terça-feira, 5 de julho de 2016

Recomendações Nutricionais Para o Paciente Politraumatizado



       O Trauma consiste em lesão de extensão, intensidade e gravidade variáveis, que pode ser produzida por agentes diversos (físico, químicos, elétricos), de forma acidental ou intencional, capaz de produzir perturbações locais ou sistêmicas. 
           
        Segundo o Ministério da Saúde, ocorreram 127.633 óbitos por traumas no Brasil em 2005, representando 12,67% do total de óbitos. Trauma foi a principal causa de morte entre um e 39 anos de idade; morreram 58.969 adultos entre 20 e 39 anos. Em Dezembro de 2007, houve 76.583 internações por traumas no país. Somam-se aqueles os que sofreram lesões temporárias ou permanentes.

            Trauma nos países ocidentais é a terceira causa de morte, depois de doenças cardiovasculares e cânceres, sendo naqueles abaixo de 45 anos de idade, a primeira causa de morte. Acontece principalmente a população economicamente ativa, com consequências sociais de elevado custo. No caso de sobrevivência após trauma, podem estar associadas sequelas definitivas e irreversíveis, com consequências nefastas no plano humano e econômico, para o paciente e familiares.

           O trauma é responsável por um percentual significante de internações, cirurgias e ocupações de leito nas UTIs, sendo que, nos primeiros quarenta anos de vida, aponta em primeiro lugar nas causas de mortalidade. Outro agravante a ser analisado é o alto índice de jovens envolvidos em acidentes, o que torna o trauma, além de um problema de saúde, um transtorno socioeconômico para o país.

            Em casos de trauma, a desnutrição se instala de forma rápida e progressiva. As consequências dessas alterações são retratadas constantemente em diversos estudos clínicos. Dentre essas consequências, é possível destacar a maior morbidade, o tempo de hospitalização e a mortalidade em pacientes com associação de desnutrição e trauma.

           O atendimento ao paciente politraumatizado deve seguir uma abordagem multidisciplinar pela possibilidade de múltiplas lesões associadas.

           

NECESSIDADES CALÓRICAS E PROTEICAS

        
             A nutrição deve ser integrada no tratamento global do paciente a fim de minimizar as complicações de um tratamento mais prolongado. As prioridades imediatas pós trauma são: reanimação volêmica, oxigenação e a interrupção da hemorragia. O suporte nutricional é a parte essencial do tratamento metabólico destes pacientes. Ele deve ser instituído antes que haja significativa perda de peso, de preferência nas primeiras 24 horas da admissão no hospital, através de dietas orais ou enterais preferencialmente, e parenterais quando necessário.

            A triagem nutricional e a avaliação nutricional são de suma importância para a boa evolução do quadro clínico, pois estes evidenciam os pacientes que estão desnutridos ou em risco de desnutrição que necessitam de um fornecimento adequado de nutrientes e calorias.

Quadro 1. Cálculo das necessidades de calorias no atendimento inicial de acordo com a situação clínica.
Situação clínica
Necessidades calóricas estimadas kcal/kg/dia
Necessidade proteica estimada g/kg/dia
Trauma moderado (ISS > 16 < 20)
25
1,2 – 1,5
Trauma grave (ISS* > 20)
20 - 25
1,5 – 2,0
Trauma cranioencefálico grave (Glasgow* < 8):
Sem paralisia
Com Paralisia


30
25


1,2 – 2,0
1,2 – 2,0
Trauma raquimedular com paraplegia
20 – 22
1,2 – 1,5
Grande queimado
25
2
ISS: Injury Severity Score
Glasgow: Avaliação do nível de consciência
Adaptada de Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral

            O fornecimento de nutrientes e calorias pode ser estimado pela equação de Harris-Benedict e calorimetria indireta, entretanto a equação de Harris-Benedict possui algumas ressalvas. Esta equação foi publicada há aproximadamente 87 anos e foi desenvolvida para indivíduos saudáveis e, portanto, quando adicionada aos fatores de atividade e agressão, superestima perigosamente as necessidades do paciente catabólico.

        Em alguns casos é necessária a suplementação proteica para atingir as necessidades previamente estabelecidas e favorecer a recuperação do indivíduo.
           
            CONCLUSÃO

            A avaliação nutricional para os pacientes politraumatizados deve ser minuciosa e individualizada de acordo com as características do trauma. As necessidades nutricionais destes pacientes devem ser estipuladas para melhor aporte principalmente calórico e proteico, favorecendo assim a recuperação e reduzindo o risco de complicações associadas ao quadro clínico.

            REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. VIEIRA, C.A.S.; MAFRA, A.A.. et al / Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Protocolo Clínico sore Trauma. Belo Horizonte 2011.
  2. Programa Oficial de Educação Médica Continuada da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral. Terapia Nutricional no Trauma.
  3. RABELO, N.N.; CAIRUS, C.; TALLO, F.S.; LOPES, R.D. Conduta nutricional no trauma para o clínico. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2012 mar/abr;10(2):116-21.

Texto elaborado por: Lilian Miola Ishikawa
Nutricionista formada pelo Centro Universitário São Camilo;
Especialista em Terapia Nutricional pelo Grupo de Apoio a Nutrição Enteral e Parenteral (GANEP);
Especialista em Nutrição nas doenças crônicas não transmissíveis pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein;
Educadora em Diabetes pelo Hospital Israelita Albert Einstein;
Atuante em nutrição clínica hospitalar.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.


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