quarta-feira, 15 de maio de 2019

Esclerose Múltipla


Esclerose múltipla é uma resposta anormal do sistema imunológico dirigida contra o sistema nervoso central, composto de cérebro, medula espinhal e nervos ópticos. Esclerose múltipla é uma doença imprevisível, e por vezes incapacitante, que interrompe o fluxo de informações dentro do cérebro, e também entre o cérebro e o corpo. Seu nome significa literalmente o aparecimento de tecido danificado (esclerose) em múltiplas áreas do sistema nervoso.

Doença autoimune?
A causa é desconhecida, a doença é desencadeada por algum gatilho ambiental ainda não identificado, em pessoas geneticamente predispostas a responder a este estímulo. Há muitos suspeitos, como fatores autoimunes, inflamação, infecções por vírus, genética, obesidade, tabagismo, trauma craniano, deficiência de vitamina D3, latitude, melatonina, alteração da microbiota intestinal (disbiose). A maioria dos casos é diagnosticada entre 20 e 50 anos de idade, e é mais frequente em mulheres.

Mielina

A doença afeta a mielina, um tecido que envolve os nervos, formando uma capa protetora que ajuda as fibras nervosas a enviarem sinais por todo o corpo. É como se fosse um fio elétrico desencapado, no caso um nervo desencapado, que vai atrapalhar o correto tráfego de informações através do sistema nervoso. Alguns dos primeiros sinais da esclerose múltipla incluem alterações no tato, perda de força em um braço ou perna, formigamento, ardência e prurido (coceira). Quando a mielina é danificada os sinais nervosos alcançando olhos, cérebro e medula espinhal se alteram, causando sintomas específicos. Se a doença se agravar o cérebro pode diminuir de tamanho à medida que mais mielina e nervos são destruídos, levando a problemas cognitivos e alterações relacionadas à disfunção do sistema nervoso.

Doença imprevisível

Os inúmeros sintomas neurológicos da esclerose múltipla estão relacionados ao controle sensorial (visão, audição, tato, paladar, olfato e equilíbrio) e motor (movimentos musculares e coordenação). Alguns têm poucos sintomas, outros sofrem mais, e dependendo de sua severidade ela é descrita com esclerose múltipla benigna ou maligna. A progressão, gravidade e sintomas específicos da esclerose múltipla são imprevisíveis. Vamos citar os mais comuns, que não ocorrem necessariamente em todos os portadores de esclerose múltipla.

Sintomas, sinais e alterações

Alterações na visão ocorrem devido à inflamação do nervo óptico (neurite óptica), e incluem visão borrada ou dupla, cegueira parcial, perda da visão central, movimentos aleatórios dos olhos. Tonturas e vertigens. Falta de coordenação motora, movimentos desajeitados, perda de equilíbrio. Cãibras, espasmos e fraqueza nos braços ou pernas, tremores, dificuldade para caminhar, rigidez nos membros. Dormência, formigamento, redução do tato. Sensação de choque percorrendo o pescoço e a medula espinhal, especialmente ao mover a cabeça/pescoço. Ardor, prurido ou sensação de dor na pele.

Problemas cognitivos, deficiência mental, pensamento confuso, perda de memória e desatenção. Fadiga. Mudanças de humor, depressão ou bipolaridade, incapacidade no controle de emoções, como choro e riso. Disfunção sexual, falta de sensibilidade nos genitais, impotência. Sintomas digestivos incluindo constipação, diarreia, perda de controle sobre os movimentos intestinais. Dificuldade de controlar a micção. Fala arrastada e hesitante. Quando a condição se agrava pode haver paralisação parcial dos membros, movimentos involuntários, demência e mania.

Estilo de vida

Estilo de vida e fatores nutricionais podem agravar ou amenizar os sintomas da esclerose múltipla, através da modulação do estado inflamatório da doença, tanto na forma remitente-recorrente como na primária-progressiva. O objetivo é controlar as vias metabólicas e inflamatórias na célula humana e a composição da microbiota do intestino. Tabagismo e excesso de álcool certamente não ajudam. Atividade física adequada, dormir bem e reduzir o estresse fazem parte do tratamento básico. 



Dieta

Nenhum tipo específico de dieta foi comprovado como capaz de prevenir ou curar a esclerose múltipla.

No entanto, as evidências sugerem que uma dieta rica em antioxidantes e gorduras saudáveis pode ser o tratamento natural básico, e que tal dieta pode ajudar com o gerenciamento dos sintomas. Os especialistas acreditam que dietas altamente processadas, ricas em calorias vazias, açúcares e gorduras trans, as chamadas “dietas ocidentais”, podem ser um gatilho para a esclerose múltipla e outras doenças neurológicas. Excesso de sal, bebidas adoçadas com açúcar ou adoçantes, frituras e alimentos pobres em fibras ajudam a inflamar as células e o corpo, os nervos e o cérebro.

Alimentos e nutrientes

Apesar de sua gravidade, uma dieta adequada e diversos suplementos ajudam a minimizar os sintomas da esclerose múltipla. Atualmente não há nenhuma cura disponível para a esclerose múltipla, porém tratamentos naturais ajudam a administrar os sintomas. Tudo começa com uma alimentação densa em nutrientes, comida de verdade sem os ‘fakes’ processados e artificiais. Cuidar do intestino e do sistema imunológico é essencial. Vários suplementos ajudam na imunocompetência, na anti-inflamação e na fadiga: vitamina D3, probióticos, ômega-3, vitaminas do complexo B, vitamina A, curcumina. Inclua probióticos - há uma enormidade de estudos recentes fazendo a conexão entre a saúde do cérebro, esclerose múltipla e microbiota intestinal. 



