A niacina, ao contrário das outras
vitaminas, foi descoberta como um composto químico, o ácido nicotínico,
produzido pela oxidação da nicotina em 1867, muito antes de se pensar que
tivesse alguma importância na nutrição. Sua função metabólica como precursor da
porção coenzima da nicotinamida nucleotídeo (NAD e NADP) foi descoberta em
1935. Não é usual classificar a niacina com letras e números, como outras
vitaminas do complexo B, pois a denominação B3, torna-se errônea, uma vez que
esse símbolo foi primeiramente utilizado para designar o ácido pantotênico. A
niacina ocorre sob a forma de dois compostos: ácido nicotínico e nicotinamida,
e no organismo as duas formas exercem as funções atribuídas à vitamina.
O
processo de absorção é o mesmo para ambos os compostos. Eles são rapidamente
absorvidos em porções do estômago e do intestino, por processo de transporte
ativo dependente de sódio (quando a niacina está em baixas concentrações) e
difusão passiva (quanto em altas concentrações); portanto, praticamente, toda
niacina ingerida parece ser absorvida. O excesso de niacina é excretado na
urina sob a forma de diversos metabólitos, sendo o principal deles o
N¹-metil-nicotinamida e seu derivado piridona. Em situações de ingestão
insuficiente de niacina, ela pode ser sintetizada a partir do triptofano, na
taxa de 60mg de triptofano para 1mg de ácido nicotínico. É uma conversão
dependente também da vitamina B6 e riboflavina.
A
niacina é essencial a quase todas as reações bioquímicas do metabolismo dos
macronutrientes para obtenção de energia na forma de ATP. A principal função é
exercida pelas coenzimas NAD e NADP, em que ambas participam de pelo menos 200
reações no metabolismo celular, principalmente nas de oxidação e de redução,
que ocorrem nas células. A NAD também participa de reações de catabolismo, na
glicólise (na conversão de glicose em piruvato) e no ciclo do ácido cítrico e é
rapidamente regenerada.
Ambas
as enzimas agem como receptores de íons H+, na remoção desses íons de moléculas
específicas. Quando isso acontece, a forma reduzida das coenzimas é
representada como NADH+H+ ou NADPH+H+. A forma NADPH+H+ é importante na via
bioquímica da síntese de ácidos graxos e também de hormônios. Além dessas
funções, a niacina protege os epitélios e o trato gastrointestinal, ajuda na
mobilização do cálcio e é necessária no reparo do DNA.
Recomendações
de Ingestão
Quadro
1. Valores de DRIs
para Niacina.
Estágio
de vida
|
EAR
(mg/dia)
|
RDA
(mg/dia)
|
UL
(mg/dia)
|
|
Recém-nascidos
e crianças
|
|
|
|
|
0-6 meses
|
-
|
2 (AI)
|
ND
|
|
7-12 meses
|
-
|
4 (AI)
|
ND
|
|
1-3 anos
|
5
|
6
|
10
|
|
4-8 anos
|
6
|
8
|
15
|
|
Homens
|
|
|
|
|
9-13 anos
|
9
|
12
|
20
|
|
14-18 anos
|
12
|
16
|
30
|
|
19-70 anos
|
12
|
16
|
35
|
|
> 70 anos
|
12
|
16
|
35
|
|
Mulheres
|
|
|
|
|
9-13 anos
|
9
|
12
|
20
|
|
14-18 anos
|
11
|
14
|
30
|
|
19-70 anos
|
11
|
14
|
35
|
|
> 70 anos
|
11
|
14
|
35
|
|
Gestantes
|
|
|
|
|
≤ 18 anos
|
14
|
18
|
30
|
|
19-50 anos
|
14
|
18
|
35
|
|
Lactantes
|
|
|
|
|
≤ 18 anos
|
13
|
17
|
30
|
|
19-50 anos
|
13
|
17
|
35
|
|
*EAR (Necessidade Média Estimada); RDA (Quota Diária Recomendada);
AI (Ingestão Adequada); UL (Limite Superior Tolerável de Ingestão).
Fonte: IOM (1998)/Cozzolino, 2005.
