Uma
epidemia de diabetes mellitus (DM) está em curso. Em 1985, estimava-se haver 30
milhões de adultos com DM no mundo; esse número cresceu para 135 milhões em
1995, atingindo 173 milhões em 2002, com projeção de chegar a 300 milhões em
2030.
O número de indivíduos diabéticos
está aumentando em virtude do crescimento e do envelhecimento populacional, da
maior urbanização, da crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem
como da maior sobrevida de pacientes com DM.
●
O Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1),
forma presente em 5% a 10% dos casos, é o resultado da destruição de células
betapancreáticas com consequente deficiência de insulina. Na maioria dos casos,
essa destruição de células beta é mediada por autoimunidade, porém existem
casos em que não há evidências de processo autoimune, sendo, portanto,
referidos como forma idiopática de DM1.
●
O Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2) é a
forma presente em 90% a 95% dos casos e caracteriza-se por defeitos na ação e
secreção da insulina. Em geral, ambos os defeitos estão presentes quando a
hiperglicemia se manifesta, porém pode haver predomínio de um deles. A maioria
dos pacientes com essa forma de DM apresenta sobrepeso ou obesidade, e
cetoacidose raramente se desenvolve de modo espontâneo, ocorrendo apenas quando
se associa a outras condições como infecções. O DM2 pode ocorrer em qualquer
idade, mas é geralmente diagnosticado após os 40 anos. Os pacientes não
dependem de insulina exógena para sobreviver, porém podem necessitar de tratamento
com insulina para obter controle metabólico adequado.
Quadro 1. Valores de glicose plasmática (em
mg/dl) para diagnóstico de diabetes mellitus e seus estágios pré-clínicos.
Categoria
|
Jejum*
|
2h
após 75g de glicose
|
Casual**
|
Glicemia normal
|
< 100
|
< 140
|
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Tolerância à glicose
diminuída
|
> 100 a < 126
|
≥ 140 a < 200
|
|
Diabetes mellitus
|
≥ 126
|
≥ 200
|
≥
200 (com sintomas clássicos)***
|
* O jejum é definido como a falta de ingestão
calórica por no mínimo 8 horas;
** Glicemia plasmática casual é aquela
realizada a qualquer hora do dia, sem se observar o intervalo desde a última
refeição;
*** Os sintomas clássicos de DM incluem
poliúria, polidipsia e perda não explicada de peso.
Fonte: Diretrizes da SBD,
2013-1014.
A terapia nutricional em diabetes
tem como alvo o bom estado nutricional, saúde fisiológica e qualidade de vida
do indivíduo, bem como prevenir e tratar complicações a curto e a longo prazo e
comorbidades associadas.
Embora o aparecimento do diabetes
tipo 1 não seja evitável, o diabetes tipo 2 pode ser retardado ou prevenido,
por meio de modificações de estilo de vida, que incluem dieta e atividade
física.
O alerta mundial para a prevenção do
DM2 é reforçado pelo substancial aumento na prevalência dessa doença nas
últimas décadas. Apesar de a suscetibilidade genética parecer desempenhar um
papel importante na ocorrência do DM2, a atual epidemia provavelmente reflete
mudanças no estilo de vida, caracterizadas pelo aumento da ingestão energética
e redução da atividade física que juntamente com sobrepeso e obesidade parecem
exercer papel preponderante no aparecimento do diabetes.
Programas estruturados que enfatizam
mudanças no estilo de vida, incluindo educação nutricional, restrição das
concentrações de gorduras e energéticas, aliada a prática de exercício regular
e monitoramento pelos profissionais de saúde, podem conduzir à perda de peso a
longo prazo em torno de 5% a 7% do peso corporal.
A conduta nutricional deverá ter
como foco o indivíduo, considerando todas as fases da vida, diagnóstico
nutricional, hábitos alimentares, socioculturais, não diferindo de parâmetros
estabelecidos para a população em geral, considerando também o perfil
metabólico e uso de fármacos.
A intervenção nutricional
direcionada às pessoas com DM1 aponta a importância de integrar insulina, dieta
e atividade física, reforçando o ajuste da terapia insulínica ao plano
alimentar individualizado como a chave para o adequado controle metabólico.
Quadro 2. Composição nutricional do plano
alimentar indicado para portadores de diabetes mellitus.
Macronutrientes
|
Ingestão
Recomendada/Dia
|
Carboidratos
|
Carboidratos
totais: 45% - 60%
Não
inferiores a 130g/dia
|
Sacarose
|
Até
10%
|
Frutose
|
Não
se recomenda adição nos alimentos
|
Fibra alimentar
|
Mínimo
de 20g/dia ou 14g/1000kcal
|
Gordura total
|
Até
30% do VET
|
Ácidos graxos
saturados
|
<
7% do VET
|
Ácidos graxos trans
|
≤
2g
|
Ácidos graxos
poli-insaturados
|
Até
10% do VET
|
Ácidos graxos
monoinsaturados
|
Completar
de forma individualizada
|
Colesterol
|
<
200mg/dia
|
Proteína
|
15%
- 20% do VET
|
Micronutrientes
|
Ingestão
Recomendada/Dia
|
Vitaminas e minerais
|
Segue
as recomendações da população não diabética
|
Sódio
|
Até
2.400mg
|
VET: Valor Energético Total.
