quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Escala de Bristol: O que as Fezes Indicam Sobre a Saúde

 

Embora não pareça um assunto agradável, as fezes desempenham um papel crucial na nossa saúde e bem-estar. Elas são um subproduto do sistema digestivo e podem oferecer pistas valiosas sobre o funcionamento do trato gastrointestinal e até mesmo sobre a saúde geral. Uma ferramenta que auxilia na avaliação das características das fezes é a Escala de Bristol, que as classifica em sete categorias diferentes com base em sua aparência e consistência.

Quem criou a escala de Bristol?

A Escala de Bristol foi criada por uma equipe de pesquisadores da área de gastroenterologia da Universidade de Bristol, no Reino Unido, daí vem o seu nome. O objetivo era criar uma ferramenta didática e visual para classificar as fezes, a fim de auxiliar na avaliação de pacientes com distúrbios gastrointestinais e na comunicação entre profissionais de saúde sobre as características das fezes dos pacientes.

A escala foi introduzida pela primeira vez na literatura científica em 1997, em um artigo intitulado “A Novel Interpretation of Human Bowel Habit Using Form Scale,” publicado na revista Scandinavian Journal of Gastroenterology. Desde então, a Escala de Bristol tem sido amplamente utilizada na prática clínica e tem contribuído para o diagnóstico de constipação crônica, diarreia severa e síndrome do intestino irritável, por exemplo. 

O que é escala de Bristol e para que serve?

A Escala de Bristol, também conhecida como Escala de Fezes de Bristol, é uma ferramenta gráfica que classifica as fezes humanas em sete categorias diferentes. Tal classificação pode ajudar os profissionais de saúde a entender melhor o funcionamento do trato gastrointestinal do paciente e pode ser útil na avaliação de sintomas relacionados ao sistema digestivo, como constipação intestinal, diarreia, cólicas intestinais, distensão abdominal e flatulências excessivas. 

É importante observar que a aparência das fezes pode variar de pessoa para pessoa e de acordo com a dieta e outros fatores. Portanto, essa escala serve como uma ferramenta geral de referência, mas não deve ser usada como diagnóstico único. Realizar uma anamnese completa, compreender o histórico clínico e familiar do paciente, realizar exames clínicos e, claro, encaminhá-lo para exames laboratoriais, é fundamental para complementar a hipótese diagnóstica.  

Como entender a escala de Bristol?

Por tratar-se de uma escala gráfica, ou seja, bastante visual, é muito simples compreendê-la. Basta pedir para que o paciente compare a consistência e a aparência das suas fezes com as imagens e descrições propostas na escala. 

A partir da classificação apontada, é possível identificar em qual categoria elas se encaixam, assim, pode-se compreender se o indivíduo apresenta constipação intestinal, ressecamento das fezes, trânsito regulado, fezes saudáveis, presença de gorduras nas fezes ou episódios de diarreia. 

Assim, o nutricionista conseguirá elaborar a melhor estratégia para cada situação, seja através do aumento da ingesta hídrica e do consumo de fibras alimentares, da suplementação com simbióticos, da redução do aporte de gorduras da alimentação, ou do consumo de frutas mais ou menos laxativas. 

Como identificar os 7 tipos de fezes?

A Escala de Bristol demonstra de forma bastante didática, através de imagens e textos, os sete tipos de fezes e suas classificações. Observe na ilustração abaixo :


 

O que as fezes podem indicar sobre a sua saúde global?

Constipação intestinal: segundo a escala, os tipos de fezes 1 e 2 deflagram uma possível constipação intestinal, da mais severa, para a mais leve, afinal, descrevem fezes mais endurecidas e ressecadas. É dever do nutricionista indicar nesses casos uma boa hidratação, o consumo de frutas mais laxativas (como mamão, laranja, manga, ameixa, mexerica, figo e abacate), e o aumento do aporte de fibras alimentares na alimentação do paciente. Influenciar a prática frequente de atividades físicas também é fundamental. 

Funcionamento normal do intestino: veja que os tipos de fezes 3 e 4 demonstram aparência e consistência ideais para as fezes. Estas classificações podem se tornar uma meta para que você e seu paciente alcancem em relação a saúde gastrointestinal do mesmo.   

Diarreia: já os tipos de fezes 5 e 6 se relacionam com consistências mais moles e pastosas, demonstrando um trânsito intestinal acelerado, o que pode ser causado por uma variedade de fatores, incluindo infecções, intolerâncias alimentares ou distúrbios gastrointestinais. Um correto consumo de água, principalmente nos casos mais graves, é fundamental para evitar o risco de desidratação. Também é importante que o paciente prefira alimentos cozidos e frutas que ajudam a prender o intestino (como maçã sem casca, banana, melão e pera sem casca), e que evite o consumo de verduras cruas fora de casa, bebidas alcoólicas, refrigerantes, bebidas com cafeína (café, chá verde e achocolatados), e alimentos com muita gordura e frituras. Enquanto estiver com diarreia, também é prudente evitar leite e derivados com lactose.

Possíveis problemas de absorção: fezes do tipo 7, consistentes com diarreia líquida, podem ser um sinal de má absorção de nutrientes, como ocorre em algumas condições, como a doença celíaca.

Mudanças nas fezes: qualquer mudança persistente nas fezes, como sangramento, cor anormal, odor forte ou presença de muco, deve ser avaliada por um médico, pois pode indicar problemas de saúde mais sérios, como doenças inflamatórias intestinais ou câncer do colorretal.

Quais fatores influenciam no tipo de fezes?

A consistência e a aparência das fezes podem variar de um dia para o outro e de uma pessoa para outra. São diversos os fatores que podem influenciar o tipo de fezes que uma pessoa tem, alguns deles se destacam: 

  • Alimentação: a dieta desempenha um papel significativo na consistência das fezes. O consumo de fibras alimentares, água e outros alimentos desempenha um papel importante na formação do bolo fecal. Uma alimentação rica em fibras, por exemplo, tende a resultar em fezes mais macias e bem formadas, enquanto uma dieta pobre pode levar a fezes mais duras e ressecadas;
  • Hidratação: o volume de água que a pessoa ingere afeta diretamente a consistência das fezes. A desidratação pode levar a fezes secas, contribuindo para a constipação intestinal; 
  • Atividade física: a prática regular de exercícios pode promover o movimento intestinal e contribuir para um trânsito intestinal mais regulado;
  • Medicamentos: alguns medicamentos, como certos analgésicos, antidepressivos, antidiarreicos e suplementos de ferro, podem afetar a consistência das fezes como um de seus efeitos colaterais;
  • Problemas de saúde: algumas condições clínicas, como doenças inflamatórias do intestino, síndrome do intestino irritável, constipação crônica, intolerâncias alimentares, infecções intestinais e outras doenças gastrointestinais, podem afetar a consistência e o padrão das fezes;
  • Idade: a fase de vida também influencia nesse quesito. Por exemplo, bebês e crianças tendem a apresentar fezes mais pastosas, enquanto idosos podem ser mais propensos à constipação intestinal;
  • Saúde emocional: sensações de estresse, ansiedade ou tristeza podem afetar o funcionamento do sistema digestivo e levar a mudanças nas fezes, como diarreia ou constipação, é o famoso “eixo cérebro-intestino”;
  • Hormônios: flutuações hormonais, como as que ocorrem durante a gestação e o ciclo menstrual, podem afetar a regularidade das fezes.

Ainda, a microbiota intestinal (flora intestinal) de uma pessoa, a sua genética e suas respostas individuais a determinados alimentos também podem influenciar as características das fezes e do seu trânsito intestinal. 

É importante observar que é normal que as fezes variem de vez em quando em resposta a esses fatores. No entanto, se você notar mudanças persistentes nas fezes, é importante consultar um médico para avaliação, pois esses sintomas podem ser indicativos de problemas de saúde subjacentes que precisam de tratamento.

Quais bons hábitos ajudam no bom funcionamento intestinal?

Adotar bons hábitos pode ajudar a manter um bom funcionamento intestinal e promover a saúde gastrointestinal. Aqui estão os principais:

  1. Tenha uma alimentação rica em fibras alimentares: frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas, castanhas e sementes, são essenciais para a saúde intestinal. As fibras ajudam a amolecer as fezes e contribuem para o trânsito regular do intestino;
  2. Beba bastante água: uma correta ingesta hídrica é essencial para manter fezes macias e evitar o intestino preso; 
  3. Mantenha uma rotina alimentar: consumir as principais refeições em horários regulares diariamente ajuda a sincronizar os movimentos intestinais, tornando o processo mais previsível;
  4. Inclua probióticos na alimentação: iogurte, kefir, kombucha e outros alimentos fermentados podem ajudar a manter um equilíbrio saudável da microbiota intestinal; 
  5. Evite o consumo de alimentos ultraprocessados e açúcares: uma alimentação rica em gorduras saturadas, açúcares e sódio é prejudicial para a saúde do intestino, e pode causar problemas digestivos;
  6. Mantenha-se ativo: a prática regular de exercícios pode promover o movimento intestinal e prevenir a constipação. Mesmo uma caminhada diária curta pode ser benéfica;
  7. Gerencie o estresse: o estresse crônico pode afetar negativamente o sistema digestivo. Praticar técnicas de relaxamento, como ioga, meditação ou exercícios de respiração, pode ajudar a reduzir o estresse;
  8. Não segure as fezes: quando sentir vontade de evacuar, vá ao banheiro imediatamente. Segurar as fezes pode levar à constipação e ao ressecamento das mesmas;
  9. Evite o uso excessivo de laxantes: o uso frequente de laxantes sem orientação médica pode causar problemas no funcionamento natural do intestino. Eles devem ser usados apenas conforme indicado pelo seu médico;
  10. Consulte um profissional de saúde quando necessário: se você tiver problemas persistentes com o funcionamento do intestino, como constipação crônica, diarreia frequente, sangramento retal ou dor abdominal, consulte um médico ou gastroenterologista. 

Lembrando que cada pessoa é única e pode responder de maneira diferente a esses hábitos. É importante encontrar uma abordagem que funcione para você e que leve em consideração suas necessidades e condições específicas de saúde. Se você tiver dúvidas sobre como melhorar sua saúde intestinal, considere consultar um nutricionista para obter orientação personalizada.

 

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Escala de bristol: o que as fezes indicam sobre a saúde. Disponível em: www.dietbox.com.br Acessado em: 09/01/2024