Ao ouvir ou ver as palavras radiação e irradiação, a primeira impressão que temos é um certo medo e preconceito, logo vindo no pensamento “radioaditividade”, “mutação”, “Césio-137”, “acidente em Goiânia”, e assim por diante.... Mas a partir de hoje esqueça o que você sabe sobre irradiação e comecemos do zero.
Primeiramente, a radiação nada mais é do que a emissão e propagação de energia de um ponto a outro (seja por partículas ou ondas eletromagnéticas), podendo ser gerada por fontes naturais (como o urânio, o rádio e o tório, átomos que emitem radiações naturalmente) ou por dispositivos construídos pelo homem. Evidências apontam que a radiação foi descoberta há mais de um século e desde então tem sido estudada e empregada em áreas como a medicina, produção de energia e, inclusive em alimentos. E, o que a maior parte das pessoas não sabe é que nossa vida é cercada por radiações, como por exemplo: luz solar, micro-ondas, ondas de rádio, raios X, dentre outros tipos de radiação.
A irradiação em alimentos é uma tecnologia mundialmente reconhecida e utilizada em um número cada vez maior de países em substituição ao uso de produtos químicos. A viabilidade econômica, tecnológica e de segurança da irradiação de alimentos é comprovada e diversas pesquisas têm mostrado que o uso correto desta técnica não apresenta risco para a saúde.
Seu uso é efetivo para controlar os microrganismos patogênicos presentes em alimentos, a infestação de insetos, retardar o amadurecimento e aumentar a vida de prateleira de alimentos, sejam estes frescos, na forma de grãos ou industrializados. Na verdade, pode-se considerar que a irradiação é como se fosse um processo de “pasteurização” a frio e por isso pode ser aplicada aos mais diversos tipos de alimentos especialmente aqueles que são consumidos crus ou parcialmente processados. A irradiação também é utilizada para retardar a maturação e senescência (processo natural de envelhecimento) de frutas e hortaliças (tomate, mamão, banana, laranja....) e a inibição de brotamento de bulbos (cebola) e tubérculos (batata). A técnica pode ser aplicada não somente em alimentos crus mas também em alimentos enlatados e congelados.
Aplicando a radiação em alimentos, é possível minimizar as perdas devido à contaminação por bactérias e ação de insetos e roedores, além deminimizar as doenças transmitidas por alimentos contaminados por bactérias como Salmonella e Campylobacter, que representam significativo impacto financeiro na saúde pública.
Todavia, apesar de cientificamente aceito como um excelente método de conservação de alimentos, o progresso no uso comercial da irradiação tem sido vagaroso. Contribuindo com este cenário, há as interpretações errôneas dos consumidores, que frequentemente acham difícil avaliar os benefícios dessa técnica por falta de informação. Isso porque ao saber que o alimento foi irradiado, as pessoas têm a falsa ideia de que o alimento torna-se radioativo, podendo causar algum dano à saúde. Essa ideia é completamente equivocada, pois ao ser tratado com a radiação, nenhum resíduo permanece no alimento, ao contrário de outras técnicas de conservação de alimentos que acabam deixando resíduos com potencial risco à saúde. Além disso, há todo um cuidado para que a radiação seja aplicada somente no alimento, na dose correta e em um local apropriado para este fim, de forma a não prejudicar o ser humano e o ambiente.
Para que um alimento seja irradiado, é necessário seguir uma regulamentação específica. No Brasil, a legislação vigente para a irradiação de alimentos, promulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), segue as normas internacionais propostas pelo Codex Alimentarius da Organização das Nações Unidas (ONU), pela Food and Agriculture Organization (FAO) e pela International Atomic Energy Agency (IAEA). Nesta resolução (RDC n. 21 de 2001), a ANVISA regulamenta o emprego de radiação em alimentos, estabelecendo que as fontes de radiação utilizadas devem ser as autorizadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e que qualquer alimento pode ser irradiado desde que observados os limites mínimos e máximos da dosagem aplicada. A dose mínima deve ser suficiente para alcançar a finalidade pretendida e a máxima, inferior àquela que comprometeria as propriedades funcionais e/ou atributos sensoriais do alimento. Sendo assim, a radiação deve exercer sua função de conservação dos alimentos sem prejudicar a sua composição.