Fonte: Diretrizes da SBD,
2013-1014.
Muitas vezes o padrão e o
comportamento alimentar do indivíduo portador de diabetes mellitus estão
seriamente comprometidos, sendo caracterizados pela prática de dietas
restritivas e aleatórias, uso indiscriminado de produtos dietéticos e a adoção
de métodos inadequados para controle da glicemia, redução e manutenção do peso.
Os comitês de estudos sobre o
diabetes têm orientado que as pessoas com diabetes sigam a mesma alimentação
saudável recomendada à população em geral. Muitas vezes pensamos que teremos de
fazer uma dieta rigorosa, mas na verdade o que se espera é um planejamento e
organização dos hábitos alimentares. Isto quer dizer que teremos que ter uma
maior atenção quanto às escolhas dos alimentos e a quantidade consumida.
1)
Distribua os alimentos em 5 a 6 refeições ao dia. Não deixe de fazer o café da
manhã! Comece o café da manhã com uma porção de carboidrato, rico em fibras
(pães, biscoitos e cereais integrais); uma porção de proteína (queijos magros,
leite desnatado, iogurtes reduzidos em gordura) e uma fruta. Se não puder
fazê-lo em casa, leve um lanche reforçado para a escola ou trabalho.
2)
As frutas podem e devem fazer parte da alimentação do paciente diabético, pois
são ricas em fibras, vitaminas e minerais. Nos lanches, comece sempre pelas
frutas (evite sucos), mas não exagere na quantidade. Nenhum tipo de fruta é
proibido!
3)
No almoço e jantar, continue a comer o tradicional arroz com feijão. Para o
almoço e jantar complete metade do prato com vegetais crus e cozidos. Na metade
restante preencha ¼ com alimento rico em carboidrato integral (arroz, macarrão,
panqueca, batata, mandioca) e o outro ¼ com proteína animal (carne vermelha
magra, frango sem pele, peixe, ovo, preparados sem adição de gordura) e
complemente com proteína vegetal (feijão, lentilha, ervilha, soja). Na
sobremesa escolha uma fruta. Para os lanches intermediários como lanche da
manhã, lanche da tarde e ceia escolha apenas um dos grupos de alimentos. Carboidratos:
Eles não devem ser totalmente abolidos da alimentação do indivíduo diabético,
mas a quantidade e o tipo de carboidrato a serem ingeridos devem ser
controlados. O ideal é sempre preferir fontes de carboidratos que sejam ricos
em fibras, como os cereais integrais, tubérculos, vegetais e frutas com casca
ou bagaço. As fibras estimulam o funcionamento intestinal, atuam na prevenção
de doenças e influenciam na absorção das gorduras e açúcares simples que
comemos.
4)
A metade do prato deve ser de vegetais coloridos, principalmente os
verde-escuros e amarelos. Pode ser na forma de salada crua e/ou vegetais
cozidos. Evite molhos gordurosos.
5)
Evite frituras e diminua o consumo de gorduras animais: carnes gordas, queijos
(exceto os mais magros como, por exemplo, ricota, minas frescal, cottage),
embutidos, manteiga, margarina, requeijão, creme de leite.
6)
Evite os açúcares e alimentos açucarados. Se precisar utilize adoçante em
pequena quantidade. Evite os adoçantes a base de frutose.
7)
Só opte por produtos dietéticos se tiver certeza de que o mesmo atende as suas
necessidades. Fique atento com produtos diet
e light,
pois devem ser consumidos com moderação. Nem sempre são os mais adequados, pois
podem vir acrescidos de gordura ou outro nutriente. Leia sempre o rótulo dos
alimentos antes de comprar. Adoçantes também precisam ser consumidos com
cuidado. 10 gotas por copo é o limite máximo permitido, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Diabetes, mas antes é preciso levar em conta a
orientação de um nutricionista.
8)
Diminua o sal. Grande parte das pessoas com diabetes também apresentam pressão
arterial elevada.
9)
Evite bebida alcoólica. Bebidas alcoólicas não devem ultrapassar a quantidade
de uma dose para mulher e duas doses para homens, tanto para destilados quanto
para bebidas fermentadas. Evite bebidas que contenham leite condensado ou muito
açucaradas. Lembre-se: não consuma bebida alcoólica com estômago vazio e se
estiver desidratado.
10)
Tome água várias vezes ao longo do dia.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
Diabetes. Disponível em: www.meupratosaudável.com.br
Acessado em: 25/06/2015.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Diabetes: 2013-2014. Sociedade Brasileira de Diabetes.
Manual de Nutrição. Sociedade Brasileira de
Diabetes.
Nascimento, MAB. Descobri que tenho
diabetes.... como deverá ficar minha alimentação? Disponível em: www.diabetes.org.br Acessado em:
25/06/2015.
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