante. Também foram encontrados
ação antibacteriana em bactérias gram positivas utilizando óleo de Pereskia aculeata.
Na alimentação, apresentando uma
característica mucilaginosa e ausência de toxicidade, suas folhas são
consumidas na forma de saladas ou em alimentos preparados, como sopas,
refogados, mistos, mexidos e omeletes além servir de base na preparação de
farinhas para produtos como massas e pães.
Além da alimentação, a planta pode ser
utilizada como planta ornamental e cultivada para fins de produção de mel pelos
apicultores, pois apresenta floração rica em pólen e néctar.
Estudos revelam que o ora-pro-nobis
possui elevados teores de proteína (20%), lipídios (2,07%) fibras dietéticas
totais (39%), minerais, principalmente ferro, cálcio, magnésio, manganês e
zinco, e vitaminas, A, C e Ácido fólico. A avaliação do teor de aminoácidos
evidenciou que essa planta possui triptofano como o aminoácido mais abundante e
lisina e metionina como os aminoácidos limitantes.
Apesar da importância e do potencial alimentício do ora-pro-nobis, pouco
se tem feito para expandir o conhecimento de matérias primas, diferentes, não
convencionais e ao mesmo tempo acessíveis à população, dando ênfase,
principalmente, ao aproveitamento destes alimentos visando diminuir custos,
melhorando a qualidade nutricional do cardápio.
De acordo com a Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, mais de 900 milhões de pessoas no
mundo se alimentam menos que o suficiente para serem consideradas saudáveis, um
cenário que torna políticas públicas de segurança alimentar imperativas para o
desenvolvimento social. Neste âmbito,
pesquisas que busquem inovações no setor produtivo de alimentos com plantas não
convencionais atendem o setor de inovação tecnológica, pois busca técnicas de
produção de alimentos sem degradar o ambiente, satisfazer às necessidades
nutricionais de uma população humana que cresce e envelhece, além de diminuir o
desperdício e aumentar a qualidade de da dieta.
Neste sentido, torna-se necessário o incentivo do consumo destas
hortaliças potenciais com enfoque no cultivo e utilização destas espécies de
ocorrência espontânea como o ora-pro-nobis, que apresentam destacado potencial
alimentício, produtivo e mercadológico.
Texto elaborado por: Lucéia
Souza.
Nutricionista
formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Mestre em
Ciência e Tecnologia de Alimentos pelo Instituto de Ciência e Tecnologia dos
Alimentos (ICTA) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Doutora em
Fitotecnia, ênfase em Horticultura pelo Departamento de Horticultura e
Silvicultura da Faculdade de Agronomia da UFRGS.
Possui
experiência em Nutrição Experimental e compostos bioativos.
Desenvolve
projetos nas áreas de Alimentos Orgânicos, Plantas Medicinais e Aromáticas e
Plantas Alimentícias não Convencionais no contexto da Segurança alimentar.
Atualmente pós-doutoranda
do Laboratório de Plantas medicinais e aromáticas da Universitá Degli Studi di
Salerno (Itália).
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
1- ALMEIDA, M.E.F. et al.
Caracterização química das hortaliças não-convencionais conhecidas como
ora-pro-nobis. Biosciense Journal, Uberlandia, v. 30, n.1, p. 431-439, 2014.
2- BRASIL. Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento
Agropecuário e Cooperativismo. Manual de Hortaliças Não-Convencionais.
Brasília, DF: Mapa/ACS, 2010.
3- FOOD
AND AGRICULTURE ORGANIZATION (FAO). Building on Gender, Agrobiodiversity and
Local Knowledge: A Training Manual. Rome: Gender and Development Service, Sustainable
Development Department, FAO. 2005.
4- KINUPP, V.F.; BARROS, I.B.I.
de. Riqueza de plantas alimentícias não-convencionais na Região Metropolitana
de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Biociências. Porto
Alegre, V. 15, supl. 1, p. 63-65, 2007
5-
ROSA,
S.M; SOUZA, L.A. Morfo-Anatomia do fruto (hipanto, pericarpo e semente) em
desenvolvimento de Pereskia aculeata Miller (cactácea). Acta Scientiarum. Biological Sciences .Maringá, v. 25, no. 2, p.
415-428, 2003.
6- SOUZA
et al., Chemical Composition and Biological Activities of the Essential Oils
from Two Pereskia Species Grown in Brazil. Revista Natural Product Communications. V. 9, n.12,
p.1805-1808. 2014.
7- SOUZA, L.F. Aspectos
Fitotécnicos, Bromatológicas e Componentes Bioativos de Pereskia aculeata,
Pereskia grandifolia e Anredera cordifolia. Tese de Doutorado em Fitotecnia.
Faculdade de Agronomia, 130f. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário