Esclerose
múltipla é uma resposta anormal do sistema imunológico dirigida contra o
sistema nervoso central, composto de cérebro, medula espinhal e nervos ópticos.
Esclerose múltipla é uma doença imprevisível, e por vezes incapacitante, que
interrompe o fluxo de informações dentro do cérebro, e também entre o cérebro e
o corpo. Seu nome significa literalmente o aparecimento de tecido danificado (esclerose)
em múltiplas áreas do sistema nervoso.
Doença autoimune?
A
causa é desconhecida, a doença é desencadeada por algum gatilho ambiental ainda
não identificado, em pessoas geneticamente predispostas a responder a este
estímulo. Há muitos suspeitos, como fatores autoimunes, inflamação, infecções
por vírus, genética, obesidade, tabagismo, trauma craniano, deficiência de
vitamina D3, latitude, melatonina, alteração da microbiota intestinal
(disbiose). A maioria dos casos é diagnosticada entre 20 e 50 anos de idade, e
é mais frequente em mulheres.
Mielina
A
doença afeta a mielina, um tecido que envolve os nervos, formando uma capa
protetora que ajuda as fibras nervosas a enviarem sinais por todo o corpo. É
como se fosse um fio elétrico desencapado, no caso um nervo desencapado, que
vai atrapalhar o correto tráfego de informações através do sistema nervoso.
Alguns dos primeiros sinais da esclerose múltipla incluem alterações no tato,
perda de força em um braço ou perna, formigamento, ardência e prurido
(coceira). Quando a mielina é danificada os sinais nervosos alcançando olhos,
cérebro e medula espinhal se alteram, causando sintomas específicos. Se a
doença se agravar o cérebro pode diminuir de tamanho à medida que mais mielina
e nervos são destruídos, levando a problemas cognitivos e alterações
relacionadas à disfunção do sistema nervoso.
Doença imprevisível
Os
inúmeros sintomas neurológicos da esclerose múltipla estão relacionados ao
controle sensorial (visão, audição, tato, paladar, olfato e equilíbrio) e motor
(movimentos musculares e coordenação). Alguns têm poucos sintomas, outros
sofrem mais, e dependendo de sua severidade ela é descrita com esclerose
múltipla benigna ou maligna. A progressão, gravidade e sintomas específicos da
esclerose múltipla são imprevisíveis. Vamos citar os mais comuns, que não
ocorrem necessariamente em todos os portadores de esclerose múltipla.
Sintomas, sinais e alterações
Alterações
na visão ocorrem devido à inflamação do nervo óptico (neurite óptica), e
incluem visão borrada ou dupla, cegueira parcial, perda da visão central,
movimentos aleatórios dos olhos. Tonturas e vertigens. Falta de coordenação
motora, movimentos desajeitados, perda de equilíbrio. Cãibras, espasmos e
fraqueza nos braços ou pernas, tremores, dificuldade para caminhar, rigidez nos
membros. Dormência, formigamento, redução do tato. Sensação de choque
percorrendo o pescoço e a medula espinhal, especialmente ao mover a
cabeça/pescoço. Ardor, prurido ou sensação de dor na pele.
Problemas
cognitivos, deficiência mental, pensamento confuso, perda de memória e
desatenção. Fadiga. Mudanças de humor, depressão ou bipolaridade, incapacidade
no controle de emoções, como choro e riso. Disfunção sexual, falta de
sensibilidade nos genitais, impotência. Sintomas digestivos incluindo constipação,
diarreia, perda de controle sobre os movimentos intestinais. Dificuldade de controlar
a micção. Fala arrastada e hesitante. Quando a condição se agrava pode haver
paralisação parcial dos membros, movimentos involuntários, demência e mania.
Estilo de vida
Estilo
de vida e fatores nutricionais podem agravar ou amenizar os sintomas da
esclerose múltipla, através da modulação do estado inflamatório da doença,
tanto na forma remitente-recorrente como na primária-progressiva. O objetivo é
controlar as vias metabólicas e inflamatórias na célula humana e a composição
da microbiota do intestino. Tabagismo e excesso de álcool certamente não
ajudam. Atividade física adequada, dormir bem e reduzir o estresse fazem parte
do tratamento básico.
Dieta
Nenhum
tipo específico de dieta foi comprovado como capaz de prevenir ou curar a
esclerose múltipla.
No
entanto, as evidências sugerem que uma dieta rica em antioxidantes e gorduras
saudáveis pode ser o tratamento natural básico, e que tal dieta pode ajudar com
o gerenciamento dos sintomas. Os especialistas acreditam que dietas altamente
processadas, ricas em calorias vazias, açúcares e gorduras trans, as chamadas “dietas
ocidentais”, podem ser um gatilho para a esclerose múltipla e outras doenças
neurológicas. Excesso de sal, bebidas adoçadas com açúcar ou adoçantes,
frituras e alimentos pobres em fibras ajudam a inflamar as células e o corpo,
os nervos e o cérebro.
Alimentos e nutrientes
Apesar
de sua gravidade, uma dieta adequada e diversos suplementos ajudam a minimizar
os sintomas da esclerose múltipla. Atualmente não há nenhuma cura disponível
para a esclerose múltipla, porém tratamentos naturais ajudam a administrar os
sintomas. Tudo começa com uma alimentação densa em nutrientes, comida de
verdade sem os ‘fakes’ processados e artificiais. Cuidar do intestino e do
sistema imunológico é essencial. Vários suplementos ajudam na imunocompetência,
na anti-inflamação e na fadiga: vitamina D3, probióticos, ômega-3, vitaminas do
complexo B, vitamina A, curcumina. Inclua probióticos - há uma enormidade de
estudos recentes fazendo a conexão entre a saúde do cérebro, esclerose múltipla
e microbiota intestinal.
