O iodo é a matéria
prima para a síntese de hormônios tireoidianos. Ele é captado ativamente pela
glândula tireoide após ser ingerido por meio da dieta. Essa glândula sintetiza
duas formas hormonais, a tiroxina (T4), chamada de pró-hormônio e a
triiodotironina (T3); esta última
considerada o hormônio biologicamente ativo. Os hormônios são formados desde a
fase fetal; portanto, o consumo adequado de iodo é necessário em todas as fases
da vida. Em condições normais, a ingestão média de iodo é de cerca de
200-500µg/dia. As principais fontes alimentares são os frutos do mar e os
derivados do leite e do pão. A baixa ingestão de iodo está relacionada à
presença do bócio endêmico, com redução da síntese de hormônios tireoidianos e
com o cretinismo.
Hipotireoidismo
É a doença mais comum que acomete a
tireoide e ocorre quando, por algum motivo, a glândula produz uma quantidade
insuficiente de seus hormônios, o T3 e o T4. A principal causa é um distúrbio autoimune,
conhecido como doença de Hashimoto. Sendo autoimune, é muito frequente em
pessoas com diabetes tipo 1, o qual tem também origem imunológica. Até 20-30%
dos pacientes com diabetes tipo 1 pode apresentar auto-anticorpos ou disfunção
tireoidiana, sendo o hipotireoidismo a forma mais comum.
Já em pacientes com diabetes tipo 2,
o hipotireoidismo é mais frequente do que em não diabéticos, principalmente na
sua forma mais leve, conhecida como hipotireoidismo subclínico. Por outro lado,
o hipotireoidismo pode afetar o diabetes, especialmente em quadros mais
avançados e quando se apresenta em idosos, por predispor a hipoglicemias, às
vezes mesmo sem o uso de insulina.
Por fim, a obesidade, por aumentar
os níveis de insulina e leptina, pode levar ao aumento do TSH (hormônio controlador
da função da tireoide) e levar a uma falsa impressão de hipotireoidismo nos
exames laboratoriais destes pacientes. Com a perda de peso, ocorre a
normalização do exame e neste caso a alteração tireoidiana é consequência e não
causa do ganho de peso.
Hipertireoidismo
É mais comum nas pessoas com mais
idade e com aumento do volume da glândula. Os de origem autoimune também são
mais comuns nos portadores de diabetes tipo 1, embora menos frequente que a
doença de Hashimoto. De forma reversa, o aumento de T3 e T4 no sangue de
pacientes com diabetes pode levar, dentre outras manifestações, a um aumento da
glicemia. Isso pode fazer com que os pacientes precisem de ajustes na dose de
medicações ou insulina. Pode ainda causar elevações de glicemia nos pacientes
que já apresentam risco elevado para diabetes, como por exemplo, aqueles com
glicemia de jejum alta.
Alimentar-se de forma equilibrada é
importante para a manutenção de peso ideal e da saúde plena. O mesmo se aplica
para as pessoas com algum distúrbio na tireoide, seja ele hipotireoidismo ou
hipertireoidismo.
Os micronutrientes, principalmente
iodo e selênio, além de ferro, zinco e vitamina A são necessários para o
funcionamento adequado da glândula tireoide.
O selênio
também é essencial para o funcionamento da tireoide por ser componente de três
enzimas selênio-dependentes (selenoproteínas), conhecidas como desiodases, que
são responsáveis pela conversão do pró-hormônio T4
em T3. Além disso, o
selênio também pode ser encontrado na forma de selenocisteína no centro
catalítico de enzimas que protegem a tiroide de danos causados por radicais
livres. O
consumo de alimentos fonte de selênio como, castanha do Pará, salmão, semente
de girassol são importantes para o melhor funcionamento da tireoide.
Estudos
têm demonstrado que a deficiência de ferro prejudica o metabolismo da tireoide,
por diminuir as concentrações plasmáticas totais de T4
e T3, e reduzir a
conversão de T4
em T3. Outras pesquisas
têm verificado que o zinco também é importante para a homeostase da tireoide.