Gorduras boas

Gorduras de qualidade são nutrientes essenciais para formar e proteger a bainha de mielina dos nervos, enquanto uma profusão de antioxidantes ajuda a reduzir os danos oxidativos de radicais livres e a inflamação. A dieta mediterrânea, com ampla pesquisa evidenciando a sua capacidade de controlar a inflamação e proteger a saúde cerebral, traz os pilares de uma alimentação saudável. Óleo de coco contém alto teor de triglicerídeos de cadeia média, que apoiam o cérebro e o sistema nervoso. O azeite é fonte saudável de gordura associada à saúde cognitiva. Pesquisas mostram a ação do ômega-3 na redução da neuroinflamação – melhore fontes são sardinha, cavala, truta, arenque, atum, salmão selvagem. Os peixes e frutos do mar ainda fornecem proteína de alta qualidade, assim como ovos, carne e aves.

Hortifruti

O colorido reino vegetal fornece fibras, prebióticos e centenas de antioxidantes. Frutas, folhas, legumes, especiarias, chás devem formar a base da pirâmide alimentar. Vale destacar os vegetais ricos em sulforafano, um composto de enxofre com potente atividade antioxidante e anti-inflamatória, ajudando a reduzir a perda de mielina e o ataque autoimune no sistema nervoso. As melhores fontes de sulforafano são os crucíferos, como brócolis, repolho, couve-flor, acelga, couve, couve de Bruxelas, agrião, rúcula. O hortifruti ainda fornece polifenóis e carotenoides. Opte por alimentos frescos, integrais, e orgânicos quando possível.

Inflamação e neurodegeneração

Microbiota intestinal, prebióticos, probióticos estão na ordem do dia. Impressiona a quantidade de estudos recentes sobre as bactérias que habitam nossas entranhas e seus efeitos em questões relacionadas à saúde. A esclerose múltipla é uma doença neurodegenerativa do sistema nervoso central com características inflamatórias. A inflamação começa no intestino. E o que inflama o intestino e desorganiza a microbiota? A comida errada! Após anos de abuso alimentar (excesso de açúcar, glúten, gorduras trans, adoçantes, processados em geral) como poderia o intestino permanecer saudável?
Missão impossível!

Saúde do cérebro, esclerose múltipla e microbiota

As pesquisas mostram que na esclerose múltipla a microbiota intestinal apresenta alterações associadas com a presença de citocinas inflamatórias e inflamação geral. Solução? Corrigir a população bacteriana do intestino com alimentos prebióticos e probióticos. Prebióticos são as fibras que nutrem as bactérias boas (ninguém trabalha com fome, nem as bactérias). E do que elas gostam? Fibras do reino vegetal (frutas, folhas, legumes, leguminosas, sementes oleaginosas). Por outro lado, as más bactérias se desenvolvem felizes quando você só come processados e montanhas de açúcar. Probióticos são as bactérias boas que lutam pela nossa saúde, presentes no kefir, kombucha, jun tea, chucrute, iogurte caseiro e outros fermentados. Probióticos podem ser manipulados em doses concentradas para propósitos específicos, principalmente os vários tipos de lactobacilos e bifidobactérias. Este imenso potencial terapêutico mal começa a ser desvendado.

Texto elaborado por: Dra. Tamara Mazaracki.

Título de Especialista em Nutrologia –  Associação Brasileira de Nutrologia;

Membro Titular da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;

Pós-graduação em Medicina Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia;

Pós-graduação em Medicina Estética – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino – IBRAPE.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

*National Multiple Sclerosis Society https://www.nationalmssociety.org

*Frontiers in Immunology 2018. Latitude, Vitamin D, Melatonin, & Gut Microbiota Act in Concert to Initiate Multiple Sclerosis: A New Mechanistic Pathway.
 
*Lancet 2017. Diagnosis of multiple sclerosis: progress and challenges.

*Disability & Rehabilitation 2019. How people with multiple sclerosis experience the influence of nutrition & lifestyle factors on the disease.
 
*Nutrients 2019. New insights on the nutrition status & antioxidant capacity in multiple sclerosis patients.

*Neurology 2018. Diet quality is associated with disability and symptom severity in multiple sclerosis.

*Neurotherapeutics 2018. Diet, Gut Microbiota, and Vitamins D + A in Multiple Sclerosis.

*Frontiers in Neurology 2018. Stress-Axis Regulation by Vitamin D 3  in Multiple Sclerosis.

*Neurological Sciences 2018. A review on potential roles of vitamins in incidence, progression, & improvement of multiple sclerosis.
 
*Journal of Nutrition 2018. High-dose ω-3 Fatty Acid Plus Vitamin D3 Supplementation Affects Clinical Symptoms & Metabolic Status of Patients with Multiple Sclerosis: A Randomized Controlled Clinical Trial.
 
*Food & Function 2018. New highlights on the health-improving effects of sulforaphane.

*Current Drug Targets 2017. Recent Updates in Natural Compounds for Healthy Brain & Nerve Function: A
Systematic Review of Implications for Multiple Sclerosis.

*Medicinal Sciences (Basel) 2018. The Gut Microbiome in Multiple Sclerosis: A Potential Therapeutic Avenue.

*Neurotherapeutics 2018. The "Gut Feeling": Breaking Down the Role of Gut Microbiome in Multiple Sclerosis.

*World Journal of Gastroenterology 2018. Focus on the gut-brain axis: Multiple sclerosis, the intestinal barrier & the microbiome.

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