quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Alimentação na Gestação



A gestação constitui um período vulnerável para a nutrição e a saúde da mãe e do bebê. Atingir um peso saudável antes da gestação, e ganhar um valor adequado de peso durante é recomendado para garantir um parto seguro e um bebê saudável, no momento do nascimento e no futuro.

A saúde do bebê e seu peso ao nascer são relacionados à quantidade de peso que a mãe ganha durante a gestação. O bebê cresce lentamente, 24 horas por dia: um feto em crescimento desenvolve 100.000 células cerebrais por minuto! E após a 26º semana de gestação, ele ganha cerca de 30 g por dia. Esse crescimento requer grande quantidade de energia, razão pela qual a gestação é um período onde não deve haver restrição calórica severa.


          Omitir refeições ou lanches pode acarretar em riscos para o feto em desenvolvimento. Se o ganho de peso não é suficiente, o bebê poderá nascer com baixo peso, com grandes chances de desenvolver problemas de saúde ou dificuldades de desenvolvimento.

          Ganhar muito peso também é prejudicial. Os bebês de mães que aumentaram seu peso em 16 kg ou mais podem gerar dificuldades no parto por serem maiores. E o peso adquirido em excesso pode levar à mãe a ter dificuldades para voltar ao seu peso anterior após o nascimento do bebê.

Há quase duas décadas, desde 1990, o Institute of Medicine não divulgava recomendações sobre o ganho de peso ideal durante uma gestação. O novo protocolo agora inclui recomendações específicas para todas as mulheres, inclusive aquelas que estão obesas antes de uma gravidez1. As recomendações começam com um checkup que inclui a avaliação do peso e da altura, dieta e exercícios físicos antes de engravidar e discute o uso de contraceptivos até que mulheres com sobrepeso2 ou obesas alcancem o peso ideal para iniciar uma gestação.
É importante que as mulheres iniciem a gravidez1 com um peso saudável, se possível, visando à manutenção e promoção da saúde da gestante e do bebê.
Baseado no IMC, as recomendações básicas para o ganho de peso durante a gestação de feto único são:

 Índice de massa corporal3 (IMC) antes da gravidez1
Classificação de Obesidade4 em relação ao IMC (OMS) (kg/m²) 
Ganho total de peso durante a gestação (gramas)* 
Taxa de ganho de peso no segundo e terceiro trimestres da gestação ** (média de ganho em gramas/semanas) 
 Abaixo do peso
Abaixo de 18,5 kg/m²
12.700g - 18.143g
0.453 (0.453 - 0.589)
Peso normal
18,5 - 24,9 kg/m²
11.339g - 15.875g
0.453 (0.362 - 0.453)
Sobrepeso2
25,0 - 29,9 kg/m²
6.803g - 11.339g
0.272 (0.226 - 0.317)
Obesidade4 (incluindo todas as classes)
Acima de 30,0 kg/m²
4.989g - 9.071g
0.226 (0.181 - 0.272)
* Os valores em gramas são uma conversão do protocolo original cuja unidade é pounds, são valores aproximados.

** Os cálculos aceitam um ganho de peso de 0,5 a 2 quilos durante o primeiro trimestre da gravidez1.

O novo protocolo difere do anterior em dois pontos importantes. Primeiro, ele é baseado nas categorias de índice de massa corporal3 (IMC) da Organização Mundial de Saúde para a classificação de obesidade4 e não mais nas tabelas do Metropolitan Life Insurance. Segundo, ele inclui taxas específicas e relativamente estreitas de ganho de peso durante a gravidez1 para mulheres obesas pré-concepção5. O protocolo antigo foca na saúde do bebê e o atual considera tanto a saúde do bebê como a da mulher.
Durante a gestação a maioria das mulheres ganha peso, mas elas não precisam ganhar uma quantidade ilimitada de peso, pois será difícil perder este excesso depois do parto. Também não precisam “comer por dois”. Basta que sejam acrescentadas à dieta 300 calorias por dia para manter uma gravidez1.
O protocolo recomenda o aconselhamento antes da concepção5 quanto ao ganho de peso, hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos, já que a maioria das mulheres não está recebendo estas orientações.
Outro ponto levantado é que as mulheres com sobrepeso2 ou obesas, antes de tentar engravidar, devem preferencialmente ter acesso a métodos contraceptivos até alcançarem um peso saudável para uma gravidez1 de menor risco. Esta discussão nem sempre é fácil para ter com uma pessoa que está querendo engravidar, mas muitas vezes este é o melhor momento para receber este tipo de orientação. O instinto materno ajuda a pensar em um futuro saudável.
           Para facilitar o entendimento, apresentamos o seguinte esquema, que identifica o ganho aproximado de peso na gestação:

