A
gestação constitui um período vulnerável para a nutrição e a saúde da mãe e do
bebê. Atingir um peso saudável antes da gestação, e ganhar um valor adequado de
peso durante é recomendado para garantir um parto seguro e um bebê saudável, no
momento do nascimento e no futuro.
A saúde do
bebê e seu peso ao nascer são relacionados à quantidade de peso que a mãe ganha
durante a gestação. O bebê cresce lentamente, 24 horas por dia: um feto em
crescimento desenvolve 100.000 células cerebrais por minuto! E após a 26º
semana de gestação, ele ganha cerca de 30 g por dia. Esse crescimento requer
grande quantidade de energia, razão pela qual a gestação é um período onde não
deve haver restrição calórica severa.
Omitir refeições ou lanches pode acarretar em riscos para
o feto em desenvolvimento. Se o ganho de peso não é suficiente, o bebê poderá
nascer com baixo peso, com grandes chances de desenvolver problemas de saúde ou
dificuldades de desenvolvimento.
Ganhar muito peso também é prejudicial. Os bebês de mães
que aumentaram seu peso em 16 kg ou mais podem gerar dificuldades no parto por
serem maiores. E o peso adquirido em excesso pode levar à mãe a ter
dificuldades para voltar ao seu peso anterior após o nascimento do bebê.
Há
quase duas décadas, desde 1990, o Institute of Medicine não divulgava
recomendações sobre o ganho de peso ideal durante uma gestação. O novo
protocolo agora inclui recomendações específicas para todas as mulheres,
inclusive aquelas que estão obesas antes de uma gravidez . As recomendações começam com
um checkup que inclui a avaliação do peso e da altura, dieta e
exercícios físicos antes de engravidar e discute o uso de contraceptivos até
que mulheres com sobrepeso
ou obesas alcancem o peso ideal para iniciar uma gestação.
É
importante que as mulheres iniciem a gravidez com um peso saudável, se possível, visando à
manutenção e promoção da saúde da gestante e do bebê.
Baseado
no IMC, as recomendações básicas para o ganho de peso durante a gestação de
feto único são:
Índice de
massa corporal
(IMC) antes da gravidez
|
Classificação de
Obesidade em
relação ao IMC (OMS) (kg/m²)
|
Ganho total de
peso durante a gestação (gramas)*
|
Taxa de ganho de
peso no segundo e terceiro trimestres da gestação ** (média de ganho em gramas/semanas)
|
Abaixo
do peso
|
Abaixo de 18,5 kg/m²
|
12.700g - 18.143g
|
0.453 (0.453 - 0.589)
|
Peso
normal
|
18,5 - 24,9 kg/m²
|
11.339g - 15.875g
|
0.453 (0.362 - 0.453)
|
Sobrepeso
|
25,0 - 29,9 kg/m²
|
6.803g - 11.339g
|
0.272 (0.226 - 0.317)
|
Obesidade (incluindo todas as classes)
|
Acima de 30,0 kg/m²
|
4.989g - 9.071g
|
0.226 (0.181 - 0.272)
|
* Os valores em
gramas são uma conversão do protocolo original cuja unidade é pounds,
são valores aproximados.
** Os cálculos aceitam um ganho de peso de 0,5 a 2 quilos durante o primeiro trimestre da gravidez .
O
novo protocolo difere do anterior em dois pontos importantes. Primeiro, ele é
baseado nas categorias de índice de massa corporal (IMC) da Organização Mundial de Saúde para a
classificação de obesidade
e não mais nas tabelas do Metropolitan Life Insurance. Segundo, ele
inclui taxas específicas e relativamente estreitas de ganho de peso durante a
gravidez para
mulheres obesas pré-concepção .
O protocolo antigo foca na saúde do bebê e o atual considera tanto a saúde do
bebê como a da mulher.
Durante
a gestação a maioria das mulheres ganha peso, mas elas não precisam ganhar uma
quantidade ilimitada de peso, pois será difícil perder este excesso depois do
parto. Também não precisam “comer por dois”. Basta que sejam acrescentadas à
dieta 300 calorias por dia para manter uma gravidez .
O
protocolo recomenda o aconselhamento antes da concepção quanto ao ganho de peso,
hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos, já que a maioria das
mulheres não está recebendo estas orientações.
Outro
ponto levantado é que as mulheres com sobrepeso ou obesas, antes de tentar engravidar, devem
preferencialmente ter acesso a métodos contraceptivos até alcançarem um peso
saudável para uma gravidez
de menor risco. Esta discussão nem sempre é fácil para ter com uma pessoa que
está querendo engravidar, mas muitas vezes este é o melhor momento para receber
este tipo de orientação. O instinto materno ajuda a pensar em um futuro
saudável.