Esta resolução também estabelece que, no rótulo dos alimentos irradiados, deve constar a frase “Alimento tratado por processo de irradiação”. Produtos irradiados, utilizados como ingredientes em outro alimento, devem declarar essa circunstância na lista de ingredientes, entre parênteses, após seu nome. O símbolo da irradiação que poderá ser encontrado em alguns alimentos é este:
Um dos tipos de radiação mais empregados em alimentos é a radiação gama, cuja principal fonte de emissão é o Cobalto-60, um material que quando comparado aos outros apresenta boa disponibilidade e custo, está na forma metálica e é insolúvel em água, proporcionando, com isso, maior segurança ambiental. A quantificação das doses de radiação é feita em função da energia absorvida pelo produto irradiado. A unidade de medida utilizada é o Gray (Gy) ou quilogray (kGy), sendo que um Gray equivale a um Joule de energia por quilograma de alimento irradiado. Para aplicação em alimentos, a maioria das doses utilizadas se encontram entre 0,1 e 10,0 kGy.
Estudos da Organização Mundial de Saúde e da FAO concluíram que um alimento submetido aos raios gama não se torna radioativo e, que a irradiação até uma dose média global de 10 kGy não é tóxica, e não traz problemas nutricionais.
Em relação ao valor nutricional dos alimentos tratados com radiação, sabe-se que a técnica promove poucas alterações no teor dos nutrientes. Os minerais como cálcio, ferro, zinco, etc. não sofrem nenhuma alteração, já vitaminas como a tiamina e riboflavina (vitaminas do complexo B) podem ser ligeiramente reduzidas nos alimentos tratados por radiação, assim como a vitamina E, enquanto que a o ácido ascórbico tem sua forma química ativa diminuída dependendo da dose da radiação aplicada. Entretanto, há diversos estudos que já foram ou que estão sendo realizados no sentido de definir doses ideais para cada alimento, de forma a causar o mínimo de impacto possível. O mesmo serve para sabor, cor e aparência, há doses ideais de radiação para cada alimento com o intuito de preservar ao máximo tais características. Se compararmos com as outras técnicas de conservação existentes, a irradiação tem baixo impacto no valor nutricional. Além disso, os consumidores podem reduzir os riscos de contrair doenças veiculadas por alimentos ao adquirirem produtos alimentícios tratados por radiação, como as carnes.
É bem provável que você já consumiu alimentos irradiados e nem ficou sabendo. Embora poucas pessoas saibam disso, os alimentos tratados com esta técnica já são comercializados há alguns anos no Brasil.
No mundo todo, diversos são os alimentos que passam pela irradiação, porém em nosso pais, são poucos os tipos de alimentos irradiados comercialmente, embora existam empresas com infraestrutura física e licença para irradiar alimentos. Na verdade, o que acontece é que nem todos os alimentos irradiados são devidamente identificados para o consumidor, justamente porque ainda há um grande preconceito. Então depois de ler este texto, você já pode esquecer o preconceito e, se encontrar algum alimento com o símbolo da irradiação, já sabe que pode consumir tranquilamente.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.
Referências Bibliográficas:
Scwarz, K. Irradiação em alimentos: o que é, para que serve e por que precisamos conhecer. Grupo de Estudos em Alimentos Funcionais – GEAF, ESALQ/USP. Disponível em: www.grupoalimentosfuncionais.blogspot.com.br
Silva et al. Conhecimento e atitudes sobre alimentos irradiados de nutricionistas que atuam na docência. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 30(3): 645-651, jul.-set. 2010.
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