Antes de falar de Nutrição, é preciso
compreender um pouco sobre a fisiologia capilar. Os cabelos são fibras naturais
localizadas na derme e formadas em uma estrutura, chamada de folículo piloso.
Por sua vez, esse folículo piloso é a estrutura que dá origem ao pelo. Ele faz
parte de uma unidade, conhecida por Unidade Pilo-sebácea , junto com as
glândulas sebáceas (responsáveis pela lubrificação do couro cabeludo e dos fios
de cabelo) e com o músculo eretor do pelo (responsável pela elevação dos pelos
quando nos arrepiamos). É o folículo piloso que dá origem às células que irão
formar o pelo, além de ser responsável por seu desenvolvimento e também por seu
crescimento.
Na base do folículo piloso,
encontra-se o bulbo capilar ou matriz capilar , que nada mais é do que a raiz
do cabelo, onde encontra-se as papilas (responsável pelo aporte de nutrientes)
e as células matrizes. É através do bulbo capilar, que os cabelos crescem, pois
a partir das vitaminas e dos aminoácidos que são levadas pelos vasos sanguíneos,
nutrem as células matrizes para o seu perfeito desenvolvimento. Para que isso
aconteça, é necessário que toda esta estrutura do folículo piloso, funcione
adequadamente, e que todos os nutrientes cheguem até as células matrizes. E é
aqui que entra a importância da Nutrição, pois carências nutricionais, dietas
inadequadas, alterações hormonais, envelhecimento precoce, uso de medicamentos,
fatores psicológicos, estresse, consumo de álcool e cigarro excessivo podem
afetar a reprodução capilar e assim prejudicar a produção do fio de cabelo.
Os fios que recobrem o couro cabeludo
tem função principal de proteção e a maior parte de sua estrutura é formada por
proteína (queratina) e estas são compostas por cerca de 20 aminoácidos, como:
Cisteína, Cistina, Metionina, Arginina, Citrulina, entre outros. Além disso, o
cabelo é composto por 45% de carbono, 28% de oxigênio, 15% de nitrogênio, 5% de
hidrogênio e 5% de enxofre, além de outros elementos como: ferro, cobre, zinco
e iodo. Os cabelos podem ser crespos, ondulados, lisos e se diferenciar em
diversas cores também.
De modo geral, há 150mil fios de
cabelo em um indivíduo adulto e estes crescem cerca de 1 cm ao mês. Estes fios
são substituídos a cada período de 3 a 5 anos. Os cabelos tem um ciclo de vida
que determina seu crescimento. A fase anágena, dura cerca de de 3 a 5 anos, e
neste período a matriz encontra-se em atividade mitótica. Em seguida, inicia-se
a fase telógena, que dura em média de 3 a 6 meses. Esta é a fase em que os
cabelos caem espontâneamente, pois as mitoses se encerram e consequentemente
ocorre o desaparecimento da matriz, e assim o bulbo se torna queratinizado.
Além disso, a bainha radicular interna desaparece, sendo denominada de saco
epitelial, englobando o bulbo, que neste momento é chamado de clava. Entre
estas duas fases, existe ainda uma terceira fase, intermediária a estas,
chamada de fase catágena. Desta forma, pode-se concluir que é possível eliminar
entre 50 a 100 fios por dia, porém esta quantidade pode variar de pessoa para
pessoa. A queda de cabelo patológica tem relação com o ciclo capilar, que em
excesso ou não, gera uma diminuição do numero total de fios de cabelo.
Os cabelos conferem características
estéticas e também funciona como isolante térmico, protegendo o couro cabeludo
dos raios solares. Como o cabelo é composto por aminoácidos, quando ocorre uma
deficiência de proteica, o mesmo pode sofrer uma redução na velocidade de
crescimento. Esta redução, ou a queda acentuada e até mesmo uma fragilidade ao
toque, podem indicar problemas de saúde. Portanto a saúde capilar é indicativa
de estado de saúde geral, correlacionado especialmente com carências
nutricionais.
Um dos problemas que representa uma
grande preocupação tanto para homens quanto para mulheres é a Alopecia. A
palavra Alopecia vem do grego e significa Pelada e seu diagnóstico pode estar
associado a diversas causas: genéticas, alterações hormonais, doenças crônicas
e carências nutricionais. A queda de cabelo pode ser momentânea, porém em
quantidade excessiva, ou pode ser crônica e anormal, podendo não haver
nascimento de novos fios. A Alopecia pode ser total, difusa ou em áreas.
A relação entre a Alopecia e a
nutrição aparece em muitos estudos sobre desnutrição proteica energética e
desordens alimentares. Vale destacar que, genética, idade, alterações hormonais
(ex: disfunção da tireoide), deficiências nutricionais, infecções, estresse,
gestação, exposição solar, uso de produtos químicos, medicamentos e certas
doenças, podem favorecer a queda dos cabelos.
