A pancreatite crônica é
decorrente da inflamação persistente do pâncreas, que leva a uma deficiência
funcional, com comprometimento da absorção, e por vezes com desenvolvimento de
diabetes por insuficiência na produção de insulina.
A sua origem está relacionada ao abuso do consumo de
bebidas alcoólicas, carcinoma, fibrose cística, fístula e dificuldade na
produção de enzimas. O tempo médio de consumo alcoólico necessário para o
desenvolvimento da pancreatite crônica é de 5 a 12 anos com ingestão diária de
40 a 50g de etanol, o que corresponde, segundo a Sociedade Brasileira de
Hipertensão, a uma média diária de 2,5 a 3 doses de aguardente e 2,5 a 3 latas
de cerveja por dia.
Normalmente os sintomas incluem dor abdominal, anorexia,
náuseas, vômitos, diarreia (sobretudo esteatorreia, presença de gordura em
excesso nas fezes) e desnutrição progressiva. A avaliação e o acompanhamento
nutricional são essenciais, podendo-se adotar os indicadores abaixo.
Quadro
1.
Indicadores para avaliação nutricional.
Antropométricos
|
Clínicos
|
Bioquímicos
|
Peso
|
Avaliação
nutricional subjetiva
|
Albumina
sérica
|
Altura
|
Exame
físico
|
Pré-albumina
sérica
|
Prega
cutânea do tríceps
|
Anamnese
alimentar
|
Hemograma
|
Circunferência
muscular do braço
|
|
Balanço
nitrogenado
|
|
|
Transferrina
sérica
|
Fonte:
Cuppari, 2002.
O hipermetabolismo na pancreatite crônica, na maioria dos
casos, é caracterizado por gasto energético em repouso 139% mais elevado do que
o valor previsto pela equação de Harris Benedict.
O catabolismo e a proteólise do músculo esquelético
aumentam as concentrações de aminoácidos aromáticos, diminuindo os níveis de
aminoácidos ramificados, acelerando a gênese da ureia. O nitrogênio da ureia
urinária pode aumentar de 20-40g/dia. Os aminoácidos livres circulantes
diminuem a 40% do normal. O nível de glutamina circulante cai cerca de 55% dos
valores-padrão, enquanto o nível no músculo esquelético tem uma queda de 15% do
normal.
Uma grave consequência da pancreatite crônica é a
subnutrição, sendo os principais fatores que a provocam: a diminuição da
ingestão alimentar, aumento da atividade metabólica (30 a 50%), disfunção na
absorção dos nutrientes, dores abdominais, diabetes e o abuso contínuo do
álcool.
Na fase inicial da doença, a digestão da gordura é mais
afetada do que a de carboidratos e proteínas. A diminuição da metabolização de
lipídios causa perda de peso grave. Quando há uma perda maior ou igual a 90% da
função exócrina do pâncreas pode ocorrer esteatorreia. A esteatorreia pode ser
observada em 30% dos pacientes com pancreatite crônica. Como consequência, a
esteatorreia ocasiona deficiências de vitaminas (A, D, E, K), vitamina B1,
ácido fólico e de minerais (cálcio, magnésio, zinco).
Na insuficiência pancreática exócrina, a digestão de
carboidratos é mantida principalmente pela amilase salivar e absorção
intestinal de oligossacarídeos. A perda da função endócrina conduz intolerância
à glicose, com ocorrência em 40 a 90% dos pacientes com pancreatite crônica, e
o desenvolvimento de diabetes classificada na pancreatite crônica como Diabetes
Mellitus Tipo III C1 ocorre em 20 a 30% desses pacientes.
Na fase mais avançada da pancreatite crônica, pode
ocorrer a azotorreia (perda de proteína nas fezes). É bem documentado que a
azatorreia só acontece quando a atividade secretora é de apenas 5 a 10% do
normal. A perda excessiva de proteína pode ocorrer devido à inflamação da
superfície peritoneal e retroperitoneal, diarreia ou formação de fístulas, que
são bastante frequentes nesses pacientes.
Recomendações
Nutricionais
A primeira prescrição terapêutica refere-se à
recomendação da abstinência alcoólica. Um maior fracionamento das refeições com
cerca de seis refeições ao dia e com menor volume também são recomendações
importantes no cuidado desses pacientes por causa do comprometimento na
secreção e produção de enzimas responsáveis pela digestão e absorção de
nutrientes.
A restrição de lipídios (< 20% das calorias totais)
faz-se necessária, uma vez que as gorduras precisam de enzimas pancreáticas
para digestão e absorção, e sua má absorção caracteriza esteatorreia. Em casos
em que há esteatorreia persistente é necessário se recomendar o uso de triglicerídeos
de cadeia média (TCM). A absorção intestinal do TCM independe da presença de
lipase pancreática e sais biliares, porém ele não apresenta boa palatabilidade
e pode trazer, como efeito colateral, náuseas, diarreia e dor abdominal. Não
está disponível na literatura informação precisa sobre a quantidade de TCM
adequado para os pacientes, porém há recomendação geral de valores máximos.
Alguns autores recomendam não ultrapassar 17% do valor calórico total, enquanto
outros indicam utilizar no máximo 15g por refeição. Caso não ocorra
esteatorreia, indica-se dieta normolipídica (30% do valor calórico total –VET),
rica em ácidos graxos de origem vegetal.
A alimentação deve ser rica em carboidratos quando não
ocorrer diabetes. A glicemia têm de ser acompanhada e na presença de
hiperglicemia persistente, as recomendações para diabetes devem ser adotadas.
Uma dieta pobre em fibras, pois afirmam que elas
interferem negativamente na função das enzimas pancreáticas e levam a um
esvaziamento gástrico lento, o que acarretaria diminuição da ingestão
alimentar. Segundo alguns autores uma dieta restrita em fibras deve ser
composta de 10 a 15g de fibras por dia.
A recomendação da ingestão proteica é de 1,0 a 1,5g/kg de
peso/dia. Em casos de ingestão calórica abaixo da proposta, recomenda-se a
suplementação oral de proteína, com melhor aceitação na forma de peptídeos.
Mediante a avaliação laboratorial por meio das dosagens
séricas de vitaminas e minerais, conforme a deficiência de micronutrientes,
indica-se a sua suplementação via oral por meio da seleção adequada dos
alimentos fontes para comporem a alimentação do paciente.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Caruso, L. Distúrbios do
Trato Digestório. In: Cuppari, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar
UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina - Nutrição. 1 ed. Baureri: Manole. 2002.
p.201-222.
Martins, BT; Basílio, MC;
Silva, MA. Nutrição aplicada e alimentação saudável. 1. ed. São Paulo: Editora
Senac São Paulo, 2014.
Silva, CS; Frangella, VS.
Cuidados nutricionais na pancreatite crônica: uma atualização. Rev O Mundo da
Saúde 2009; v.33, n.1, p.73-79.
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