A lactose é um açúcar presente no leite, assim como a frutose é o
açúcar da fruta, e a sacarose o açúcar da cana. Para ser absorvida pelo
intestino, a lactose necessita ser quebrada em porções menores por meio da ação
de uma enzima chamada lactase. A lactase, enzima fabricada pelo intestino
delgado, fica na superfície da mucosa intestinal e tem como função a quebra do
dissacarídeo lactose nos seus monossacarídeos glicose e galactose, facilitando
assim a absorção.
Quando há deficiência da lactase, mesmo que
parcial, as quantidades de lactose ingeridas não são hidrolisadas (quebradas) e
permanecem intactas no intestino delgado, atraindo água para a região e
provocando dores e edemas. A lactose não absorvida passa, então, para o
intestino grosso, sendo utilizada pelas bactérias (fermentação). Esse processo
produz gás e atrai ainda mais água. O resultado são dores, edemas,
flatulência e diarreia, além de a digestão e a absorção de outros
nutrientes ficarem comprometidas.
Essa condição
é muito prevalente na população adulta mundial, especialmente entre os
afrodescendentes, asiáticos e sul-americanos. Na
maioria da população mundial, após o desmame, há um declínio gradual na
atividade da lactase. Cerca de 75% das pessoas no mundo, à medida que
envelhecem, perdem a maior parte da sua capacidade de produzir lactase.
Pequenas
quantidades de lactose do leite podem ser muito toleradas pela maioria dos
adultos (cerca de 12g em 250ml de leite), além de produtos com teores reduzidos
de lactose, como queijo e iogurte, mesmo por aqueles que não digerem bem a
lactose. O consumo de leite em quantidades moderadas e fracionadas ao longo do
dia tem sido encorajado em todo o mundo, uma vez que é uma importante fonte de
proteína, cálcio e riboflavina.
Em
crianças, a intolerância à lactose é tipicamente secundária a uma infecção do
intestino delgado que pode causar destruição das células da mucosa intestinal.
Como a lactase é produzida na ponta das microvilosidades intestinais,
frequentemente é a primeira enzima perdida nas doenças intestinais, e o leite
deve ser reintroduzido o mais rápido possível.
Deficiência de Lactase
Há três tipos de deficiência de
lactase:
● Deficiência
genética ou primária: é uma disfunção rara resultante de herança
autossômica recessiva. Há poucos casos documentados no mundo, quase todos na
Finlândia e nenhum no Brasil. Os bebês que apresentam essa condição nascem
saudáveis e apresentam os sintomas nos primeiros dias de vida (distensão
abdominal, vômitos, diarreia líquida volumosa e de odor ácido) quando
amamentados ou alimentados com fórmulas lácteas. Outros sintomas que podem
ocorrer são: dermatite perianal e parada do crescimento se o leite for mantido.
O diagnóstico deve ser precoce em razão do elevado risco de desidratação e
risco de morte.
● Deficiência
secundária: é decorrente de condições patológicas que afetam a
integridade da mucosa gastrintestinal, sejam elas permanentes (doença celíaca,
galactosemia, doença de Crohn, retocolite ulcerativa, fibrose cística, grandes
ressecções intestinais ou transitórias (parasitoses, gastroenterites, infecção
por rotavírus, subnutrição proteico calórica)).
Em todas essas condições as alterações histológicas da mucosa intestinal
se tornam evidentes. Nas condições transitórias observa-se intolerância
temporária à lactose que se normaliza com a cura da infecção.
● Hiperlactasia
do adulto: caracteriza-se por diminuição da quantidade de lactase
produzida após o desmame. Essa condição é geneticamente determinada e
permanente e tem caráter autossômico recessivo, enquanto que a persistência da
atividade da enzima ao longo do dia é um traço autossômico dominante. As
manifestações dessa deficiência costumam ser evidentes por volta dos 2 aos 15
anos de idade, dependendo de condições raciais e culturais. Alguns dos sintomas
são distensão abdominal do tipo recorrente, flatulência e cólica abdominal do
tipo recorrente, em cólicas espasmódicas, periumbilical ou difusa no abdome, de
intensidade variável.
Diagnóstico
Atualmente,
o teste do hidrogênio expirado é uma das técnicas mais empregadas no
diagnóstico da má absorção de lactose. A fermentação da lactose não absorvida
pela flora colônica resulta na produção de hidrogênio. Parte desse gás será
eliminado pelos pulmões, podendo ser detectado no ar expirado. O aumento na
concentração de hidrogênio, em amostras de ar expirado, após a administração de
lactose, é indicativo de má absorção e fermentação desse carboidrato, uma vez
que não existem outras fontes endógenas para a produção de hidrogênio nos
mamíferos.
Recomendação de ingestão
De modo geral, a recomendação de
ingestão de leite e produtos lácteos é de três porções por dia.
Para indivíduos com
alactasia
Indica-se a exclusão de alimentos que contenham
lactose. Contudo esses indivíduos podem fazer uso da enzima lactase, existente
no mercado e, dessa forma, se beneficiar da qualidade nutricional do leite e
dos produtos lácteos. Esta enzima pode ser adicionada ao leite ou ingerida na
forma de medicamento. Uma vez adicionada ao leite, na quantidade indicada pelo
fabricante, o leite mantido sob-refrigeração por 24h estará pronto para o
consumo. Após a hidrólise da lactose, o produto fica mais doce em razão do
poder dulçor dos monossacarídeos glicose e galactose ser maior do que o da
lactose. A enzima também pode ser utilizada como medicamento adequando-se a
dosagem administrada à quantidade de leite ou produto lácteo ingerido.
Há também no mercado a enzima lactase
em forma de comprimido para ser ingerida antes da refeição que contenha
leite e/ou produtos lácteos.
Para essas pessoas recomenda-se ainda
a leitura atenta dos rótulos dos alimentos e medicamentos antes do consumo,
pois ainda que a lactose seja encontrada na natureza apenas no leite e alguns
derivados, há produtos alimentícios adicionados de leite ou propriamente de
lactose. Este dissacarídeo pode ser empregado em doces, produtos de
confeitaria, pães e molhos em razão de suas propriedades tecnológicas: modifica
textura, cor e capacidade de retenção de água de alimentos. A lactose também é
usada em inúmeros medicamentos como veículo ou excipiente.
Para
indivíduos com hipolactasia
Indica-se a redução e não a exclusão
de alimentos que contenham lactose, uma vez que grande parte desses indivíduos
chega a tolerar 12 g de lactose/dia sem apresentar sintomas. Entretanto, a
quantidade de lactose a ser consumida é muito variável de indivíduo para
indivíduo e dependerá da quantidade e do fracionamento da lactose ingerida e do
grau de deficiência da lactase.
Probióticos na
Intolerância à Lactose
Algumas cepas probióticas tem efeito favorável ao
melhorar os sintomas de pacientes com intolerância a lactose secundária, como
por exemplo, melhoram de dor abdominal, diarreia e absorção da lactose. Em
alguns estudos, com efeitos positivos na suplementação dos probióticos em
pacientes intolerantes a lactose, utilizou-se a cepa L. Bulgaricus.
Atribui-se a diminuição dos sintomas clínicos, graças a melhor digestibilidade
da lactose através de atividade enzimática semelhante à betagalactosidase,
produzida por lactobacilos.
Em outro estudo, que observou
melhora significante dos sintomas de intolerância a lactose, utilizou-se um
suplemento com base láctea enriquecido com L casei Shirota e Bifidobacteria
breve. O efeito benéfico, de probióticos na intolerância a lactose, parece
ser cepa dependente, pois existem alguns estudos com outras cepas bacterianas
em que não se observou diferença significante nos pacientes suplementados com
probióticos em relação ao grupo placebo, quanto aos sintomas clínicos de
intolerância como diarreia, dor abdominal e também no teste respiratório de
hidrogênio.
Ainda não existe um consenso
quanto ao tempo de uso de probiótico para essa indicação. Mas, chama a atenção,
um estudo que observou melhora da sintomatologia intestinal em pacientes
suplementados, com probiótico Lactobacillus Casei Shirota (107 UFC) e Bifidobacterium
Breve (10 9 UFC) por 4 semanas, particularmente por que os efeitos
benéficos persistiram após três meses da suspensão do probiótico.
De outro lado, sabemos que os
efeitos benéficos dos probióticos estão associados a sua presença no trato
digestivo, e, portanto poderíamos esperar que o seu consumo devesse ser contínuo.
São necessários mais estudos
científicos avaliando o tempo de uso e dos benefícios dos probióticos em
pacientes com intolerância à lactose.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
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