            Bebê                                                 3,200 a 3,600 kg
            Placenta                                           0,450 a 0,900 kg
            Líquido Amniótico                           0,900 kg
            Mamas                                             0,450 kg
            Útero                                                 0,900 kg
            Volume Sangüíneo                         1,360 kg
            Gordura Corporal                            2,300 kg
            Massa Muscular e Líquidos          1,800 a 3,200 kg
                                                                       _______________
            Total:                          no mínimo     11,360 kg



Alimentação na Gestação

A gestação determina um aumento das necessidades nutricionais da futura mãe não só para corresponder às suas necessidades, como também as do feto. Embora uma mãe desnutrida possa gerar uma criança sadia, estudos de nutrição em mulheres durante a gestação tem mostrado uma relação definitiva entre a dieta da mãe e as condições do bebe ao nascer. 

É recomendada uma quota energética adicional diária de 300 calorias para satisfazer o gasto energético da gestante. A ingestão de todos os nutrientes deve ser aumentada. Segue abaixo uma relação dos tipos de alimentos e a quantidade a ser consumida diariamente:

Leite e derivados: 5 porções  (1 porção = 1 copo de  200 ml de leite ou 1 copo de iogurte ou 1 pedaço médio de queijo ou 1 colher de sopa de requeijão)

Carnes: 2 porções ( 1 porção = 1 bife médio de carne de boi, frango, peixe, peru ou 2 ovos cozidos) 

Pães e cereais: 5 porções (1 porção = 1 pãozinho ou 2 fatias de pão de forma ou 2 colheres de sopa de arroz ou outro cereal ou 1 batata media)

Leguminosas: 2 porções ( 1 porção = 2 colheres de sopa de leguminosa)

Verduras: 2 porções (1 porção = 3 colheres de sopa de verdura cozida ou 1 prato de sobremesa raso de verdura crua)

Legumes: 2 porções ( 1 porção = 3 colheres de sopa de legume)

Frutas: 3 porções (1 porção = 1 unidade)



Eventualmente podem ser consumidos alimentos como bolo, chocolates e doces, mas com uma frequência semanal, pois a gordura e o açúcar em excesso se tornam prejudiciais pela alta incidência de vômitos e fazem com que a gestante ganhe alguns quilos a mais do que deveria e tenha dificuldade em perdê-los após o parto.

EXEMPLO DE CARDÁPIO

DESJEJUM: 1 xícara de café                                                                            
½  copo de leite ou iogurte           
2 fatias de pão integral ou 1 pão francês ou 4 bolachas tipo água e sal ou 4 torradas pequenas                                                                                                    
2 fatias médias de queijo fresco magro ou 2 colheres de sopa de requeijão ou queijo cremoso              
                                                                                                                 
LANCHE DA MANHÃ: 1 xícara de cereal integral                                         
1 copo de iogurte ou leite       
                                                                            
ALMOÇO: 1 prato de sobremesa de salada crua                   
4 colheres de sopa de legume cozido                                                                 
4 colheres de sopa de arroz ou 1 xícara de macarrão ou 2 batatas médias
½ concha de feijão ou outra leguminosa                                                        
1 porção media (120g) de carne magra                                               
1 fruta          
                         
LANCHE DA TARDE: 1 xícara de leite ou iogurte                                        
4 bolachas de água e sal ou 4 torradas pequenas ou 2 fatias de pão de forma ou 1 pão francês
1 colher de sopa de requeijão ou queijo cremoso ou 1 fatia média de queijo magro                 
1 fruta  
                                            
JANTAR: idem almoço
                       
CEIA:  ½  copo de leite ou iogurte                                                                    
4 torradas ou bolachas tipo água e sal ou 4 torradas                                    
1 fatia grande de queijo fresco ou
1 colher de sopa de queijo cremoso ou requeijão 
                 
Vômitos

Durante o primeiro trimestre da gestação, a futura mãe poderá sofrer náuseas. Certos alimentos que antes eram consumidos sem dificuldade agora podem provocar desagrado (as gorduras são causas comuns de distúrbios). Os líquidos tomados às refeições também podem precipitar o vomito. A ingestão de torradas ou alguns biscoitos tipo cracker, ao acordar, pode ajudar a eliminar o enjoo.

Refeições pequenas e constantes, consistindo de alimentos como cereal bem cozido, torrada com geleia, batatas assadas e biscoitos salgados, servidos a intervalos de 2 horas, em geral, são bem tolerados inicialmente.

          Os líquidos devem ser tomados entre as refeições, mas não durante as mesmas. O leite desnatado pode ser mais bem aceito que o integral. 

Frequentemente a náusea desaparece no meio do dia e a mulher poderá preencher suas necessidades nutricionais pelo aumento da ingestão de alimentos durante a tarde, no jantar e antes de dormir. Se o vomito persistir e tornar-se nocivo, haverá necessidade de cuidados médicos.