Deficiências nutricionais estão
relacionadas à queda de cabelo. Alguns nutrientes como Biotina, Vitaminas do
Complexo B, Zinco e Magnésio são importantes para a saúde capilar. A Biotina
participa do desenvolvimento do folículo piloso. Sua deficiência causa alopecia
difusa e despigmentação dos cabelos. Ela também pode prevenir a progressão da
calvície, já que a estimulação da biossíntese capilar resulta da ação desta
vitamina no metabolismo proteico. Vale destacar que o consumo excessivo de
álcool, alimentos refinados e claras de ovos, bem como o consumo, a longo
prazo, de antibióticos, pode esgotar os níveis de biotina do corpo.
Outros nutrientes importantes são,
Taurina, Silício e Zinco. A taurina atua como excelente protetor do folículo
capilar e estimula o crescimento dos cabelos. A falta de zinco provoca o
aumento do Fator de necrose Tumoral alfa (TNF-a), que estimula processos
inflamatórios que acabam afetando os tecidos saudáveis do corpo, tais como
cabelo. Níveis suficientes de zinco ajudam a preservar o cabelo saudável,
porém, altas doses de suplementação de zinco pode reverter o processo e causar
queda de cabelo acelerado.
O conteúdo de água também é um fator
importante para o cabelo. A cutícula, presente na superfície do fio do cabelo,
tem um papel importante na retenção da água no cabelo, sendo que os aminoácidos
são responsáveis por hidratar a cutícula. Cabelos sem brilho e ressecados
sinalizam cutículas bastante danificadas devido a diminuição da quantidade de
aminoácidos.
A perda de cabelo em mulheres é mais
frequentemente associada com um desequilíbrio de estrógeno e testosterona no
corpo. Isso geralmente acontece durante o período da menopausa, mas vêm
afetando mulheres mais jovens também.
Outro fator bastante relevante quando
se trata de saúde capilar, se relaciona a digestão proteica. A má digestão pode
ocorrer por uso abusivo de medicamentos inibidores de acidez, estresse e
alimentação inadequada a longo prazo. Estes fatores podem causar uma diminuição
na capacidade do estômago de secretar ácido clorídrico (HCl) e quando isso
acontece, há uma redução na capacidade do estômago em digerir adequadamente as
proteínas, o que aumenta a possibilidade de um quadro de disbiose intestinal,
de alteração da permeabilidade da barreira intestinal, de absorção de macromoléculas
e lipopolissácarídeos bacterianos e consequentemente aumento de processos
inflamatórios, favorecendo a queda dos cabelos.
Algumas dicas importantes para
favorecer a saúde dos cabelos:
- Aumentar o consumo de proteínas.
Elas desempenham função estrutural, de manutenção e reparo dos tecidos. Alguns
aminoácidos provenientes das proteínas fazem parte da fibra capilar, portanto,
para que os cabelos fiquem mais bonitos, fortes e saudáveis os aminoácidos são
fundamentais. Desta maneira é fundamental que se tenha boa digestão destas
proteínas, para garantir que haja a incorporação dos aminoácidos nos fios de
cabelo. Boas fontes de proteínas: carnes, aves, peixes e ovos.
- Incluir alimentos fontes de Biotina,
pois ela favorece o crescimento dos fios e é importante como coenzima para o
metabolismo protéico, lipídico e energético. As melhores fontes de Biotina são:
levedo de cerveja, Fígado de galinha, Gema e Nozes. Ela também pode ser
encontrada em menor quantidade no gérmen de trigo. É importante evitar o
consumo excessivo de clara de ovo crua e preferir o consumo do ovo inteiro, já
que a gema é excelente fonte da vitamina.
- Consumir mais alimentos fontes de
zinco, como ostras, camarão, carne de vaca, frango e de peixe, fígado, gérmen
de trigo, grãos integrais e castanhas. O zinco é um mineral essencial para a
saúde dos fios, pois é constituinte do DNA celular, portanto imprescindível
para a formação de novos fios. Além disso, o zinco auxilia na formação do
colágeno e é um fator importante para que os cabelos não fiquem branco antes da
hora. Mergulhar grãos e nozes em água limpa, trocando a água pelo menos 2x e
deixar de molho por 8 horas antes de comer, pode auxiliar na redução de fitatos
que reduzem a absorção de zinco.
- Cobre e Ferro também são importantes
para a saúde capilar. O Cobre participa da síntese do colágeno que dá estrutura
ao fio. Fontes: caju, castanhas, frutos do mar, sementes de abóbora e girassol,
manga, abacate, sardinha, lentilha e ervilha. O Ferro está envolvido com a
divisão celular favorecendo o desenvolvimento dos fios. Fontes: carnes,
feijões, vegetais folhosos escuros – é importante lembrar que para haver boa
absorção, é preciso consumir junto com frutas cítricas, pois estas são fontes
de vitamina C, que aumentam a absorção do ferro.
