Muitos estudos têm sugerido que dietas ricas em
carboidratos complexos, aqueles presentes em grãos, frutas e vegetais e pobre
em gorduras, principalmente as saturadas, estão associadas com a redução do
risco de doenças crônicas degenerativas (DCD). Os benefícios à saúde,
primordialmente atribuídos à presença de fibras solúveis e insolúveis nestes
alimentos, advêm também da presença de compostos bioativos a elas associadas,
como é o caso das lignanas.
As lignanas são amplamente estudadas em relação ao
seu potencial promotor de saúde. Dentre os benefícios já relatados foi
constatado que as lignanas possuem atividade antioxidante, anti-inflamatória,
fitoestrogênica e anticâncer. Paralelamente a estes estudos, tornou-se
claro que os efeitos de saudabilidade são crucialmente dependentes da
biodisponibilidade destes compostos no organismo.
O íleo e o colón ao propiciarem a colonização das
bactérias são as porções do trato-gastrointestinal que mais influenciam na
biodisponibilidade deste composto. Interessantemente mulheres em geral
apresentam um maior número de bactérias capazes de realizar a biotransformação
do que homens. Fatores genéticos, diversidade de bactérias presentes, a
ocorrência ou não de microflora bem estabelecida e saudável, uso de
antibióticos, transito intestinal e tipo de lignana ingerida, são outras
variáveis capazes de interferir na disponibilidade deste composto no organismo.
Nos alimentos as lignanas estão concentradas no
farelo dos cereais e na camada externa das sementes oleaginosas, mas podem
também serem encontrados em menores quantidades em vegetais, frutas e bebidas
como o café, suco de laranja, vinho tinto e chás. Apesar de em geral os
alimentos conterem de 2 mg lignana/ 100g de alimento, a linhaça e o gergelim
contêm mais de 300mg/100g de semente.
Devido a sua ocorrência em diversos grupos
alimentares a ingestão de lignanas na alimentação é frequente, porém não
necessariamente em concentrações suficientes a exibição de seus benefícios. No
ocidente, por exemplo, o consumo de lignanas deriva de fontes como grãos e
cereais integrais, feijões, vegetais, frutas e bebidas como vinho e café,
fontes essas com baixo teor de lignanas.
O valor de recomendação diária para lignanas,
associados aos benefícios provenientes do seu consumo, ainda não foi
determinado.
Uma das propriedades mais estudadas em relação às
lignanas é sua ação fitoestrogênica. Assim como as isoflavonas presente na soja
as lignanas bioconvertidas pelo nosso organismo podem atuar exercendo
atividade estrogênica ou antiestrogênica. A peculiaridade destes compostos
deve-se a sua semelhança estrutural ao 17 β-estradiol, isto é, ao estrógeno
feminino (hormônio responsável pelo desenvolvimento das características
femininas e controle do ciclo menstrual).
Durante a menopausa ou em indivíduos que sofrem de
deficiência estrogênica, os fitoesteróis agem equilibrando os níveis de
hormônio ao suprirem os receptores de estrogênio. Realizando o que chamamos de
reposição hormonal natural ou atividade estrogênica.
Porém na presença de estrógeno, as enterolignanas
exercem atividade antiestrogênica ao competirem com o estrógeno pelo mesmo
sítio de ligação nos receptores. Neste caso as enterolignanas, assim como as
isoflavonas, abrandam os efeitos carcinogênicos provocados principalmente pelo
excesso de estrógeno nos tecidos mamário e uterino.
Estrógenos são hormônios esteroides bastante
complexos e altamente específicos. Atuam sobre uma diversa gama de órgãos
e tecidos, dentre eles o útero a mama, o ovário, os testículos, a próstata, os
ossos, o fígado, coração e sistemas nervoso e imunológico, de maneira dose
dependente. Sabe-se que o excesso de estrógeno pode promover em mulheres câncer
de mama e endométrio e exacerbar doenças autoimunes. Enquanto sua carência
durante a menopausa esta associada ao desenvolvimento da osteoporose, doenças
coronarianas, depressão e doenças neurodegenerativas.
Os benefícios advindos do consumo de lignanas e sua
relação com doenças cardiovasculares também vem sendo amplamente estudado pelos
cientistas da nutrição funcional. Existe uma infinidade de dados
provenientes de diversos tipos de modelos experimentais (in vitro, em animais e
humanos), que concordam entre si sobre os aspectos positivos ás doenças
cardiovasculares. Dentre os principais benefícios cita-se o aprimoramento do
perfil colesterolêmico, proteção contra a aterosclerose e redução da pressão
sanguínea.
A hipótese de que as lignanas seriam benéficas à saúde do coração foi levantada
a partir da observação da relação entre incidência de doença versus
alimentação. Dietas ricas em cereais são comprovadamente benéficas ao coração,
já que proporcionam uma menor predisposição ao desenvolvimento de doenças
cardíacas. Cereais além de conterem fibras alimentares são também fontes naturais
de lignana, mesmo que em baixas concentrações. Por este motivo, diversas
pesquisas foram realizadas no intuito de compreender qual a participação das
lignanas na prevenção das doenças cardíacas. E até o momento os resultados têm
sido positivos.
Seja pelas lignanas, fibras, vitaminas ou minerais,
espero ao final deste artigo ter lhe oferecido mais uma razão, motivação ou
incentivo ao consumo de sementes e cereais. Lembre-se que tanto a linhaça como
o gergelim, além de serem ricas em lignanas, podem também oferecer um sabor
especial ao cardápio do seu dia a dia.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por
atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Biazotto, FO. Lignanas: a maioria ingere, mas poucos
a conhecem! Grupo de Estudos em Alimentos Funcionais – GEAF, ESALQ/USP.
Disponível em: www.alimentosfuncionais.blogspot.com.br Acessado em: 03/12/2019.
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