Para facilitar o entendimento, apresentamos o seguinte
esquema, que identifica o ganho aproximado de peso na gestação:
Bebê 3,200
a 3,600 kg
Placenta 0,450 a 0,900 kg
Líquido Amniótico 0,900 kg
Mamas 0,450 kg
Útero 0,900 kg
Volume Sangüíneo 1,360 kg
Gordura Corporal 2,300 kg
Massa Muscular e Líquidos 1,800 a 3,200 kg
_______________
Total: no mínimo 11,360
kg
Alimentação
na Gestação
A
gestação determina um aumento das necessidades nutricionais da futura mãe não
só para corresponder às suas necessidades, como também as
do feto. Embora uma mãe desnutrida possa gerar uma criança sadia, estudos de
nutrição em mulheres durante a gestação tem mostrado uma relação definitiva
entre a dieta da mãe e as condições do bebe ao nascer.
É
recomendada uma quota energética adicional diária de 300 calorias para
satisfazer o gasto energético da gestante. A ingestão de todos os nutrientes
deve ser aumentada. Segue abaixo uma relação dos tipos de alimentos e a
quantidade a ser consumida diariamente:
Leite e derivados: 5
porções (1 porção = 1 copo de 200 ml de leite ou 1 copo de iogurte ou 1
pedaço médio de queijo ou 1 colher de sopa de requeijão)
Carnes: 2
porções ( 1 porção = 1 bife médio de carne de boi, frango, peixe, peru ou 2
ovos cozidos)
Pães e cereais: 5
porções (1 porção = 1 pãozinho ou 2 fatias de pão de forma ou 2 colheres de
sopa de arroz ou outro cereal ou 1 batata media)
Leguminosas: 2
porções ( 1 porção = 2 colheres de sopa de leguminosa)
Verduras: 2
porções (1 porção = 3 colheres de sopa de verdura cozida ou 1 prato de
sobremesa raso de verdura crua)
Legumes: 2
porções ( 1 porção = 3 colheres de sopa de legume)
Frutas: 3
porções (1 porção = 1 unidade)
Eventualmente
podem ser consumidos alimentos como bolo, chocolates e doces, mas com uma frequência
semanal, pois a gordura e o açúcar em excesso se tornam prejudiciais pela alta
incidência de vômitos e fazem com que a gestante ganhe alguns quilos a mais do
que deveria e tenha dificuldade em perdê-los após o parto.
EXEMPLO
DE CARDÁPIO
DESJEJUM:
1
xícara de café
½ copo de leite ou iogurte
2 fatias de pão integral ou
1 pão francês ou 4 bolachas tipo água e sal ou 4 torradas pequenas
2 fatias médias de queijo
fresco magro ou 2 colheres de sopa de requeijão ou queijo cremoso
LANCHE
DA MANHÃ: 1 xícara de cereal integral
1 copo de iogurte ou leite
ALMOÇO:
1
prato de sobremesa de salada crua
4 colheres de sopa de legume
cozido
4 colheres de sopa de arroz
ou 1 xícara de macarrão ou 2 batatas médias
½ concha de feijão ou outra
leguminosa
1 porção media (120g) de
carne magra
1 fruta
LANCHE
DA TARDE: 1 xícara de leite ou iogurte
4 bolachas de água e sal ou
4 torradas pequenas ou 2 fatias de pão de forma ou 1 pão francês
1 colher de sopa de
requeijão ou queijo cremoso ou 1 fatia média de queijo magro
1 fruta
JANTAR:
idem
almoço
CEIA: ½ copo de leite ou iogurte
4 torradas ou bolachas tipo
água e sal ou 4 torradas
1 fatia grande de queijo
fresco ou
1 colher de sopa de queijo
cremoso ou requeijão
Vômitos
Durante
o primeiro trimestre da gestação, a futura mãe poderá sofrer náuseas. Certos
alimentos que antes eram consumidos sem dificuldade agora podem provocar
desagrado (as gorduras são causas comuns de distúrbios). Os líquidos tomados às
refeições também podem precipitar o vomito. A ingestão de torradas ou alguns
biscoitos tipo cracker, ao acordar, pode ajudar a eliminar o enjoo.
Refeições
pequenas e constantes, consistindo de alimentos como cereal bem cozido, torrada
com geleia, batatas assadas e biscoitos salgados, servidos a intervalos de 2
horas, em geral, são bem tolerados inicialmente.
Os líquidos devem ser
tomados entre as refeições, mas não durante as mesmas. O leite desnatado pode
ser mais bem aceito que o integral.
Frequentemente
a náusea desaparece no meio do dia e a mulher poderá preencher suas
necessidades nutricionais pelo aumento da ingestão de alimentos durante a
tarde, no jantar e antes de dormir. Se o vomito persistir e tornar-se nocivo,
haverá necessidade de cuidados médicos.