Gorduras boas
Gorduras
de qualidade são nutrientes essenciais para formar e proteger a bainha de
mielina dos nervos, enquanto uma profusão de antioxidantes ajuda a reduzir os
danos oxidativos de radicais livres e a inflamação. A dieta mediterrânea, com
ampla pesquisa evidenciando a sua capacidade de controlar a inflamação e
proteger a saúde cerebral, traz os pilares de uma alimentação saudável. Óleo de
coco contém alto teor de triglicerídeos de cadeia média, que apoiam o cérebro e
o sistema nervoso. O azeite é fonte saudável de gordura associada à saúde
cognitiva. Pesquisas mostram a ação do ômega-3 na redução da neuroinflamação –
melhore fontes são sardinha, cavala, truta, arenque, atum, salmão selvagem. Os
peixes e frutos do mar ainda fornecem proteína de alta qualidade, assim como
ovos, carne e aves.
Hortifruti
O
colorido reino vegetal fornece fibras, prebióticos e centenas de antioxidantes.
Frutas, folhas, legumes, especiarias, chás devem formar a base da pirâmide
alimentar. Vale destacar os vegetais ricos em sulforafano, um composto de
enxofre com potente atividade antioxidante e anti-inflamatória, ajudando a
reduzir a perda de mielina e o ataque autoimune no sistema nervoso. As melhores
fontes de sulforafano são os crucíferos, como brócolis, repolho, couve-flor,
acelga, couve, couve de Bruxelas, agrião, rúcula. O hortifruti ainda fornece
polifenóis e carotenoides. Opte por alimentos frescos, integrais, e orgânicos
quando possível.
Inflamação e neurodegeneração
Microbiota
intestinal, prebióticos, probióticos estão na ordem do dia. Impressiona a
quantidade de estudos recentes sobre as bactérias que habitam nossas entranhas
e seus efeitos em questões relacionadas à saúde. A esclerose múltipla é uma
doença neurodegenerativa do sistema nervoso central com características
inflamatórias. A inflamação começa no intestino. E o que inflama o intestino e desorganiza
a microbiota? A comida errada! Após anos de abuso alimentar (excesso de açúcar,
glúten, gorduras trans, adoçantes, processados em geral) como poderia o
intestino permanecer saudável?
Missão
impossível!
Saúde do cérebro, esclerose múltipla e
microbiota
As pesquisas
mostram que na esclerose múltipla a microbiota intestinal apresenta alterações
associadas com a presença de citocinas inflamatórias e inflamação geral.
Solução? Corrigir a população bacteriana do intestino com alimentos prebióticos
e probióticos. Prebióticos são as fibras que nutrem as bactérias boas (ninguém
trabalha com fome, nem as bactérias). E do que elas gostam? Fibras do reino
vegetal (frutas, folhas, legumes, leguminosas, sementes oleaginosas). Por outro
lado, as más bactérias se desenvolvem felizes quando você só come processados e
montanhas de açúcar. Probióticos são as bactérias boas que lutam pela nossa
saúde, presentes no kefir, kombucha, jun tea, chucrute, iogurte caseiro e
outros fermentados. Probióticos podem ser manipulados em doses concentradas
para propósitos específicos, principalmente os vários tipos de lactobacilos e
bifidobactérias. Este imenso potencial terapêutico mal começa a ser desvendado.
Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.
Título de Especialista em Nutrologia –
Associação Brasileira de Nutrologia;
Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de
Nutrologia;
Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição
Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São
Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;
Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto
Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por
atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
*National
Multiple Sclerosis Society https://www.nationalmssociety.org
*Frontiers in Immunology 2018. Latitude, Vitamin D,
Melatonin, & Gut Microbiota Act in Concert to Initiate Multiple Sclerosis: A New Mechanistic Pathway.
*Lancet 2017. Diagnosis of multiple sclerosis:
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*Disability & Rehabilitation 2019. How people
with multiple sclerosis experience the influence of nutrition & lifestyle factors on the disease.
*Nutrients 2019. New insights on the nutrition status
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*Neurology 2018. Diet quality is associated with
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*Neurotherapeutics 2018. Diet, Gut Microbiota, and
Vitamins D + A in Multiple Sclerosis.
*Frontiers in Neurology 2018. Stress-Axis Regulation
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*Neurological Sciences 2018. A review on potential
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*Journal of Nutrition 2018. High-dose ω-3 Fatty Acid Plus Vitamin D3 Supplementation Affects
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*Current Drug Targets 2017. Recent Updates in Natural
Compounds for Healthy Brain & Nerve Function: A
Systematic Review of Implications for Multiple
Sclerosis.
*Medicinal Sciences (Basel) 2018. The Gut Microbiome
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*Neurotherapeutics 2018. The "Gut
Feeling": Breaking Down the Role of Gut Microbiome in Multiple
Sclerosis.
*World Journal of Gastroenterology 2018. Focus on the
gut-brain axis: Multiple sclerosis, the intestinal barrier & the microbiome.
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