terça-feira, 3 de novembro de 2015

Envelhecimento e Alterações do Estado Nutricional



          O envelhecimento, apesar de ser um processo natural, submete o organismo a diversas alterações anatômicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, com repercussões sobre as condições de saúde e nutrição desses indivíduos. O idoso, diante de tantas peculiaridades, deve ser avaliado de maneira ampla e interdisciplinar. Dentro desse contexto, está a importância da avaliação do seu estado nutricional, evitando-se, portanto, a visão de que as alterações nutricionais do idoso fazem parte do processo normal do envelhecimento.

        Normalmente, o padrão dietético do idoso continua semelhante àquele estabelecido pelos hábitos da juventude e o estado nutricional continua a ser adequado mesmo nessa fase da vida. No entanto, a incidência aumentada de doenças e incapacidades associadas a mudanças no estilo de vida nesse grupo populacional vem determinando uma prevalência crescente de distúrbios nutricionais nessa fase da vida.

         Considerando a prevalência crescente de distúrbios nutricionais no idoso, torna-se imprescindível o conhecimento das alterações morfológicas e das mudanças na composição corpórea que ocorrem nessa população e o conhecimento de como elas devem ser interpretadas em uma avaliação clínica nutricional.

            Entre tantas mudanças, a sarcopenia, a osteopenia e a diminuição da água corporal repercutem de maneira importante no estado nutricional do idoso e em parâmetros que são utilizados frequentemente na avaliação nutricional. A água é o principal componente da composição corpórea e com o envelhecimento há redução de 20 a 30% da água corporal total. Além do exposto, o envelhecimento provoca diminuição de 20 a 30% da massa muscular (sarcopenia) e da massa óssea (osteopenia), causada pelas alterações neuroendócrinas e inatividade física.

            A obesidade e a desnutrição são dois problemas que coexistem nos tempos atuais. Apesar de a desnutrição em idosos se apresentar como um fator mais fortemente associado à mortalidade do que o excesso de peso, a obesidade tem sido observada em curva ascendente na faixa geriátrica e traz consigo importantes repercussões clínicas. Sua importância está associada ao fato de acelerar o declínio funcional do idoso e agravar as suas limitações, gerando, assim, perda de independência e autonomia.

        Apesar da suscetibilidade para desenvolver desnutrição, o idoso tem um aumento de 20 a 30% na gordura corporal total (2 a 5%/década, após os 40 anos) e modificação da sua distribuição, tendendo a uma localização mais central. No sexo masculino, a gordura se deposita na região abdominal e, no feminino, na região das coxas e nádegas. Há diminuição do tecido gorduroso nos membros superiores e diminuição de massa magra nas pernas. Em virtude dessas mudanças, o idoso pode apresentar alterações em algumas variáveis antropométricas, como aumento da circunferência da cintura e diminuição da circunferência do braço e da dobra cutânea triciptal.

            Podem ser citadas outras alterações fisiológicas do envelhecimento que comprometem as necessidades nutricionais do idoso:

● Redução do olfato e paladar, devida à redução nos botões e papilas gustativas sobre a língua;

● Aumento da necessidade proteica;

● Redução da biodisponibilidade de vitamina D;

● Deficiência na absorção da vitamina B6;

● Redução da acidez gástrica com alterações na absorção de ferro, cálcio, ácido fólico, B12 e zinco;

● Xerostomia;

● Dificuldade no preparo e ingestão dos alimentos;

● Tendência à diminuição da tolerância à glicose;

● Atividade de amilase salivar reduzida;

● Redução da atividade e enzimas proteolíticas, como a amilase e a lipase pancreáticas;

● Redução do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular.

            Outros fatores contribuem para o desenvolvimento da desnutrição: menor acesso ao alimento devido a causas físicas, como sequela de acidente vascular encefálico, ou sociais, como a institucionalização; uso de medicações que causam inapetência; depressão; desordens na mastigação, causadas por próteses mal adaptadas; alcoolismo; entre outros.

          A avaliação nutricional no idoso deve ser realizada de maneira criteriosa e devem ser consideradas as alterações que ocorrem na composição corpórea e que são decorrentes do processo de senescência. O idoso, por exemplo, tende a ter, de maneira geral, uma discreta diminuição de seu peso e de sua altura e esses dados não devem ser interpretados como patológicos. Seu peso diminui por causa da perda de massa óssea e massa muscular e da redução fisiológica do apetite. A altura, por outro lado, sofre alterações, sendo observada uma diminuição dela ao longo das décadas; isso se deve, entre outros fatores, ao achatamento plantar, à diminuição da altura das vértebras e discos intervertebrais e a alterações posturais.

             Durante a avaliação nutricional do idoso, várias ferramentas podem ser utilizadas: exame físico, indicadores antropométricos, parâmetros bioquímicos, questionários para avaliação nutricional subjetiva, impedância bioelétrica, entre outras.



          Vários parâmetros antropométricos são citados na literatura, como: peso, altura, índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal (CA); circunferência da panturrilha (CP); circunferência do braço (CB); circunferência do quadril (CQ), altura do joelho, envergadura do braço e pregas cutâneas.

          Quanto à avaliação bioquímica, destacam-se as dosagens de albumina plasmática, pré-albumina, transferrina, colesterol, o índice creatinina-altura, entre outros. Considerando a avaliação nutricional subjetiva, destacam-se a Miniavaliação Nutricional (MAN) e a Avaliação Subjetiva Global (ASG).

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referência Bibliográfica:

Santos, ACO; Machado, MMO; Leite, EM. Envelhecimento e alterações do estado nutricional. Geriatria & Gerontologia 2010; vol. 4, n.3, p: 168-175.

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