sexta-feira, 3 de junho de 2022

Seletividade, Manias ou TOC?

 


Muitas famílias chegam aos consultórios pediátricos de todo o mundo com a queixa de que seus filhos não comem. Estudos realizados em regiões tão diferentes como a Indonésia, China, Estados Unidos, Inglaterra, Finlândia e Brasil mostram dados muito semelhantes- mais da metade dos pais consultados referem que tem filhos que não comem, em algum momento de sua infância, levando a enormes preocupações.

Apesar de muito estudada, a dificuldade alimentar tem como possível consequência enormes estragos no crescimento e desenvolvimento normal da criança, especialmente se não avaliadas e tratadas precocemente. Alterações no crescimento, ganho de peso, carências de minerais e vitaminas, problemas no comportamento e no desempenho escolar, dificuldades sociais e até bullying são algumas das complicações que a criança pode desenvolver, especialmente se o quadro clínico for persistente. Infelizmente, o que temos visto por aí é que a maioria dos pediatras pouco consegue fazer quando a queixa é mais comportamental que clínica, e tem desconsiderado as queixas dos pais quando não há alteração no peso e altura das crianças.  Crianças obesas também podem ter grandes seletividades, comendo muito de poucos alimentos. E quase sempre o que não gostaríamos que comessem…

Um dos principais tipos de problema alimentar é a seletividade exagerada. Crianças e mesmo adolescentes e adultos, tem enormes dificuldades em comer alimentos específicos ou até mesmo grupos inteiros de alimentos como frutas, verduras e legumes, alimentos lácteos ou carne. Entre os mais complexos, está o grupo dos seletivos sensoriais, em que todos os órgãos de sentido colaboram com a restrição alimentar.

Assim, essas crianças e adolescentes escolhem alimentos pelo tipo, temperatura, odor, marca, cor, textura e sabor, sendo que não aceitam NADA que seja diferente do que se sentem seguras. Estas crianças podem também ter dificuldades em caminhar em areia, grama, odeiam sujeira, lama, terra ou podem evitar mesclar produtos de cores especificas.

Esses casos só são bem acompanhados se houver grande experiência do pediatra, ou do especialista, em integração sensorial ou abordagem por diferentes profissionais, como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos especialistas em alimentação, nutricionistas experientes e um pediatra que saiba ouvir.

Talvez outra dificuldade seja diferenciar estes casos de alimentação complexa de um problema muito mais complexo, que é o Transtorno Obsidente Compulsivo (TOC). Como diferenciar um gosto, uma mania, de uma psicose muito mais grave? Será que um determinado comportamento alimentar seletivo se transformará em um diagnóstico que demandará tratamento no longo prazo?

Se pensarmos que o TOC gera uma enorme angústia para o paciente, as dificuldades alimentares sensoriais causam muito maior sofrimento para as famílias. Mas os dois casos precisam de adequado diagnóstico e profissionais treinados que possam diagnosticar, intervir e especialmente orientar essas famílias com queixas que, muitas vezes, são desdenhadas inicialmente.  Afinal, uma criança que tem pavor em misturar chocolates drageados (tipo confete) de cores diferentes, pode estar apresentando apenas um distúrbio da seletividade. Diferente do que se passa com a angústia de um paciente com TOC, que sente que irá ter um enorme sofrimento emocional se pisar em uma linha torta no calçamento.

Buscar ajuda assim que o problema se apresenta, poderá ocasionar melhor entendimento precoce do problema da alimentação em nossos filhos, desde um simples não gostar de feijão, até o comportamento totalmente imprevisível de uma criança com diagnóstico de autismo.

Todo e qualquer problema ou sentimento de que algo não está bem com a alimentação de crianças, merece ser amplamente investigado e explorado, para que a família se sinta amparada, independentemente de haver comprometimento de peso, altura ou exames.  Independentemente de que pareça ser apenas uma birra ou uma questão de gosto.  Afinal gosto não se discute, mas como está na moda, devemos discutir relacionamentos.

 As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

 

Referências Bibliográficas:

Fisber, M. Seletividade, manias ou toc?. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica – ABESO. Disponível em: www.abeso.org.br Acessado em: 03/06/2022.

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