Entretanto, o papel do zinco nessa regulação é complexo e pode incluir efeitos
sobre a síntese e modo de ação dos hormônios tireoidianos. A vitamina A, por
sua vez, modula o metabolismo da glândula tireoide, por influenciar a produção
de TSH pela hipófise. Têm sido descrito que a deficiência de vitamina A pode
causar hipertrofia da tireoide e reduzir a captação de iodo pela tireoide,
prejudicando a síntese de T4
e T3.
Alguns
estudos têm feito associação entre o glúten encontrado na farinha branca (pão
branco, macarrão, biscoito), aveia, e o desenvolvimento de doenças autoimunes
como a tireoidite de Hashimoto. Isso ocorre devido a uma sensibilidade ao
glúten, onde a molécula do glúten ao ser absorvida gera a produção de anticorpos
contra ela, o que provoca inflamação em diversas regiões do organismo,
inclusive na tireoide. Porém a restrição do glúten para doenças autoimunes da
tireoide ainda é controversa para indivíduos não portadores de doença celíaca.
A
intoxicação por metais tóxicos, especialmente o mercúrio, aumenta a
possibilidade de disfunção tireoidiana. Recomenda-se limitar o consumo a uma
vez ao mês dos peixes predatórios, como tubarão, peixe espada e cavalinha, e a
uma vez por semana dos peixes de risco médio de contaminação por mercúrio, como
no caso do filé de atum, cavala, garoupa e corvina.
Os
alimentos de origem vegetal que contem substâncias bociogênicas, são os do
gênero Brassica como a mostarda escura, nabo, rabanete, couve, brócolis e
repolho, que podem inibir a captação de iodo pela tireoide, favorecendo o
aparecimento do bócio e agravando, substancialmente, o processo adaptativo da
glândula tiroide, induzindo hipotireoidismo grave, tanto na primeira infância
como na idade adulta.
Além
do bloqueio da captação de iodeto pela tireoide, outras etapas da biossíntese
hormonal podem ser afetadas pelos alimentos. É o que acontece com as partes
comestíveis do babaçu, com nítido efeito inibitório na incorporação do iodeto,
agravando, portanto, as consequências deletérias da carência de iodo.
No
caso da soja, as principais toxinas são alergênicos, fitatos, inibidores da
protease, genisteína e goitrogênicos, através de uma substância que se liga ao
iodo evitando a sua absorção pelo organismo a partir do trato gastrointestinal.
Enquanto
os estudos não determinam o exato efeito dos produtos a base de soja no
metabolismo de hormônios da tireoide, o consumo excessivo de soja deve ser
visto com atenção.
A
deficiência de iodo também pode ser provocada pela alta ingestão de cálcio, que
diminui sua absorção pelo intestino.
Porém,
não existem artigos conclusivos dizendo que pessoas com hipotireoidismo devam
evitar esses alimentos. Normalmente, as pessoas com hipotireoidismo são
tratadas com hormônios e a ingestão desse medicamento deve ser em jejum, pois o
consumo de qualquer produto que contenha soja, assim como alimentos ricos em
fibras, suplementos de cálcio ou ferro e antiácidos contendo alumínio e
magnésio pode atrapalhar a absorção da medicação. Mas em outros horários ainda
há controvérsias se o consumo desses alimentos deve ser restrito. Até porque
eles têm efeito protetor para o organismo. O ideal seria ter uma alimentação
variada com dieta de rotação, ou seja, não consumir sempre o mesmo tipo de
alimento.
As
informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento
presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas,
psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente,
para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Alimentação e Tireoide.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Bertolucci, P. Alimentação e
saúde da tireoide. Disponível em: www.patriciabertolucci.com.br
Castro, RCB. Quais são os
principais nutrientes que regulam a função da tireoide? Disponível em:
www.nutritotal.com.br
Maia, CSC. O selênio e a
glândula tireoide: um estudo em pacientes portadores de disfunções tireoidianas
nos estados do Ceará e São Paulo. [Tese de Doutorado] Universidade de São Paulo
– USP, 2008.
Neto, AM. Quando a culpa é
da tireoide? Sociedade Brasileira de Diabetes, 2015.
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