quinta-feira, 14 de abril de 2016

Hipertensão Arterial na Gestação



            A hipertensão arterial acomete cerca de 10% das gestantes, sendo incluída entre as principais causas de internação, morbimortalidade materna e perinatal, inclusive no Brasil. Em geral, 5 a 10% da população obstétrica evoluem para pré-eclâmpsia e eclâmpsia, sendo nas primíparas a prevalência em torno de 20%.

            A pré-eclâmpsia é caracterizada pela presença da hipertensão arterial associada a uma perda de proteínas pela urina e a um edema generalizado. Esta doença manifesta-se normalmente no terceiro trimestre de gestação. Esta patologia pode levar a falência de diversos órgãos maternos, pois a alteração na pressão gera efeitos principalmente sobre os sistemas vascular, hepático, renal e cerebral. A eclâmpsia é uma extensão mais severa da pré-eclâmpsia ocorrendo próximo ao momento do parto.

            A hipertensão específica da gestação é diagnosticada quando a gestante apresenta os três sinais e sintomas a seguir: pressão arterial > 140/90mmHg; edema e proteinúria (> 0,3g/24h). O último é o diagnóstico diferencial da hipertensão crônica. É importante lembrar que o edema, neste caso, é considerado patológico, pois aparece ou agrava-se de repente, diferentemente do fisiológico, que é gradual. Por esse motivo, a vigilância quanto ao ganho de peso, associada a cuidadosa anamnese dietética, além da monitoração clínica do grau de edema, são elementos importantes para a identificação precoce dos riscos de pré-eclâmpsia.

           Essa patologia está associada a tonturas, cefaleias, distúrbios visuais, dores no abdome superior, vômitos, edema da face e das mãos.

            O distúrbio hipertensivo específico da gestação (DHEG) ocorre mais frequentemente em mulheres primigestas (85%), com mais de 30 anos, na presença de sobrepeso ou obesidade ou com ganho excessivo de peso durante a gestação, hipertensas e com antecedentes familiares de hipertensão crônica ou DHEG.

            A síndrome HELLP é a complicação mais grave das mulheres que desenvolvem a hipertensão específica da gestação, e resulta num sério comprometimento hepático. O quadro clínico revela trombose, hemólise, enzimas hepáticas como TGO e TGP elevadas, baixo número de plaquetas (< 100.000/m³) e alterações neurológicas.

Orientação Dietética

            Considerando que a pré-eclâmpsia apresenta fatores de risco bem conhecidos e que seu aparecimento é súbito, a prevenção dessa patologia é da responsabilidade do profissional de saúde. As gestantes que apresentam um ou mais dos aspectos apresentados como característicos de grupo devem ser sensibilizadas quanto à redução da velocidade do ganho de peso e à melhora na qualidade de sua dieta.

Energia: O excesso de peso aumenta a inflamação do organismo, facilitando a hipertensão, e pode aumentar entre três e sete vezes o risco de pré-eclâmpsia. Apesar disso, o ganho de peso gestacional deve permanecer de forma saudável, pois emagrecer não é recomendado. Ganho superior a 3kg/mês após a 20ª semana pode relacionar-se a edema e deve ser acompanhado.

Proteínas: A albumina é a proteína mais abundante no sangue e uma de suas funções é equilibrar a quantidade de líquidos dentro e fora dos tecidos. No distúrbio hipertensivo específico da gestação, a sua perda por meio da urina faz com que a albumina diminua ainda mais do que o normal na gestação saudável, levando ao desequilíbrio entre os líquidos e ao edema. Não há comprovação científica do benefício de dieta hiperproteica, porém a ingestão adequada de proteínas é imprescindível. Para isso, vale incluir fontes proteicas (carnes magras, ovos, leguminosas, leite e derivados) em todas as refeições. A recomendação diária para gestantes equivale a aproximadamente 1 bife médio (120g) + 1 concha de feijão + 1 filé de pescada (100g) + 1 copo (200ml) de leite + 1 fatia grossa de queijo branco.

Gorduras: O ômega 3 auxilia na redução dos tromboxanos, que aumentam a pressão nos vasos capilares, a formação de trombos e reduzem o fluxo sanguíneo na placenta. Procure utilizar óleos vegetais de canola ou girassol nas preparações, azeite nos temperos, consumir, 2 a 3 porções de peixes/semana e reduza as gorduras animais, industrializadas e frituras.

Fibras: As dietas ricas em fibras ajudam a reduzir a pressão arterial, entre outros benefícios. Estudos mostram que gestantes com maior ingestão de fibras apresentaram menor risco de desenvolver DHEG. Por isso, consuma frutas, verduras e legumes crus e cereais integrais o máximo possível!

Cálcio: A baixa ingestão de cálcio pode desencadear alterações hormonais que aumentam a pressão nos vasos sanguíneos, e o consumo adequado reduz o risco de complicações do DHEG. Casos especiais podem requerer suplementação, porém procure garantir o consumo diário equivalente a 2 copos (200ml) de leite + 1 copo (180g) de iogurte + 1 fatia grossa de queijo branco.

Sódio: Restringir o sal durante a gestação com DHEG não traz benefícios porque o edema se dá pela redução proteica sérica, e não pelo excesso de sódio. Em casos de gestantes com hipertensão prévia à gestação, recomenda-se dieta hipossódica. Nos demais casos, a dica é apenas para alimentação saudável, com menor consumo de alimentos embutidos, processados e industrializados, sem sal em excesso.

Antioxidantes: No DHEG ocorre redução dos agentes antioxidantes do organismo, favorecendo ainda mais a hipertensão, e existe forte relação entre o aumento no consumo de alimentos ricos em carotenoides/vitamina A, vitamina E e C e menor risco de DHEG. Em algumas pesquisas, gestantes com baixos níveis destes antioxidantes tinham risco até 9,8 vezes maior de DHEG. Procure incluir na dieta os vegetais verde-escuros, alimentos avermelhados e alaranjados, frutas cítricas, oleaginosas (castanhas e amêndoas) e óleos vegetais (azeite, linhaça, macadâmia, etc), além de ovos e carnes magras, leite e derivados.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
                                                                                                                  
Referências Bibliográficas:

Bertolucci, P. Pré-eclâmpsia. Disponível em: www.patriciabertolucci.com.br Acessado em: 13/04/2016.

Machado, RHV. Síndrome Hipertensiva da Gestação. Hospital Israelita Albert Einstein. Disponível em: www.einstein.br Acessado em: 07/04/2016.

Saiba como evitar hipertensão arterial durante a gestação. Ministério da Saúde. Disponível em: www.blog.saude.gov.br Acessado em: 07/04/2016.

Sanders, C. Síndromes Hipertensivas da Gravidez –SHG. In: Accioly, E; Saunders, C; Lacerda, EMA. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 1 ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica 2004; p. 189-208.

Vitolo, MR. Nutrição: da Gestação à Adolescência. 1 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003; p.60-62.

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