- Outro nutriente que não pode ser
esquecido é o Iodo. Ele é importante para a produção de hormônios tireoideanos,
o que pode impactar na velocidade do metabolismo e assim na renovação das
células. Está presente principalmente nas algas marinhas, e em alguns peixes,
como: cavala, mexilhão, bacalhau, salmão, pescada, sardinha.
- Aumentar a ingestão de alimentos
fontes de Vitaminas do Complexo B, pois exercem papel essencial no metabolismo
energético dos queratinócitos (células produtoras de queratina). Uma delas é a
Piridoxina ou vitamina B6, outra vitamina não menos importante é a
Cianocobalamina ou vitamina B12, elas atuam como cofatores de enzimas no
processo de proliferação celular. Boas fontes alimentares: vegetais folhosos,
cereais integrais, carnes, peixes, frutos do mar. A vitamina B5 ou Ácido
Pantotênico está envolvida na construção celular, portanto ela também é
fundamental para a saúde capilar, pois favorece o crescimentos dos fios.
Melhores fontes: Brócolis, Peixes, Melado de cana, cereais integrais como arroz
integral e aveia.
- Incluir alimentos fontes de retinol,
como frutos do mar, sardinha, atum, leite, margarina, ovos, fígado de boi,
cereais integrais, cenoura, abóbora e tomate. É um nutriente importante para
vitalidade e crescimento do cabelo, pois colabora na manutenção dos tecidos e
cabelos. Os carotenoides tem ação antioxidantes, reduzindo o estresse oxidativo
e consequentemente a morte do bulbo capilar, o que pode provocar queda de
cabelo e deixa-los grisalhos.
- A vitamina C também deve ser
incluída, pois é essencial na fabricação do colágeno que dá estrutura a tecidos
como o cabelo e aumenta a absorção do ferro. Além disso, sua ação antioxidante
combate os efeitos do estresse, o que evita danos na saúde capilar . Está
presente principalmente nas frutas cítricas e vegetais verde escuros.
- Consumir fontes de Silício, como
aveia, milho, arroz, cogumelos, cevada, trigo, cavalinha, pepino, frango,
miúdos do frango como coração e moela, vegetais, algas, frutos do mar. O
silício faz parte do tecido conjuntivo/fibras colágenas e auxilia na formação
da queratina , por isso é tão importante para a saúde dos cabelos.
- Incluir também alimentos fontes de
Cálcio e magnésio. São nutrientes fundamentais para que os outros nutrientes
penetrem nas células, ou seja, eles são carreadores de todos nutrientes. Fontes
de Cálcio: Vegetais verde escuros, gergelim, tofu, sardinha, leite e derivados.
Fontes de Magnésio: Vegetais verde escuros, sementes oleaginosas e feijão.
- O Ômega 3 é necessário para manter a
membrana celular permeável e fluida, com isso se mantém a elasticidade e a
absorção dos nutrientes, além de garantir brilho aos cabelos. Incluir alimentos
fontes como: azeite de oliva, sementes oleaginosas como nozes e avelã, chia e
linhaça e peixes de água fria (sardinha, arenque, cavala, salmão).
- Outro nutriente a ser incluído na
alimentação é a Vitamina E. Ela participa do processo de formação dos fios e
sua ausência pode acarretar em problemas de formação da estrutura capilar. Está
presente principalmente em oleaginosas e óleos vegetais.
Portanto, pode-se considerar o cabelo
como um importante sinal indicativo de saúde das pessoas, pois os nutrientes
obtidos através da alimentação fortalecem os fios e mantém a saúde do couro
cabeludo. Assim, se o mesmo ficar fraco, sem brilho ou até mesmo com queda
acentuada, pode ser um sinal de que está havendo deficiência de nutrientes,
pois como qualquer parte do corpo, as células que formam o cabelo dependem de
uma alimentação saudável e balanceada. Fazer uma avaliação nutricional
detalhada, além de exames bioquímicos são importantes para detectar possíveis
causas da queda de cabelos.
Texto
elaborado por: Vanessa Freire P. Lima De Nadai
Nutricionista formada pela PUC
Campinas.
Especialista em Nutrição Funcional, Nutrição Ortomolecular e
Fitoterapia.
Pós graduanda em Bioquímica, Fisiologia,Treinamento e Nutrição
Desportiva pela UNICAMP.
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referências
Bibliográficas:
CARDOSO,
M.A. Nutrição Humana, Nutrição e Metabolismo. Editor da série Helio -Vannucchi
– Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
MAHAN,
L.K.; STUMP, S.E. Krause Alimentos, Nutrição & Dietoterapia/10ª edição, São
Paulo, Roca, 2002.
PHILIPPI,
S.T. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição/organizadora Sônia
Tucunduva Philippi, Barueri, SP: Manole, 2008.
Revista
Nutrição Saúde e Performance – Ano9 – edição 41
PORTAL
EDUCAÇÃO: http://www.portaleducacao.com.br/estetica/artigos/51888/anatomia-e-fisiologia-capilar#ixzz3n5QG7YEb
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