Aporte Calórico

Para manter o ganho de peso ideal durante a gestação, deve ser consumida energia suficiente para: 1. A deposição de tecido novo associada a gestação; 2. O gasto metabólico aumentado para manter o tecido novo; 3. O aumento de energia para levar adiante a gestação. A gordura total e depósitos de proteína representam uma necessidade de cerca de 41000 calorias durante a gestação. Se as necessidades basais de energia aumentam de 0,9 para 1,1 calorias/minuto, o aumento de energia necessário para o metabolismo totaliza cerca de 300 calorias/dia.  O aporte calórico total vai depender das características individuais de cada gestante, como peso, altura, tamanho de osso, atividade física.

Dentre os alimentos recomendados, convém evitar os enlatados, pois são uma possível fonte de bactérias causadoras de doenças como o botulismo. A procedência, odor e aspecto dos alimentos consumidos crus, dentre eles o ovo, devem ser muito observados para que se evite também a contaminação pela salmonella. Os vegetais devem ser muito bem lavados e deve-se evitar aqueles expostos a agrotóxicos, pois são muito prejudiciais a gestante e principalmente ao feto.

Fatores Alimentares Prejudiciais

Álcool: Demonstrou-se que o consumo de álcool durante a gestação está associado a um padrão alterado de crescimento e desenvolvimento em filhos de mães que bebem, sendo classificado como a "síndrome alcoólica fetal". O álcool atravessa a placenta e entra na corrente sanguínea fetal na mesma concentração que no sangue materno. Contudo, o feto e desprovido da enzima álcool-desidrogenase, que metaboliza o álcool no organismo. Desse modo, os efeitos prejudiciais do mesmo tem um período de atividade muito mais longo no feto que no adulto. Visto que não foi estabelecido um nível seguro de ingestão de álcool, as mulheres devem ser estimuladas a abster-se durante toda a gravidez. 

Cafeína: Embora a toxicidade da cafeína não tenha ainda sido estabelecida para os fetos em humanos, sabe-se que ela atravessa a placenta e por esta razão pode ser prejudicial para o feto em desenvolvimento. Aconselha-se as gestantes a evitarem a cafeína ou a usa-la moderadamente ate a conclusão de novos estudos. O café, o chá, o cacau e as bebidas a base de cola contem cafeína.

Adoçantes: A sacarina, o manitol, o xilitol, o aspartame e outros edulcorantes artificiais foram submetidos a um estudo cuidadoso nos últimos anos. Foi relatado que a frequência de abortos espontâneos em população humana não esta associada com a ingestão de qualquer substituto de açúcar. Entretanto, como a sacarina se mostrou carcinogênica em ratas, parece adequada a moderação de seu uso. De qualquer forma, estudos ainda estão sendo realizados nesta área. O melhor e consultar o médico antes de fazer uso de qual.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Texto elaborado por: Lara Natacci
Nutricionista CRN 5738
Diretora da Dietnet Assessoria Nutricional

Formação Acadêmica/Titulação
2014 – atual Doutorado em Educação em Saúde na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

2011 – 2013 Formação em Coach de Bem Estar, pela Carevolution

2006 - 2009  Mestrado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – Obtenção do título de Mestre em Ciências em 07 de outubro de 2009

2005 – 2007             Especialização em Nutrição Clínica Funcional – CVPE Universidade Ibirapuera 

2003 -  2004 Especialização em Distúrbios do Comportamento Alimentar. Université de Paris 5 René Descartes – Paris, França

1996 - 1996 Especialização em Bases Fisiológicas da Nutrição no Esporte. Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, Brasil

1989 - 1993 Graduação em nutrição – Obtenção do título de nutricionista em 20 de dezembro de 1993 - Centro Universitário São Camilo, São Paulo, Brasil

Autora dos livros:

1.    Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar. São Paulo: Editora Atheneu, 2008

2.    Dietbook Terceira Idade – Tudo o que você deve saber sobre alimentação e saúde depois dos 60 anos. São Paulo: Editora Mandarim - Grupo Siciliano, 2001.

3.   Dietbook Gestante – Tudo o que você deve saber sobre alimentação na gestação e introdução de alimentos para recém-nascidos. São Paulo: Editora Mandarim - Grupo Siciliano, 2000.

4.   Dietbook Júnior – Tudo o que você deve saber sobre Alimentação e Saúde de Crianças e Adolescentes. São Paulo : Editora Mandarim - Grupo Siciliano, 2000.

5.   Dietbook – Respostas às Dúvidas mais Comuns sobre Alimentação e Saúde. São Paulo : Editora Mandarim - Grupo Siciliano, 1999.

Idealizadora e mantenedora do site http://www.dietnet.com.br , na internet desde 1997

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