Aporte
Calórico
Para
manter o ganho de peso ideal durante a gestação, deve ser consumida energia
suficiente para: 1. A deposição de tecido novo associada a gestação; 2. O gasto
metabólico aumentado para manter o tecido novo; 3. O aumento de energia para
levar adiante a gestação. A gordura total e depósitos de proteína representam
uma necessidade de cerca de 41000 calorias durante a gestação. Se as
necessidades basais de energia aumentam de 0,9 para 1,1 calorias/minuto, o
aumento de energia necessário para o metabolismo totaliza cerca de 300
calorias/dia. O aporte calórico total
vai depender das características individuais de cada gestante, como peso,
altura, tamanho de osso, atividade física.
Dentre
os alimentos recomendados, convém evitar os enlatados, pois são uma possível
fonte de bactérias causadoras de doenças como o botulismo. A procedência, odor
e aspecto dos alimentos consumidos crus, dentre eles o ovo, devem ser muito
observados para que se evite também a contaminação pela salmonella. Os vegetais
devem ser muito bem lavados e deve-se evitar aqueles expostos a agrotóxicos,
pois são muito prejudiciais a gestante e principalmente ao feto.
Fatores
Alimentares Prejudiciais
Álcool: Demonstrou-se que o consumo
de álcool durante a gestação está associado a um padrão alterado de crescimento
e desenvolvimento em filhos de mães que bebem, sendo classificado como a "síndrome
alcoólica fetal". O álcool atravessa a placenta e entra na corrente sanguínea
fetal na mesma concentração que no sangue materno. Contudo, o feto e desprovido
da enzima álcool-desidrogenase, que metaboliza o álcool no organismo. Desse
modo, os efeitos prejudiciais do mesmo tem um período de atividade muito mais
longo no feto que no adulto. Visto que não foi estabelecido um nível seguro de
ingestão de álcool, as mulheres devem ser estimuladas a abster-se durante toda
a gravidez.
Cafeína: Embora a toxicidade da
cafeína não tenha ainda sido estabelecida para os fetos em humanos, sabe-se que
ela atravessa a placenta e por esta razão pode ser prejudicial para o feto em
desenvolvimento. Aconselha-se as gestantes a evitarem a cafeína ou a usa-la
moderadamente ate a conclusão de novos estudos. O café, o chá, o cacau e as
bebidas a base de cola contem cafeína.
Adoçantes: A sacarina, o manitol, o
xilitol, o aspartame e outros edulcorantes artificiais foram submetidos a um
estudo cuidadoso nos últimos anos. Foi relatado que a frequência de abortos
espontâneos em população humana não esta associada com a ingestão de qualquer
substituto de açúcar. Entretanto, como a sacarina se mostrou carcinogênica em
ratas, parece adequada a moderação de seu uso. De qualquer forma, estudos ainda
estão sendo realizados nesta área. O melhor e consultar o médico antes de fazer
uso de qual.
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas
por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos,
nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e
exclusivamente, para seu conhecimento.
Texto
elaborado por: Lara Natacci
Nutricionista
CRN 5738
Diretora
da Dietnet Assessoria Nutricional
Formação
Acadêmica/Titulação
2014
– atual Doutorado em Educação em Saúde na Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo
2011
– 2013 Formação em Coach de Bem Estar, pela Carevolution
2006
- 2009 Mestrado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo –
Obtenção do título de Mestre em Ciências em 07 de outubro de 2009
2005
– 2007
Especialização em Nutrição Clínica Funcional – CVPE Universidade Ibirapuera
2003
- 2004 Especialização em Distúrbios do Comportamento Alimentar. Université de Paris 5
René Descartes – Paris, França
1996
- 1996 Especialização em Bases Fisiológicas da Nutrição no Esporte.
Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, Brasil
1989
- 1993 Graduação em nutrição – Obtenção do título de nutricionista em 20 de
dezembro de 1993 - Centro Universitário São Camilo, São Paulo, Brasil
Autora
dos livros:
1.
Anorexia, Bulimia e
Compulsão Alimentar. São Paulo: Editora Atheneu, 2008
2.
Dietbook Terceira Idade –
Tudo o que você deve saber sobre alimentação e saúde depois dos 60 anos. São
Paulo: Editora Mandarim - Grupo Siciliano, 2001.
3. Dietbook Gestante – Tudo
o que você deve saber sobre alimentação na gestação e introdução de alimentos
para recém-nascidos. São Paulo: Editora Mandarim - Grupo Siciliano, 2000.
4. Dietbook Júnior – Tudo o
que você deve saber sobre Alimentação e Saúde de Crianças e Adolescentes. São
Paulo : Editora Mandarim - Grupo Siciliano, 2000.
5. Dietbook – Respostas às
Dúvidas mais Comuns sobre Alimentação e Saúde. São Paulo : Editora Mandarim -
Grupo Siciliano, 1999.
Idealizadora
e mantenedora do site http://www.dietnet.com.br
, na internet desde 1997
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