Sintomas de demência podem ser induzidos por drogas e o risco aumenta progressivamente com o número de fármacos usados! Uma quantidade crescente de pesquisas mostra que a polifarmácia, definida como o uso de vários medicamentos ao mesmo tempo, pode causar sérios problemas de saúde geral e cerebral, especialmente em idosos.
O peso da idade
Uma pesquisa feita em 380 hospitais americanos monitorou pessoas com mais de 65 anos: a grande maioria (84% na internação e 95% na alta) tomava pelo menos 5 medicamentos, sendo que metade destes (42% na internação e 55% na alta) tomava mais de 10 medicamentos. Conforme envelhecemos, o fígado metaboliza drogas de forma menos eficiente, e os rins eliminam os fármacos mais lentamente. Ao longo do tempo, as drogas podem se acumular e gradualmente atingir níveis tóxicos para o cérebro, afetando a capacidade cognitiva. Esta ação biológica é bem conhecida, e médicos deveriam ajustar as receitas para reduzir as doses em pacientes idosos, além de evitar o uso de tantas drogas, muitas vezes desnecessárias.
Remédios
Idosos com fragilidade física e má condição de saúde ficam particularmente suscetíveis aos efeitos colaterais da associação de vários medicamentos. Eles vão a diversos especialistas e cada médico receita 3 a 4 fármacos, podendo totalizar de 9 a 15 remédios diferentes para tratar pressão, coração, diabetes, colesterol, azia, refluxo, insônia, depressão, artrite, alergia, dor, osteoporose, etc.
Insônia
Drogas como analgésicos, antidepressivos, estatinas e soníferos podem afetar a função cognitiva. Estudos recentes mostram que há um aumento no risco de demência e doença de Alzheimer com o uso prolongado do indutor de sono zolpidem na população idosa. A dose anual acumulada deste fármaco pode contribuir para desenvolver demências, especialmente em pacientes com doenças associadas, como hipertensão, diabetes e derrame.
Colesterol
Uma droga específica pode causar declínio cognitivo súbito, o remédio usado para “tratar” colesterol. As estatinas produzem alterações nas mitocôndrias, as usinas de energia das células. Cérebro e coração são os dois órgãos com maior concentração de mitocôndrias, devido à alta demanda de energia. Muitos pesquisadores acreditam que o declínio cognitivo é na verdade uma manifestação de dano mitocondrial. É bom lembrar que o cérebro e tecido nervoso precisam de colesterol, então, se o colesterol baixa, o risco de declínio cognitivo aumenta. Há outras formas de se reduzir o colesterol, se for o caso.
Coenzima Q10
O uso de estatinas para tratar colesterol inibe a produção da coenzima Q10, que regula a geração de energia para o sistema nervoso e o cérebro, e pode aumentar o risco de doenças neurológicas, esquecimento e confusão mental. Em 2012, a agência Food & Drug Administration reconheceu os potenciais efeitos danosos na função cerebral e mandou adicionar na bula a advertência de que as estatinas podem causar comprometimento cognitivo reversível. Suplementar com coenzima Q10 é importante sempre que se fizer uso de estatinas.
Vitamina B12
Pessoas que tomam medicamentos como metformina (diabetes), omeprazol e antiácidos (gastrite, refluxo), podem precisar de doses maiores de B12 devido à interferência destas drogas na absorção da vitamina. O uso frequente de bebida alcoólica também afeta negativamente a assimilação de B12. A deficiência de vitamina B12 causa prejuízo na função cerebral (memória, capacidade de aprendizado), distúrbios neurológicos (dormência, formigamento, falta de coordenação motora, alterações visuais), atrofia cerebral progressiva, transtornos psiquiátricos, depressão, e pode ter ligação com o Alzheimer.
Anticolinérgicos
Medicamentos anticolinérgicos são amplamente usados para tratar alergias, resfriados, cólicas, asma, depressão, hipertensão e incontinência urinária, e estão associados a um risco aumentado de declínio cognitivo e demências em idosos, se tomados de forma contínua. Estas drogas agem bloqueando acetilcolina, um neurotransmissor essencial para a função da memória.
Estudo
Em uma pesquisa recente, os pesquisadores acompanharam 688 pessoas com idade média de 74 anos durante 10 anos. Nenhum participante tinha problemas cognitivos ou de memória no início do estudo. Os que tomavam pelo menos um anticolinérgico tiveram 47% mais chances de desenvolver comprometimento cognitivo leve, em comparação com os participantes que não tomavam tais drogas. Os cientistas também analisaram biomarcadores para a doença de Alzheimer no líquor, como certas proteínas e fatores de risco genético. Indivíduos com biomarcadores positivos e usando anticolinérgicos eram 4 vezes mais propensos a desenvolver declínio cognitivo.
O papel do médico
A polifarmácia, ou uso de múltiplos medicamentos, está associada a fatores dos pacientes, como queixas e doenças. No entanto, cabe aos médicos avaliar as suas práticas de prescrição, prestando atenção nas receitas de outros especialistas e na história clínica dos pacientes. Nem todos os medicamentos são essenciais, e muitos podem ser descontinuados sem prejuízo ao tratamento.
Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.
Título de Especialista em Nutrologia – Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;
Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;
Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
Referências Bibliográficas:
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*Circulation: Heart Failure 2020. Polypharmacy in Older Adults Hospitalized for Heart Failure.
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*J American Geriatrics Society 2017. Association Between Use of Zolpidem & Risk of Alzheimer's Disease Among Older People.
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*Neurology 2020. Association of anticholinergic medication & Alzheimers biomarkers among cognitively normal older adults.
*Current Medical Research Opinion 2021. Patient & physician factors contributing to polypharmacy among older patients.
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