O
envelhecimento, apesar de ser um processo natural, submete o organismo a
diversas alterações anatômicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, com
repercussões sobre as condições de saúde e nutrição desses indivíduos. O idoso,
diante de tantas peculiaridades, deve ser avaliado de maneira ampla e
interdisciplinar. Dentro desse contexto, está a importância da avaliação do seu
estado nutricional, evitando-se, portanto, a visão de que as alterações
nutricionais do idoso fazem parte do processo normal do envelhecimento.
Normalmente, o padrão dietético do
idoso continua semelhante àquele estabelecido pelos hábitos da juventude e o
estado nutricional continua a ser adequado mesmo nessa fase da vida. No
entanto, a incidência aumentada de doenças e incapacidades associadas a
mudanças no estilo de vida nesse grupo populacional vem determinando uma
prevalência crescente de distúrbios nutricionais nessa fase da vida.
Considerando a prevalência crescente
de distúrbios nutricionais no idoso, torna-se imprescindível o conhecimento das
alterações morfológicas e das mudanças na composição corpórea que ocorrem nessa
população e o conhecimento de como elas devem ser interpretadas em uma
avaliação clínica nutricional.
Entre tantas mudanças, a sarcopenia,
a osteopenia e a diminuição da água corporal repercutem de maneira importante
no estado nutricional do idoso e em parâmetros que são utilizados
frequentemente na avaliação nutricional. A água é o principal componente da
composição corpórea e com o envelhecimento há redução de 20 a 30% da água
corporal total. Além do exposto, o envelhecimento provoca diminuição de 20 a
30% da massa muscular (sarcopenia) e da massa óssea (osteopenia), causada pelas
alterações neuroendócrinas e inatividade física.
A obesidade e a desnutrição são dois
problemas que coexistem nos tempos atuais. Apesar de a desnutrição em idosos se
apresentar como um fator mais fortemente associado à mortalidade do que o
excesso de peso, a obesidade tem sido observada em curva ascendente na faixa
geriátrica e traz consigo importantes repercussões clínicas. Sua importância
está associada ao fato de acelerar o declínio funcional do idoso e agravar as
suas limitações, gerando, assim, perda de independência e autonomia.
Apesar da suscetibilidade para
desenvolver desnutrição, o idoso tem um aumento de 20 a 30% na gordura corporal
total (2 a 5%/década, após os 40 anos) e modificação da sua distribuição,
tendendo a uma localização mais central. No sexo masculino, a gordura se
deposita na região abdominal e, no feminino, na região das coxas e nádegas. Há
diminuição do tecido gorduroso nos membros superiores e diminuição de massa
magra nas pernas. Em virtude dessas mudanças, o idoso pode apresentar
alterações em algumas variáveis antropométricas, como aumento da circunferência
da cintura e diminuição da circunferência do braço e da dobra cutânea
triciptal.
Podem ser citadas outras alterações
fisiológicas do envelhecimento que comprometem as necessidades nutricionais do
idoso:
●
Redução do olfato e paladar, devida à redução nos botões e papilas gustativas
sobre a língua;
●
Aumento da necessidade proteica;
●
Redução da biodisponibilidade de vitamina D;
●
Deficiência na absorção da vitamina B6;
●
Redução da acidez gástrica com alterações na absorção de ferro, cálcio, ácido
fólico, B12 e zinco;
●
Xerostomia;
●
Dificuldade no preparo e ingestão dos alimentos;
●
Tendência à diminuição da tolerância à glicose;
●
Atividade de amilase salivar reduzida;
●
Redução da atividade e enzimas proteolíticas, como a amilase e a lipase
pancreáticas;
●
Redução do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular.
Outros fatores contribuem para o
desenvolvimento da desnutrição: menor acesso ao alimento devido a causas
físicas, como sequela de acidente vascular encefálico, ou sociais, como a
institucionalização; uso de medicações que causam inapetência; depressão;
desordens na mastigação, causadas por próteses mal adaptadas; alcoolismo; entre
outros.
A avaliação nutricional no idoso
deve ser realizada de maneira criteriosa e devem ser consideradas as alterações
que ocorrem na composição corpórea e que são decorrentes do processo de
senescência. O idoso, por exemplo, tende a ter, de maneira geral, uma discreta
diminuição de seu peso e de sua altura e esses dados não devem ser
interpretados como patológicos. Seu peso diminui por causa da perda de massa
óssea e massa muscular e da redução fisiológica do apetite. A altura, por outro
lado, sofre alterações, sendo observada uma diminuição dela ao longo das
décadas; isso se deve, entre outros fatores, ao achatamento plantar, à
diminuição da altura das vértebras e discos intervertebrais e a alterações
posturais.
Durante a avaliação nutricional do
idoso, várias ferramentas podem ser utilizadas: exame físico, indicadores
antropométricos, parâmetros bioquímicos, questionários para avaliação
nutricional subjetiva, impedância bioelétrica, entre outras.
Vários parâmetros antropométricos são citados na literatura, como: peso, altura, índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal (CA); circunferência da panturrilha (CP); circunferência do braço (CB); circunferência do quadril (CQ), altura do joelho, envergadura do braço e pregas cutâneas.
Quanto à avaliação bioquímica,
destacam-se as dosagens de albumina plasmática, pré-albumina, transferrina,
colesterol, o índice creatinina-altura, entre outros. Considerando a avaliação
nutricional subjetiva, destacam-se a Miniavaliação Nutricional (MAN) e a
Avaliação Subjetiva Global (ASG).
As informações contidas
neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos
profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos,
educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu
conhecimento.
Referência
Bibliográfica:
Santos,
ACO; Machado, MMO; Leite, EM. Envelhecimento e alterações do estado
nutricional. Geriatria & Gerontologia 2010; vol. 4, n.3, p: 168-175.
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