quarta-feira, 6 de março de 2019

Hipovitaminose D e Doenças Autoimunes


O termo vitamina D refere-se a um esteroide catalisado por ação de enzimas e não pode ser considerada apenas uma vitamina, pois não é obtida de forma exclusiva da alimentação, sendo assim, sua maior parte produzida pelo organismo com a exposição à radiação solar ultravioleta B (290 a 315nm) em contato com seu precursor cutâneo, 7-Dehidrocolesterol, sendo convertida em pré-vitamina D.

A vitamina D é consolidada pela sua importância no metabolismo do cálcio e formação óssea. Novas descobertas evidenciam que sua ação vai além da função clássica, e são essas funções que vêm chamando a atenção da comunidade científica, pois estudos demonstram o impacto de níveis circulantes insuficientes de vitamina D no desenvolvimento de problemas crônicos de saúde, como doenças cardiovasculares e hipertensão.

A deficiência de vitamina D, além de causar a redução da absorção de cálcio intestinal e diminuição de cálcio sérico, aumenta o risco de morte por câncer, é associada a doenças crônicas não transmissíveis, entre elas as de caráter imunológico, como, por exemplo, lúpus eritematosos sistêmicos, esclerose múltipla, doença inflamatória do intestino, artrite reumatoide, tireoidite de Hashimoto, psoríase, vitiligo e diabetes tipo 1. Pessoas que vivem em latitudes distantes dos trópicos têm aumentado o risco de deficiência desta vitamina, devido à diminuição da exposição solar e longos invernos. 



O papel da vitamina D no sistema imunitário tem sido bem definido nos últimos anos, especialmente em autoimunidade e nas respostas imunitárias inatas e adaptativas, pois a vitamina D apresenta o seu receptor de ligação o VDR-RXR nas células deste sistema, entre elas, linfócitos T e B, monócitos, macrófagos e células apresentadoras de dentritos. Foi visto que calcitriol exerce ação em cerca de 10% dos genes ou 2776 expressões gênicas através da ligação do receptor nuclear de vitamina D, sendo modulado de forma direta e indireta.

A autoimunidade possui uma associação com polimorfismo do gene CYP27B1, resultando em um quadro de hipovitaminose D. Altas doses de vitamina D3 levando a doses suprafisiológicas podem compensar o estado genético relacionado com a deficiência de vitamina D, reestabelecendo a autotolerância imunológica.

Os níveis de calcitriol são determinados pela ação da CYP27B1, no entanto, as células do sistema imunológico, em especial os macrófagos e células dendríticas, também expressam a 1 ɑ-hidroxilase e são capazes de converter a forma circulante de 25-(OH)D3 para o hormônio ativo.

Nos linfócitos B, o calcitriol exerce a homeostase, com redução da produção de imunoglobulinas, diminui a proliferação desses linfócitos e ainda atua na diferenciação das células plasmáticas e nos linfócitos B de memória. Esse efeito que o calcitriol exerce nas células B tem um fator clinicamente importante em doenças autoimunes, já que as células B produzem anticorpos reativos que estão ligados na fisiopatologia da autoimunidade.

As células apresentadoras de antígenos, em particular as células dendríticas (DC), também são alvo do calcitriol e os seus análogos que atuam alterando a morfologia e a função das DC, o que tem como resultado a diminuição de moléculas do complexo maior de histocompatibilidade de classe II (MHC II) e moléculas coestimuladoras (CD40, CD80 e CD86), reduzindo também a secreção de interleucina 12 (IL-12), porém com aumento na interleucina 10 (IL-10). A interleucina 10 é um polipeptídeo que inibe as citocinas pró-inflamatórias e (IFN)-ɣ e possui efeitos supressivos nas células Th1, podendo ser clinicamente úteis no tratamento de doenças autoimunes mediadas por células T, como esclerose múltipla, diabetes melito tipo 1, e condições inflamatórias, como psoríase e artrite reumatoide.

Um estudo demonstrou que a presença de 1,25 (OH)2D3 tem associação com as células Th2 e com as células T CD4+ presentes na imunidade mediada humoral, observando que a vitamina D promove uma mudança das células Th1 para Th2, o que reduz o dano tecidual associado a resposta imunológica das células Th1. As células Th1 têm ação pró-inflamatória e que uma resposta desordenada pode contribuir para lesões em órgão alvo. Já as citocinas Th2 são produzidas pelas células T CD4 e atuam diminuindo alguns desses efeitos. Sua utilização em rejeição de órgão transplantados tem sido estudada.

Doenças autoimunes afetam cerca de 7% da população mundial, e existem mais de 80 tipos classificados. Estudos demonstram alguns fatores de risco para as mesmas, são eles:  a latitude do país, os fatores genéticos, etnia, idade, agentes infecciosos, cigarros, poluentes ambientais, consumo de álcool e a exposição à radiação UV. 



As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referência Bibliográfica:

Virgolino, SFC.; Pacheco, TGS.; Almeida, AMR. Prevalência de hipovitaminose D em um grupo de pacientes com doenças autoimunes. BRASPEN J 2017; v.32, n.2, p: 160-164.

Nenhum comentário: