segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Gordura Corporal Envelhece

 

O tecido adiposo é o maior e mais ativo órgão endócrino e o maior reservatório energético do corpo, envolvido na regulação da função imunológica, metabolismo, equilíbrio glicídico e lipídico. Ao envelhecer, ela desempenha um papel fundamental na ocorrência e desenvolvimento de doenças degenerativas relacionadas à idade e disfunção metabólica. Com o passar das décadas, percebemos mudanças na composição corporal, com menos massa muscular e mais massa gorda. O envelhecimento do tecido adiposo é uma das características comuns nos idosos e, junto com a obesidade, atua nos mecanismos e vias da longevidade, doenças relacionadas à idade, inflamação e alterações metabólicas.

 

Envelhecimento da gordura e metabolismo

O envelhecimento da massa gorda está associado à redução e clareamento da gordura marrom (queimadora de calorias), e ao aumento e redistribuição da gordura branca (armazenadora de calorias), resultando na forte liberação de fatores inflamatórios relacionados à idade (inflammaging), que podem desencadear diversas síndromes metabólicas, obesidade, diabetes, aumento de colesterol e triglicerídeos, problemas cardiovasculares, comprometimento cognitivo e declínio funcional. Por sua vez, a própria síndrome metabólica causa um alto nível de inflamação do corpo. Portanto, o tecido adiposo é o elo entre a inflamação relacionada à idade e a disfunção metabólica, e uma alimenta a outra.

 

Inflamação e disfunção metabólica

Síndromes metabólicas estão associadas ao aumento de fatores inflamatórios, mortalidade por todas as causas e comprometimento cognitivo. Atualmente, pesquisas têm confirmado que intervenções nutricionais, como restrição calórica, eliminação de alimentos ultraprocessados e uso de vitaminas, resveratrol e outras substâncias bioativas, são opções no controle dos efeitos negativos do envelhecimento do tecido adiposo, como obesidade e inflamação.

 

Gordura branca

A gordura branca distribui-se principalmente nos tecidos subcutâneos e ao redor das vísceras. Ela consiste de células adiposas e também de células inflamatórias (macrófagos), células imunes, pré-células e fibroblastos, além de matriz de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, nervos e poucas mitocôndrias. O tecido adiposo branco armazena ácidos graxos na forma de triglicerídeos e controla a sua liberação. A gordura branca é também o maior órgão endócrino e secreta uma variedade de adipocinas, como leptina e adiponectina, para se comunicar com outros órgãos e participar da regulação do metabolismo.

 


Gordura marrom

Já o tecido adiposo marrom é muito rico em capilares e mitocôndrias, o que confere a sua cor escura, e está espalhado em pequenas quantidades pelo corpo. Acreditava-se que só crianças tinham este tipo de gordura que usa calorias para gerar energia, mas ela também existe em adultos, distribuída no pescoço, região supraclavicular e paraespinhal, mediastino, aorta e rins. A gordura marrom desempenha um papel importante na queima calórica (metabolismo energético), no balanço glicídico e na sensibilidade à insulina.

 

Metabolismo lento

Os sinais de envelhecimento da gordura marrom incluem perda de volume, diminuição da função mitocondrial e menor atividade metabólica, ou seja, há menos gasto de calorias para produzir energia, o que se costuma chamar de ‘metabolismo lento’. Com o avançar da idade, o acúmulo excessivo de triglicerídeos e infiltração por macrófagos promove o seu branqueamento e, gradualmente, os adipócitos marrons são substituídos por gordura branca, que é considerada a principal fonte de fatores inflamatórios sistêmicos.

 

Gordura subcutânea protege, gordura visceral inflama 

O tecido adiposo tende a aumentar na meia-idade e é acompanhado pela redistribuição da gordura para diferentes locais, ou seja, ela migra do depósito subcutâneo para os depósitos viscerais abdominais. Esse acúmulo de gordura visceral é um fator de risco para doenças metabólicas relacionadas à idade, enquanto a gordura subcutânea tem papel protetor. A resistência à insulina e os distúrbios do metabolismo da glicose estão mais relacionados à distribuição visceral do tecido adiposo do que à massa gorda total.

 

Excesso de calorias

Quando comemos mais calorias do que as necessárias há um excesso de lipídios circulantes (ácidos graxos livres). A gordura subcutânea os armazena, expandindo as células adiposas, e assim engordamos. No processo de envelhecimento e/ou obesidade, a capacidade de armazenamento dos depósitos de gordura subcutânea tende a ser limitada pela perda de elasticidade e de expansão dos adipócitos. Então, o excesso de lipídios passa a ser armazenado em músculos esqueléticos e em outros depósitos dentro ou ao redor de vísceras, como músculo cardíaco, fígado, pâncreas, intestino – assim a gordura visceral cresce, causando alterações metabólicas e prejudicando a saúde.

 

Fator de risco

Normalmente, a gordura visceral responde por 10 a 20% da massa gorda total nos homens e 5 a 8% nas mulheres. Esse percentual tende a aumentar com a idade. Elevação de triglicerídeos, ácidos graxos livres e fatores inflamatórios no sangue, aumento de partículas pequenas e densas de colesterol LDL (pró-oxidantes), redução de HDL (o colesterol bom), resistência à insulina e outras alterações metabólicas relacionadas à idade estão ligadas ao acúmulo de gordura nas vísceras. Gordura visceral é um importante fator de risco para diabetes tipo 2, doença cardiovascular, AVC, esteatose hepática, síndrome metabólica e morte.

 

Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki. 

 

Título de Especialista em Nutrologia –  Associação Brasileira de Nutrologia;

 

Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;

 

Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;

 

Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.

 

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

 

 

Referências Biblográficas:

*Nutrients 2022.  Adipose tissue aging and metabolic disorder & the impact of nutritional interventions.

*Biochemical Pharmacology 2021. White adipose tissue dysfunction in obesity & aging.

*Journal of Lipid Research 2018. Brown adipose tissue whitening leads to brown adipocyte death & adipose tissue inflammation.

*Advances in Clinical Chemistry 2022. Biomarkers of dysfunctional visceral fat.

*Journal of Cachexia, Sarcopenia & Muscle 2023. High visceral fat attenuation & long-term mortality in a health check-up population.

 

 

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