Fontes
Alimentares
Quantidades
significativas de niacina são encontradas na carne (especialmente carne
vermelha), fígado, legumes, leite, ovo, grãos de cereais, leveduras, peixe e
milho. Embora leite e ovos contenham pequenas quantidades de niacina
pré-formada, seu conteúdo em triptofano provê mais do que suficiente niacina
equivalente. A carne vermelha é uma das melhores fontes por sua abundância
tanto em niacina pré-formada quanto em triptofano. A niacina também está
presente nos cereais, entretanto esta não é biologicamente disponível, uma vez
que se encontra na forma esterificada. No farelo de trigo cerca de 60% da
niacina estão esterificados a polissacarídeos e o restante, a polipeptídeos e
glicopeptídeos. O tratamento dos cereais com álcalis leva à liberação do ácido
nicotínico, motivo pelo qual no México, por causa da utilização de tortilhas
preparadas com milho que sofreu tratamento com solução de hidróxido de cálcio,
a incidência de pelagra não é alta.
Quadro
2. Conteúdo de
niacina em alimentos considerados fonte.
Alimento
|
Medida usual
|
Quantidade (g)
|
Niacina (mg)
|
Fígado
cozido
|
1
unidade
|
100
|
17,5
|
Salmão
cozido
|
2
filés
|
200
|
15,0
|
Peito
de frango sem pele
|
1
unidade
|
100
|
13,7
|
Atum
enlatado em óleo
|
2
½ colheres de sopa
|
112,5
|
13,2
|
Peito
de peru assado
|
1
filé
|
100
|
6,4
|
Carne
moída (20% gordura)
|
3
½ colheres de sopa
|
63
|
3,7
|
Bacalhau
cozido
|
1
pedaço
|
135
|
3,3
|
Camarão
no vapor
|
13
unidades
|
104
|
2,6
|
Tilápia
cozida
|
2
filés
|
200
|
2,6
|
Linguiça
defumada
|
1
gomo
|
50
|
1,6
|
Amendoim
|
25
unidades
|
10
|
1,3
|
Arroz
branco cozido
|
4
colheres de sopa
|
125
|
2,9
|
Batata
inglesa cozida
|
1
½ unidade
|
202,5
|
2,8
|
Arroz
integral cozido
|
6
colheres de sopa
|
198
|
2,6
|
Goiaba
|
½
unidade
|
95
|
1,1
|
Morango
|
10
unidades
|
240
|
1,0
|
Abacate
amassado
|
4
colheres de sopa
|
120
|
2,0
|
Tomate
comum
|
1
unidade
|
109
|
0,7
|
Cenoura
crua
|
1
unidade
|
84
|
0,8
|
Fonte: Philippi, ST. 2008.
Deficiência
de Niacina
A
primeira descrição de pelagra (a deficiência clássica em niacina) ocorreu na
Espanha e foi denominada pelo médico Casal em 1735 como “mar de la rosa” (doença da rosa). O nome atual foi atribuído
tempos mais tarde, pelo médico italiano Frapolli: “pelle” + “agra” (pele
rugosa), em 1771.
A
pelagra é conhecida como a doença dos 3 Ds – dermatite, demência e diarreia. A
dermatite caracteriza-se por lesões cutâneas fotossensíveis, como queimaduras
solares, e também aparece em regiões não expostas à luz do sol, mas sujeitas a
pressões. A demência ocorre em estágios mais avançados da deficiência e
caracteriza-se como uma depressão psicótica, em que o paciente apresenta fases
de surto alternadas com repentinos momentos de lucidez. Além desses sintomas, a
deficiência da vitamina também provoca perda de apetite, insônia, glossite e,
se não for tratada, pode levar à morte. A população em geral não se encontra em
risco de deficiência, no entanto, não é um quadro raro entre alcoólicos. Estes,
além da ingestão inadequada, precisam de maior quantidade de niacina, uma vez
que o metabolismo do etanol é dependente de NAD.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Cozzolino, SMF;
Cominetti, C; Bortoli, MC. Grupo
das Carnes e Ovos. In: Philippi, ST. Pirâmide dos
Alimentos: fundamentos básicos da nutrição. 1. ed. Barueri, São Paulo: Manole,
2008.
Vannucchi, H;
Chiarello, PG. Niacina. In: Cozzolino, SMF.
Biodisponibilidade de nutrientes. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2005.
Vannucchi, H.; Cunha, SFC. Vitaminas do
Complexo B. International
Life Sciences Institute – ILSI, 2009
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